ERA DA VIOLÊNCIA 2 CAPÍTULO XVIII - A TENTAÇÃO
Falei que aquela droga não era
minha e o comandante da operação perguntou se eu achava que eles forjaram o
flagrante. Respondi “Claro que não, sei que a polícia do Rio de Janeiro nunca
faria isso”. Perguntaram se eu estava de deboche e me deram uma porrada. Sabem
nem brincar..
Caí no chão me contorcendo de dor
e dizendo que prestaria queixa pela agressão. O comandante comentou “Agressão?
A polícia do Rio de Janeiro nunca faria isso”.
Fui levado a delegacia. Falei para
o delegado que aquela droga não era minha, alguém colocou lá. O delegado
perguntou se eu falava que a polícia colocou e respondi “Não sei, só sei que
não é minha”.
O delegado viu minha ficha e
comentou “Você sabe que está em condicional né? Ser pego com drogas, mesmo com
pouca, não é nada legal pra sua condição”. Respondi que sabia e ele completou
“Acho melhor você ligar pro seu advogado, a situação complicou”.
É. Já estava me vendo de volta ao
presídio. Vida bandida a minha.
Enquanto calculava quantos anos
ainda teria de cadeia um policial bateu na porta do delegado. O delegado
perguntou o que queria e o homem apontou para mim dizendo “Novidade no caso do
cidadão aí”.
O delegado perguntou que novidade
era e uma pessoa entrou na sala. Era Guilherme.
Perguntei o que ele fazia no local
e sem me responder Guilherme disse “A droga é minha delegado”. Eu não conseguia
dizer nada e o delegado pediu que ele explicasse a história.
Guilherme contou “Estive com meu
pai, saímos, mas discutimos e eu resolvi ir embora sozinho. Tinha deixado a
droga no carro dele, sem ele ver e esqueci de pegar de volta, ela é minha”.
Eu o tempo todo olhava para meu
filho. Guilherme olhou de volta a mim e disse “desculpa pai”.
O delegado perguntou se Guilherme
tinha certeza do que falava e meu filho respondeu “Sim, a droga é minha”. No
fim acabamos liberados.
Guilherme saiu andando e falei
para que ele entrasse no carro. O rapaz me ignorou e corri atrás lhe puxando
pelo braço “Entra no carro agora” mandei.
Entramos em silêncio e fomos até o
Arpoador. O dia amanhecia e olhávamos o horizonte. Comecei a tentar explicar
“Eu não matei ninguém. Eu cubro a organização, os Cachorros velozes, mas não
matei nenhuma pessoa, eu juro”.
Guilherme continuou olhando o
horizonte um tempo e me perguntou “Por quê você só se mete em confusões?”. Bem
que eu queria saber essa resposta. Mas nunca soube e me mantive quieto.
Depois de um tempo ele disse
“Sempre soube que você era meu pai. Minha mãe nunca me escondeu. Eu até gostava
mesmo com tudo que você aprontou. Melhor que aquele nojento do Rubinho
Barreto”.
Perguntei se aquela droga era
mesmo dele e meu filho respondeu “Claro que não, eu to limpo, saí da clínica
ontem. Eu queria saber seu envolvimento com esses crimes e fui atrás de você
quando te vi sendo levado”. Perguntei como ele sabia que a droga não era minha
e Guilherme respondeu.
“Eu sei quem armou tudo pra você”.
Olhei pra ele e nervoso pedi para que falasse. Guilherme falou “Eu ouvi o
Rubinho falando no telefone e dizendo que o seu tava guardado e seria ontem.
Por isso fui atrás de você”.
Era o que eu precisava.
Guilherme abriu a porta da mansão
e Juliana, nervosa, perguntou onde o filho estava, tentou ligar e o celular
estava desligado. Entrei como um trator passando por Juliana e Guilherme e fui
de encontro a Rubinho que perguntou qual era o problema.
Respondi “Você” e dei um soco na
cara do filho da puta. Ele se levantou e dei outro soco montando em cima dele e
enchendo o safado de porrada. Guilherme segurou minha mãe antes que ela
tentasse nos separar e eu socava e gritava “Quer me foder filho da puta? Eu te
mato antes!”.
Depois de um tempo socando
Guilherme se aproximou e disse “Já ta bom pai, chega”. Levantei, pedi desculpas
a Juliana e saí com Rubinho gritando “Você ta morto!! Ouviu? Ta morto!!”.
No dia seguinte embarquei para
Brasília e assim trabalhar. Juliana chegou à cidade de tarde e disse que queria
falar comigo, eu já imaginava.
Entrei em sua sala do gabinete e
ela estava com o jornal na mão, me entregou sem falar nada.
Eu estava na capa do jornal preso
com drogas.
Falei que a droga não era minha e
que foi tudo esclarecido. Ela olhou furiosa pra mim e respondeu “Eu sei, o
Guilherme disse que era dele, que coisa linda né? A família toda no jornal.”
Tentei explicar pra Juliana que eu
era vítima na história, tinham armado pra mim e Guilherme me salvado, ela devia
ter orgulho dele e Juliana perguntou “Armado por quem?”.
Respondi “Por seu marido, o
Rubinho Barreto”.
Juliana ficou furiosa de vez e começou
a gritar “Pare de tentar incriminar o Rubinho! Eu sei que vocês têm uma rixa,
mas conheço o marido que tenho e sei que ele nunca faria isso!”.
Mandei que ela perguntasse a
Guilherme e minha ex continuou “Você não tem jeito Gilberto, não adianta, não
cresce, vai ser sempre esse moleque irresponsável se metendo em confusões. Quer
saber? Cansei de tentar te ajudar”.
Perguntei o que ela queria dizer
com isso e Juliana me contou “Me expor dessa forma já seria intolerável, expor
nosso filho me faz ficar sem adjetivos, volte pro Rio, você ta demitido”.
Olhei para ela e perguntei se era
isso mesmo que ela queria e Juliana sem me olhar nos olhos respondeu “É sim
Gilberto, cheguei ao meu limite”.
Não falei mais nada. Saí da sala e
na recepção encontrei Rodrigo. Ele já sabia o que ocorrera e estava com ar
vitorioso. Cheguei perto do policial e disse “Você já devia saber que sempre
que pensam que to morto eu levanto e como o cu do coveiro”. Furioso Rodrigo
mandou que eu lhe respeitasse e me despedi.
Voltei ao Rio e trabalhando na
faculdade e com meu blog, além de pegar a deliciosa da Bianca, lógico. Alguns
dias depois de minha demissão tocaram a campainha e quanto atendi Bianca vestia
um sobretudo e carregava um vinho e duas taças. Exclamei “Olha, que delícia!”.
Ela respondeu “É porque você não sabe o que tem por baixo do sobretudo”.
Mandei que ela entrasse. Bianca
abriu o vinho e pediu que eu colocasse uma música. Fui até o som, coloquei e
quando voltei ela já estava com as duas taças cheias.
Ofereceu-me uma e antes que eu
bebesse reparei em Lucinho no meio da sala pegando meu celular, não sabia que
fantasmas telefonavam, ele fez uma ligação e o telefone de Bianca tocou.
Bianca deixara a bolsa com o
telefone em um canto da sala e foi até lá atender. Enquanto ia Pardal surgiu e
me deu a ordem “Troca as taças”. Não entendi e ele repetiu apressado “Troca
logo a porra das taças. Não discute caralho”.
Troquei e Bianca voltou. Pegou a
taça que deixei sobre o balcão e comentou “Entendi nada, fui atender e era o seu
celular”. Respondi que devia ter ligado no meu bolso sem querer e propus um
brinde. Ela perguntou a o quê e respondi “A nós”.
Brindamos, bebemos e um tempo
depois Bianca se sentiu zonza.
Olhou assustada pra mim e falou
“Você trocou as taças filho da puta”. Olhei para Lucinho e Pardal que se
encontravam em um canto com ares de “papai sabe tudo”. Ali percebi tudo o que
ocorria e perguntei a Bianca “Por quê? Quem foi?”.
Bianca andou cambaleando e
derrubando tudo e eu atrás falando “Fala logo quem te mandou!! Você ta morrendo
porra!! Fala que eu chamo um médico!!”.
Bianca olhou pra mim, deu um
sorriso e disse “Você é um babaca, mas fode bem”. Desmaiando e morrendo em meus
braços.
Chamei a polícia que chegou com legistas
e foi comprovado enfarte. A porra do veneno que ela colocara na bebida não
deixava rastros e dava impressão de uma “simples” parada cardíaca. Enquanto
levavam o corpo observava a tudo com Lucinho e Pardal.
Depois que todos foram embora e
ficamos apenas os três perguntei como eles sabiam do que ocorreria. Pardal
respondeu “Você é um babaca mesmo. No primeiro encontro a mulher te fodeu, te
roubou e você ainda deu corda”. Lucinho virou pra mim e disse “Isso fazia parte
de uma missão”.
Perguntei qual missão era e
Lucinho respondeu “Os caras que mandam lá em cima acharam que a gente agiu
errado com você aqui embaixo e deram como missão te proteger por um tempo,
tínhamos que salvar sua vida e salvamos”.
Perguntei o que aconteceria a
partir dali e Pardal respondeu “Agora estamos livres de você, te salvamos e não
vamos mais descer”. Nem acreditei no que falei logo depois, mas eu disse “Até
que vou sentir a falta de vocês”.
Lucinho riu e falou “Sempre nos
demos bem, mesmo você matando a gente”. Rimos e Pardal comentou “Ta na hora
Lucinho”. Lucinho olhou pra mim e comentou “Acho que agora estamos no 0x0 né?”.
Respondi que estávamos e apertei sua mão. Depois olhei para Pardal e também
apertei a sua, mesmo com a perda de Rebeca provocada por ele. Não tinha mais
sentido mágoas.
Eles começaram a andar a uma luz,
devo ter fumado muita maconha para ver isso, e fiz uma última pergunta “E
Rebeca?”. Pardal se virou e respondeu “To cuidando dela”. Dessa forma os dois
sumiram.
Quem diria. Salvaram minha vida.
A vida prosseguiu. Me afastei de
Juliana, mas continuava em contato com Guilherme, um contato cada vez maior,
quase de pai de filho. João e Fernanda continuavam entre o amor e as brigas. A
mulher teve um sangramento no momento que os Cachorros Velozes executavam mais
uma vítima.
João estava com o telefone
desligado e só soube quando saía da missão. Correu para o hospital, mas tarde
demais, a mulher abortara.
João Arcanjo soube de tudo pelo
médico e entrou no quarto do hospital para ficar um pouco com a esposa. Ao
entrar percebeu Fernanda dormindo e se aproximou. Pegou em sua mão e velou seu
sono até que ela falou “Sai daqui”.
João ainda ficou um tempo
segurando na mão da esposa até que ela disse novamente “sai daqui”. João
decidiu não confrontar Fernanda e saiu.
Arrasado deixou o quarto e ligou
para Rui. O policial naquele instante estava com Yolanda, viu a ligação e
atendeu. No outro lado da linha João perguntou se o amigo estava ocupado e Rui
respondeu que não, então João perguntou “Você pode encontrar comigo? Não estou
legal”. Rui respondeu “Claro”, marcaram em um barzinho e Rui desligou. O
policial virou para Yolanda e comentou “Surgiu a nossa chance”.
João estava sozinho no bar quando
chegou Rui. Os amigos se cumprimentaram e Rui sentou perguntando o que João
tinha. O farmacêutico contou toda a história e Rui só disse “Puta que pariu,
que cagada”. João encheu mais o copo e disse “Bota cagada nisso, Fernanda ta
puta comigo”. Rui defendeu o amigo “Porra, ela não vê tudo o que você ta
fazendo? Você é um marido foda! Faz tudo por ela!”.
João concordou com Rui e o
policial encheu os copos dos dois dizendo “Detesto mulher ingrata”. João
respondeu “Somos dois amigo”. Ficaram um tempo em silêncio e João comentou
“Queria ter esse bacuri, um filho sabe? Queria muito”. Rui pegou a mão do amigo
lhe consolando e disse “Fica assim não meu amigo, vocês terão, não foi agora,
mas virá”.
João, levemente bêbado, olhou para
Rui e comentou “Você é foda irmão”. Rui fingiu timidez e respondeu “Que isso
cara”. João continuou “Não é a toa que você tem meu sangue, você é foda, somos
irmãos”.
É. Ele não estava “levemente”,
estava bem bêbado.
Rui propôs um brinde a amizade e
enquanto brindavam Yolanda apareceu e fingiu surpresa ao ver a dupla abrindo
sorriso e dizendo “Rui de Santo
Cristo!”.
Rui se levantou, deu um beijo no
rosto da mulher e mandou que ela se sentasse. Apresentou a João Arcanjo como
seu melhor amigo e pediu um copo a mais ao garçom.
Começaram a trocar ideias e
Yolanda se insinuou a João. João, completamente de porre e amargurado por tudo
que ocorreu deu trela e o plano de Rui começou a dar certo. Sem que o
farmacêutico percebesse Rui colocou seu celular pra tocar e atendeu.
Pediu licença e se levantou da
mesa. Um tempo depois voltou pedindo desculpas a João e Yolanda dizendo que
pintou compromisso e tinha que ir embora. Yolanda respondeu “Que pena” e João
disse que iria pra casa. Rui insistiu que ele ficasse e não fizesse desfeita a
Yolanda. A moça pediu “Fique” e o farmacêutico concordou.
João e Yolanda conversaram por
mais um tempo, beberam e o farmacêutico comentou que estava tarde e tinha que
ir pra casa. Yolanda pegou a mão de João e falou “Você não está em condições de
dirigir, eu te levo”.
Entraram no carro de Yolanda e
partiram.
Yolanda parou na frente da casa de
João e disse “Está entregue”. João agradeceu e a mulher tentou beijá-lo. O
farmacêutico desviou o rosto dizendo que era fiel. Yolanda passou a mão pelos
cabelos de João e respondeu “Eu também” lhe beijando..
Fernanda estava internada então
João e Yolanda entraram na casa e foderam o resto da noite toda.
De manhã João acordou e viu a
mulher dormindo ao lado. Pôs a mão
no rosto e falou baixo “O que eu fiz”. Yolanda que só fingia estar dormindo
sorriu.
Na tarde seguinte Rui foi até a
casa de Yolanda. A mulher abriu a porta e antes que entrasse Rui perguntou “E
aí?”. Yolanda respondeu “Eu dei pra ele” e o policial retrucou “Ótimo”. Yolanda
irritada chamou Rui de “desgraçado” e o homem lhe empurrou pra dentro da casa
lhe beijando.
Na mesma tarde Fernanda recebeu
alta. João Arcanjo foi lhe buscar e antes que ela dissesse algo pediu “Não me
mande embora”.
Fernanda respondeu que não
mandaria e João, que escondia os braços atrás das costas, mostrou o que
carregava. Um buquê de flores.
Fernanda pegou o buquê e ouviu o
marido dizer “Me desculpa, vamos começar tudo de novo, me deixe ser o marido
que eu sempre fui”. Fernanda falou que amava João, esse respondeu que também
lhe amava e beijou a esposa.
Entrou em casa e pegou a mulher no
colo. Levou até a cama e lhe deitou na mesma. Começou a se despir e o telefone
tocou. Parou e pegou o mesmo com Fernanda fechando os olhos já decepcionada.
João olhou o nome “Rui de Santo Cristo” no visor e jogou o celular em cima de
uma mesa. Fernanda perguntou “Não vai atender?” e João respondeu “Você é mais
importante”.
Deitou sobre a mulher e se
beijaram.
Rui e Yolanda estavam na cama
quando Rui, satisfeito, fechou o celular e disse para a mulher “Não
me atendeu, ta com consciência pesada. Perfeito”.
Enquanto isso eu estava em casa
comendo pipoca e vendo filme quando tocaram a campainha. Atendi a porta e era
Juliana, que entrou em minha sala nervosa.
Perguntei a ela o que ocorrera e
minha ex respondeu “Só você pode fazer alguma coisa. O Guilherme teve uma
recaída e ta preso na favela. Me ligaram dizendo que vão matá-lo”.
É. Ser pai é padecer no paraíso.
ERA DA VIOLÊNCIA 2 (CAPÍTULO ANTERIOR)
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