ACONTECEU NO VERÃO
*Conto da coluna "O buraco da fechadura" publicado no blog Ouro de Tolo em 26/01/2013
Diego era adolescente na faixa dos quinze anos de idade,
introvertido, com poucos amigos e mais ligado a modernidades como internet e
vídeo game.
Filho de um juiz de direito, Olavo Feitosa e de Sonia
Feitosa, artista plástico Diego vivia bem em uma mansão no Cosme Velho, bairro
do Rio de Janeiro.
Olavo era juiz da área criminal e não tinha medo de
bandidos nem de poderosos. Era considerado um juiz honesto de linha dura.
Temido pelos criminosos, mas alvo de muitas ameaças também.
Sobrevivera a dois atentados, mas mesmo tendo sua vida em
risco nunca quis arrumar seguranças, dizia que a população em geral não tinha o
benefício da segurança particular então não era justo que tivesse. Diego era
totalmente alheio a vida do pai e seus riscos, era alheio a tudo só queria
saber de jogar e usar redes sociais.
Olavo vivia em confronto com Sonia. O casamento não ia bem
e estavam prestes a se separar, mas Olavo decidiu fazer uma última tentativa e
chamou esposa e filho para jantar fora.
Diego foi sem vontade nenhuma e no restaurante colocou
fone no ouvido e ficou ouvindo músicas ignorando totalmente os pais. Olavo e
Sonia viviam um clima bom como há tempos não passavam. Olavo levou um presente
para a esposa, um colar de brilhantes e colocou em seu pescoço. Logo depois
dois homens tocando violino surgiram para abrilhantar o momento.
Combinaram tentar melhorar a vida em conjunto e salvar o
casamento. Fizeram planos para uma nova lua de mel e beijaram-se apaixonadamente
como há tempos não faziam. Olavo chegou no ouvido da esposa e convidou para
continuarem a conversa em casa, no quarto só eles.
Sonia deu um sorriso e concordou com o marido. Olavo pediu
a conta e contou a Diego que ele estava livre daquele “martírio”.
Saíram, o manobrista levou o carro até eles e Olavo
assumiu a direção com Sonia ao seu lado e Diego atrás jogando no celular.
Andaram alguns quarteirões e Olavo notou um carro estranho que lhes seguia.
O carro de repente passou por eles e deu uma fechada.
Quatro homens desceram do veículo com fuzis na mão e metralharam o veículo
acertando muitos tiros em Olavo e Sonia que morreram na hora. Diego foi
alvejado com dois tiros e quando os bandidos se aproximaram do carro fechou os
olhos fingindo estar morto. Ainda ouviu seu pai tomar o tiro de
misericórdia.
O caso ganhou grande repercussão. Enquanto Diego estava em
coma lutando pela vida a imprensa deu grande espaço para o assassinato do juiz
e a polícia caçava os assassinos. Ao mesmo tempo em que a polícia prendia
suspeitos Diego saiu do coma.
A polícia esperou que ele melhorasse um pouco, ficasse
mais forte e levou o rapaz para reconhecimento. Ele reconheceu a todos, entre
eles estava Pablo Chacal, um perigoso contrabandista de armas que tivera seus
negócios atrapalhados por Olavo. O homem contratou os outros três bandidos para
junto a ele cometerem os assassinatos.
Dessa forma o habeas corpus dos quatro bandidos foi negado
e eles iriam a julgamento. O homem tinha outros comparsas soltos então se
chegou à conclusão que era melhor Diego “sair um pouco de circulação”, sair do
Rio de Janeiro, além de que realmente precisava de um novo lar com a morte dos
pais.
A solução foi Diego morar em Saquarema com sua avó dona Margarete.
Era um mundo novo para Diego. Saquarema não é uma cidade
pequena, muito pelo contrário. Na região dos Lagos do Rio de Janeiro é a cidade
preferida dos surfistas graças a suas ondas e recebe muitos turistas o ano
inteiro devido suas belezas naturais.
Mas sem dúvidas era bem diferente da capital, diferente do
ambiente que Diego se acostumara. Não era uma mansão como morara com os pais,
mas era uma casa bonita e confortável na beira da praia.
Da sala podia ouvir o mar, as ondas batendo nas pedras.
Seria a casa dos sonhos de muita gente, mas não de Diego.
Chegou com as malas sendo saudado pela avó e reagindo
friamente. Perguntou qual era seu quarto e ela mostrou. Entrou no lugar e nem
desarrumou as malas direito pegando o notebook e entrando na internet.
Dona Margarete chamou o neto para o almoço, fez uma
macarronada a bolonhesa maravilhosa, mas o neto sentou-se à mesa, deu umas
colheradas rápidas e se levantou voltando para o quarto.
Isso foi assim durante alguns dias até que dona Margarete
se aborreceu e entrou em seu quarto. Diego reclamou a invasão e dona Margarete
irritada pegou o note. Diego revoltado mandou que a avó devolvesse e ela
respondeu que só à noite. A partir daquela data ele só usaria computador ao
anoitecer e teria que aproveitar o dia na rua.
Diego implorou que a avó não fizesse isso, mas dona
Margarete manteve-se irredutível e mandou que ele fosse para a rua. Resignado o
rapaz não teve alternativa e foi.
Andou um pouco pela areia e sentou olhando as ondas.
Sentiu saudade dos pais, de sua casa onde tinha liberdade e
pensava que começaria a conhecer o inferno com sua avó quando um rapaz de sua
idade se aproximou perguntando se ele poderia guardar suas coisas enquanto
surfava.
Diego concordou e o garoto correu pro mar com a prancha
dando um show. Diego ficou impressionado e quando o garoto voltou se
apresentou, chamava-se Frank.
Diego entusiasmado falava do garoto surfando e Frank rindo
respondeu que já notara que ele não era dali. Uma grande amizade surgia nas
areias de Saquarema e Frank convidou o novo amigo para irem a uma boate de
noite.
Diego relutou um pouco, disse que teria que entrar na
internet e Frank mandou que o rapaz parasse de bobagem que a vida real era
muito melhor. Diego nunca tinha saído a noite para se divertir e acabou
topando.
Contou para avó que iria sair e ela tomou um susto.
Perguntou a Diego se tinha certeza que ele era o seu neto e o menino riu dando
um beijo nela e contando que não iria chegar tarde. Encontrou Frank na porta da
boate e entraram com o surfista mandando o amigo se preparar que ali era o
paraíso da mulherada.
E era verdade, Diego nem sabia para onde olhar com tantas
mulheres lindas no local. Frank bem
enturmado, bonitão logo chegou a um grupo de meninas e chamou o amigo para se
aproximar.
Diego tímido chegou até o grupo e Frank encheu a bola do
amigo contando que ele era uma fera da informática. Uma menina se interessou
por Diego e começaram a bater papo. Quando foram ver já estava de porre aos
beijos com a menina em um canto da boate.
Acordou na manhã seguinte na areia com uma vaca lambendo
sua cara. Acordou assustado e Frank gargalhando e com uma
garrafa na mão lhe deu bom dia e passou a garrafa para que ele tomasse um gole.
Diego pegou, deu o gole e rindo respondeu ao bom dia.
Chegou apenas de manhã em casa e encontrou dona Margarete
preocupada. Deu um beijo na avó e perguntou “a senhora não queria que eu
saísse?”. Indo direto para o quarto dormir.
Saía todas as tardes para aprender a surfar com Frank e a
noite para as boates e farras da vida. Diego era um novo garoto, mais feliz,
com mais vida.
Um dia batia papo com Frank na areia quando viu chegar um
carro à casa próxima. De lá viu sair uma mulher espetacular, mais ou menos
vinte anos mais velha que ele e se encantou.
Perguntou a Frank quem era e ele respondeu que se chamava
Ana. Mudou-se pra lá há pouco tempo e só isso que se sabia dela. Diego notou
que ela tirava várias sacolas de compras do carro e Frank falou que ela
precisava de ajuda.
Saiu correndo em direção a mulher com Diego correndo atrás
pedindo que ele esperasse. Frank chegou na mulher e perguntou se ela precisava
de ajuda. Ana respondeu que sim, eram muitas compras e o surfista logo pegou
uma sacola levando para dentro.
Diego e Frank levaram as sacolas para dentro da casa da
Ana que agradeceu e perguntou se eles queriam tomar café. Os dois aceitaram e
eles beberam, papearam até que ficou tarde e Frank comentou que tinham que
partir.
Na saída Frank apertou a mão de Ana e comentou que
esperava vê-la mais vezes, Ana simpática respondeu olhando Diego que estava
sempre ali e era só aparecer. Dessa forma os meninos foram embora.
Andando pela areia Diego comentou com o amigo que estava apaixonado
e Frank rindo respondeu que Ana era mais velha, um mulherão e ele não tinha
nenhuma chance. Diego concordou com o amigo, mas pediu pelo menos permissão
para sonhar um pouco.
Alguns dias depois Diego entrou em casa e Ana estava
sentada no sofá da sala com dona Margarete. O menino sorriu com a surpresa e
Ana lhe cumprimentou. Dona Margarete comentou que Ana vendia perfumes e xampus
perguntando se o menino queria algum. Diego sentou com as duas e começou a
olhar o catálogo, mas na verdade não tirava os olhos de Ana.
Enquanto olhava Ana comentou com dona Margarete que seu
computador estava com problemas e perguntou se ela conhecia alguém que
entendesse de informática. A senhora logo apontou para Diego dizendo que ele
era especialista. Ana perguntou ao garoto se era verdade e o rapaz gaguejando
respondeu que sim. Ela perguntou se ele poderia ir a sua casa no dia seguinte e
ele concordou.
No dia seguinte Diego estava lá mexendo na máquina e Ana
perguntou se ele tinha namorada. O rapaz respondeu que não e a mulher comentou
que era um desperdício, pois, era um rapaz muito bonito. Diego suando frio
terminou o conserto e perguntou se ela queria checar. Ana checou e o computador
estava ótimo. Agradeceu o conserto e chamou Diego para jantar em forma de
agradecimento.
Diego tímido aceitou o convite e apareceu a noite para o
jantar. Beberam vinho, conversaram bastante, riram. Diego contou sobre sua vida
e disse que seus pais foram assassinados. Ana lamentou e não falou muito sobre
ela, só que era separada.
Diego quis saber porque o casamento não deu certo e Ana
não quis entrar muito no assunto, apenas disse que o ex era violento e estava preso.
Diego olhou o relógio e contou que tinha que ir embora.
Ana levou o garoto até a porta e lhe deu um beijo no rosto pedindo que
voltasse, pois, não tinha amigos e ele era seu único.
E ele voltou várias vezes com a intimidade deles
aumentando. Frank reclamava que o amigo não aparecia mais, mas a verdade é que
Diego estava completamente apaixonado, o que sentia nunca passara na vida e
aquele amor impossível por uma mulher mais velha era o que tomava sua cabeça e
seu coração vinte e quatro horas por dia.
Uma noite Diego bateu na porta de Ana e a mulher abriu
chorando. O rapaz perguntou o que a mulher tinha e ela o abraçou forte molhando
o ombro de Diego com lágrimas.
Ele entrou e sentaram no sofá. Ana comentou que recebera
comunicado do presídio que o ex fora assassinado, não tinham mais amor um pelo
outro, anos separados, mas ela sentia porque ele tinha sido muito importante em
sua vida.
Diego abraçou mais uma vez Ana e em seu ouvido ela pediu
que ele nunca lhe abandonasse. Diego limpou as lágrimas da mulher e prometeu
ficar sempre junto. Os dois se olharam por instantes e Ana beijou Diego.
Minutos depois estavam no quarto de Ana fazendo amor. Era
a primeira vez de Diego.
Um apaixonado e feliz Diego foi acordado no dia seguinte
por Ana com um beijo apaixonado e dizeres de bom dia. Diego se espreguiçou
respondendo o bom dia e Ana perguntou se ele estava com fome.
Diego respondeu que sim então a mulher falou que já
voltava com café na cama.
Diego colocou a cueca, se espreguiçou na cama novamente e
ouviu uma voz masculina dizendo “surpresa”.
Quando abriu os olhos viu Pablo Chacal. O rapaz tomou um
susto, ficou branco Chacal riu perguntando ao menino se achava que deixaria
barato mesmo a delação para a polícia. Diego estava tão encantado, vivendo
tanto aquele momento com Ana que nem soube que Chacal fugira da cadeia.
Diego tentava entender aquela situação e Chacal contou que
era uma armadilha. Ele descobrira que Diego estava lá e mandara sua mulher pra
seduzi-lo e levar até onde ele queria. Chacal riu e chamou o garoto de idiota
por acreditar que uma mulher daquelas iria se interessar por ele.
Apontou a arma para Diego e falou que era hora de morrer.
Diego deu um salto sobre o bandido e os dois começaram uma luta ferrenha pela arma.
No meio da luta ouviu-se um estampido e Diego caiu ferido.
Chacal ria quando Ana apareceu no quarto atirando cinco
vezes no marido. Chacal caiu morto no chão. A mulher logo depois limpou a arma
e jogou sobre o bandido.
Diego agonizando olhava Ana que pediu desculpas, deu um
beijo no garoto e pegou uma maleta que pertencia a Chacal.
Uma maleta com quinhentos mil dólares que o bandido
escondera e levara para a casa para fugir com Ana. Mas ela resolveu fugir
sozinha deixando os dois pra trás.
Entrou no carro, botou a maleta no banco de trás e deu um
beijo em Frank que lhe esperava no banco de carona. Ligou o carro e partiu.
Deixando um rastro de sangue pra trás.
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