O ANTI-FUTEBOL BRASILEIRO EM 2014
*Coluna publicada no blog Ouro de Tolo em 21/12/2014
E teve Copa…
A frase mais famosa dos últimos anos, a “não vai ter copa”,
não se confirmou. Teve Copa, muita Copa e não tem como começar uma
coluna que fala de futebol sem esse detalhe, mas também não tem como
fazer sem esquecer outro.
Teve Copa, mas o futebol brasileiro não compareceu.
A festa foi linda, maior que se
imaginava, contra toda a onda pessimista fizemos a maior de todas as
copas do mundo. A acolhida de nosso povo como ele sempre faz, mas uma
organização de improviso que só nós também sabemos fazer e que por
incrível que pareça sempre dá certo. Pessoas felizes, o país colorido e
virando uma “torre de babel” da alegria. Várias línguas, povos e
culturas se misturando e fazendo do Brasil por um mês a capital do
mundo.
Pena que o futebol brasileiro não veio.
Não veio porque como diria uma música do cantor e reprodutor Fabio Jr ficou perdido em “alguma coisa entre esses 20 ou 30”. É, ele se perdeu. Se perdeu em alguma curva de 2006 quando uma talentosa, mas bagunçada seleção brasileira fracassou.
Os “gênios” que comandam o futebol
brasileiro decidiram punir tudo. Acabaram com a bagunça, mas também
podaram o talento. Colocaram “treineiros” inexperientes, brucutus ou
ultrapassados no período. Gente que se importa mais com o resultado que
qualquer coisa e não se importa, não tem vergonha do modo que alcance.
Nem que pra isso abra mão do talento e fique o tempo todo dando chutões
com jogadores fracos, mas voluntariosos e que servem ao “esquema
tático”.
Aí se iniciavam debates do tipo “O
Fred? Fred é um cone, nem consegue chutar a gol, mas faz o papel de pivô
que é uma beleza abrindo espaço pros homens de meio campo”. “O Hulk? É
atacante que não faz gol, mas volta pra cobrir o lateral e ajuda na
marcação”. “O Neymar? Chuta a bola pra frente que ele se vira”.
Assim como a classe política de um país é
reflexo de seu povo a seleção nacional de futebol é reflexo do futebol
praticado nesse país. Alemanha e Espanha dominam o futebol nos últimos
seis anos porque souberam se fortalecer depois de crises ou mesmo
histórico de derrotas.
Tiveram humildade, fizeram mea culpa e
não por acaso tem hoje seleções dominantes mesmo com a da Espanha
entrando em declínio. Seus trabalhos de base são sérios, com alto
investimento. Produzem jogadores dessas bases assim como os clubes
enriquecem e conseguem contratar os melhores jogadores do mundo. Não é
por acaso que os melhores times do mundo hoje são da Alemanha e da
Espanha. As duas últimas finais da Uefa Champions League foram finais
caseiras realizadas por esses países.
A seleção inglesa também é reflexo de
seu futebol. Tem talvez a liga mais badalada e rica do mundo, mas por
esse excesso de riqueza (muito vinda do mundo árabe ou de milionários
russos) não investe em base, apenas em contratações de estrangeiros e os
principais clubes ingleses tem pouquíssimos nativos entre seus
titulares. Isso reflete no constante fracasso da seleção inglesa, que
virou uma espécie de Botafogo da Europa.
Por sinal. E o Botafogo, hein?
O Botafogo é o maior exemplo do futebol
brasileiro atual. Um clube de tradição, que revelou os maiores jogadores
de nossa seleção, agoniza em meio a administrações desastrosas. Com
muitas dívidas, perdendo jogadores a cada dia, tendo rendas penhoradas o
clube da estrela solitária foi rebaixado de forma inapelável em 2014.
Como citei, é o clube que mais cedeu jogadores à nossa seleção e sua
decadência evidente que reflete nela.
Assim como as decadências de Palmeiras e
Vasco que em vez de títulos agora comemoram anos que não são rebaixados
mesmo que façam campeonatos humilhantes; ou quando são rebaixados
comemoram acesso como terceiro colocado e tomando goleadas em seus
campos onde antes eram doutrinadores.
Mas não é privilégio desse três clubes.
Graças a más administrações, recessão econômica, lei Pelé que deu poder a
empresários tirando dos clubes, exagero na gastança com técnicos e
jogadores, disparidade em cotas de patrocínios e de tv e uma entressafra
poucas vezes vistas em nosso futebol o Brasil padece.
Nossos clubes hoje se dividem em quatro.
Os que perceberam o momento de corte de gastos e fazem mesmo que
prejudicando o futebol como o Flamengo, os que na marra terão que cortar
gastos como o Botafogo, aqueles que vivem em uma bolha, gastando a rodo
sem ter uma base para isso e quando a mesma estourar vão sofrer como o
Atlético Mineiro e Fluminense e clubes que parecem organizados e por
isso um passo a frente – como o Cruzeiro.
Cruzeiro que também é símbolo do futebol
atual. Time sem craques, sem grandes jogadores que vem ganhando tudo no
futebol brasileiro apenas porque é organizado. Um futebol sem graça
ganhando campeonatos sem graça como os brasileiros atuais.
Mas também acho que essa discussão mata
mata x pontos corridos já deu no saco. Sou a favor do mata mata, mas não
vão mudar então deixa assim mesmo e não encham mais o saco com esse
assunto chato.
Mesmo com esses problemas todos citados o
poder financeiro do futebol brasileiro é muito maior que dos outros
países da América do Sul e por isso ganhamos muitas Libertadores
seguidas. Mas o enfraquecimento de nosso futebol sempre era escancarado
no confronto com times europeus e humilhações que passamos.
O problema é que em 2014 nem na América
sobressaímos. Um país que tem todos os anos campeão sem graça como o
Cruzeiro, que enaltece bons técnicos, mas que tem nada demais e são
“defensivistas” como Tite e Muricy, que tem clubes ganhando dinheiro,
mas conseguindo gastar mais ainda de forma irresponsável como o
Corinthians começa a pagar o preço de tanta descaso.
Aí ficamos dependentes e carentes de um
menino de 21 anos que tem que sozinho salvar a pátria. Ganhar para a
gente uma Copa do Mundo em casa. Nossa grande oportunidade de redenção
depois de 64 anos, que nunca mais teremos uma igual. Nos pés e nas
costas dele toda a responsabilidade já que os mais velhos tremeram e
choraram do hino até a cobrança de pênaltis.
Tá. Mas e no dia que por um azar não tivesse o Neymar?
Ainda bem que não tivemos esse azar né?
Porque para a CBF está tudo bem, o futebol brasileiro segue da mesma
forma de antes da copa. Teve copa.
Mas teve gente que não percebeu.
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