CHESPIRITO E UNS CARAS BACANAS


*Coluna publicada no blog Ouro de Tolo em 7/12/2014

Alguns já falaram dele aqui. Chegou minha vez.

Já faz nove dias de sua morte, mas escrevo no dia seguinte dela. O assunto está muito vivo ainda, como acredito que nesse domingo ainda esteja, porque é o tipo de morte que faz alguém nascer.

Roberto Gomes Bolaños desde o dia 28 de novembro nasceu para a eternidade.

Quem é Roberto Gomes Bolaños? Até dia 28 acredito que poucos sabiam por nome, mas fale perto dessa pessoa os nomes Chaves ou Chapolin? A pessoa abrirá um sorriso e provavelmente vai repetir uma frase dele como “foi sem querer querendo” ou “não contavam com minha astúcia”.

Você pode não ser fã de Bolaños e seus personagens. Eu não era do tipo que parava pra assistir sempre ou achava engraçadíssimo. Mas quem tem um coração no peito decerto ficou um pouco comovido com sua morte. Nem todo mundo era fã dele, mas não conheço ninguém que fale “não gosto”, “odeio”, “que se dane”. Não tem. Bolaños era uma unanimidade do bem em termos de respeito por sua obra.

O mais impressionante é que em cena Bolaños realmente nos convencia que tinha oito anos. Não dá para ver um adulto ali.

Continuando, claro que tenho que dizer que sim, não dá pra ignorar as polêmicas que a pessoa física Roberto Bolaños se meteu, mas tem pessoas que são tão geniais, tão importantes nessa pequena aldeia chamada planeta Terra que a gente consegue separar a “pessoa física” da “jurídica”.

Eu consigo separar Roberto Bolaños pessoa do criador, assim como Edson de Pelé e Renato de Didi. Consigo até separar Mauricio de Souza criador da turma da Mônica do Mauricio que defende com unhas e dentes propaganda infantil.

Aliás, quero falar de alguns deles. Espero que não do Pelé que quando escrevi essa coluna estava mal de saúde. Espero demorar pra falar dele.

Quero falar dos outros.

Repito. Roberto Bolaños nunca foi meu ídolo, mas tenho imenso respeito por ele. A forma que sua morte foi tratada na internet, pelas celebridades, pessoas comuns, pelo mundo todo mostra o quão grandioso ele foi. Foi reverenciado, amado, chorado, não vi um engraçadinho escrever que iria baixar sua discografia ou perguntar quem era ele como fazem na morte de um famoso. Aliás,uma pessoa escreveu no twitter uma frase de Freddie Mercury para dizer que assim era Bolaños e concordo totalmente.

“Não serei famoso. Serei uma lenda”.

Roberto Bolaños é uma lenda como pra mim os outros três citados nessa coluna serão, mas quero falar de dois.

Mauricio de Souza e Renato Aragão.

Ao contrário de Bolaños, esses são meus ídolos de infância. Mauricio de Souza e sua turma maravilhosa e inesquecível para o povo brasileiro me despertaram o gosto pela leitura e acredito que despertou isso para muitas gerações.

Quem não conhece Mônica? Cebolinha? Cascão? Magali? Chico Bento? Horácio? Astronauta? Lolo? Penadinho?

Essa turminha é tão querida por nós como a turma do menino Chaves. Uma turma que conhecemos nas revistas em quadrinhos e que fez do Brasil um dos poucos países do mundo em que os personagens do Disney não são os mais cultuados. Mauricio de Souza tem um quê de Bolaños. Ele consegue fazer rir, sonhar, prender atenção de crianças e de adultos sem malícia, palavrões, com histórias simples.

A história do menino do barril se passava em uma vila tosca que seria politicamente incorreta hoje. Tinha o desempregado, a mãe solteira, o garoto que passava fome e morava num barril, o senhor gordo que era zoado, a velha que era zoada assim como nas do Mauricio tem um moleque que fala errado, a menina que resolve tudo na porrada e o moleque que não gosta de tomar banho. Tudo isso e ninguém reclama de suas histórias simples, sem malícia e que na verdade nem tem grandes reviravoltas ou ações espetaculares.

Tudo se passa na vila de Chaves e na rua da Mônica. Histórias simples do cotidiano de crianças e as duas cativam há mais de quarenta anos. Politicamente incorreto como chamar um negro de negão, crioulo e macaco, falar que outro “escamoteia” insinuando homossexualidade ou chamar nordestino de “Paraíba” ou “cabeça chata”.

Didi, Dedé, Mussum e Zacarias são o verdadeiro quarteto fantástico, o quadrado mágico. Assim como a turma de Chaves era uma turma que nos segurava na frente da tv, uma turma que entrou pra história, que fazia rir e emocionava. Uma turma com um líder e polêmicas.

Renato também teve problemas com integrantes de sua turma, hoje em dia também acham que Renato não era o mais engraçado da turma como falam de Bolaños. Mussum é o seu Madruga dos Trapalhões, tão cult quanto ele. Mas sem Renato e sem Bolaños nada disso teria ocorrido.

É preciso, como já disse, diferenciar o homem do criador. Renato Aragão pode ter problemas como pessoa, mas quem não tem? Ninguém é perfeito, eu não posso julgar ninguém, ainda mais quem não conheço pessoalmente. Conheço o artista Renato Aragão e por esse sou completamente apaixonado.

Poucos me fizeram rir como Renato Aragão, poucos me emocionaram como Renato Aragão. Não me canso de dizer que a cena final do filme Os saltimbancos trapalhões é uma das mais bonitas que já vi e me emociona, assim como me arrisco a chorar se ver a abertura dos Trapalhões.

Todos os artistas que passaram por Chaves e Trapalhões têm seus méritos e estão na história. Mas tudo nasceu da mente desses dois homens. Homens que faziam personagens pobres, frágeis muitas vezes, mas que eram pessoas completamente diferentes disso. Geniais, geniosas, brilhantes e eternas.

Bolaños, Mauricio e Renato não vieram a esse mundo a passeio. Assim como o mentor de Bolaños e Renato, Charlie Chaplin. São pessoas que mudaram o rumo da história, que se fizeram presentes e quando morrerem, ou morreram como no caso de Chespirito, saberão que a missão foi cumprida.

São ídolos de gerações, de multidões. Foram professores, babás e “tios” de muito de nós e acho que só nos resta aplaudir esses caras bacanas e agradecer muito por serem co responsáveis por nossas formações. 

E foram sem querer querendo..


Fim de coluna. Abaixo ta liberada a emoção



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