PEDE A ELA PRA LIGAR PRA MIM




Rolo de um lado para outro na cama, não consigo dormir. Coisas da idade? Antigamente era mais fácil adormecer? Pode ser, vamos ficando velhos e surge a insônia, as preocupações do dia a dia também insistem em atrapalhar o sono.

E ela.

Sim. Ela sempre surge à mente. Seja nos momentos felizes que eu quero dividir com alguém ou nos tristes como agora. É incrível como sempre nos momentos tristes penso nela. Em como seria bom seu abraço. Precisava falar nada, só seu abraço, seu conforto, saber que não estou sozinho.

Tempo, aliás, que não sei o que é não me sentir sozinho.

Tudo que é ruim aflora quando algo de ruim acontece e essa saudade dela, que estava adormecida, aflorou. Mas vou tentar dormir, é melhor. Pensarei em outras coisas como no meu time de futebol. Não, a fase dele é péssima, melhor pensar em nada.

Consigo dormir e sonho com ela. Que está tudo bem, estamos próximos rindo e acabo acordando. Não é possível!!É ruim pra dormir e dormindo penso nela?

Sempre fomos muito próximos, do tipo confidentes que não passavam um dia sem se falar. Um contava para o outro tudo que passava, sentia e do nada começou um afastamento. Afastamentos que transformam o que era muito em quase nada como Isolda já mostrou em versos cantados por Roberto Carlos. Não tinha mais a pessoa para dividir minhas alegrias, nem para dividir as tristezas que tenho agora.

Não dá, estou com sintomas de saudade, tenho que dar um jeito nisso.

Ela que se afastou? Sim e sou orgulhoso, não sou de correr atrás. Como fazer quando a saudade é mais forte que o orgulho?

Mandamos o orgulho às favas. Vou ligar pra ela.

Pego o telefone e digito o número, ainda sei de cor. Vou apertar a tecla verdinha de ligar, mas penso, o que vou falar?

Que estou com saudades? Não! Isso nunca! Tudo bem, pode não existir mais nenhum resquício de orgulho nessa alma que perece, mas auto estima acho que ainda tem, nem que seja na raspa do tacho.

Digo que estou triste? Também não. Nunca deixei que me vissem triste, sou o palhaço da turma e palhaços não ficam tristes, é sinal de fraqueza. Quando tenho vontade de chorar digo que é resfriado. Nem pensar que darei esse gostinho a ela.

Ligo o computador. Talvez esteja on line e eu escreva algo.

Não, ela não está on line. Abro a janelinha para lhe escrever e assim ver quando estiver on e fico pensando. Olho para sua foto e como um ser completamente idiota que sou acaricio. Não estou acariciando seu rosto, o que tem ali é uma foto e mesmo assim é uma tela de computador. Acaricio a tela como se fosse sua pele. Meus dedos têm boa memória, sentem a maciez da sua pele que foi tantas vezes tocada por eles.

O que vou escrever? É incrível, mas não sei o que dizer. Nós que já dividimos os momentos mais íntimos que um homem e uma mulher podem dividir não nos falamos há tanto tempo que não temos assunto. Chegar do nada e perguntar o que ela acha do Obama espionar a Dilma?

Pode não parecer, mas não sou tão retardado quanto. Olho sua foto pensando no que escrever e relembro nossos bons momentos. Foram muitos e tão presentes que parece que foram ontem. Momentos que estão vivos em mim, mas que já estão distantes.

Abro mais uma janela na internet e entro no youtube. Coloco Tim Maia, música ideal para um momento desses. Pego uma daquelas dor de cotovelo brabas “Pede a ela pra ligar pra mim”. Ouço a música, olho a foto e chego a terrível conclusão “É, ela me esqueceu”.

Não é uma das situações melhores de viver. Amar alguém, ser amado por ela e com o tempo ela te esquecer. Sim, me esqueceu, não sou mais importante pra ela. Não sou mais o cara que ela corre para contar as novidades, que divide tudo na sua vida, com quem eu ria, brigava, brincava, amava..Me esqueceu.

Como pode? Como ela pode ter me esquecido se não lhe esqueci? Como ela pode estar tão viva em mim se não estou mais nela? Culpa de quem? Culpa da Dilma claro que não baixa uma medida provisória impedindo que uma pessoa esqueça a outra se nesse esquecimento não houver reciprocidade.

Teria que ser proibido amar alguém sem ser correspondido. Devia estar na declaração universal dos direitos humanos.

É, mas aconteceu. Olho e me pergunto o que ocorre, em qual momento da história ela me esqueceu. Pra quê se perguntar? Melhor esquecer, tentar esquecer.

Como se fosse fácil né? Todo mundo já disse para fazer isso. Mas não. Sofro porque gosto né? Lembro dela porque eu quero, quem não quer sofrer por amor, não é verdade? É muito legal, tão gostoso querer alguém e não ter, sentir saudade, tristeza. Minha próxima meta então é ter um câncer de tão gostoso que deve ser também.     

Olho a foto pela última vez. Idiotamente beijo meu dedo e encosto o mesmo na tela como se tivesse lhe mandando um beijo e fecho a janela. Não vou insistir no que não tem conserto. Vou deixá-la viver a sua vida e eu a minha.

Melhor, amanhã vou excluir de minha rede social. Ou depois de amanhã, ou semana que vem, ou no Natal, no dia que tiver coragem.

Esqueço o computador e deito para tentar dormir de novo. Olhos estão marejados, mas evidente que não é vontade de chorar, é resfriado. 

Quando começo a pegar no sono o telefone toca. Pego meio a contragosto e tomo um susto quando vejo o nome no visor. É ela!! Atendo espantando e digo alô.

Ela fala “Oi pessoa, quanto tempo!!”. Eu dou um sorriso e respondo “Pois é né, ando muito atarefado, sem tempo pra nada, mas e aí? O que você conta de bom?”.


E assim começa tudo de novo.   


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