EU, ELA E OS SMURFS
Vinha prometendo há tempos para
Bia levá-la ao cinema, mesmo ela não sabendo ao certo o que era um. A única
referência que ela tinha de um cinema era o clip Thriller do Michael Jackson
que eu cansei de dizer aqui que ela adora e tem um trecho que o Michael estava
com a namorada vendo filme e comendo pipoca.
Quero passar para a Bia as mesmas
coisas que recebi quando criança. Então quando soube que tinha um circo na Ilha
aproveitei que era seu aniversário e levei. A experiência não foi tão boa
assim, confesso, mas pouco por culpa dela.
Os circos de hoje são bem
diferentes. Não tem animais e mesmo achando bonitos os números com eles
concordo, lugar de animal não é em jaula e o circo era pequeno. Não era aquele
picadeiro enorme que eu me acostumara e vemos em filmes.
Era um circo pequeno. Com cadeiras
em frente a um palco onde o dono do circo, um palhaço, acho que esqueceu que
era um show para crianças e resolveu fazer um stand up. Poucos números e muito
falatório.
Resultado. As crianças mais velhas
até se divertiram. Mas a minha Bia, uma espoleta de quatro anos, aturou um
pouco e da metade pro fim já pedia para ir embora e ficava andando pelo pequeno
circo me dando trabalho.
Passando por essa experiência me
perguntava. Valia a pena levar ao cinema?
Passei os meses dizendo para ela
que levaria e fazendo propaganda de como era legal. A Bia tem um bom poder de
concentração quando algo lhe interessa. Vê vários vídeos no meu computador e
cansou de ver o filme da Alice em sua tv já que a mãe gravara. Mas cinema era
um desafio.
Desafio que aumentava quando
lembrava que não era um desafio barato e se ela quisesse sair com cinco minutos
eu tomaria um baita prejuízo.
Vi na internet a estreia do filme Os
Smurfs 2. Um filme que era mistura de filme e desenho, colorido. Pensei e
cheguei a conclusão que era a chance.
Perguntei se ela queria ir, Bia
topou e falei que levaria no dia seguinte.
Depois que disse que levaria
aquilo virou certeza, porque procuro cumprir tudo que digo a ela. Quero que ela
confie na minha palavra desde pequenina.
Chegamos antes das 14 horas, ainda
faltavam quinze minutos para começar a sessão e aí se iniciava a minha
preocupação. Bia não sabe ficar parada. Começou a andar pelo local perguntando
se iria demorar e pediu para ir aos brinquedos em vez do cinema. Olhei sério
para ela e falei “Você prometeu se comportar”. Geralmente isso basta, quando
não basta toma tapa no bumbum.
Sim “modernosos”, ela topa tapa no
bumbum. Não conheço ninguém que virou delinquente porque tomou tapas, muito
pelo contrário e eu tomei muitos e nem por isso deixei de amar minha mãe.
Finamente a entrada foi liberada.
Comprei pipoca, refrigerante, prometera uma farra lá dentro e perguntei se ela
queria ir ao banheiro, respondeu que não.
Entramos na sala e a Bia se
impressionou como eu esperava. Disse que nunca tinha visto uma televisão tão
grande. Sentamos na cadeira e ela se amarrou naquela cadeira acolchoada pulando
várias vezes em cima. Enquanto eu ajeitava os comes e bebes ela pediu pra mudar
de lugar.
Tinha umas oito pessoas no cinema,
mas adulto chato que sou falei que era lugar marcado e não podíamos. Insistiu a
beça até que mudamos. Ao sentarmos nos lugares novos ela virou pra mim e pediu
“Vamos mudar de novo?”.
Assim foram umas cinco vezes até
que dei um basta e falei “É aqui e come sua pipoca!”. Alguns segundos depois
ela reclamou “Ta demorando”. Acalmei dizendo que já iria começar e pensei no
meu prejuízo iminente.
Começaram os trailers. Ela riu e
eu me senti esperançoso, quem sabe ela não fica meia hora pelo menos? O filme
começou e eu vi que minha aposta tinha sido boa. Ela adorou aquele monte de
seres azuis pequenininhos e quando percebi estava gargalhando.
Fiquei feliz lembrando de minha
infância e como eu gargalhava com filmes infantis enquanto minha avó roncava ao
lado.
O tempo foi passando e a Bia se
comportava muito bem prestando atenção no filme. Eu também prestava atenção e
até que ele era interessante. Depois da metade do filme ela se levantou e
sentou na cadeira em frente a minha como uma adulta que foi ao cinema.
Na reta final do filme me pediu para
ir ao banheiro. Lembrei que perguntara antes se ela queria ir e Bia me
respondeu “Mas deu vontade agora”.
Entrei com ela no banheiro
masculino mandando que ela entrasse com os olhos fechados (Nem precisava, tinha
ninguém). Fiquei na porta e ela gritou “Acabei”. Abri a porta e voltamos à sala.
O filme chegava próximo do fim e
eu já me sentia vitorioso quando novamente ela pediu para ir ao banheiro.
Respondi que o filme já estava acabando e se saíssemos não viríamos o fim. A
pobrezinha ficou em pé apertando a calcinha e fiquei com pena. Mas perderia o
fim? Como fazer?
Peguei o copo vazio de
refrigerante e disse “vai ao cantinho e faz dentro”. Ela se espantou e perguntou
se podia, respondi “Não, só agora”. Ela foi e voltou com sorriso de quem fez
arte.
O filme acabou. Como prêmio pelo
ótimo comportamento levei nos brinquedos, lanchamos e fomos para casa com ela
cantando a música do filme e dizendo que adorou a smurfete. Quando reparei
estava dormindo em meu ombro.
Sabem qual nome dei àquela tarde?
Cumplicidade. É assim que se cria companheirismo. Assim que se cria amor.
Outro dia ela me cobrou quando
levaria ao cinema de novo. Acho que a cultura ganhou uma nova seguidora. Que
bom.
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