UM ANO
Algumas
pessoas costumam dizer que nasceram de novo. Geralmente quando isso ocorre é
com pessoas que passaram por alguma dificuldade ou algum perigo que colocou em
risco sua vida e acaba considerando como renascimento o fim desse período
difícil.
Algumas
colocam uma data como o dia desse renascimento e acabam utilizando essa data como
um segundo aniversário. O dia em que nasceram de novo.
Eu desde
o ano passado tenho uma data assim e tive a vantagem de não correr risco de
vida, não chegou a tanto, para ter um segundo aniversário.
Essa data
é o dia 19 de novembro. Quem vem a ser a data de hoje.
Mas por
quê eu considero tanto atualmente o dia 19 de novembro?
Essa data
representa uma mudança radical na minha vida. Talvez a mudança mais radical que
tive até hoje. O ano de 2013 não estava fácil. Apesar de ter tido a maravilha
do nascimento de meu segundo filho Gabriel posso dizer que não estava feliz.
O próprio
Gabriel vinha tendo dificuldades. Acabara de passar por uma internação difícil
num hospital onde muito nos consumiu e deu medo em relação ao futuro. Minha
vida também não andava.
Eu me via
aproximar dos 40 anos sem ter um futuro visível. Sem profissão, tem ver no
horizonte forma de me sustentar e ser reconhecido por aquilo que melhor sei
fazer, escrever, amava há anos uma mulher que não queria mais nada comigo (ao
menos achava que amava) cuja vida já andara e estava completamente independente
da minha. Me sentia feio, gordo, sem graça, sem nenhum tipo de atrativo para
mulheres ou mesmo amigos.
Não posso
dizer que estava em depressão porque depressão é uma palavra e uma doença muito
forte. Mas caminhava para isso.
Preferi
caminhar por outro caminho.
Um dia
fui jantar num restaurante que tem um ótimo churrasco misto (comer era uma das
poucas coisas que me dava prazer) e voltando para casa passei pela farmácia de
minha esquina como sempre passava. Não sei porque naquela noite resolvi me
pesar.
Pesei e
marcou 111,5. Não era um peso muito grande para mim que me acostumei na fase
adulta a pesar em média entre 116 e 120. Se considerasse que estava com calça
jeans, tênis e roupa pesada podia baixar pra 110,5. É, pra quem pesou 79 quilos
em 2008 após uma dieta rigorosa não era legal, mas pra vida que eu estava
levando não era ruim.
Acabou
que me animei. Pensei “110,5 da pra encarar”. Mais uma vez como algumas de 2008
em diante decidi retomar as caminhadas e dietas. Várias vezes fracassara nessas
tentativas então fiz planejamento humilde “Vou baixar de 100, ta bom. Quem sabe
com sorte não chego a 90?”.
Eu
precisava daquilo. Não era mais apenas por questões estéticas como nas
anteriores. Também era por isso, claro, mas me aproximava dos 40 anos, fase que
começa a cobrar os desmandos que temos com nosso corpo. Uma hérnia de disco
começava a ser cultivada o que atrapalhava demais meus movimentos e limitava
minha vida. Meus filhos cresciam e precisavam do pai saudável para criá-los e
bem para brincar com eles. Acompanhar esse crescimento.
Comecei
devagar. Com quatro dias quase desanimei por procurar uma balança funcionando
perto de minha casa para ver diferença e nenhuma estar funcionando. Com uma
semana quase desanimei quando achei a balança e perceber que não perdera peso.
Mas no oitavo dia o Flamengo foi campeão da copa do Brasil e na animação decidi
pesar de novo. Perdera um quilo. É, começava a dar certo.
Fui
ajeitando minha alimentação no período. No começo falava que não abriria mão da
minha pizza nos fins de semana, era apenas pra perder um pouco de peso. Mas em
algumas semanas já estava trocando essas guloseimas por frutas. Minha
alimentação diária passou a ser uma pêra, duas maçãs, um miojo e jantar normal.
Tudo acompanhado por muito suco.
Saía da
dieta nas sextas-feiras, dia de pesar quando me permitia comer pão com
mortadela e tomar coca zero. Com o tempo comecei a me dar parte do sábado
também. Isso foi com algumas semanas de dieta quando conheci a Hellen. Pessoa
fundamental em minha vida e em todo esse processo de qual falarei melhor daqui
algumas semanas.
As
caminhadas de leve foram ficando pesadas. Sem perceber já andava de 4 a 5 horas
por dia. Não seguidas, mas em 4 ou 5 saídas pra caminhar. A coisa começou a dar
certo em cima de muito sacrifício.
As
pessoas começaram a perceber a diferença, elogiar, eu fui me sentindo melhor
também. Sentia-me mais disposto, a hérnia desaparecia, me sentia mais bonito.
`Passei a gostar de tirar fotos e esqueci o amor que sentia pela tal garota.
Naquele momento percebi que eu lhe trocava pela única pessoa a qual poderia
trocar. Por mim. Eu precisava me amar para permitir que outras pessoas me
amassem e eu as amasse.
A
depressão foi embora e parece verdade quando dizem que pensamento positivo
atrai coisa positiva. A vida começou a andar. Ganhei sambas, escrevi coisas
bacanas, comecei a ser encenado e reconhecido como autor de teatro, liderei
movimentos, Gabriel e Bia crescendo com saúde, fiz discursos e além de
emagrecer aprendi a me cuidar, me vestir bem e tentar ser elegante pelas mãos
da Hellen. A namorada que a confiança e o estar bem comigo mesmo trouxeram.
Como eu
disse tudo com muito sacrifício. Todo mundo elogia e eu gosto. Mas andei muitas
vezes no calor, no frio, no Sol, chuva, madrugada, com sono, cansado, dores
então muitas vezes. Correndo perigo e sabendo que corria, tanto que fui
assaltado. Sempre sozinho, sempre focado.
Em
fevereiro cheguei aos 90 quilos que queria e diminui o ritmo. Não das
caminhadas, mas da dieta. Passei a me liberar nos fins de semana e incluir no
cardápio sorvete, chocolate, batata, etc.
De
fevereiro pra cá diminuiu o ritmo da perda de peso, mas continuou constante,
sólido e o mais importante, com menos sacrifício. No mês de outubro baixei de
80 quilos.
A luta
continua e é diária pra manter o foco. Posso estar com aparência de magro, mas
sou gordo e pra sempre serei gordo. A obesidade é uma doença assim como ser
viciado em bebida ou drogas e mata. Sim, a obesidade mata e é um dos maiores
motivos de morte do mundo moderno.
E é uma
doença que considero até pior que drogas ou bebida porque você com auto
controle pode nunca mais beber ou cheirar. Mas não pode deixar de comer senão
morre. Eu sou um doente, um obeso que nesse momento está sob controle, mas não
sei até quando então vou lutando e vivendo cada momento.
Não gosto
de falar muito desse meu processo porque acho que é algo pessoal meu, também
não gosto que me usem como exemplo porque assim me coloca pressão e me tira o
direito humano do fracasso, muito menos gosto de dizer o que fiz pra emagrecer
e pra manter porque cada um conhece o seu corpo. Eu conheço o meu e sei os
limites do meu e mesmo sabendo algumas vezes extrapolei e mandei mal. Então não
quero ser exemplo pra ninguém e nem que façam o que fiz pra emagrecer.
Mas estou
feliz como poucas vezes estive na vida. Estou feliz comigo mesmo, com auto
estima elevada, mas sem soberba. Muito longe do depressivo de 2013. Falta muito
ainda, um ano é muito pouco e ano que vem nessa data posso estar gordo de novo.
Mas o que
importa é que eu consegui e consegui olhando meus pés, vendo minhas unhas
roxas, os mesmos cheios de calos e sentindo orgulho disso. Porque evidente que
entendo quem fez bariátrica ou qualquer cirurgia para emagrecer. Mas pra mim
não adianta. Se me tirarem o prazer de comer eu prefiro morrer e não to
brincando.
Quero
sempre ter o prazer de tomar um sorvete, ir a um rodízio de pizzas e ter a
sabedoria de saber que depois tenho que me exercitar e perder essas calorias.
E assim
vou caminhando..
..Nesse
19 de novembro caminhando até o mesmo restaurante que comi o churrasco misto do
ano passado pra fazer o mesmo ritual com 30 quilos a menos.
Não deve
pesar menos no bolso. Com a volta da inflação deve ter até aumentado o valor.
Mas vai
pesar bem menos na alma.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirObrigado amor, vc faz parte disso tudo
Excluirbjs
Parabéns Aloísio !! Mesmo nao querendo , já é um exemplo !! Texto lindo !!!
ResponderExcluirObrigado Lu, beijão
ExcluirBacana. Parabéns e que a vida siga nessa toada.
ResponderExcluirObrigado Juliano
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