ANÁLISE: OS SAMBAS DE 2015
*Coluna publicada no blog Ouro de Tolo em 16/11/2014
Chega de falar de política, né? Pelo menos por enquanto já que temos assuntos mais palpitantes para tratar.
No último mês de outubro foram
escolhidos os sambas do Grupo Especial do Rio de Janeiro para o Carnaval
de 2015. A Viradouro já tinha decidido por uma junção de duas músicas
de meio de ano. As outras onze agremiações fizeram sua escolhas com
quadras lotadas, dando início verdadeiramente ao carnaval.
Nos meses de setembro e outubro também
foram escolhidos os sambas da série A, espécie de segunda divisão do
samba. Não ouvi quase nada desse grupo, mas dizem que a safra é melhor
que do especial.
Não é novidade, porque pelo menos desde
2001, ano que venci pela primeira vez no A, normalmente é assim.
Acredito que pelo menor gasto dos grupos inferiores para competir num
concurso de samba e a menor padronização dos mesmos.
Mas a chegada das firmas, com força,
tanto no A quanto nos grupos da Intendente Magalhães já ameaça essa
situação com as mesmas inflacionando o preço dos concursos e
padronizando os sambas.
Enfim, vamos aos sambas:
Não sou adepto da catástrofe como muitos
(inclusive o comandante em chefe bolivariano desse blog), não vi todas
as colunas, mas vi e soube de muitos “taca le pau” em relação à safra de
2015 e não farei isso.
Não é uma safra maravilhosa, desde os
anos 80 não temos e continuaremos não tendo. Não tem um super samba
enredo como Imperatriz e Vila-2010, Portela-2012, Vila-2013 nem um
excelente como Salgueiro-2014, apesar de Pedro Migão – que persegue a
escola do Andaraí desde que Pamplona era seu carnavalesco – não
concordar com essa minha visão sobre o citado samba .
Mas pelo menos ao meu gosto não tem
“pula-faixa”. Não tem nada horroroso que dê vergonha de tocar na frente
de parentes e amigos. Nada que mereça mangue ou que seja pior do que vem
fazendo sucesso nas rádios atualmente.
Continuo dizendo. Samba-enredo é o melhor gênero musical feito hoje em dia no Brasil mesmo não brilhando pra 2015.
Dividi os sambas em dois grupos. Um grupo de cinco sambas que considero muito bons e outro de seis que chamo de animados.
Um sobrou e eu acho uma incógnita.
Não tenho a mínima ideia de como se sairá o samba da Viradouro. É uma bela música de fato, mas é isso que eu falo, música.
Tem cara de samba-enredo? Atual, não
muito, mas tem cara de samba-enredo antigo, dá pra imaginar essa música
num desfile antigo. Mas o carnaval mudou muito, não sei se funciona
hoje.
Mas quem mais deve arriscar mesmo esse
ano é a Viradouro. Como toda escola que sobe, ela é a bola da vez pra
cair, então tem mesmo de fazer algo diferente pra evitar isso.
No grupo dos animados temos Tijuca, Salgueiro, Ilha, Grande Rio, Mocidade e São Clemente.
São Clemente vem com um samba leve pra
falar de Pamplona. Não foge de suas características recentes e deve
funcionar na avenida. Mas sinto falta de uma São Clemente mais
irreverente e, por ser uma figura carnavalesca e tão importante como o
Pamplona, talvez coubesse. A São Clemente acaba entrando numa
padronização que uma hora pode cobrar a conta. Na hora que a ousadia de
quem subir der certo.
Mocidade vem no estilo Paulo Barros de
ser. Como já falei numa coluna, ele é do estilo Joãosinho Trinta, no
qual o carnavalesco brilha, não o samba, que só serve como suporte para
seus delírios. Graças a isso, a ala de compositores da Tijuca foi bem
prejudicada e já vemos esse efeito na Mocidade, que vinha de um grande
samba em 2014.
O samba não é ruim, tem um refrão do meio bacana, mas é mais um que esqueceremos depois da folia.
A Grande Rio também vem com samba
animado, com um refrão principal diferente e que até me lembrou um pouco
melodia de festa junina (não há demérito nisso). Gosto dessas
inovações, do diferente, e essa melodia me chamou a atenção. Mas é mais
um samba como a escola se acostumou nesse século. A impressão que me dá é
que a agremiação de Caxias desfila com o mesmo samba desde 2000.
O enredo também não ajudou os compositores.
A União da Ilha vem com um samba que
dizem ser a cara da Ilha (esquecem que “Domingo”, “Lendas e festas das
Yabás” e “Nos Confins de Vila Monte” fazem parte da história da Ilha).
Não é um samba ruim dada a dificuldade do enredo, mas tem um trecho
polêmico.
O “fiu fiu” provocou grande polêmica no
concurso além do samba ter como um dos compositores Djalma Falcão, vice
presidente da agremiação. O fiu fiu foi mantido e não sei como os
jurados reagirão. Para os jurados não tem essa de Djalma Falcão, o que
pode ser bom ou ruim. Não existe a proteção nem a pressão contrária que o
nome Djalma carregou no concurso.
A campeã e a vice do carnaval também vêm
com sambas animados. Da Tijuca já se esperava isso dado o efeito Paulo
Barros já citado e que demora a deixar de ser sentido. Até gosto do
refrão principal, mesmo não entendendo a menção ao prêmio Nobel num
enredo sobre a Suíça.
Salgueiro não esperava. Veio com um
excepcional samba feito em cima de um enredo difícil em 2014. Para 2015
teve um enredo mais simples, com mais possibilidade de sair um belo
samba e optou pelo funcional. Também não é ruim, mas passa pelo problema
que passou a Vila ano passado. A comparação com o anterior.
Parece que voltou a busca ao Ita perdido
e senti a falta do Quinho. Pode não ser um grande cantor, mas para um
amante de sambas com menos de 40 anos causa estranheza sua falta.
Vamos ao outro grupo:
Gosto da Vila, que se recuperou em
samba-enredo em relação a 2014, espero que se recupere na avenida
também. A Vila nesse século intercalou grandes sambas com outros
“passáveis”. Esse pode não ser um grande samba, mas também não é
descartável e pode fazer a diferença em seu desfile. A melodia é bem
envolvente.
Imperatriz e Beija-Flor vêm afro. A
Beija-Flor juntou características de sua história. Os sambas afros,
pesados, melódicos, difíceis e lindos, como só a comunidade nilopolitana
sabe conduzir com a homenagem a quem não deve, como fazia em seus
primórdios. Vem brigar por título.
Imperatriz inova, já que afro não é de
seu feitio. Mas assim como no ano passado vem com um samba de parte de
cima da tabela. Outra figura carismática é homenageada, dessa vez Nelson
Mandela e o refrão principal é muito bom.
E agora pra mim os dois melhores do Especial.
O samba da Mangueira é delicioso e me
apaixonei por ele desde que ouvi pela primeira vez. Não é porque foi
feito por meu amigo Cadu, até porque ele já compôs sambas que não achava
dessa beleza toda. Mas o samba da Mangueira é envolvente, gostoso,
remete ao sambas da escola dos anos 80. Sou vidrado no refrão do meio.
E pra mim vem de Madureira, mais uma vez, o samba do ano.
É o samba que quase todos queriam. Um
samba gostoso, malandro. Melodia forte, letra adequada a essa melodia.
Mais um grande samba portelense como têm sido quase todos dessa década. A
Portela com sua auto estima recuperada canta que é carioca, é de
Madureira e poucas vezes lhe vi tão forte para a busca do 22° título
como agora.
Adorei esse samba logo na primeira vez que ouvi e quando ouvi os sambas na quadra não tive dúvidas que venceria.
O fato curioso é que o lendário Noca da
Portela e seus parceiros tiveram que vir na linhagem criada por Luiz
Carlos Máximo e seu grupo nos últimos três anos para ganhar o concurso.
Isso deve dar orgulho pra parceria tricampeã mesmo sendo derrotada.
Enfim, essa é minha análise, mas como hoje em dia samba é apenas um detalhe a Sapucaí é quem nos dará as respostas.
Começou o Carnaval.
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