SEMANA NELSON RODRIGUES: NELSON RODRIGUES E EU
Hoje
inicio a “Semana Nelson Rodrigues” em meu blog em virtude da minha peça “Eu
matei Nelson Rodrigues” que estará em cartaz domingo no Rio de Janeiro.
Inicio
respondendo uma pergunta “Por quê Nelson Rodrigues?”
Além do
fato de ser o maior dramaturgo brasileiro Nelson foi surgindo em minha vida aos
poucos, em doses homeopáticas foi entrando nela até que virei seu fã.
Entrando
na adolescência vi pela primeira vez “Bonitinha, mas ordinária”, filme que será
retratado essa semana no “Cineblog”. O filme me impressionou pela história,
linguagem, cenas e a cena.
A cena da
Lucélia Santos, de aparência frágil, mas grande atriz, no capô de um carro na
chuva sendo estuprada por vários negros, sendo virada, revirada e gritando
“Cadelão” entrou para o imaginário nacional e no meu. Imaginem um garoto
entrando na adolescência vendo uma cena dessa? Fica louco.
Fiquei
com o filme na cabeça e ansiei por anos revê-lo. Consegui ver mais um monte de
vezes até que consegui comprá-lo em fita VHS.
No meu
segundo contato eu já era adulto. Tinha vinte e dois anos, fazia faculdade de
comunicação na SUAM e no curso, durante o segundo período, havia dois projetos
interessantes para os alunos realizarem.
O
“Projeto Glauber Rocha” que consistia em fazer um curta metragem de dez minutos
com os alunos escolhendo o tema. Também tinha o “projeto Nelson Rodrigues” que
era a adaptação de uma peça ou conto de Nelson que realizaríamos. Para nosso
grupo coube o conto “Cheque de amor”.
E coube a
mim fazer a adaptação. Acabou sendo a minha primeira experiência teatral como
escritor. Nelson estava em evidência naquela época. Além do livro “O anjo
pornográfico” de Ruy Castro a Globo lançara a série “A vida como ela é” com
seus contos e sem dúvidas “Cheque de amor” é um de seus melhores.
A
história do filhinho de papai que é obrigado a trabalhar e se apaixona por uma
funcionária que é noiva é típica do imaginário rodrigueano.
Dediquei-me com
afinco ao texto e apresentamos no fim do primeiro semestre de 1998.
Acabei
fazendo o personagem principal. A experiência foi muito bem sucedida mesmo eu
(ou principalmente porque eu) caindo de uma cadeira quebrada de bunda no chão
durante a montagem levando o público ao delírio.
Ganhamos
prêmios de melhor peça da turma e eu melhor ator.
Aí eu já
era fã do Nelson, escrevi uma série de contos baseados nas histórias dele que
transformei em livro nessa década e alguns deles estão no meu blog e no Ouro de
Tolo na sessão “O buraco da fechadura”. Dois anos atrás comecei a escrever
peças de teatro e três foram no universo rodrigueano. “Folhetim”, “Cerimônia de
casamento” e “Never Can say goodbye”. A três disponíveis no site “Recanto das
letras”.
Até que
ano passado, no meio do ano passado veio a ideia da “Eu matei Nelson
Rodrigues”.
Passava
por um momento de baixa auto estima. Chegando aos 40 anos sem ter realizado
nada que queria, me sentindo feio, gordo, fracassado e desanimado. Alguns
poderiam ter metido uma bala na cabeça, eu que sou um cara debochado resolvi
ironizar aquilo tudo.
Em uma
semana criei a história de um escritor fracassado, perto dos 40 anos, com tudo
dando errado em sua vida que se envolve em uma situação inusitada com o Nelson
e assim vê sua vida transformada. A Peça tem forte referência ao universo
rodrigueano e lembranças de histórias suas como “Beijo no asfalto”, “Os sete
gatinhos”, “A falecida”, “bonitinha, mas ordinária”, “Boca de Ouro” e outras
histórias.
Uma peça
que é na verdade uma grande homenagem e uma forma de agradecer a influência do
Nelson em minha vida.
A peça
foi vista no site pelo ator paulistano Humberto Lutti que pediu autorização
para encenar. Foi encenada nove vezes em São Paulo com grande público, nas
últimas vezes com cadeiras extras, e chega agora ao Rio de Janeiro.
Acho que
minha história com Nelson Rodrigues ainda tem muito a dar e nem precisei
matá-lo para isso. Só posso agradecer e esperar contar com sua força de algum
lugar para que as coisas continuem dando certo e essa “parceria” continue.
EU MATEI NELSON RODRIGUES
DIA 24/8 18 HORAS
TEATRO DA SUBPREFEITURA DA ILHA
RUA ORCADAS 435 ILHA DO GOVERNADOR (AO LADO DO ILHA PLAZA)
INGRESSO: 1 QUILO DE ALIMENTO PARA A ONG SOLIDARIEDADE
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