DISPUTA DE SAMBA: A BOLHA
*Coluna publicada no blog Ouro de Tolo em 29/7/2014
O Pedro
Migão pediu para que escrevêssemos uma série sobre disputas de samba.
Sinceramente não sei porque já que é um assunto que não muda, não se renova.
Eu já
falei desse assunto inúmeras vezes aqui e em meu blog, outros colegas também e
se quiser saber mais sobre as disputas de samba-enredo é só procurar por essas
crônicas.
Mas vamos
lá, vamos falar do assunto. Um concurso de samba-enredo é um local onde caras
vaidosos e gananciosos se juntam para tentar ter a honra de ser os autores do
samba-enredo, ou seja, do tema musical que a escola levará pra avenida.
Tudo
muito bonito, tudo muito legal. O problema é que um concurso envolve muito
dinheiro, tanto para levar um samba a final e vencer quanto de direitos
recebidos pelos compositores. Não vou entrar em detalhes sobre pra que serve o
concurso, como ele é realizado e o fato da maioria que se diz compositor não o
ser porque já cansei de falar sobre isso aqui.
Quero
falar de outras coisas.
Eu não ia
escrever samba esse ano. Estava decidido a isso porque além de estar focado em
outras coisas como minhas peças teatrais que começam a ser encanadas por
algumas cidades do país eu estou um pouco cansado. Não do meio do samba e dos
inúmeros amigos que fiz nele. Mas dos rumos da coisa.
Semanas
atrás meu amigo e irmão Cadinho começou a encher o saco porque queria fazer
samba pra União da Ilha. Relutei, falei que não queria e ele foi montando a
parceria. Um grupo todo de amigos e alguns com os quais nunca escrevi e tinha
muita vontade. Acabei mudando de ideia e topando mesmo sem estar no clima.
Agora vou
mostrar o porque de não estar com muita vontade.
Demos
dois apelidos para nossa parceria, a “Beleza dura” brincando com o título do
enredo e “Parceria dos refugos” porque tivemos que juntar três ou quatro
parcerias em uma só para concorrer.
Somos
umas doze pessoas no grupo onde só seis podem assinar. Eu fui o primeiro a
dizer que não quero assinar pelos motivos citados acima. Doze pessoas em uma
parceria de samba parece ser um exagero e é.
Mas temos
motivos pra isso.
As
principais parcerias da escola que ano a ano já se fundiam formando novas
parcerias fizeram novamente isso esse ano. Um dia essas principais parcerias já
foram seis ou sete, recentemente passaram para quatro, hoje todo o poder
financeiro e político da União está resumido a duas parcerias.
Parcerias
enormes que envolvem mais de dez pessoas. Gente com dinheiro, política,
comunidade e talento que se uniram para poder vencer o samba. Até o
multicampeão e talentosíssimo vice-presidente da escola Djalma Falcão pediu
licença de seu cargo para concorrer.
Então me
diz. Como ter alguma chance? Nem digo de vencer, mas de ser notado? Só fazendo
o que fizemos. Unindo uns doze que “sobraram” na união dessas super parcerias.
Isso não
é exclusivo da União da Ilha. Em todas as escolas de samba ocorre isso
encarecendo as disputas de uma forma absurda. O encarecimento vira uma bola de
neve porque assim como surgem essas parcerias poderosas e riquíssimas as outras
coisas encarecem por saber da bala na agulha que esses grupos tem.
Nem vou
falar de sambas de escritório porque já estou de saco cheio de falar sobre
isso. Vou falar desses grupos como se todos fossem oriundos das escolas. O
samba saísse exclusivamente deles.
Essas superparcerias
montam super palcos. Alguns com até três cantores do grupo especial. Evidente
que cantores e músicos sabendo do poder financeiro desses grupos encarecem seus
preços.
Acredito
que nenhum cantor do grupo especial hoje peça menos que quatro dígitos pra
defender um samba. Um cantor médio, daqueles que tem talento, mas não mudam a
história de um concurso nem tem nome para isso já pedem perto de um salário
mínimo.
E esses
grupos pagam aos cantores e músicos esses valores absurdos. Acontece que esses
cantores e músicos pedem esses valores a todos, os que pertencem a esses grupos
ou não porque sabem que os outros também terão que pagar pra ter alguma chance.
Além
disso, nos últimos anos temos visto o fenômeno de artistas de meio de ano
entrando no mundo do samba. Geralmente são artistas importantes, famosos, que
passam por um viés de baixa e veem no samba-enredo uma forma de ganhar dinheiro
e estar em evidência.
Entraram
e gostaram já que a maioria vence. Ter esses artistas concorrendo e vencendo é
propaganda gratuita para eles e para as escolas. Dessa forma artistas como
Elymar Santos e Dudu Nobre repetem a experiência. Dudu até aumenta seu poder de
fogo e além da escola do coração concorre em escolas do acesso e de São Paulo.
Quem
trouxe esses artistas para o samba foram os caras que tem grana, quem trouxe os
caras da grana para o samba foram os compositores pobres, talentosos e que
precisavam investir.
Com o
tempo os caras da grana perceberam que não precisavam desses compositores
pobres, podiam comprar seus sambas e os afastou. Alguns desses artistas já
estão trazendo outros artistas para o meio e vão perceber que não precisam nem
do compositor pobre nem do cara da grana porque com o nome que eles têm e
aprendendo a conhecer a comunidade com os anos passados na escola concorrendo o
artista perceberá que eles bastam.
Aí
chegará o ano que Ronaldinho Gaúcho perceberá que não precisa investir numa
parceria como fez ano passado na Ilha. Vai perceber que uma parceria dele, seu
irmão, Wagner Love e Adriano encomendando samba para algum pagodeiro terá até
mais chance de vencer.
Assim
como Elymar Santos vai perceber que uma parceria dele com Jorge Vercilo, Djavan
e Fágner terá mais mídia e mais atração para patrocinadores que com um monte de
desconhecidos.
Moral da
história: O malandro do samba é o otário de amanhã. O compositor, classe
gananciosa, vaidosa e sem nenhum tipo de união provoca e alimenta o animal que
ira lhe comer. No mercado financeiro chamam de bolha um momento como esse.
Em alguma
hora irá explodir.
Por isso
sou a favor do fim dos concursos de samba-enredo. Mas falarei disso quando os
mesmos começarem.
Comentários
Postar um comentário