A NOVA FAMÍLIA
Essa coluna que postarei hoje não é inédita. Ela foi tema da minha primeira coluna do ano para o blog “Ouro de Tolo” então nada mais justo que ela seja também apareça aqui entre as últimas do ano. Ela é o símbolo de um ano maravilhoso. Gabriel, assim como Bia, são o retrato de um 2013 com sustos, mas inesquecível.
A nova família
Como
noticiei na coluna de semana passada, serei pai pela segunda vez. Sou pai da
linda Ana Beatriz que fará quatro anos em maio e a partir de setembro serei pai
de um menino ou menina.
Surpreendi
todos os meus amigos e familiares com a notícia, já que não alertara a ninguém
da possibilidade, só o dono do blog sabia da possibilidade por ser muito
curioso e ser o Nelson Rubens das redes sociais.
Surpreendi
mais ainda pelo fato de não estar namorando. Começamos o ano de 2013 e pessoas
ainda acham que necessariamente tem que estar namorando ou casado para ter
filhos.
Como
muita gente sabe, inclusive os leitores deste blog, a Bia não é minha filha
biológica. Sua mãe é uma ex-namorada antiga minha.
Há
quase dez anos nos separamos e um tempo depois ela começou uma relação estável
com uma mulher – que dura até hoje.
Por
um acidente de percurso ela engravidou e não sabia quem era o pai. A menina
cresceria com um espaço em branco na parte do pai na certidão de nascimento,
sem referência masculina.
Eu
tinha passado com uma ex-namorada experiência de gravidez, mas ela perdeu a
criança aos quatro meses de gestação. Eu caminhava para os trinta e três anos
de idade e achava estar na hora de ser pai. Propus a ela registrar a Bia.
Nasceu
assim minha história com a menina que mudou a minha vida. Era pra ser apenas um
registro, uma presença oficial e transformou num caso de amor. A Bia
seguramente é hoje a pessoa mais importante da minha vida, sinto todo o amor
que ela tem por mim. Esse amor me reconforta nos momentos de dor, me alegra nos
momentos tristes e faz de minha vida mais feliz – por principalmente saber que
isso é para sempre.
Quase
quatro anos depois, elas sentiram a necessidade de aumentar a família e dar um
irmão à Bia. Eu sou filho único e senti na própria carne muitas vezes a
necessidade de um irmão, alguém para dividir momentos e sentimentos.
Eu,
já com quase trinta e sete anos, sem namoro ou perspectivas de casamento pensei
em construir minha família, mas acabei construindo de uma forma diferente. De
trás pra frente. Com dois filhos, um alicerce criado, vou com mais
tranqüilidade para encontrar um amor, sem tem que correr o risco de, com a
demora,
ser
“avô de meus filhos”.
Dessa
vez foi tudo planejado entre nós três, pensado, calculado e depois de algum
tempo, o que queríamos ocorreu. Essa criança que chegará em 2013 receberá todo
amor e carinho possível. Não temos a fórmula certa para criar um filho, mas eu
tento me basear em três alicerces para que tudo dê certo e eu crie um adulto
feliz.
Amor,
educação e cultura. Dar essas três coisas não garantem a felicidade e caráter
de ninguém, mas ajudam bastante.
Assim
está sendo com a Bia, uma criança adorável, amorosa, esperta e carismática.
Criar em cima desses três itens vem dando certo e assim será com o novo membro
da família.
E
por que estou dividindo isso tudo com vocês? Algo que a princípio parece tão
pessoal?
Porque
é um exemplo da família moderna, do século XXI.
É
o certo? Não, não é o certo e nem é o errado. Cada um escolhe a sua maneira de
ser feliz e criar sua família. É aquele clichê de rede social “Deus deu uma
vida a cada um para que cada um cuide da sua”.
Quem
me conhece bem ou mesmo acompanha essa coluna desde o início sabe do quanto a
Bia é amada por mim, por suas “mães”, família e amigos e o quanto ela vem sendo
bem criada mesmo não sendo de uma família de estereótipos.
Mas
mesmo as pessoas sabendo disso, muita gente se assusta e faz uma série de
perguntas - como fizeram em razão da
segunda gravidez. Sei que muitos torcem o nariz e fazem piadinhas por trás,
mas
eu não ligo porque EU sei que estou fazendo o certo. Não sou uma pessoa
intransigente, sou facilmente convencido quando estou errado ou não tenho
firmeza nas minhas opiniões.
Mas
quando EU sei que estou certo ninguém, nem o Papa e seus preceitos retrógrados,
me fazem mudar de idéia.
Porque
a igreja e grande parte da população que vaga por esse planetinha azul
hipócrita chamado Terra acha que família que presta é a formada por papai e
mamãe casados e filhinhos.
Só
que muitas vezes papai e mamãe vivem brigando em casa traumatizando filhos,
sejam em discussões ou mesmo agressões físicas. Em muitas famílias papai chega
bêbado em casa, bate na mamãe, nos filhinhos e vai assistir futebol na TV como se
nada tivesse acontecido.
Outras
vezes o casal teve sua união selada pela igreja e a lei dos homens se separa.
Papai arruma nova família e não liga mais para os filhinhos do primeiro
casamento, mamãe cheia de rancor por ter sido trocada faz dia a dia a cabeça
dos filhinhos contra o papai – nascendo assim sentimentos como mágoa e rancor.
Fora
os casos mais raros, mas que acontecem de papai que é casado com mamãe visitar
filhinho em seu quarto no meio da noite para fazer coisas que pais e filhos não
devem fazer.
Quando
eu nasci, meu pai era casado com minha mãe na igreja e no civil. Separaram-se
um pouco depois e nunca tive um grande contato com meu pai. Nunca me deu
presente de Natal, aniversário, nem mesmo me ligou para um “feliz aniversário”.
Olha que nem é difícil de lembrar, porque meu aniversário sempre cai
perto
do dia dos pais.
Minha
mãe morreu e desde então a única pessoa do lado paterno da família que me
procurou foi um tio, semanas depois da morte, para tentar me vender vassouras.
Meu
pai sabe que a Bia existe, mas não sabe seu nome e nunca veio visitar mesmo
sabendo onde mora.
Enfim,
contei vários casos acima. Casos comuns, outras aberrações que existem, casos
meus e o que causa estranhamento e uma série de perguntas é a família
harmoniosa e feliz que estou criando.
Meus
avós tinham problemas no casamento, meus pais tinham problemas, alguns tios
tiveram, mas o que surpreende é justamente uma das relações mais tranquilas e
afetuosas dessa família desde que me entendo por gente.
Se
eu morresse ou sumisse hoje já seria um pai melhor que o meu foi para mim e a
maioria dos homens que conheço foram e são.
Não
sei quem criou os dogmas ou preceitos da família ideal ou família certa. Só sei
que estão ultrapassados. Vivermos um novo tempo, uma nova sociedade.
Não temos a família
perfeita. Claro que discutimos, brigamos, que às vezes a Bia leva suas palmadas
(nunca soube de alguém que se perdeu na vida ou criou rancor com os pais porque
levou palmada no bumbum) ou nos estressamos. Mas o amor e o respeito que são
fundamentais não só em uma família como em qualquer relação prevalecem.
Eu perdi minha mãe em
2005, a mãe da Bia perdeu seu padrinho e homem que lhe criou meses depois, sua
companheira também perdeu o pai. Pessoas unidas pela dor.
Provamos que pessoas
que se unem pela dor podem dar luz à alegria.
Um dia as pessoas
entenderão que para se constituir família não é necessariamente ter um homem e
uma mulher. Podem ser dois homens, duas mulheres, um homem e uma mulher ou duas
mulheres, um homem e duas crianças como a nossa.
Um dia uma gravidez
não trará tanto espanto e perguntas como se ao invés de trazer uma vida a Terra
a pessoa que anunciou tivesse entrado em um colégio e matado trinta crianças.
Será no dia que as
pessoas entenderem que para se construir uma família de verdade só é necessária
uma coisa.
Amor.
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