A PRAIA E O CUPOM PREMIADO
*Conto da coluna "O buraco da fechadura" publicado no blog "Ouro de Tolo" em 24/8/2013
Sábado de
Sol, aluguei um caminhão..não, não o conto não é sobre a música dos Mamonas
Assassinas e na verdade nem tem caminhão no meio, mas tem sábado de Sol e uma
família indo curtir a praia.
A família
de Januário, moradora do subúrbio do Rio de Janeiro. Motorista de ônibus o
homem tinha folga uma vez por semana e calhou que naquela seria um sábado. Logo
cedo o homem acordou sua esposa Amélia e seus filhos Mário e Dulce para
curtirem o sábado na praia.
Os filhos
reclamavam e tentavam ainda ficar na cama enquanto Amélia preparava os lanches
e bebidas. Januário colocava as coisas no velho fusca e entusiasmado contava
que há tempo não conseguia pegar um Sol.
Na hora de
partirem apareceu Dirceu, namorado de Dulce perguntando pra onde iriam e a
namorada respondeu que passar o dia na praia. O garoto se entusiasmou e disse
que iria junto com Januário cortando e dizendo que não teria espaço nem comida
para mais um.
Amélia
mandou que o marido parasse de implicância e convidou Dirceu para
acompanhá-los. Assim foram Januário, Amélia, Mário, Dulce, Dirceu e o cachorro
são Bernardo da família passar o dia na praia.
Pegaram um
trânsito desgraçado em pleno sábado já que todos tiveram a mesma ideia e foram
a praia. Chegando lá a turma toda correu pra areia enquanto Januário tinha que
arrumar água pro radiador. Depois de um tempo o homem conseguiu ir pra areia e
sem chinelos saiu quicando por causa da quentura.
Chegou
onde a esposa estava e estendeu a canga para deitar.
Começou a
olhar o jornal quando tomou uma bolada.
Era a bola
do frescobol que Dirceu e Dulce jogavam. Januário esbravejou e mandou que
tomassem cuidado. Depois voltou a ler o jornal com a mulher mandando que
passasse protetor solar com o homem recusando e respondendo que sua pele era
forte.
Teve que
aturar o cachorro pulando por cima dele e o filho atrás correndo. Esbravejou
que não lhe deixavam em paz curtindo o Sol e Amélia aconselhou o homem a
mergulhar para esfriar a cabeça. Januário aceitou a idéia e correu para o mar.
Ainda
quicando devido a quentura da areia Januário mergulhou e subiu reclamando que a
água estava gelada. Nadou um pouco e ficou lá da água olhando sua família se
divertindo na areia. Pensou como era feliz por ter uma família tão bonita e
como era abençoado por morar no Rio de Janeiro, de um lado o Cristo Redentor e
do outro o Pão de açúcar. Januário não queria mais nada.
E ainda
tinha as meninas de biquíni. Januário dentro da água não sabia para onde olhar
com tantos monumentos com micro biquínis cavados e o homem começou a ficar
louco. Uma começou a olhar pra ele e Januário reparou que Amélia distraída
tomava sorvete então poderia retribuir.
Ficaram um
tempo na troca de olhares com Januário se sentindo um galã de cinema até que a
moça olhou para o lado e nadou em direção a areia. Januário pediu que ela não
fosse, ficasse mais um pouco e notou que todo mundo no mar fazia o mesmo.
Ficou
olhando as pessoas se perguntando porque saíam e de repente entendeu. Uma onda
gigantesca chegou e pegou Januário de jeito.
O homem
tomou o que chamamos de “capote” sendo levo pela onda até a areia.
Januário chegou à areia sem fôlego
com todos na praia olhando. O homem levantou e irritado perguntou se nunca
tinham visto alguém se derrubado por uma onda quando a menina que ele paquerava
chegou e lhe entregou sua sunga.
Januário perdera no “capote”.
Envergonhado colocou a sunga e
voltou para sua canga na areia. Sentou e Amélia perguntou se o marido estava
bem, ele respondeu que sim e aconselhou que a esposa não fosse na água, pois,
estava violenta. Sentou e voltou a ler o jornal.
Estranhou o sumiço dos filhos.
Amélia contou que Dulce contara que ia namorar um pouco com Dirceu e Mario
fizera amizades na praia e pediu para dar uma volta com eles. Januário deitou e
contou que finamente assim teria um pouco de paz quando o cachorro começou a
lamber seu rosto.
De tarde todos se reuniram para
lanchar. De um isopor tiraram refrigerantes e do outro salgadinhos, sanduíches
e pratinhos pra comerem o frango assado que Amélia preparou, uma típica
“farofada”.
Depois o homem decidiu se
bronzear. Mesmo com Amélia mandando que ele colocasse protetor o homem
continuava se recusando. Deitado disse que queria sair “preto” da praia.
Pegou no sono curtindo o fervor do
Sol em cima e só acordou no fim da tarde quando uma grande chuva caiu sobre a
cidade. Levantou e Amélia falou que era hora de partirem.
Dulce e Dirceu apareceram
encharcados de chuva. A moça estava de blusa branca que ficou transparente e
irritado Januário perguntou onde estava a parte de cima do biquíni. Enquanto a
moça tentava se explicar Amélia perguntava onde estava Mário.
Dirceu comentou que viu uns
rapazes sendo presos com maconha e Januário riu dizendo que nunca o filho
estaria num grupo desses. Depois da risada parou por uns segundos e gritou
“Mário !!”.
Alguns minutos depois estavam na
delegacia para resgatar o filho. Januário furioso pedia desculpas ao delegado
dizendo que aquilo não se repetiria e com vontade de matar o filho enquanto
Amélia com fome pediu dinheiro ao marido para comprar um saco de batatas
fritas. O homem sem nem olhar para a esposa deu o dinheiro e continuou se
explicando ao delegado segurando o filho pela orelha.
Amélia foi até o lado de fora da
delegacia e comprou a batata com um ambulante. Voltou para dentro, abriu o
pacote e viu um cupom dentro, quando abriu o cupom soltou um grito.
Januário que saía com Mário da
sala do delegado perguntou o que acontecera e Amélia gritando respondeu que
tinha um cupom premiado dentro do pacote, viagem para Salvador com tudo pago.
A marca da batata era famosa e a
promoção passava direto na tv, mas assim como coisas ruins a gente nunca pensa
que coisas como ganhar na loteria ou achar cupom premiado de alguma promoção
acontece conosco, mas ocorreu com a família de Januário. Duas passagens de
avião de ida e volta e hospedagem com tudo pago para a Bahia em uma nova lua de
mel.
Januário vibrou e fazia planos de
finalmente tirar as férias atrasadas quando ouviu a palavra “avião”. O homem
gelou, nunca andara no veículo e morria de medo.
Deu um sorriso constrangido e
respondeu “que bom” enquanto a mulher falava das maravilhas do “pássaro de aço”
Januário se borrava. Dirceu para limpar a barra com o sogro lhe abraçou e
desejou boa viagem. Nesse momento Januário descobriu que tomara Sol demais e
deu um grito de dor.
Enquanto Amélia planejava a viagem
Januário se apavorava. Via notícias de desastres aéreos na internet e se
imaginava em um deles. Todos sempre comentavam que o meio de transporte mais
seguro que existia era o avião e que dificilmente ele caia, mas o que
atormentava Januário era essa palavra “dificilmente”, era difícil, mas ocorria.
Brincando ele falava que não
existiam oficinas mecânicas no céu para o caso do avião ter problemas e que
invenção de brasileiro, mais pesado que o ar e movido a explosão nunca daria
certo.
Mas a verdade era que estava
realmente tenso. Nas últimas noites antes da viagem nem conseguia dormir,
Amélia perguntava o que o marido tinha e Januário respondia que era apenas
ansiedade com a proximidade da viagem.
Na noite anterior decidiu assistir
tv para relaxar e estava passando “apertem os cintos o piloto sumiu”, nervoso
mudou de canal e quando percebeu passava “La bamba”. Achou melhor dormir.
Deitou na cama virando de um lado
para o outro e dormiu muito pouco, logo o despertador tocou anunciando a hora
de levantar e ir para o aeroporto.
Os filhos levaram Januário e
Amélia até o aeroporto pra se despedirem. Enquanto a mulher tagarelava o tempo
todo Januário era só ansiedade e tensão ficando quieto. Despediram-se dos
filhos e foram para a área de embarque. Lá Januário foi ao banheiro umas trinta
vezes em cinco minutos até que chegou a hora de ir para o avião.
Pegaram um micro-ônibus em direção
ao avião e Januário lembrou do filme “expresso da meia noite” quando em um
ônibus daquele tipo um americano foi pego com drogas e levado para uma prisão
turca. Lamentou não ter a mesma sorte, se fosse preso não precisava viajar.
Entrou no avião e estranhou o
tamanho do veículo. Era menor que o ônibus que dirigia e se perguntava como
aquilo se sustentaria no ar. Sentou em seu lugar e começou a ouvir as
instruções da aeromoça.
A moça falava de todos os procedimentos
em caso de problemas com o avião e Januário comentava com Amélia que se aquilo
era tão seguro o porque de tantas recomendações em caso de perigo. A mulher
mandava que Januário ficasse quieto e prestasse atenção no que elas falavam,
Januário tenso resmungou e duvidou que alguém se lembrasse de tudo o que foi
dito em caso de pânico.
No fim a aeromoça explicou que não
era pra sair do banco em caso de queda no mar porque ele era flutuante.
Januário quase se levantou da cadeira e perguntou “como assim? Tem risco de
queda no mar?” Amélia mais uma vez mandou que o marido ficasse quieto e
apavorado Januário comentou que depois de uma queda de avião e sobreviver o
mínimo que se esperava era que o banco flutuasse.
O avião começou a taxiar devagar
pela pista e Januário olhava pela janela com o coração disparado e pensando que
ele poderia ir naquela velocidade e pelo chão sem problemas até Salvador. De
repente o avião começou a acelerar e Januário fechou os olhos e segurou firme
no banco.
O avião levantou voo e com a
pressão Januário foi empurrado pra trás no banco. O homem que era ateu
descobriu-se naquele momento católico fervoroso rezando para todos os santos
que conhecia.
O avião estabilizou no céu,
Januário olhou pela janela e comentou baixinho “é alto pra cacete”. Tentou se tranquilizar um pouco quando viu as comissárias andando e servindo lanches, mas
a cada solavanco o coração disparava.
Mas o voo foi tranquilo e logo
chegaram a Salvador. Ao descer Januário beijou o solo e Amélia olhou para o
marido perguntando se ele ficou com medo da viagem. Januário rindo respondeu
que evidente que não.
Saindo do aeroporto o
homem respirava fundo e em pensamento dizia que não tinha nada melhor que estar
no chão e que ali era muito mais seguro quando ouviu um grito de “cuidado”.
Quando olhou era um carrinho de pipocas desgovernado e o mesmo lhe
atropelou. Todo quebrado Januário parou no hospital enquanto Amélia sozinha curtia Salvador e a cada fim de tarde passava no local para ver como o marido estava. Para azar dele a previsão de alta era apenas no dia marcado para voltar ao Rio de Janeiro, para voltar de avião.
O homem ficou com tanto medo de acidente aéreo e teve com carrinho de pipoca.
Que situação...
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