O DIREITO DE TORCER


*Coluna publicada no blog Ouro de Tolo em 1/6/2014


Está chegando a copa do mundo, faltam apenas duas semanas e estamos no clima do duzentos milhões em ação, pra frente Brasil do meu coração.

Ruas enfeitadas, ansiedade mil..

..E é nada disso, tudo isso é mentira.

O clima está estranho. Claro que existe uma empolgação com a copa, as pessoas começam a falar nela, uma certa ansiedade começa, mas muito pouco.

Eu nasci em 1976 e comecei a acompanhar copa do mundo em 1982. Lembro vagamente desta copa, bem da de 1986 e lembro o frenesi que a copa do mundo trazia. Nos meses próximos só se falava nisso. Ruas enfeitadas, inúmeras músicas sobre copa tocando nas AMs e FMs. O Brasil respirava copa do mundo.

A partir de 1990 a coisa foi diminuindo, mas mesmo assim víamos com facilidade ruas enfeitadas, pessoas empolgadas. O Brasil era a pátria de chuteiras.

E essa ano a copa mesmo faltando apenas duas semanas é apenas um dos grandes assuntos do país junto com vários outros. Não é “O assunto”. Minha rua está longe de estar enfeitada. As ruas próximas estão tímidas.

E pra piorar tudo isso a copa esse ano é no Brasil.

Pensem. Se nos outros anos o Brasil parou, se enfeitou, ficou ansioso com uma copa do mundo imaginem em um ano que a copa é aqui. Na nossa casa. Os maiores jogadores do mundo jogarão em nossos gramados e aos nossos olhos.

Mas não aconteceu e agora eu pergunto porque.

Primeiro porque as notícias que chegam não são muito boas. Por mais que seja mostrado que sim, existe um legado, que os gastos com a copa são muito menores que qualquer gasto com situações emergenciais desse país e que podemos ter lucro com essa copa a imagem passada não foi boa.

O Brasil sabe desde 2007 que sediaria a copa e mesmo assim se enrolou. Estádios atrasados nas obras, estourando orçamento e sendo inaugurados inacabados e com gambiarra. Economia ameaçando sair dos trilhos, problemas do dia a dia que provocaram o maior legado que essa copa deixa, o slogan “imagina na copa”.

Nenhum publicitário pró copa conseguiu criar um slogan tão forte.

Fora isso a ingerência da FIFA incomodou muito os brasileiros. Com postura arrogante, de donos do país e nos ameaçando com “chutes no traseiro” a entidade ficou antipática aos nossos olhos.

A copa foi o segundo principal motivo de movimentação e manifestação popular nos dois últimos anos, só perdendo para os vinte centavos do transporte. Como esse foi equacionado as pessoas pensaram “Ih! Vai ter copa! Não! Não pode ter copa” mesmo com sete anos de atraso.

O povo brasileiro é mais politizado, consegue ter mais acesso a informação que no tempo da ditadura. Isso é bom e isso também é mérito dos nossos governos democráticos que deram liberdade ao povo.

Mas aí chegamos ao segundo problema que de democrático não tem nada e esse sim esbarra no tempo da ditadura.

Patrulhamento.

Porque mesmo com tudo isso muita gente está empolgada com a copa. Sofreu para comprar ingressos, coleciona álbum de figurinhas, compra camisa da seleção, mas de forma tímida porque os que são contra a copa embutiram na cabeça da população que ela tem que ter vergonha de torcer pela seleção.

Tocam o terror numa guerra fria. Fazem greves pontuais e cirúrgicas para atrapalhar a população para que ela se volte contra o evento e tornar o governo refém. Fazem terrorismo em redes sociais. Protestam contra a seleção para que câmera de TV focalize e reclamam que professor ganha menos que o Neymar.

Cacete!! Repetindo em letras maiúsculas para quem não prestou atenção..CACETE!! Qualquer jogador de primeira divisão de campeonato nacional com um mínimo de desenvolvimento ganha mais que professores. Não é governo que paga, é o clube e até reserva do tenebroso elenco do Flamengo ganha mais que professor.

E mais. O que a seleção tem a ver com isso? É o Felipão que ordena que seja assim?

Como eu disse acima vivemos numa guerra fria e isso lembra a ditadura. Fazem slogan “Não vai ter copa” (outro que pegou) e acusam de alienação quem apóia a seleção e a copa fazendo que a gente pegue a bandeira e grite baixinho Brasil para que não percebam.

Atos que lembram muito o tempo da ditadura quando era considerado antipatriótico torcer pela seleção. Aí o “revoltado” via escondido os gols de Pelé e cia e pagava depois de “revolucionário”.

A diferença que o revoltado de hoje não é o macho que invade bancos nem vai pro Araguaia. É o coxinha que marca protestos por IPhone.

Com tudo isso deixamos de criar o maior legado que poderíamos. Unir o país e mostrar ao mundo que apesar de todos os problemas que passamos podemos fazer uma festa bacana.

Hoje em dia existe essa mania babaca de não deixar os outros torcerem. É gente patrulhando que vamos torcer pelo Brasil na copa. Gente patrulhando que comemoramos títulos mesmo que tenha sido com gol ilegal. O Futebol ficou chato, ficou sério. Ta ESPN demais.

Temos que tratar de nossas mazelas, cobrar os governantes sobre suas responsabilidades e tratar o futebol como ele merece. Como uma grande confraternização e que podemos dar uma boa festa.

Receber nossos amigos estrangeiros e curtir por um mês esse momento tão bacana que iremos passar.

A copa do mundo é nossa e já vai começar.


Salve a seleção.    


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