A COPA DO MUNDO E EU
*Coluna publicada no blog Ouro de Tolo em 8/6/2014
Manolos
não tem jeito, a copa do mundo está aí. Quando estas mal traçadas chegarem ao
Ouro de Tolo estaremos na semana da copa e quando forem republicadas em meu
blog o Brasil já terá estreado e espero que bem porque faz tempo que não sei o
que é ser feliz no futebol.
Já que
sou Flamengo (pausa dramática) voltemos ao assunto.
Quatro
dias, em míseros quatro dias começa um evento que para o mundo e emociona
bilhões de pessoas por esse planeta. O menino assim que nasce recebe uma bola
de presente, logo em seus primeiros passos dá seus primeiros chutes e a maior
forma de congraçamento com seus amigos de infância, aqueles que levará no peito
para o resto da vida, serão aquelas partida de futebol no campinho perto de
casa ou na rua.
O sujeito
troca de sexo, mas não troca de time de futebol, o cara que faz isso é
considerado um paria, escória da sociedade. Um país em guerra joga futebol, na
mais absoluta miséria também. O pobre e o rico jogam futebol e muitas vezes em
times misturados. O racista abraça um negro na arquibancada na hora que seu
time faz um gol.
O futebol
é fantástico, é maravilhoso, faz o velho ser criança e o homem mais frio se
emocionar porque desde pequeninos aprendemos que o futebol é a coisa mais
importante entre as menos importantes que existem no mundo.
É aquela
vibração, euforia, conquista que se pensarmos friamente muda em nada nossas
vidas. A conquista é de quem entra em campo, não nossa. Mas poucas coisas nos
dão mais alegria e depressão.
Não dá
pra entender. Mas futebol não tem que se entender, tem que se amar.
E é assim
nossa relação com copa do mundo. Copa do mundo...O nome “copa do mundo” já
arrepia, é imponente, emociona..Vivo copas desde 1982 e com elas alguns de meus
momentos mais tristes e felizes na vida. Sim, não digo na vida esportiva, mas
na vida.
Tinha
cinco anos em 1982 e lembro da euforia que tomou conta do país. Júnior cantando
“Voa canarinho, voa”, Luiz Ayrão cantando “E a seleção canarinho voltando pro
ninho com a taça na mão”. Músicas que emocionam até hoje.
Até que
veio a derrota que magoou uma nação. Brasil 1950 e Brasil 1982 são nossas
“Morte do Kennedy” e “11 de setembro”. Que bom que choramos por esporte e não
guerras.
Sobre
1982 falarei melhor em uma coluna especial.
Em 1986
eu já tinha nove anos. Já entendia bem de futebol, decorei a música da copa da
Globo, curtia o Araken, o showman (chato pra cacete) e achava que iríamos
vencer. Perdemos pra França e eu acabei aquela copa em um choro copioso e doído
abraçado a minha mãe vendo o sonho do tetra acabar e vendo o ídolo da minha
vida, Zico, batido.
Em 1990
chorei novamente, mesmo já esperando o
fim. Contarei 1994 em outra coluna, 1998 não aguentei ver prorrogação e pênaltis
na semifinal. Saí do trabalho pegando ônibus numa Avenida Presidente Vargas
deserta e ficamos eu, o motorista e o cobrador desesperados tentando saber o
resultado e vibrando abraçados quando saiu a confirmação da classificação.
As copas
do século XXI já me encontraram numa fase mais madura. Já não chorei tanto nas
derrotas e vitórias. Aliás, 2010 foi a primeira vez que nem uma lágrima saiu.
E agora
chega 2014 com o detalhe que todo mundo já sabe, mas eu não toquei aqui.
Temos em
poucos dias copa do mundo, repito o nome forte, pomposo, copa do mundo, mas com
um detalhe que faz toda a diferença.
Ela será
aqui.
Não sei.
Acho que a ficha não caiu ainda. O mundo inteiro estará aqui, os maiores
jogadores do mundo estarão aqui, tudo que nós sempre sonhamos. Desde 1950 na
triste levantada do chão de Barbosa após gol uruguaio sonhamos com esse
momento, até mesmo nós que nem sonhávamos em nascer naquele dia.
Mas ainda
não estou no clima. Não sei se porque não sou mais aquele garoto dos anos 80 e
90 ou porque a impressão que me passa é que podíamos mais.
Não sou
desses chatos que falavam que não teria copa, que comparam gastos com copas com
coisas que tem nada a ver, muito pelo contrário, mas sei lá me passa esse
sentimento. Copa do mundo é uma coisa tão grandiosa que me passa a impressão
daquela festa que você dá, tinha tantas expectativas em cima e na hora pensa
que esqueceu algo.
Espero
que até a bola rolar essa sensação passe porque copa é uma coisa tão legal, tão
extraordinária e dificilmente um de nós verá outra aqui no Brasil.
Vai ter
copa, queiram vocês ou não e que o espírito verdadeiro da copa, o do
congraçamento entre os povos, daquela união que falei no começo entre todos os
tipos de gente ocorra. Vai ocorrer, somos um povo bacana e que sabe ser
receptivo.
Que um
lindo capítulo comece a ser escrito na história do futebol.
Capítulo
escrito por nós.
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