A BATALHA DO MINEIRÃO
Tem certos momentos meus como compositor de samba-enredo que me pergunto porque gosto de samba. Esses momentos são especialmente entre o último concorrente da noite e o anúncio do resultado. Dos cortados. É um nervoso, um desespero tão grande que me faço essa pergunta.
No futebol
às vezes também me faço essa pergunta. Fiz durante Brasil x Chile.
Esperava
sofrimento, mas não esperava tanto. Alguns indícios de má sorte ocorreram.
Falar que mais uma vitória o Felipão chegaria a 14 e passaria Zagallo em vitórias
em copas, eu finalmente conseguir uma camisa da seleção, eu finalmente
conseguir ver jogo na União da Ilha.
Evidente que
daria merda.
Cheguei com
a Hellen Manhães e encontrei um clima maravilhoso, muito animado, feliz, clima
de copa do mundo mesmo. Se soubesse que era tão bom tinha ido antes.
Encontrei
meus amigos e nos juntamos para ver o jogo no mega telão instalado na quadra
cheia.
Jogo até
começou legal, Brasil começou bem, atacando o adversário como na Copa das
Confederações, torcida apoiando, o gol era questão de tempo. Hulk fez uma boa
jogada, na minha opinião foi derrubado e o jogo continuou. Logo após veio o
gol.
Brasil
continuou bem, atacando, o Chile não ameaçava tanto que comentei com um amigo
que tava fácil, o Brasil muito mais próximo do segundo gol.
Até que veio a bobeada ridícula e o gol do Chile.
O jogo
começou a ficar estranho, O Brasil atacava menos, o Chile começava a botar as
manguinhas de fora, a torcida se calou e o que estava fácil já não estava mais
fácil.
Fui para o
intervalo preocupado.
Na volta o
Brasil rapidamente achou o gol. Muita festa na União da Ilha, comemoração, alívio
até que virei para o telão e vi os jogadores reclamando.
Gol anulado e muito mal anulado. Mas eu não sou de reclamar de juiz porque todos os times do mundo são beneficiados e prejudicados. O Brasil já foi muito beneficiado em copas, inclusive nessa.
Gol anulado e muito mal anulado. Mas eu não sou de reclamar de juiz porque todos os times do mundo são beneficiados e prejudicados. O Brasil já foi muito beneficiado em copas, inclusive nessa.
Mas algo
aconteceu aí. O Brasil morreu.
O que era
tenso ficou dramático. A seleção começou a fazer uma péssima partida, a torcida
silenciou de vez, o Chile começou a dominar sem ameaçar e o jogo começou a
ganhar contornos de eliminação. O time não se encontrava e nem era por falta de
empenho ou de qualidade. Eles se empenharam, lutavam muito e mesmo não sendo
jogadores espetaculares são bons jogadores.
A pressão.
Ela que vem fazendo toda a diferença. A pressão de jogar e ganhar uma copa em
casa. Isso está nítido no rosto de todos os jogadores e é até complicado
reclamar porque isso é humano demais, nós também sentiríamos.
Se alguém tem culpa é o Felipão que não levou jogadores tarimbados pra pelo menos ficarem no banco.
Se alguém tem culpa é o Felipão que não levou jogadores tarimbados pra pelo menos ficarem no banco.
O jogo foi
pra prorrogação. Eu não conseguia dizer mais uma palavra, a quadra em silêncio,
a eliminação iminente. Eu tinha apenas 5 anos em 1982 então vivia ali minha “Tragédia
do Sarriá”, meu “Maracanazzo”. Uma surpreendente e doída eliminação que nunca
esperaríamos.
Detalhe: Pra
aumentar meu desespero no intervalo entre a prorrogação e os pênaltis o Dj da
União da Ilha colocou “Voa canarinho voa” símbolo de uma derrota traumática, só
faltou que eu enfiasse a porrada nele.
Fomos para
os pênaltis. Também desesperantes com erros de lado a lado.
Coube a trave, que já fez mais que o Fred na copa e ao injustiçado Júlio Cesar darem nosso alívio.
Coube a trave, que já fez mais que o Fred na copa e ao injustiçado Júlio Cesar darem nosso alívio.
Uma grande
festa foi feita. Mais pelo alívio que por uma boa atuação. Todo mundo se
abraçando, gritando, alguns chorando (boa parte desses já chorava antes) e a
bateria começou a tocar com Ito Melodia e o carro de som.
Tive algumas
certezas nesse jogo:
1 – Que o
Brasil faz uma péssima copa, terrível e se não melhorar não passa nem pela
Colômbia. É inadmissível jogar uma copa em casa tão mal, algo que esperamos
tanto tempo. Jogar 4 partidas em casa e ganhar apenas 2.
Acompanho copas desde 1982 e nem em 1990 a campanha era tão ruim.
Acompanho copas desde 1982 e nem em 1990 a campanha era tão ruim.
2 – Vasco
4 – A camisa
da seleção pesa muito, ela que vem salvando a pátria literalmente. Ganhamos de
um Chile, que também jogou mal, na camisa.
5 – As bolas
que o Júlio Cesar não pegou como a da trave aos 15 do segundo tempo na
prorrogação e o último pênalti chileno foram desviadas pelo Barbosa. Uma
atuação de gala de nosso goleiro é a redenção do mais injustiçado dos
brasileiros. Um cara que é mais odiado do que os muitos safados que já nasceram
em nosso solo só porque falhou em um gol.
E a conclusão final.
Que mesmo
jogando tão mal essa seleção é querida e é cada vez mais querida. Isso acontece
porque enxergamos nos jogadores seres humanos como nós.
Que sofrem, se emocionam, se desesperam, choram no hino e antes de uma disputa de pênaltis. Da vontade de abraçar esses caras e dizer “Vocês não estão jogando porra nenhuma, mas estamos com vocês”.
Que sofrem, se emocionam, se desesperam, choram no hino e antes de uma disputa de pênaltis. Da vontade de abraçar esses caras e dizer “Vocês não estão jogando porra nenhuma, mas estamos com vocês”.
Postura.
Isso na vida é tudo. Eles têm a postura que 2006 com super time, por exemplo,
não tivemos, postura que faltou àqueles jogadores eliminados que saíram de
campo sorrindo e paparicando o Zidane.
Não está fácil.
Se continuar assim vai rodar e é capaz de rodar já sexta contra a Colômbia que
não só vem jogando bem mais que a gente como é a melhor seleção da copa.
Mas quem
sabe esse drama todo não desperta a seleção pro hexa?
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