ERA DA VIOLÊNCIA 2: CAPÍTULO XXIV - DIGA OLÁ PARA O MEU AMIGUINHO
Rubinho olhava o relógio já sem
paciência em seu escritório e Sérgio Timóteo pedia calma “O homem já deve estar
chegando”. Algum tempo depois a secretária entrou na sala e disse “Rui de Santo
Cristo na recepção”. Rubinho mandou que entrasse.
Rui entrou e cumprimentou os
homens. Rubinho reclamou do atraso e Rui se desculpou “Eu estava em um
compromisso muito importante, vim o mais rápido que eu pude”. Rubinho mandou
que ele se sentasse para ouvir o que tinha a dizer.
Rui se sentou e Rubinho disse
“Está na hora de executar a segunda parte do plano”. Rui se fez de desentendido
e Sérgio explicou “A primeira foi o Donato, agora é a segunda, o sócio dele na
roubalheira”.
Rui olhou para os lados como se
estivesse com medo de ser ouvido e perguntou “Vai mesmo matar o governador?”.
Rubinho respondeu que sim, Rui
comentou que precisaria de tempo para planejar, ver qual seria o momento certo
de fazer o serviço e Rubinho cortou dizendo “abertura das Olimpíadas”.
Rui perguntou “Com todo o
respeito, o senhor está doido? Os olhos do mundo estarão voltados a essa
abertura, polícia pra cacete, como vou matar o governador ali? E por quê tem
que ser ali?”.
Rubinho sorriu e respondeu “Confio
no seu talento, vai conseguir fazer o serviço e tem que ser ali”. Mais uma vez
Rui perguntou porque e o empresário respondeu “Será um recado para o filho da puta maior, pra que ele não tente
se fazer de esperto comigo”.
O policial perguntou quem era o
filho da puta maior e Rubinho respondeu “O presidente”.
Sim amigos. Até o presidente da
República estava envolvido na sacanagem.
Rui levantou, foi até a janela e
olhando pra ela comentou “O senhor sabe que mexer com presidente é perda de
tempo. Depois ele fala que foi traído, sabia de nada, bla bla bla”. Rubinho
respondeu que sim, por isso o susto teria que ser grande. Rui ainda olhando a
vista completou “Não será tarefa fácil”.
Rubinho se levantou e atrás do
homem e disse “Cinco milhões de reais”. Rui se virou para o empresário que
confirmou “Cinco milhões de reais pela cabeça do governador”. Rui respondeu que
precisaria de homens e equipamentos, Rubinho completou “Providencie tudo. Cinco
milhões é sua parte, limpa”.
Rui sorriu e Rubinho finalizou com
outro serviço “Antes quero que faça um serviço para mim, preciso me livrar de
um cara de vez”.
Esse cara sou eu e não era música
de Roberto Carlos.
Eu, que estava na casa de João
Arcanjo conversando com ele e vi Fernanda chegar ao local. A mulher deu um
beijo na testa do marido, me cumprimentou e disse que iria pro quarto, pois
estava com dor de cabeça.
Desejei melhoras para a esposa de
João que agradeceu e saiu. Comentei com o farmacêutico que ela estava estranha.
João sem dar muita importância respondeu
“Dor de cabeça, normal”.
Salientei que não parecia ser só
isso e João disse “Ela tem passado os últimos dias com dor de cabeça. Já mandei
que procurasse um médico”. Mudei se assunto, abaixei o tom de voz e perguntei
por Yolanda.
Também com tom baixo João
respondeu “Essa mulher é um espetáculo”, comentei “Cara, isso vai dar merda, se
sua esposa descobrir que você aprontou de novo ta fodido”.
O farmacêutico respondeu que eu
ficasse tranquilo que dessa vez ele estava fazendo tudo certo, sendo discreto e
deixando faltar nada em casa, principalmente carinho e atenção. Perguntei se
ele manteria o caso e João respondeu “Amo minha mulher, mas sou viciado nela.
Não tenho como terminar”.
Nisso a campainha tocou. João
atendeu e era Rui de Santo Cristo. O homem cumprimentou o farmacêutico e entrou
me encontrando lá. Disse “Que bom que está aqui professor, bom que eu falo com
os dois”.
João perguntou se ocorrera algo e
Rui respondeu “Pintou um serviço e minha equipe está desfalcada, só tem eu e
Galalite, queria saber se vocês não estão afim”.
João respondeu “Já te disse que
estou fora Rui. Já chega o que passei na última”. Respondi que também estava
fora e já tinha dito isso.
Rui sorriu, lamentou e disse
“Fizemos um ótimo grupo, mas nessa vida tudo tem um fim mesmo”. Por fim abraçou
a Rui e depois a mim dizendo “Nunca esquecerei
vocês”.
Falou e saiu, entendemos nada.
João se virou a mim e perguntou “Esse cara é maluco?” Eu sentei e rindo
respondi “Sei lá, o amigo de infância dele é você”.
Mais tarde me encontrei com
Guilherme em um bar e enquanto bebíamos umas cervejas meu filho disse que
queria me contar uma coisa. Perguntei o que era e ele me respondeu “To indo
embora, vou pra França com a Celina”. Tirei os óculos escuros que usava e pedi
que ele repetisse.
Guilherme repetiu “A Celina vai
voltar pra Europa, não quer mais ficar aqui depois da morte do pai e perguntou
se eu não quero ir junto. Eu quero, eu amo a Celina pai”. Comentei que aquilo
era loucura, ele era muito jovem e Guilherme perguntou “Tem idade para amar?”.
É, ele me pegou. Abaixei a cabeça e respondi que não.
Bebemos mais um pouco e perguntei
ao meu filho quando ele iria. Guilherme contou que em breve e completou “Não
sei como vou contar isso pra minha mãe”. Ri e respondi que não contasse com
minha ajuda, pois ela não queria muito papo comigo.
Guilherme riu e perguntou o que
tinha acontecido afinal entre a gente. Bebi mais um pouco e respondi “Nada
demais, sua mãe está ficando velha”.
Conversamos mais um pouco e
notamos que estava ficando tarde. Pedi a conta e na hora que chegou fui puxar a
carteira e não encontrei. Revirei todos os meus bolsos e comentei com Guilherme
“Perdi minha carteira”.
Meu filho riu e disse “Velho
truque de esquecer a carteira, não tem vergonha de usar isso contra o filho?”.
Guilherme pagou e eu fiquei me perguntando onde tinha perdido a carteira.
Eu não tinha perdido.
Rui foi para o serviço com
Galalite. Iriam passar o dono de um mercado. O mercado que eu trabalhei.
Esperaram no carro todos os
funcionários saírem e o homem ficar sozinho. Rui deu o sinal “É agora”. Saíram
do carro e foram até o mercado, a porta estava aberta.
Entraram e o homem que contava
dinheiro perguntou o que queriam. Rui sorriu e respondeu “Viemos fazer uma
entrega”. Ele e Galalite atiraram diversas vezes contra o dono do mercado que
caiu morto. Os homens se encaminharam para sair do local quando Rui mandou que
Galalite fosse na frente. Sozinho ele jogou um objeto próximo ao corpo.
A minha carteira.
Sim amigos, aquilo tudo foi
orquestrado. A ida de Rui de Santo Cristo até a casa de João Arcanjo não foi
para pedir por um último serviço. Ele já sabia que não iríamos. O policial
sabia que eu estava no local e foi até lá com o pretexto de roubar minha
carteira com documentos.
Roubo que ele conseguiu na hora
que me abraçou.
A polícia chegou no local e viu o
corpo do dono do mercado e meus documentos ao lado do defunto.
Testemunhas contaram do
entrevero que tivemos. Imaginem o
que aconteceu? Algumas horas depois a polícia batia na minha porta com ordem de
prisão.
Fui levado jurando inocência. Mas
já tinha um currículo tão extenso que ninguém acreditaria em mim.
A notícia logo se espalhou. Dr
Eduardo Feitosa foi até a delegacia e perguntou o que acontecera, se eu tinha
matado o homem. Furioso desabafei “Se fosse pra matar aquele filho da puta
teria matado na época, não agora. Eu perdi minha carteira, não sei como pode
ter parado lá”.
Meu advogado pediu que eu
relembrasse o dia, tudo que tinha feito. Contei “Acordei cedo, dei aula, fui
até a casa de João Arcanjo, encontrei meu filho e..”e que paralisei.
Ali caiu a ficha. Ali lembrei de
Rui de Santo Cristo aparecendo na casa de João e nos abraçando. Gritei “Filho
da puta” e Dr Eduardo perguntou se eu lembrara algo. Respondi que queria ver
Rodrigo Saldanha. Ele estranhou e perguntou “Logo Rodrigo?” respondi que sim.
Rodrigo na mesma tarde foi até a
delegacia conversar comigo. O homem chegou ao meu encontro e disse “Sei que não
foi você, você não seria tão idiota de matar alguém e deixar a carteira cair e
já deu pra notar que estão querendo te foder”.
Concordei e respondi “Desde que
nasci querem me foder”. Rodrigo continuou “E se você me chamou aqui é porque
quer me dizer algo”. Respondi “Mais uma vez está certo. Na verdade eu quero um
acordo”.
Rodrigo perguntou que acordo e
respondi “Te conto tudo sobre os Cachorros Velozes, te passo o cabeça do grupo,
passo provas, mas antes quero que o senhor me tire daqui. Mexa seus
pauzinhos”.
Rodrigo balançou a cabeça
positivamente e respondeu “É justo. Eu tenho como fazer isso”. Perguntei “Temos
um acordo?”. Rodrigo respondeu que sim.
Enquanto Rodrigo agia para que eu
saísse da cadeia algo surreal ocorria em Nova York.
O presidente dos Estados Unidos
visitava a cidade e passava com seu carro oficial pelas ruas sendo saudado pela
população. Milhares de pessoas nas calçadas com suas bandeirinhas com as cores
da nação saudavam sua passada.
Enquanto isso um homem comia
pipocas em uma calçada. Com óculos escuros, casaco e cabelo moicano estilo o de
Robert de Niro em “Táxi Driver”. Nem preciso dizer quem era né?
Sim. Era Scarface.
A comitiva seguia, mas cometeu um
erro parecido com uma das passagens do papa pelo Rio de Janeiro. Um erro
idiota. Entrou numa rua errada.
Pegou um grande engarrafamento e
as pessoas começaram a cercar o carro tentando tocar no presidente que solícito
tocava as mãos dos cidadãos. A polícia e a segurança faziam um esforço
monstruoso para que aquilo não ocorresse.
Scarface notou o que ocorria.
Estava seguindo o carro presidencial e percebeu ali a sua chance. Calmamente
começou a andar em direção ao carro, no meio da multidão.
Os seguranças se acotovelavam com
a população enquanto o sorridente presidente atendia a todos. Ninguém percebeu
a aproximação de Scarface. O lunático conseguiu se aproximar do presidente, sacou
uma arma e fez dois disparos. Um atingiu o ombro, outro a cabeça.
Foi um grande alvoroço. A multidão
entrou em pânico enquanto Scarface fugia. O povo perplexo viu o presidente
morrer na frente de todos. As emissoras de TV mostraram ao vivo a execução do
presidente americano repetindo a tragédia ocorrida com JFK e a polícia saiu em
disparada atrás de Scarface que tentava fugir.
O homem correu muito, empurrou
pessoas, pulou sobre outras, mas logo a polícia conseguiu alcançar. Se vendo
cercado Scarface pegou uma criança como refém e colocou a arma em sua cabeça
ameaçando atirar.
Scarface. O lunático taxista
ganhava atenção do mundo inteiro. Bilhões de pessoas foram para a gente da tv
ver o que ocorria. Todas as câmeras do mundo focalizavam o rosto de Scarface e
sua mão com um revolver na cabeça de uma criança.
Na casa de Galalite o homem lavava
pratos com as esposa na cozinha quando da sala a filha gritou “Papai!! Não é
seu amigo?”. Galalite ainda enxugando o prato chegou na sala e perguntou “O que
foi meu amor? Que amigo?”. A menina respondeu “Aquele taxista, ele matou o
presidente dos Estados Unidos”.
Galalite olhou a televisão e
perplexo deixou o prato cair no chão.
Outro que via televisão perplexo
era João Arcanjo. Sozinho na sala ele apoiava a cabeça no queixo e dizia
baixinho “Puta que pariu, o quê você fez Scarface?”. Fernanda se aproximou e
perguntou o que ocorria. João disfarçou e respondeu “Mataram o presidente dos
Estados Unidos e parece que foi um brasileiro”. Fernanda apenas disse “Meu
Deus” e sentou ao lado do marido para assistir.
Vamos ser francos. Scarface estava
fodido.
E ele era lunático, psicopata, mas
sabia disso. O homem caiu em si, se viu cercado pelo FBI e a Swat, câmeras de
todos os lados lhe focalizando, se desse mole tinha uma até dando close no cu
dele. Qual era a chance que ele tinha? Nenhuma.
Ele tinha duas opções. Morrer ali
ou na cadeia, porque evidente que não deixariam vivo um imigrante ilegal que
matou o presidente americano. Scarface, vendo que não tinha mais jeito,
resolveu fazer um fim triunfal.
Gritou “Say hello to my little
friend!!”, soltou a criança e colocou a arma na boca atirando.
Assim Scarface se matou para um
público de mais de cinco bilhões de pessoas.
O mundo viu. O mundo inteiro viu o
momento que ele gritou a palavra do filme Scarface, pôs a arma na boca e
atirou. Viram a criança correndo pro colo da mãe e o FBI junto com a imprensa
se aproximando do corpo de Scarface.
João, Fernanda, Galalite e a
família viam aquela cena perplexos, sem conseguir pronunciar uma palavra. Rui
também assistia, mas esse gargalhou e disse levantando
do sofá “Meu Deus!! Não é que o filho da puta cumpriu a promessa?”.
Yolanda que estava sentada no sofá
perguntou se Rui conhecia o assassino do presidente. Este pegou uma garrafa de
champanhe, abriu, serviu duas taças e entregou uma à mulher dizendo “Vamos
brindar”.
Yolanda perguntou a o que e
Scarface respondeu “Aos malucos” brindando com a garota de programa.
Scarface. Doido, psicopata,
lunático, maluco se despedia dessa vida de uma forma triunfal.
Eu na delegacia esperava
ansiosamente a volta de Rodrigo Saldanha. O mesmo voltou com meu advogado
respondendo “Você está livre”.
Agradeci e comentei que o policial
podia contar comigo que eu contaria tudo que sabia. Dr Eduardo respondeu que
seria bom mesmo que eu contasse, aliviaria minha situação que ainda era
crítica.
Caminhávamos para a saída da
delegacia quando Rodrigo comentou “Soube de seu amigo Scarface? Aquele que
tentou te incriminar no caso Donato Barreto? Ele morreu”. Curioso, perguntei
“Morreu de quê?”. Ele respondeu “Matou o presidente dos Estados Unidos”.
Ri e pedi “Fala sério vai, ele
morreu de quê?”. Os dois homens continuaram caminhando em silêncio comigo e
percebendo a realidade da coisa falei “Não pode ser, vocês estão de sacanagem”.
Combinei que conversaria com
Rodrigo Saldanha no dia seguinte em minha casa, antes eu precisava descansar e
o homem disse que precisava fazer uma coisa.
Enquanto o mundo debatia Scarface
e eu ia para casa descansar Juliana recebia visitas em casa. Sua tia Norma,
irmã de sua falecida mãe. Muito tempo que ela não vinha ao Rio de Janeiro e
conversavam na sala da mansão sobre a vida, a família e o assunto naquele
instante era a morte do presidente dos Estados Unidos pelas mãos de um
brasileiro.
Guilherme passou por elas,
cumprimentou a tia avó e comentou com a mãe “Papai foi solto, acabou de me
ligar”. Juliana tomando uma xícara de café apenas comentou “Que bom”. Meu filho
anunciou que iria se encontrar com Celina e se despediu das duas indo embora.
Norma perguntou “O pai dele é o
Rubinho?”. Juliana respondeu que não, era eu e a tia comentou “Pena que vocês
não ficaram juntos, são um belo casal”. Juliana apenas abaixou a cabeça tomando
mais um gole de café e dizendo “É, é uma pena mesmo”.
A senhora, já de idade, perguntou
onde era o banheiro e Juliana se ofereceu para levar. Norma disse “Fique
sentada aí, sou velha, mas ainda sei andar sozinha”. Juliana riu e indicou o
local.
Ficou sozinha na sala quando a
campainha tocou. Levantou para atender e era Rodrigo.
Sorriu e convidou o homem para
entrar. Rodrigo entrou e disse que estava ali para dar uma boa notícia
pessoalmente, que eu saíra da cadeia.
Juliana agradeceu e comentou que
Guilherme já tinha dito. Naquele instante Norma voltou do banheiro e espantada
em ver Rodrigo na sala perguntou “O que esse homem faz aqui?”.
Rodrigo reconheceu a mulher e
perguntou “Não lembra de mim Norma? Rodrigo?”. Norma respondeu “Lembro muito
bem, por isso pergunto o que o senhor faz aqui?”. Juliana interveio e disse
“Tia, não entendo essa agressividade, Rodrigo foi meu secretário de segurança,
trabalha comigo no senado, é amigo antigo da família e foi amigo de meu pai”.
Norma então gritou “Ele não foi
amigo de seu pai! Ele é seu pai!”.
Em outro canto da cidade João
Arcanjo chegava em casa. Abriu a porta e perguntou pela esposa. Não viu a
mulher na sala, mas ouviu música vinda de seu quarto. Estranhou porque era Led
zeppellin. Serviu um uísque e comentou baixinho “Fernanda nunca gostou de rock,
deve estar louca mesmo”.
Bebeu um gole de uísque e gritou
“Para quem estava com dor de cabeça essa música deve ser ótima!!”.
Não obteve resposta então decidiu
ir até o quarto ver o que a mulher estava fazendo.
Abriu a porta e teve uma grande
surpresa.
Fernanda trepava com Rui em sua
cama. A mulher estava de quatro nua, gemendo freneticamente enquanto ao som do
rock Rui pegava em sua cintura e penetrava com força. João olhou aquela cena e
não conseguiu esboçar reação. Rui de Santo Cristo notou sua presença e de forma
canalha sorriu para João Arcanjo.
Sorriu, aumentou o ritmo e deu um
tapa na bunda de Fernanda que não notara a presença do marido na porta.
Rui de Santo Cristo e João
Arcanjo. Amizade que o sangue uniu.
Amizade traída.
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