A ARTE ENGRAÇADINHA
*Coluna publicada no blog Ouro de Tolo em 25/5/2014
Eu estou
pra escrever essa coluna faz muito tempo, mas tanta coisa acontece que só agora
consegui. A ideia dessa coluna tem mais ou menos um mês quando fui ao cinema.
Fui com a
Hellen, minha namorada, assistir ao filme “SOS Mulheres ao mar”. Um filme
engraçadinho com artistas globais e, lógico, feito pela “Globo filmes”.
Eu gosto
de ver filmes de comédias e filmes nacionais de comédia. Tinha acabado de
assistir “Copa de elite”, paródia de alguns filmes nacionais e curti. Fui
assistir esse a pedido da Hellen.
Assisti,
curti também, mas me incomodou.
Incomodou
pelo vazio que aquele filme representava. O filme contava a história de uma
mulher que tomou pé na bunda e resolve embarcar em um cruzeiro com irmã e a
empregada. História batidaça que me lembrou um filme da década passada
americano, “Cruzeiro das loucas”.
Mas o que
me chamou mais a atenção foi a semelhança com “Meu passado me condena” lançado
por Fabio Porchat no fim do ano que também passava em um cruzeiro.
Não. Não
acho que ocorreu plágio, apenas coincidência. Mas uma coincidência que vem da
falta de imaginação.
Estavam
lá as mesmas velhinhas dançando perto da piscina, os mesmos cenários, as mesmas
aulas, os mesmos diálogos e até o destino era o mesmo. A Itália.
Filme
vazio, história vazia feita apenas para fazer rir durante uma hora e meia e ser
esquecido logo depois. Gastam dinheiro, contratam gente para fazer um roteiro,
atores, parte técnica, movimenta-se um monte de coisas para fazer algo pra ser
esquecido.
Tudo bem. Como eu disse eu gosto de ver às vezes
histórias assim, gosto de rir, tem seu valor, mas o problema é que hoje o
cinema nacional se resume a isso.
O cinema
brasileiro tem história. Temos a época da Atlântida, Vera Cruz, Cinema Novo.
Época dourada com grandes bilheterias e prêmios. Nos anos 70 vieram as
pornochanchadas, mas até essas tinham motivo. Era uma época que não podíamos
falar o que pensávamos.
Mas
também tínhamos bons filmes policiais como “Lúcio Flávio, passageiro da agonia”
e “Barra pesada”. Tínhamos Os Trapalhões explodindo e nos anos 80 segurando o
cinema quando a crise surgiu e os “Blockbuster” como “Dona Flor e seus dois
maridos” e “Bye bye Brasil”.
Depois da
crise o cinema nacional parecia ter
conseguido o caminho lançando filmes marcantes como “Carlota Joaquina”, “O que
é isso companheiro”, “Cidade de Deus”, “Central do Brasil” os dois “Tropa de
elite” e tantos outros.
Só que aí
surgiu a “Globo filmes” e a coisa foi mudando, mudando, até que deu nisso de
hoje.
Filmes
protagonizados por globais com histórias rasas e feitos apenas para bilheteria.
Acredito que nunca nossos filmes foram tão vistos. Frequentemente vemos os
mesmos passando da marca de um milhão de espectadores.
Mas nunca
mais tivemos um filme premiado, nunca mais nem cogitado a concorrer um Oscar.
Por quê
isso acontece?
É difícil
entender o motivo ainda mais quando pensamos que nunca tivemos tanta liberdade
criativa quanto agora. Podemos falar do que quiser, não tem mais censura, não
existe mais ameaça de uma ditadura.
Mas o
Brasil mudou e para pior em alguns aspectos. O lado bom é que o poder de compra
do brasileiro aumentou. Pessoas da classe C e D que antes eram limitadas em
suas opções culturais agora podem assistir sua novela em uma tv de plasma ou ir
ao cinema.
O lado
ruim e que não entendemos que não precisa baixar nível do que é produzido para
alcançar essas pessoas, temos é que levar a elas oportunidade de conhecimento.
Mas
ninguém está preocupado com isso e sim com faturamento.
Como eu
disse várias vezes nessa coluna não acho ruim, eu gosto de filmes assim e não
sou idiota de dizer que antigamente não produzíamos filmes rasos, rasteiros, só
para garantir público. Mas antigamente existia um leque de opções que hoje não
tem.
O que é
uma pena porque nunca fomos tanto ao cinema, nunca nos interessamos tanto pelos
filmes produzidos aqui e justo na hora em que temos nada para mostrar.
Até
temos, mas não nos interessa mostrar.
E quando
analisamos que não é só o cinema, mas toda a nossa arte hoje está engraçadinha,
seja na música com seus funks, axés e sertanejos universitários, seja na
televisão onde humoristas viraram os principais apresentadores e isso é sentido
até nos gols da rodada de domingo, seja no geral a impressão que passa é que o
brasileiro tem preguiça de pensar. Só quer aquilo que vem mastigado.
Ninguém
quer um país chato, um país sem riso, até porque não é necessário ser burro
para rir.
Talvez o
problema seja que o Brasil só sabe fazer filme sério no Nordeste e na favela e
nesses lugares não passam cruzeiros para a Itália.
Corta!!
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