Trocando em miúdos

Um ano de mudanças. No último dia do ano passado estava com a Luciana na sala de seu apartamento em Copacabana esperando a hora de irmos a festa de réveillon e comentei com ela que não queria que o ano de 2022 acabasse com o mesmo sendo igual 2021, que caso isso ocorresse era sinal que fracassei no ano. É, definitivamente não foi. Comecei o ano trabalhando na secretaria de cultura da prefeitura do Rio de Janeiro. Um trabalho que me dava dinheiro, condições de viajar, ir a restaurantes, shows, sair com meus filhos, mas que teve alguns custos. Frustrado pela falta de palavra do senhor Marcus Faustini que me prometeu coisas que nunca passou perto de cumprir estava infeliz. Frustrado com o trabalho onde pensei em revolucionar a cultura da Ilha do Governador e parei tirando xerox e encadernando processos, frustração que afetou minha saúde. Desregulei o peso passando dos 105 quilos, autoestima caiu, surgiu psoríase, alguns outros pequenos problemas e o pior. Bebia muita água e urinava muito.

Quando alguém é foda em alguma coisa, a gente fala que o cara é o Pelé de tal tarefa  Pelé é a única marca mais famosa que a Coca cola no mundo. O homem que parou guerra, o atleta do século. Pelé é o Brasil que deu certo, em 522 anos de Brasil o brasileiro nunca se sentiu mais orgulho que quando via Pelé com a bola no pé. Cabral apresentou o mundo ao Brasil, Pelé apresentou o Brasil ao mundo. O ser humano não criou adjetivos pra descrever Pelé, não há mais nada a dizer  29 de dezembro de 2022. O dia que o futebol morreu.

Parecia um jogo comum, mas não era. Final de copa do mundo nunca será um jogo comum. Parecia uma final de copa comum. Mas não foi, o 2x0 ganhou dramaticidade em um minuto. Pareciam seres humanos comuns. Mas Messi e Mbappe não são seres humanos comuns. São gênios como Bethoven, Shakespeare e Chaplin. Parecia um esporte comum. Mas futebol não é comum, é arte. Esse não é um artigo comum, é o artigo  que fala de um dos maiores jogos da história do futebol. Obrigado França, obrigado Argentina, obrigado Mbappe, obrigado Messi. E obrigado Galvão Bueno por em seu último jogo ter narrado essa emoção pra gente. Parecia um domingo comum. Mas foi um domingo pra história.

A polêmica agora é que os jogadores da seleção comeram carne com tempero de ouro no Catar. Um alimento que pode chegar a nove mil reais. Muita gente reclamou que os jogadores estavam ostentando e humilhando um país onde muita gente passa fome. Polêmica vazia né? Joãosinho Trinta dizia que quem gostava de miséria era intelectual, pobre gosta de luxo. Eu diria que quem se preocupou com isso foi a esquerda, pobre tá nem aí e falo com conhecimento de causa por ser de esquerda e pobre. Tenho lugar de fala. A pessoa pobre, que passa necessidades tá nem aí pra isso. Primeiro porque se a pessoa passa fome dificilmente terá acesso a redes sociais. Tem preocupações financeiras maiores que colocar crédito em celular ou ir a uma lan house. Segundo que a vida dessa pessoa está tão difícil que ela só quer ter um pouco de alegria na vida e quem pode dar essa alegria? Esses caras que comeram carne com ouro. Os jogadores da seleção chegaram onde chegaram por méritos. Ralaram na vida, saíram de baixo, t

O ciclo natural da vida é crescer, amadurecer, envelhecer e morrer. Com a pandemia vimos o começo da vacinação e nela os primeiros vacinados eram os idosos. Entre os idosos alguns dos maiores artistas que esse país já conheceu. Isso me chamou atenção, ainda mais que é nítida a falta de renovação e não é necessário ser saudosista pra constatar isso. Assustou ver nossos grandes ídolos chegarem na porta dos 80 e que poderíamos ter que começar a nos despedir deles. E aconteceu. Só esse ano perdemos Jô Soares, Gal Costa e Erasmo Carlos. Mortes impactantes, de pessoas que nunca imaginamos que iriam morrer e que nos deixaram em luto. Mas os três eram idosos, completaram o ciclo natural da vida e devemos nos acostumar com isso. É grande a quantidade dos gênios com 80 anos e muitos devem ficar pelo caminho nos próximos anos. O fato de ser gênio não dá imunidades em relação ao tempo. Cabe a nós aceitar os baques que virão. Quais serão os próximos? Não sabemos ainda nem devemos pensar nisso e sim

Diego foi o primeiro jogador a atuar na Europa a acreditar no projeto Flamengo. Guerrero um ano antes foi contratado, mas era jogador do futebol brasileiro e não mudou o patamar do clube. Diego mudou. Por ele fizeram o primeiro "Aerofla", conduziu o Flamengo ao terceiro lugar no brasileiro daquele ano lutando pelo título até o fim, era o craque do time na Libertadores 2017, a primeira dessa sequência que vem a ser a maior sequência do clube no torneio. Diego foi líder dentro e fora do campo. Peça fundamental para união do elenco. É acusado de muitas coisas. Perdeu pênaltis em momentos decisivos, não jogou a bola que se esperava dele, mas nunca se omitiu, nunca escondeu a cara nos piores momentos e deu sim contribuição dentro de campo. Virou primeiro volante levando o Flamengo ao título brasileiro de 2020 e deu o combate e o lançamento fundamental ao título da Libertadores de 2019. De despede do Flamengo deixando um clube muito melhor que encontrou. Queiram os haters ou não Di

Flamengo foi tricampeão da Libertadores da América. O clube do meu coração, que eu conheci ainda bebê, meu melhor amigo, meu amor mais antigo, aquele que mais me fez chorar e sorrir na vida porque a gente de roupa, amigos, amores, cresce, envelhece, mas não troca de time nem nos piores momentos. E o Flamengo teve vários piores momentos nesse tempo todo. Mas soube se superar, se reinventou, conseguiu montar um time do nível do maior de sua história, o da era Zico e hoje me faz imensamente feliz  Fez do meu sábado mais bonito. Lula é tricampeão também. Pela terceira vez eleito presidente do Brasil. O primeiro político que admirei na vida, que em 1989 com 13 anos me fez entrar de cabeça em sua campanha e conhecer a frustração eleitoral. Que se elegeu em 2002 e saiu do governo como o presidente mais popular de nossa história. Conheceu o fundo do poço nos últimos anos. Foi preso, não pôde nem acompanhar o enterro do neto, mas deu a volta por cima e é de novo presidente. Enfrentando o atual

O bolsonarismo venceu. Sim, não dá pra negar, é óbvio. O país deu uma guinada para a direita em 2018 e manteve essa tendência em 2022. Isso provoca raiva, ranger de dentes, mas vejo que em vez de pensar no motivo com o estômago é necessário pensar com a cabeça, do porque isso ocorre. São vários os motivos e pra mim o principal é que esses nomes se mantiveram em evidência nos quatro anos, mesmo nem sempre sendo de forma positiva vale a máxima "fale mal, mas fale de mim.  Todos esses nomes do bolsonarismo eleitos estiveram em evidência nesses anos, mais do que isso, tiveram a máquina pública a favor, então é natural o ocorrido, mas vale lembrar duas coisas. Muita gente de esquerda se elegeu, nunca tivemos tantos negros e mulheres trans. O PSOL e o PT cresceram. Outro detalhe é que, como sempre, a maioria será do Centrão e esse grupo vai para onde está o poder. Em caso de vitória de Lula ele saberá conquistar esse grupo. Não entendo o desespero com o resultado presidencial. Lula venc

Morreu Elizabeth II. Sim, você está careca de saber disso, mas sem dúvidas esse foi um dos grandes acontecimentos não só do mês de setembro como dos últimos anos pela figura representativa, quase pop que ela representou, só ver pela repercussão e acompanhamento de seu funeral pelo mundo todo. Isso realmente me chamou muita atenção. Chama minha atenção esse fascínio que a família real da Grã Bretanha exerce no mundo, ainda mais se pararmos pra analisar friamente que o maior mérito, o que mais faz essas pessoas serem veneradas e acompanhadas é terem nascido em uma família. Difícil entender que na Europa tão intelectual, que se acha superior exista esse tipo de veneração, ainda mais em lugares como a Inglaterra, mas ok, cada país com seu jeito. Mas o jeito de colonizado do resto do mundo chama atenção. O luto no Brasil, a tristeza e intimidade de pessoas que nunca passaram nem perto da rainha, mas é compreensível, humano mesmo que eu não entenda. Mas nunca esquecendo de tudo que Inglaterr

Nessa quarta 7 de setembro se completa 200 anos da independência do Brasil. Independência? Da mesmo pra considerar o Brasil um país independente? Difícil considerar independente um país com tanta miséria, racismo, problemas ignorados na hora do "independência ou morte". A escravidão continuou, a pobreza não foi combatida, o poder apenas mudou de mãos. Sim, muitos se sacrificaram pela independência do Brasil, mas com o tempo descobrimos também a farsa que existe em nossa história, a história que a história não conta como diz celebre samba da Mangueira. Tiradentes não morreu barbudo e cabeludo, não se enforcava gente com cabelo grande, a farsa começa no fato de tentarem colocar Tiradentes com imagem idêntica a Jesus. Com o tempo descobrimos que Tiradentes não foi o líder da inconfidência mineira e sim o cara que assumiu o "perrengue", era mais um, o mais pobre de um movimento feito por jovens burgueses que só se preocupavam com suas questões. Como na maioria dos movim

 Fiquei oito anos sem concorrer em concurso de samba enredo. Não fiquei sem fazer sambas nesse período, participei dos sambas campeões da Tupy de Braz de Pina em 2018 e Acadêmicos do Dendê 2019, mas concorrer foram oito anos. Estava cansado de disputas. Desde a disputa que vencemos na União da Ilha no carnaval 2012 já vinha perdendo a vontade e após a final do Dendê pra 2015 decidi dar um tempo que durou até agora. E não, não senti falta nesse tempo. Fui fazer outras coisas que amo e, confesso, gosto mais hoje que de carnaval. Mas foram 17 anos compondo, 21 no samba e a maioria dos meus amigos fiz no carnaval e como quase todos só vivem, respiram e falam carnaval acabamos nos afastando um pouco. Esse ano curti ir em ensaio do Boi, ver seu desfile e decidi voltar pra estar um pouco nesse ambiente e com eles. Algumas vezes nesse processo de volta me arrependi, mas voltar a estar com eles e ver o samba surgir forte, bonito, me animaram e posso dizer que estou feliz com essa volta. Vou faz

O filme O Poderoso Chefão completa 50 anos em 2022. Não é um simples filme, é considerado um dos maiores filmes de todos os tempos com uma continuação que também entrou para a história. Os dois primeiros ganharam Oscar de melhor filme, algo único até hoje com filmes e continuações. Sempre ouvi falar de O Poderoso Chefão, da sua importância, qualidade, mas nunca tinha visto. Ok,pode ser falha de caráter isso. Tinha visto pedaços do 3, o bom e injustificado filme que acaba sendo apagado pelos históricos dois primeiros, mas não me aprofundara na saga da família Corleone. Esse ano vi que passava o primeiro na Paramount e resolvi assistir. Assisti e me arrependi amargamente de passar 45 anos sem ver. Assisti a continuação, me apaixonei também pela obra e só esse ano já vi pelo menos três vezes cada um  Se já era fã de Marlon Brando virei mais ainda, se já era fã de Robert de Niro virei mais ainda, se já achava Al Pacino o maior ator do mundo acho mais ainda. Não cometa o mesmo erro que come

Um moleque gordo dos anos 80 tinha certeza que um apelido ganharia, provavelmente o primeiro de sua vida, Jô Soares. E eu, evidente, não escapei disso e ficava puto, mas fui crescendo e conhecendo melhor a história do Jô e hoje sei que é um orgulho ter um apelido desses. Gênio da raça, talentoso em tudo que fez, humorista, ator, diretor, dramaturgo, romancista, entrevistador e que elevava a auto estima do gordo se assumindo assim e sendo foda assim. Durante décadas fomos pra cama com ele, na sexta saímos dela sem. Obrigado por tudo Jô. Beijo pro gordo. Amanhã é meu aniversário, nessa terça faço 46 anos. Já escrevi muito sobre mim no blog, todos os anos em meu aniversário faço um balanço sobre minha vida e nesse ano, mais que especial, o ano em que renasci  Recuperei auto estima, perdi quase 30 quilos, estou bronzeado, me sentindo bem, com resistência, bonito, muito diferente do último ano onde apareceram várias doenças, me senti pra baixo, inútil, burro, me olhava no espelho e me senti

Ontem assisti com a Luciana os dois primeiros episódios de "Pacto brutal", a série da HBO Max sobre o assassinato de Daniella Perez. Vivi o caso. Tinha 16 anos quando o assassinato ocorreu e foi chocante. Chocante o assassinato de uma atriz em ascensão, o fato de um colega de trabalho ser o assassino. Tudo surreal parecendo roteiro de novela, mas era vida real  Ainda entristece e da revolta trinta anos depois. Indigna saber que os assassinos ficaram tão pouco na cadeia e hoje tenham vida normal. O assassino é pastor, tem redes sociais, da opiniões sobre o país e ainda se dá ao direito de reclamar não ter sido ouvido no documentário. Não, ele não tem que ser ouvido. É um assassino, assassino confesso e nada do que ele falar mudará isso. Daniella morreu tragicamente fisicamente e moralmente com afirmações absurdas ditas pelo psicopata e repercutida pela imprensa. Daniella passou pelo que inúmeras mulheres passaram e passam até hoje. A violência física e moral. Isso, infelizment

Na semana passada foi dia do amigo e hoje faz quatro anos que morreu meu querido amigo Paulo Travassos. Até hoje penso muito nele. Foi um dos amigos mais queridos que tive, um dos melhores seres humanos que conheci, um cara que faz imensa falta. Bom pai, bom marido, excelente amigo, cara divertido, feliz e que fazia todos em volta felizes  Assim como o querido e amado Raffa Bagesteiro que faleceu em outubro do ano passado. Amizade recente, de poucos anos, mas especial demais. Raffa passou como um cometa em nossas vidas. Ator fabuloso, pessoa iluminada que até hoje nos faz lembrar dele de maneira divertida e saudosa  Paulo e Raffa não se conheceram, nunca se viram, mas não consigo dissociar um do outro. Fora a perda de minha mãe, a mais traumática e dolorosa de minha vida, as perdas de Paulo e Raffa foram as mais pesadas, as mais sentidas. E nessa semana seguinte ao dia do amigo, nesse aniversário da morte do Paulo e depois de um fim de semana em que eu e Lu falamos tanto no Raffa nada

...foi a data que subi pela primeira vez em um palco como compositor de samba enredo. Entre 1997 e 2014 foi a principal atividade da minha vida. Em 100 concursos de samba pelas mais variadas escolas de samba do Brasil fiz mais de 60 finais, mais de 30 vitórias, os principais prêmios do carnaval, entre eles um Estandarte de Ouro e o principal, vivi alguns dos principais momentos da minha vida. Não estou entre os maiores compositores da história do carnaval, longe disso, mas sinceramente acredito que fui um dos grandes da minha geração e se fizerem uma lista dos 20 principais da história da Ilha do Governador alguém me coloque em sua lista. Minha história vai ficando um pouco pra trás, talvez esquecida pelos mais novos e até mesmo por mim, mas se eu fixar bem em minha memória até que tenho motivos de orgulho. Principalmente se pensar que nesses 100 concursos talvez em 2 ou 3 tivesse feito parte de uma parceria realmente endinheirada. Sempre com dificuldades, contando moedas, fora do sist

Nunca torci para o Fred. Jogou em clubes que não gosto, Fluminense e Atlético Mineiro. O outro, Cruzeiro, fede, nem cheira pra mim. Na seleção brasileira jogou na seleção que mais detesto das que acompanhei, aquela que nos humilhou em 2014, e torcia contra ele por ser atacante do Fluminense que passava ótima fase. Contra o Flamengo fez alguns gols, até no fim da carreira, mesmo já em decadência, nos atrapalhou no estadual desse ano. Enfim, nunca torci para o Fred. Mas gosto dele  Gosto porque ao contrário dos tempos de ódio que vivemos atualmente, tempo em que atacam juízes, eventos políticos e matam pais de família em seus aniversários eu respeito o adverso, sei que o futebol é a coisa mais importante entre as menos importantes e que se valorizei e me emocionei tanto com o Flamengo ao longo das décadas muito disso foi por causa de seus "inimigos". O contraditório faz parte do futebol, o carrasco é tão importante quanto nosso ídolo. Semana passada fez 40 anos da tragédia do S