AS MULHERES DE ADÃO: CAPÍTULO XXII - XÊNIA


Só depois de tudo isso ocorrer fiquei sabendo que Waleska era conhecida como o “travesti mais bonito do Brasil”. Só eu não percebi que ela era ele. Que idiota.

O padre chegou à capela e perguntou se já era hora de começar a oração, minha mãe respondeu que não, pois, faltava uma pessoa. Meu pai perguntou se ela tinha certeza se a pessoa iria e minha mãe respondeu que sim.

Realmente faltava uma pessoa lá, eu sentia falta dela.

Mas enquanto ela não chegava o velório prosseguia. Vários e insólitos grupos apareceram pra me prestar as últimas homenagens e não seria agora que pararia.

Do nada apareceu mais um grupo. Um grupo de anõezinhos vestidos de verde, gorrinhos e barba. Meu pai olhou o grupo, tirou um saquinho do bolso da camisa e jogou no lixo falando “Preciso parar com a maconha”.  Enquanto a maioria do grupo pegava autógrafos e tirava fotos com Eva contando que adoraram minha irmã no filme “Eva das neves e os sete anões tarados” . Sim, minha irmã fez esse trabalho antes de virar apresentadora infantil. Um dos anões pegou um banquinho emprestado com tio Freitoca, subiu no mesmo e chorava olhando pra mim.

Lamentava minha partida tão moço e justo perto do Natal. Perguntava como seria aquele Natal sem mim, o que seria das criancinhas e a fábrica estava fechada e de luto devido minha morte. Os outros anõezinhos tentavam consolar o líder dizendo que dariam conta de tudo e que essa seria minha vontade e as crianças não ficariam sem presentes.

Ninguém entendia nada e ficava com medo de perguntar. Minha avó chegou perto do grupo e perguntou o que significava tudo aquilo. O anão consternado começou a chorar e a falar que o Polo Norte não era o mesmo sem mim e os veadinhos sentiam muito minha falta.

Veadinhos? Preferia que ele tivesse falado “renas”, mas enfim...

Tio Freitoca com uma garrafa de jurupinga na mão ria e comentava que era por isso que ele bebia, pra não ficar maluco quando um dos anões se aproximou e disse que se lembrava dele. Tio Freitoca se assustou quando o anão olhou bem pra ele e perguntou se queria que revelasse o que meu tio pediu em cartinha de Natal vinte anos antes. Deu só um palpite dizendo era em formato de garrafa, mas não era uma.

Meu tio engoliu a seco e parou de rir pedindo desculpas. Os anões se despediram e enquanto as pessoas ainda debatiam o que ocorrera dentro da capela veio um barulho do lado de fora.

Todos foram para a janela e perceberam  que nevava..sim, nevava no Rio de Janeiro!! E viram um trenó levantando.

Não..não podia ser ou podia?

Todos ainda atônitos se entreolhavam quando um coelho gigante com uma cenoura na mão entrou na capela, se aproximou de meu caixão e começou a chorar. Ninguém arriscou apostar se aquela roupa de coelho era uma fantasia ou não. Depois de tantas loucuras naquele velório ninguém arriscava mais nada.

Como eu não arriscava mais nada depois de Waleska.

Tomei muitos tapas na cara, mas fazia questão de apalpar pra ver se era homem ou mulher. Trauma sabe como é, mas algumas até gostavam e me achavam arrojado.

E com essa forma arrojada fui conhecendo outras mulheres, de verdade, esquecendo que Waleska passou pela minha vida..voltando a viver. Bia me ajudava a cuidar de Joana e parecíamos um casal de verdade sem sexo..tá, sexo tinha as vezes, mas sem ser uma relação de verdade.

Uma noite eu ajudava Joana na lição de casa quando Bia apareceu com um homem. Novidade para mim que apesar de saber que minha ex tinha seus casos pela primeira vez levava homem até lá.Um rapaz moreno, músculos definidos, sorriso largo, um gato..não, gato não, esqueçam essa parte exagerei. Contou pra mim que era seu novo namorado, Caim.

Olhei pra ele sem deixar passar a coincidência de nomes, Adão, Caim... Caim também percebeu e ao apertar minha mão brincou dizendo “oi papai”.

Taí, não gostei muito dessa brincadeira.

Caim jantou conosco e a todo o momento ele e Bia eram muito carinhosos um com o outro, fato que me incomodava. Os dois não soltavam as mãos e Joana perguntou se estava tudo bem, respondi que sim. Mais tarde coloquei Joana pra dormir e sentei no sofá pra pensar naquilo tudo. Bia surgiu na sala dando um beijo na minha cabeça e perguntando se ainda havia pudim na geladeira. Respondi que sim e ela se encaminhou a cozinha dizendo que Caim tinha que experimentar aquela maravilha.

Quer dizer, Caim estava no quarto dela naquele momento e passaria a noite lá. Perguntei a Bia se aquele rolo era sério, minha ex antes de entrar no quarto sorriu pra mim e disse que daria em casamento.

Pronto, meu dia acabou, meu mundo caiu, tudo que possa imaginar. Fiquei sozinho na sala e resolvi pegar a chave do carro e ir pra rua.

Dirigi muito, pela cidade toda e acabei parando no bar vagabundo que fui quando Bia e Edu transaram. O mesmo pé sujo, tudo da mesma forma. Entrei e fui direto à junkie box botar música do Lupicínio Rodrigues, pegar uma garrafa de cachaça e afogar minhas mágoas na mesa do fundo.

Bebia, enchia a cara quando os mesmos caras mal encarados que estavam no bar naquela noite me reconheceram e foram até a mim de braços abertos. Sentaram comigo e bebemos a noite toda, como naquela vez eu reclamava da Bia e bebia. Eles falavam que mulher era assim mesmo e que eu não ligasse.

Bebemos, rimos, cantamos até que notei que uma mulher não parava de me olhar no balcão. Gostei dela e comecei a encarar até que meus amigos incentivaram que eu fosse falar com ela.

Fui até ela, me apresentei e a ruiva linda disse que se chamava Xênia. Perguntei se podia pagar uma bebida pra ela que agradeceu.

Batemos papo e Xênia se mostrou uma pessoa educada, culta. Gostei de cara dela e perguntei o que fazia num ambiente como aquele. Xênia respondeu que estava triste, com problemas, rodou muito e acabou parando ali. Contei que também estava com problemas e contei toda minha história com Bia. Xênia ouvia a tudo pacientemente com sorriso no rosto.

No fim o bar já estava fechando quando me despedi e disse que tinha que ir pra casa. Xênia então argumentou que eu não podia dirigir bêbado daquela forma e eu respondi que não tinha problemas, eu pegaria um táxi.

Xênia sorriu e falou que não era preciso, me levaria em casa. Agradeci, mas disse que não precisava, ela estava com o carro dela lá e isso lhe atrapalharia. Xênia disse que não, depois buscaria seu carro e
não teria problemas de me levar. Agradeci novamente e saímos. Sentei no banco de carona e contei pra Xênia onde morava e ela me levou.

Entramos e antes que eu perguntasse se ela queria alguma coisa Xênia me beijou. Demos beijos quentes e falei pra irmos pro quarto, antes Xênia disse que pegaria uma bebida pra gente.


Voltou com dois copos, brindamos, bebi um gole e lembro-me de mais nada.

Acordei no dia seguinte com uma grande dor de cabeça. Levantei e fui ao banheiro, passei pela sala vazia e alguns segundos depois voltei correndo na sala. Estava vazia sim, tinham levado a tv de plasma, o som, dvd, home theather, tudo..

Nesse momento Bia apareceu e perguntou o que significava aquilo. Respondi que tudo tinha sumido e minha ex respondeu que isso percebera e perguntou por que as coisas sumiram.

Simples, fomos assaltados.

Enquanto eu ligava pra polícia Bia perguntou se algum estranho havia entrado na casa, respondi que só seu namoradinho Caim. Bia irritada que Caim era de confiança e nesse momento lembrei-me de Xênia.

Soltei um “puta que pariu” e desci correndo até a garagem, lá percebi que o carro também sumira. Agora era oficial, tomei um “boa noite cinderela”.

Dei queixa na delegacia e tive que ouvir gracinhas dos conhecidos que justo eu, malandro velho caíra num golpe tão antigo. Comprei de novo tudo que havia sido roubado e o carro novo peguei graças ao seguro. Evidente que não tive mais notícias dos meus pertences. Ainda voltei algumas vezes ao bar pra ver se achava Xênia, mas nada.

Uma noite dirigia em direção a Ipanema quando vi um carro parado com capô aberto e uma mulher desesperada falando ao celular. Prestativo como sou e pensando que ali poderia ser uma oportunidade de paquera parei.

Perguntei se precisava de algo e a mulher se virou. Quando vi seu rosto exclamei assustado “Xênia!!”. Xênia sorriu e disse “Oi Adão”.

Nesse momento mais duas mulheres apareceram com armas em punho e me renderam. Xênia pegou também um revolver de sua bolsa e pediu desculpas dizendo que “negócios são negócios”.

Fui colocado no banco de trás do meu carro e as mulheres rodaram a cidade apontando armas pra minha cabeça e parando em caixas eletrônicos pra sacar dinheiro. Todo meu dinheiro foi sacado e no fim as mulheres cogitaram me soltar. Xênia que estava ao volante respondeu que não porque achava que poderia lucrar mais comigo.

Acabaram me levando pra um cativeiro me prendendo em um quarto e pegando números de telefones da minha família. Fiquei horas lá preso preocupado com minha vida, meu futuro e pensando como Xênia era gostosa.

Algumas horas depois as mulheres abriram meu quarto com jeito frustrado. Perguntei o que acontecera e Xênia respondeu que pra todos que ligou pedindo resgate recebia em troca uma gargalhada e a resposta que um cativeiro desses era o que sempre sonhei.

Resumindo, ninguém pagaria resgate nenhum.

Falei pra Xênia me soltar porque não lucrariam mais nada comigo e ela concordou. Uma mulher começou a me desamarrar e Xênia mandou que esperasse. Alisou meu corpo e disse que antes “brincariam” um pouco comigo. Tentei resistir e pedi que elas parassem por exatos oito segundos, depois não tive mais forças e deixei que abusassem de mim.

As mulheres me largaram apenas de cueca em uma estrada de terra e foram embora com mais um carro meu.

Fui direto a delegacia e prestei nova queixa contra Xênia. Contei toda história ao delegado que custava acreditar que fui sequestrado por mulheres e que pela segunda vez era assaltado pela mesma.
No fim com cara de entediado ele perguntou se eu tinha mais alguma coisa de relevante pra dizer. Abaixei a cabeça e com vergonha contei que fora violentado. O delegado levantou e perguntou “como é?”. Confirmei o que disse e contei que as três fizeram sexo a força comigo e queria fazer exame de corpo de delito.

O delegado me expulsou de sua sala me chamando de maluco e que não voltasse mais ali.

Tentava viver minha vida e esquecer essas violências que sofri, mas a verdade é que sabia que Xênia mexera comigo e não conseguia esquecer a transa quente que tivemos.

Uma noite estava em um restaurante jantando sozinho quando uma mulher sentou na minha mesa. Tomei um susto porque era Xênia.

Tentei levantar, gritar, fazer alguma coisa, mas Xênia sorrindo mandou que eu ficasse tranquilo, pois, não estava ali a trabalho, apenas me vira jantando e resolveu entrar pra me cumprimentar.Eu aborrecido perguntei como ela poderia entrar ali pra me cumprimentar se me assaltara duas vezes, sequestrado e me violentado. Xênia respondeu que esse era meu problema, misturar vida pessoal com negócios.

Contou que não tinha nada contra mim apenas surgiu oportunidade de trabalhar e pra meu azar eu estava na frente nessas oportunidades que do sexo eu não poderia reclamar que bem que eu tinha gostado.

Acabei soltando um riso quando ela falou isso e Xênia comentou que eu tinha um sorriso lindo. Falei que ela não valia nada e a moça pediu uma chance para conversarmos.Dei a chance e conversamos. Parecia como na primeira vez que nos vimos quando ela foi dócil, educada e mostrou cultura. Em alguns minutos já não lembrava mais que aquela mulher era uma bandida e já me assaltara.

No fim paguei a conta e convidei pra esticarmos a noite. Ela topou e mandou que eu esperasse na porta que iria ao banheiro. Do lado de fora esperava pensando no quanto eu era louco, iria sair com uma mulher que me assaltou duas vezes quando Xênia saiu do restaurante nos apressando pra ir embora.

Perguntei se ocorrera algum problema e ela contou que acabara de assaltar o restaurante.

Liguei o carro e ela mandou que eu acelerasse enquanto já dava pra ouvir a sirene da polícia.

Fomos a um motel, não era louco de voltar com ela a minha casa e transamos a noite toda. Primeira vez que eu me lembrava de uma transa com ela e não era forçado. Foi uma noite maravilhosa mesmo com a preocupação que Xênia me roubasse nada nem roubasse o motel.

E assim foi nosso caso. Apaixonei por Xênia e do jeito dela também se apaixonou por mim. Sempre me dava presentes caros mesmo sendo de origem duvidosa e me emocionou quando me deu três vezes o mesmo relógio.

Ela me roubava e depois dava de novo.

Também era muito emocionante sair correndo dos lugares porque ela assaltou.

Uma vez em um restaurante colocou um anel no meu dedo. Perguntei o que significava e ela entregou um anel e falou para que eu colocasse no seu. Coloquei e Xênia contou que era anel de compromisso e que tínhamos um a partir daquele momento. Enquanto nos beijávamos ouvia uma mulher da mesa ao lado reclamar com o marido que sua aliança tinha sumido e ele respondendo que a dele também.

Assim caminhava nossa história. Um dia fui até a casa dos meus pais e pedi pra que minha mãe colocasse cartas pra mim. Minha mãe revirou a casa toda e não achou as cartas nem uma pulseira que ganhara de minha avó. Nesse momento lembrei que levara Xênia até a casa pra conhecer meus pais no dia anterior e achei melhor ir embora.

No dia seguinte fomos a uma lanchonete e enquanto estávamos na fila me toquei que estava sem trocados. Xênia respondeu que tudo bem e antes que perguntasse se ela podia pagar o lanche sacou uma arma e mandou que as atendentes entregassem todo o dinheiro que tinham nas caixas.

Nesse momento um policial apontou a arma pra ela e mandou que abaixasse a sua. Nisso Xênia me pegou pelo pescoço, apontou a arma pra minha cabeça e mandou que ele abaixasse a arma senão eu morria.

Olhei assustado pra Xênia que falou “desculpa baby, negócios são negócios”.

Em poucos instantes a lanchonete estava cercada de viaturas da polícia com Xênia apontando o revólver pra minha cabeça. Xênia saiu da lanchonete com a imprensa toda já presente me segurando e contando que me mataria enquanto a polícia mandava que se entregasse. Falei pra que parasse de besteira que aquilo acabaria mal era melhor que se entregasse e eu garantiria um bom advogado pra ela.

Ela relutou um pouco, mas acabou aceitando. Disse à polícia que se renderia. A imprensa toda focalizou na gente que virava notícia pro Brasil inteiro e Xênia me soltou, apertou minha bunda, contou que me esperaria nas visitas Íntimas e mandou que eu corresse. Corri e ela levantou os braços se rendendo.

Algemada foi colocada no camburão quando pediu que eu pegasse uma chave em seu bolso. Peguei e ela disse um endereço, que me amava e entrou sendo conduzida a delegacia.

Fui até o endereço, era um galpão e lá estavam todas as coisas que ela roubou de mim.

Gostava de verdade de Xênia e ela de mim. Cumpri o prometido e fui até a penitenciária no dia de visita. O problema que nesse dia Xênia iniciou uma rebelião no presídio e me pegou como refém.

Xênia fugiu com mais trinta detentas pra um lugar que eu não tinha a mínima ideia de onde era.

Um dia estava em casa e chegou uma carta pra mim. Abri e dentro tinha uma foto de Xênia em uma praia com um relógio no pulso.    

Corri pra gaveta do meu quarto e confirmei. Ela roubara de novo o meu.

Que FDP.


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WALESKA 

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