AS MULHERES DE ADÃO: CAPÍTULO XXI - WALESKA
Não escalei o Everest, não vi mais Viviane ao vivo, só pela tv e graças a Deus não vi mais aquela velha chata. Tinha gente que pensava que Viviane era lésbica por nunca lhe verem com namorado. Mas com uma mãe aquelas qual homem chegaria perto?
Eu não chegaria mais, nem morto.
O que era o caso, eu estava morto.
Pela quantidade de gente que tinha no meu velório meu pai indagava se não era uma boa abrir turnê pro meu enterro. Meu corpo viajaria por várias cidades do país numa turnê de despedida com apresentação da Eva. Sucesso garantido. Minha irmã mandou que me pai diminuísse na maconha porque começara a afetar seus neurônios e minha vó toda serelepe perguntou se tinha mais cigarrinhos lá.
Minha mãe discretamente levou minha avó ao banheiro e de lá alguns minutos depois começou a sair o cheiro da erva.
Tio Freitoca não cansava de chegar perto do meu caixão e brindar ao “seu sobrinho preferido”. Foram tantos brindes que naquela altura ele já chegava perto e falava “Ao..ao..ao..foda-se eu quero é beber mesmo” e entornava mais um pouco. Fora que a cada vez era “um gole pro santo”. O coitado já devia estar bêbado. Meu avô comentava com algumas pessoas que naquela família só havia malucos e o único são era ele quando entrou mais um grupo. Só pra variar.
Um pessoal com roupa gasta, cara sofrida, chinelo de dedos e enxadas na mão entrou no velório. Meu avô se assustou e perguntou o que era aquilo. Um homem se apresentou como representante do grupo e disse que eles eram do “Movimento dos sem terra” e o MST queria fazer uma homenagem a um de seus grandes líderes, no caso eu.
Meu avô virou pra um conhecido ao seu lado e falou “Viu o que eu disse sobre só ter loucos?” e pro homem do MST respondeu “Vai, faz sua homenagem, mas não demore muito que daqui a pouco chega outro grupo esquisito pra fazer”. O homem tirou o chapéu, pôs sobre o peito e contou aos presentes que eu era um dos maiores líderes da luta pela terra naquele país. Juntos invadimos muitas terras improdutivas, levamos muitas balas de fazendeiros, lutamos, suamos, mas conseguimos nossos objetivos.
Meu avô se sensibilizou e pediu que ele continuasse.
O homem contou de invasões no sertão da Bahia, de Pernambuco, Alagoas e no interior da Disney quando tomamos o Epcot Center do Pateta por ser uma área improdutiva e emocionado contou de quando invadimos a casa da luz vermelha e levamos as meninas de lá para que tivessem uma nova morada com terra em abundância pra dar e enxadas pra pegar.
A história começava a ficar esquisita.
Aí o homem levantou a enxada e contou que em minha homenagem estavam tomando aquela capela pra fazer reforma agrária. Meu avô então levantou e perguntou que loucura era aquela. O homem falou que aquela área era improdutiva, o dono estava morto então ocupariam e ninguém poderia impedir.
Uma grande discussão tomou conta do local. Meu avô e o líder do MST batiam boca asperamente quando o celular de um dos integrantes, celular moderníssimo por sinal, tocou. O homem falou ao telefone por instantes, desligou e foi correndo ao seu líder que quase se engalfinhava com meu avô.
Falou em seu ouvido e então o líder do MST disse que não tomariam mais a capela porque surgiram terras boas, improdutivas no interior da Paraíba para tomarem. Completou contando para seus comandados o local da invasão e foram embora.
Um alívio tomou conta por segundos da capela até meu avô se tocar que o local dito era onde ficava uma de suas fazendas e sair correndo.
Invadir terras estava na moda, como estava na moda estar na moda, se é que me entendem.
E eu entrei nesse mundo fashion por um tempo.
Não virei modelo, estilista, nada disso. Mas Bia se amarrava nessas coisas e sempre acompanhava as últimas tendências, ia a desfiles. Eu que não gostava muito, mas estava “curtindo” uma dor de cotovelo pelo fim com Viviane. Vivi era legal, gostava dela, linda. O que era ruim era a mania dos esportes radicais e principalmente a chata da mãe dela, se Viviane fosse órfã ajudaria muito.
E Bia vendo o jeito que eu estava insistia me chamando pra sair. Eu relutava, queria só ver tv e comer pipoca e minha ex falava que assim eu ficaria gordo e ninguém mais olharia pra mim. Respondi que tudo bem namoraria uma cega e Bia mandou que eu parasse de palhaçada e me preparasse que de noite iríamos sair. Ela iria a um desfile de modas e eu acompanharia.
Falei que não iria, desfiles pra mim só na Sapucaí e Bia olhou séria pra mim falando que não estava convidando, estava convocando e eu iria. Fazer o que né? Sou um homem comandando pelas mulheres.
Como sempre Bia me ajudou no nó da gravata, sempre me atrapalhei com ele e mandou que eu me animasse que seria divertido. O que poderia ser divertido em um desfile de moda? Mulheres e bebida. Não precisava de mais nada pra ser feliz.
E isso tinha muito. Mulheres lindas, elegantes, champanhe a rodo. Até que eu me divertia naquele ambiente enquanto Bia me mostrava cada detalhe. Minha ex me apresentou a um estilista mais afetado que carnavalesco de escola de samba que tentava me explicar sua moda outono-inverno e eu só queria saberia saber que horas passaria por lá os salgadinhos.
Chegara a hora do desfile e Bia me chamou para sentarmos. Sentamos na primeira fileira o que nem me dava oportunidade de tirar um cochilo. As roupas começaram a ser apresentadas pelas modelos e eu não entendia nada. Como uma roupa daquelas poderia ser vestida por alguém na rua? Uma peça mais bizarra que a outra e eu tentava segurar o riso enquanto tomava beliscão de Bia mandando que eu me comportasse.
Eu já tinha bebido, visto mulheres bonitas, já estava satisfeito podia ir embora até que apareceu o melhor da festa.
Uma modelo estilo andrógina, mas muito bonita começou a desfilar. Branquinha, cabelos curtos, boca chamativa. Gostei de cara. Acompanhei com olhar todo o desfile da moça e ela desfilou várias vezes com diversas roupas e eu encantado por ela. Pronto, lá estava eu me apaixonando de novo.
No fim ela voltou com várias modelos e aplaudi de pé. Bia estranhou e disse que não sabia que eu gostava tanto de desfiles de moda e respondi que adorava.
No fim conversando com algumas pessoas descobri que teria uma festa pra comemorar o evento. Bia respondia que não iríamos porque eu não era daquele ambiente e devia estar cansado, doido pra comer pipoca e assistir futebol na tv e respondi que não, iríamos pra festa.
Ela não entendeu e emendei que já estávamos ali mesmo custava nada irmos à festa e eu conhecer um pouco mais daquele meio. Na verdade eu queria era conhecer melhor a modelo.
Fomos pra festa e ali procurei com o olhar a modelo. Muito procurei até que encontrei. Estava linda conversando com um grupo de pessoas. Eu não ouvia mais nada que grupo que eu fazia parte falava e respondi que já voltava quando Bia perguntou se estava tudo bem.
Quando saí ainda deu tempo de ouvir minha ex falar “achou mulher”.
Passei por um garçom, peguei duas taças de champanhe e fui até seu encontro aproveitar que ela estava sozinha. Cheguei com aquele sorriso “matador” que eu tinha e perguntei se ela queria uma taça. A modelo agradeceu e pegou, aproveitei pra brincar e disse que ela poderia beber e comer a vontade que eu estava bancando tudo. Ela riu e contou que não podia comer muito pra manter a forma.
Perguntei seu nome e ela respondeu “Waleska”, falei que era um nome diferente e que eu não conhecia nenhuma Waleska. Ela respondeu que agora conhecia uma e bebeu um gole do champanhe me olhando de uma forma sedutora. Ficamos conversando, Bia passou por mim e contou que iria embora perguntando se eu ficaria, respondi que sim, ela me desejou boa sorte e saiu rindo. Não entendi muito a risada dela e continuei conversando com Waleska.
Ela me contava de sua vida. Nasceu no interior do Rio Grande do Sul, mas não se dava bem com os pais que não aceitavam o jeito dela. Curioso, perguntei “como assim o seu jeito” e Waleska desconversou, contou que ainda adolescente foi morar em São Paulo, conheceu pessoas que transformaram sua vida e caiu no mundo pra ser feliz.
Ela contava animadamente sobre sua vida e eu só tinha olhos praqueles peitinhos durinhos que estava doido pra colocar a mão. Mulheres aprendam se em um primeiro encontro você fala muito e o homem parece prestar atenção ele não é o homem da sua vida, aquele que sempre te ouvirá. Ele simplesmente pode estar olhando seus seios e pensando em uma forma de te levar pra cama.
Era exatamente o que eu fazia naquele momento.
Papo vai, papo vem e chegou a hora de ir embora. Maliciosamente Waleska perguntou se eu poderia dar uma carona e exultante respondi que sim. Peguei meu carro. Ela entrou e levei a moça até seu condomínio na Barra. Beijamos-nos no carro na frente do prédio e perguntei se não podia subir.
Waleska respondeu que eu era um fofo, deu um beijinho em minha boca e saiu do carro. Ainda perguntei se podia e ela me deu tchau entrando no prédio.
É, realmente ela só queria uma carona.
No dia seguinte liguei cedo pra ela e combinamos uma praia. Waleska de biquini ficava estonteante e eu nem conseguia me concentrar no futvoley vendo aquela mulher se banhar nas águas.
No fim da tarde perguntei se ela não queria sair de noite e Waleska respondeu que sim, pra eu passar as nove da noite em sua casa. Fui pra casa e de novo tomei aquele banho demorado, botei minha melhor roupa e me perfumei. Na frente do espelho me admirava e Bia perguntou aonde eu iria tão bonito.
Respondi que iria sair com Waleska e Bia começou a rir, perguntei o motivo da risada e ela respondeu que era nada, só uma coisa que havia lembrado. Enquanto passava minha loção pós barba falei que naquela noite rolaria. Bia gargalhou dizendo que duvidava perguntei por que, mas ela saiu e me deixou falando sozinho.
Fomos a um cinema, tentei passar a mão em seus seios e ela deu tapa na minha mão. Depois fomos jantar e paramos em meu carro na frente da praia.
Beijávamos no carro e a situação estava quente mesmo Waleska dando tapas em minha mão quando ela descia por seu corpo. Tentava deixar as carícias mais fortes e ela mandava parar, chamava pra um motel e ela dizia que não.
Beijava seu pescoço e quando tentei passar a mão em sua perna ela foi mais rude, me afastou e desceu do carro. Perguntei qual era o problema e Waleska contou que era virgem e pediu que eur espeitasse e se não respeitasse era melhor que acabássemos por ali.
Pronto, em pleno século XXI arrumei uma virgem, era o que em faltava. Mas estava tão afim daquela mulher, com tanta vontade que respeitei. Continuamos aquele namoro puro como um namoro de crianças no colégio. Eu me desesperava, mas tinha que segurar as pontas. Waleska era linda, desejada e saber que ela era virgem, intocada me excitava mais ainda, era um problema.
Perguntei pra Bia o que fazer, como dar um jeito naquela situação e minha ex falou que a resposta estava na minha mão. Não entendi e ela disse que estava na minha mão e no banheiro me aliviando sozinho.
Irritei, levantei e ela rindo falou que eu ainda devia uma resposta pra ela, em quem eu pensava quando estava no “ato solitário” no banheiro, na festa que ela me pegou em flagrante. Virei pra Bia e disse que mantinha a promessa de levar aquele segredo pro caixão. Waleska me chamou para viajarmos, ela faria desfiles em Milão, Paris e Tóquio. Aproveitei que estava de férias e topei. Foram semanas maravilhosas ao lado de meu amor, conhecendo outras culturas, aproveitando tudo que a vida tem de melhor.
Mas ela não me deu.
Tentei de todas as formas e nada, nem no mesmo quarto consegui ficar, passar a mão, nada. Waleska ganhou muito dinheiro no exterior e eu calos nas mãos. Entrei em casa branco, barbudo, com cabelo despenteado, aspecto tão acabado que Bia e Joana perguntavam o que eu tinha. Respondi que apenas tivera uma viagem difícil.
Vi minha filha sentada no sofá vendo tv e sentei ao lado perguntando o que ela via. Joana respondeu que era ”National Geographic”. Olhei e percebi que rolava um clima entre casal de bichos preguiças. Não aguentei com a cena e corri pro banheiro.
É amigos, a situação não estava fácil. Desde minha infância não ficara tanto tempo sem sexo e não estava mais aguentando, precisava ter Waleska.
Contei meu problema numa visita que fiz a casa de Kátia e Eva e as duas ficaram rindo de mim. Eu irritado falei que elas poderiam rir a vontade já que a desgraça estava comigo, Eva pegou minha mão e gargalhando falou que parecia de um trabalhador braçal. Kátia então perguntou por que eu não “dava um porre” em Waleska e eu respondi que nem adiantaria, pois, ela aguentava muita bebida.
Minha cunhada completou que podia ser que ela aguentasse bem bebida, mas qualquer mulher sai de órbita se colocasse umas gotas de extrato de “querópica” na bebida.
Perguntei que extrato era aquele enquanto Eva mandava a namorada ficar quieta. Kátia contou que “querópica” era uma planta da Amazônia e seu extrato era afrodisíaco, nenhuma mulher resistiria.
Minha irmã irritada mandava que Kátia parasse porque era muito feio se aproveitar assim da menina e eu desesperado perguntei onde eu conseguiria esse extrato. Kátia respondeu que era fácil, minha mãe lidava com essas coisas então era só falar com ela.
Corri na minha mãe que perguntou o que eu queria e respondi que “querópica”. Minha mãe tomou um susto e perguntou desde quando eu tinha mudado minhas preferências, pois sempre soube que eu gostava de mulheres e expliquei a minha mãe que ela entendera errado, tinha acento no ó, era “querópica”.
Minha mãe respirou aliviada enquanto meu pai apareceu e disse que tinha esse extrato em casa, guardava no armário. Minha mãe indagava o porquê do meu pai ter esse tipo de afrodisíaco enquanto pedi que ele buscasse.
Fui a um bar com minha namorada e enquanto ela foi ao banheiro coloquei o extrato em seu copo na esperança de finalmente transar com ela. Waleska voltou e bebeu tudo de um gole só.
Deu certo, o clima esquentou e depois de muitos amassos no carro consegui levá-la a um motel, tinha chegado o dia. Na recepção pedi um quarto de forma urgente que tinha coisas pra resolver com meu amor. O recepcionista riu e perguntei qual era o motivo da piada, ele pediu desculpas, respondeu nenhuma e deu a chave do quarto.
Entramos no quarto e deitei Waleska na cama, finalmente fazia tudo que queria. Dava beijos ardentes em meu amor, passei a mão em seus seios, passei a mão sem suas coxas, passei a mão em seu...
..epa!!!
Passei a mão em um local e encontrei algo inesperado. Levantei no susto e Waleska perguntou o que acontecia e mandava que eu deitasse. Eu apontava pra minha namorada e perguntava o que era aquilo que eu toquei.
Minha namorada candidamente respondeu “meu pênis”.
Eu assustado apontava e perguntava como assim pênis. Waleska engrossou a voz e me chamou de bobinho perguntando se eu não percebera realmente que ela era um travesti. Eu conseguia falar nada. Waleska contou que se chamava Aderbal na verdade, foi embora pra São Paulo porque os pais não aceitavam sua escolha, na cidade virou travesti e começou a modelar sendo conhecido como o travesti mais bonito do Brasil.
Quer dizer, todo mundo sabia que era travesti. Bia, o recepcionista, as pessoas que conviveram com a gente, menos o otário aqui!!
Waleska, ou Aderbal, levantou e disse no meu ouvido que ofereceria sua virgindade pra mim, mas queria uma troca, que depois eu oferecesse a minha pra ele. Demorei alguns segundos pra entender o que ela quis dizer até que ela com voz cavernosa disse "Luke meu filho, venha para o lado negro da força", Entendi, dei um grito dizendo que não era Jedi para curtir luta de espadas e saí correndo do quarto.
Cheguei ao meu apartamento esbaforido. Encontrei Bia bebendo água na cozinha, virei pra ela e mandei que falasse nada e que eu iria dormir. Saí ouvindo sua gargalhada.
No meu buraco negro nenhum Darth Vader entra.
CAPÍTULO ANTERIOR:
VIVIANE
Comentários
Postar um comentário