OS FINALISTAS DA UNIÃO DA ILHA


*Coluna publicada no blog Ouro de Tolo em 10/10/2014


Chegou a final da União da Ilha depois de um pouco mais de dois meses. Eu estava nessa disputa até semana passada, convivi com esses sambas o tempo todo e acho que consigo falar com conhecimento de causa.

Um bom enredo, não tão bom quanto do ano passado, mas divertido rendeu uma disputa de alguns bons sambas e outros razoáveis que compõe o concurso mais nivelado que vi na agremiação nos últimos anos. Diferente do ano passado quando um samba explodiu e já chegou vencedor na final eu digo que esse ano se contasse apenas samba pelo menos quatro poderiam vencer.

Dizendo que tem cinco sambas e que quatro poderiam vencer chego a primeira conclusão. Tem samba demais na final.

Essa final poderia ser com quatro sambas, mas entendo que tenha cinco porque a direção quer que a quadra fique lotada na final e apesar dela vir enchendo não está lotando. Entendo, mas não compreendo porque final lá sempre lota mesmo com menos sambas.

Como disse também esses quatro estariam nivelados, mas não é apenas samba que conta num concurso, muitos fatores contam, como política.

Antes que a gente julgue a escola porque conta fator político digo que política está presente em tudo na vida. Quando saímos de casa e damos bom dia ao vizinho estamos praticando política.

Vamos ao sambas:

Foram quinze sambas no concurso. Primeira vez que vi isso na Ilha, mas um foi eliminado antes da estreia, o samba de Paulinho Direito. O presidente achou que seu samba podia denegrir a imagem da escola e aceito sua decisão apesar de ter visto alguns sambas na quadra não muito melhores. 
  
Quando chegamos a nove sambas começou a ficar evidente a disputa nivelada. Alguns compositores de ponta como Walkir não colocaram samba, outros que vieram com grandes sambas recentemente não repetiram performance e parcerias que nunca chegaram a finais vieram com obras boas. Qualquer coisa poderia acontecer. 

A cada semana aumentava a dúvida sobre quem cairia até que quando chegou a sete sambas a boataria foi enorme na quadra falando de qualquer um dos sete caindo até que a direção decidiu cortar ninguém tamanho estava nivelado o negócio cortando dois na semana seguinte.

Os cinco sambas são de parcerias de chegada, contém compositores campeões da agremiação com formações diferentes. A parceria de Carlinhos Fuzil, por exemplo, se separou do grupo de Paulinho Poeta e foi a parte da parceria vencedora de 2014 que chegou na final.

Ao contrário do ano passado chegam como azarões. É um grupo experiente comandado pelo grande Carlinhos Fuzil, conta com uma torcida numerosa, a maior, e o bom comando de palco de Bruno Ribas e  Alexandre D`Mendes.

A parceria de Ginho e Junior Nova Geração também se desmembrou e mostrou força com os dois grupos chegando na final.    

Ginho tem uma carreira sólida, consistente e leva essa consistência para seus sambas. Ginho não faz samba ruim e mostrou isso mais uma vez na União da Ilha. Ele conta com o palco mais forte com Wantuir e Ciganerey no comando. 

Eu diria que o Ginho é o “desfile técnico” e o Júnior o “emocional” e isso ficou bem claro na divisão da parceria. Ginho é sólido consistente, regular. Júnior tem carisma, garra, sua no palco gritando e conclamando o povo e é popular. Sua torcida é de amigos.

É querido na escola, pelo presidente e está com um samba que considero melhor até que o que venceu em 2013.

A quarta parceria é de um bicampeão que estava afastado da agremiação. Miguel.

Acredito ser o samba mais “solto” ou como chamam alguns “a cara da Ilha”. Para reforçar essa identidade Quinho foi contratado para defender o samba. É um samba com ótima aceitação na quadra e pelos segmentos da escola que balançam suas bandeiras e cantam com alegria a obra. 

E o quinto samba. O mais polêmico e o favorito.

Acho certo vice presidente concorrer ao samba? Não, não acho, isso não deveria ocorrer. Posso reclamar disso? De jeito nenhum, eu seria um babaca se chegasse aqui e falasse mal porque ninguém foi enganado. Todo mundo sabia que o Djalma Falcão faria samba e mesmo assim botamos então ninguém tem o direito de falar nada.

Djalma Falcão é um excelente compositor, um dos meus ídolos e um dos maiores que conheci, tem todo o meu respeito. E juntou a outros grandes compositores e amigos como Marquinhus do Banjo, Gugu das Candongas e Roger Linhares. Por um lado não foi legal porque é um vice presidente concorrendo a samba, pode parecer antiético. Por outro se expôs, botou a cara a tapa, não se escondeu como alguns dirigentes fazem quando compõe samba, não botam nome e  fazem pressão nos bastidores. Isso do Djalma foi louvável.

E o samba foi polêmico assim como a parceria. Ninguém passa indiferente a ele, se ama ou odeia. Principalmente devido o refrão do meio “Lá vem ela toda prosa / gostosa /  fiu fiu”. Muita gente torce o nariz para esse refrão, mas nada na Ilha ficou tão marcante, tão conhecido nesse concurso.

Pode dar muito certo ou muito errado, só a avenida pode nos responder.

Não vou dizer qual quero que vença. Não acho legal até porque estive na disputa até recentemente e todas as parcerias têm amigos meus, mas como todo os anos apontarei favoritos e venho acertando.

O favorito indiscutível é o samba de Djalma Falcão. Podem surpreender Junior pelo presidente gostar dele e do samba e Miguel por ter apoio de parte dos segmentos.

Quanto a gente. Até quinze dias antes do começo do concurso nenhum de nós colocaria samba. Juntamos três parcerias numa só. Parceria de gente sem grana, sem estrutura, mas com muita vontade e amizade.

E assim fomos. Sem dinheiro, sem política apenas contando com a força do samba e apoio de amigos. Chegamos até a semifinal e considero um bom resultado. Poderíamos mais, mas dada as adversidades considero a experiência bem sucedida.

Que os Deuses do carnaval iluminem as mentes de quem irá escolher o samba da União da Ilha. 


Nosso destino será como Deus quiser.

    

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