O BRASIL NAS URNAS
*Coluna publicada no blog "Ouro de Tolo" em 5/10/2014
E
chegamos ao dia das eleições. Quer dizer, vocês chegaram, não eu porque vocês
leem essa coluna no domingo 5 de outubro enquanto eu escrevo na quinta logo
após o debate para presidente da Rede Globo.
Talvez
esteja sendo a eleição presidencial mais instigante e intrigante desde a
abordada por mim na coluna passada. Uma eleição sem super candidatos, sem
unanimidades, com reviravoltas e pitada de tragédia.
Temos quase
uma dezena de candidatos a presidente. Alguns deles ninguém conhece, outros
tivemos o desprazer de conhecer melhor essa semana como Levir Fidelix, temos o
Pastor Everaldo que mais parece o “Bruninho” do Aécio Neves, sempre levantando
para esse cortar e temos duas figuras interessantes de esquerda. Luciana Genro
e Eduardo Jorge. Duas pessoas que se mostram capazes, são bem articuladas,
dizem aquilo que queremos ouvir, mas tem a “seu favor” o fato de terem 1% na
pesquisas, não serem nunca vidraça e poderem atacar como querem já que não
serão eleitos e não terão que fazer o que dizem.
Toda
eleição alguém faz esse papel, na última foi o Plínio de Arruda Sampaio.
A verdade
mesmo é que essa eleição se concentra em três candidatos. Dilma, Marina e
Aécio.
Dilma
Rousseff é a candidata a reeleição. Mais dirigente que política, mais séria que
bem articulada, candidata a reeleição por um PT que a gente não reconhece mais.
Nunca
poderíamos imaginar que o PT, outrora símbolo da ética, se envolveria em tantos
problemas com corrupção, nunca imaginaríamos o PT com alianças tão escusas e em
alguns casos cretinas. Nunca imaginaríamos o PT tendo que fazer terrorismo
contra um candidato de esquerda.
Mas mesmo
não lhe reconhecendo ainda existe o velho PT dentro dele. Um partido que está a
12 anos no poder e fez sim pelo seu povo mais pobre, sua gente mais humilde
como se esperava dele, um PT que acabou com nossa dívida com o FMI, deu comida
a quem necessitava, deu estudo, elevou as classes mais baixas em seu poder de
compra e tirou milhões da miséria.
A dúvida
na honestidade do PT faz uma presidente da República com bom governo de um
partido que melhorou o país nos últimos doze anos se arriscar a perder uma
eleição.
Melhorar
o país, dar chance aos mais pobres e governar para todos faz um partido
político mesmo enfiado num mar de lama de corrupção ter chance de vencer
novamente.
Esse
enigma PT de médico e monstro, bem e mal faz ter eleição pra valer esse ano.
O anti
PT, pelo menos nos acostumamos assim nos últimos 20 anos, sempre foi o PSDB e
daí vem uma situação irônica. Talvez o partido tenha escolhido seu melhor nome
desde FHC para concorrer a presidência e esse melhor nome é o que vem sofrendo
mais e corre mais riscos de ficar fora de um segundo turno.
Aécio
Neves, neto do lendário Tancredo Neves, fez uma carreira forte em Minas Gerais
se tornando um dos governadores mais populares do Brasil. Sabe se comunicar, é
jovem, teria tudo para ser um sucesso e ameaça ao PT e suas contradições, mas
até agora não conseguiu sucesso.
O PSDB é
marcado por duas situações. É considerado o partido que acabou com a inflação e
fortaleceu nossa economia, mas também é considerado um partido elitista que só
governou para os mais ricos e quando deixou o governo o Brasil estava em crise.
É o
partido das privatizações também o que pode ser bom e ruim. É acusado de vender
empresas nacionais por ninharia como a Vale do Rio Doce e de pensar em vender a
Petrobras, mas também conseguiu alavancar o país e sua economia como na
privatização da telefonia.
Criou
alguns embriões de programas sociais do PT, mas também foi o responsável pelo
menor salário mínimo da história. Como eu disse é o anti PT total, aquele que
quem não quer mais o partido de jeito nenhum no poder recorre. Isso é bom e
ruim.
É bom
porque pega os convictos anti PT e ruim porque perde aqueles que querem
desistir do partido do governo, mas tem medo.
Aí surge
a terceira via.
Todas as
eleições têm essa terceira via. Já foram Enéas (pasmem), Ciro Gomes, Anthony
Garotinho e Marina Silva, era a vez de Eduardo Campos.
Eduardo
que estava condenado a ter o mesmo papel dos outros. Conseguir uns 10, 12% dos
votos, influenciar na decisão sobre ter um segundo turno e nele migrar seus
votos a alguém.
Mas um
acidente de avião mudou tudo.
Marina
ressurgiu como eu disse numa coluna semanas atrás. A candidata “contra tudo
isso aí”. Carismática, mulher de fibra, guerreira, vitoriosa e num momento de
grande comoção nacional logo virou líder das pesquisas e favorita ao Planalto
sofrendo uma derrocada nas últimas semanas que lhe ameaça até o segundo turno.
Marina é
a candidata que tira o PT do poder, mas não tira o jeito de governar do partido
por ser oriunda dele, uma aposta menos arriscada. Até hoje um exemplo de
honestidade, dignidade, uma pessoa que venceu a miséria se tornando senadora e
ministra. Alguém que propõe ser uma nova via, propõe uma nova política.
Mas que
sentiu o golpe quando começou a sofrer ataques. Sofreu sim, como eu disse, de
terrorismo, mas também recebeu “cruzados certeiros” como aliança com
banqueiros, mudanças em seu programa político e aliança com religiosos
conservadores.
A honesta
e digna Marina às vezes se mostra frágil e incoerente. Mas dizem que a
fragilidade muitas vezes esconde uma força descomunal e mesmo a mudança de
opinião faz parte do crescimento.
Três
candidatos com virtudes e defeitos. Nenhum é um estadista, nenhum se mostra uma
grande farsa. Cabe a nós decidir.
Tenho meu
voto e já falei algumas vezes aqui. O próprio blog pediu que os colunistas
declarassem seus votos e explicassem o motivo, fizeram isso brilhantemente como
sempre.
Eu
preferi me abster disso e fazer uma coluna como a de hoje. Porque ao contrário
de muitos que declararam e entendem muito de política sou um brasileiro médio,
que entende um pouco sem ser de forma profunda e quis hoje bater um papo com
meus iguais. Os que são como eu.
Todos têm
motivo para receber seu voto ou não. Cabe a cada um de nós decidir.
Só uma
coisa digo com firmeza. Vote com sua consciência, sua convicção. Não vote em
troca de interesses fúteis porque quem trata seu voto com futilidade acaba
depois reclamando que políticos são todos iguais.
Políticos
não são todos iguais, nós é que temos preguiça de escolher.
Bom voto.
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