ESCOLA DO MEU CORAÇÃO: UNIÃO DA ILHA
Esse
texto foi desenvolvido para o blog “Ouro de Tolo” a pedido de seu dono Pedro
Migão. Ele pediu a amigos que cada um escrevesse sobre sua escola do coração e
a mim ficou a missão de escrever sobre a União da Ilha. O texto foi publicado
na terça 5/11/2013.
UNIÃO DA ILHA E EU
O dono
dessa bagaça, Pedro Migão, pediu para que falássemos das agremiações de nossos
corações e a ligação que temos com elas. Eu, muito feliz, topei e respondi que
escreveria sobre a Tribo Cacuia, glorioso bloco da Ilha do Governador fundado
em 22 de abril de 1500 e desde então campeão dos concursos de carnaval indígena
do Cacuia. Mas ele me pediu que escrevesse sobre a União da Ilha e como também
gosto muito da Ilha topei.
A União
da Ilha foi fundada em 7 de março de 1953. Rapidamente se tornou a maior
agremiação de nosso bairro e em 1974 venceu o grupo de acesso chegando ao grupo
especial.
Eu
costumo dizer que ao lado do aeroporto internacional do Galeão e do Peixão a
União da Ilha é o maior orgulho de nosso bairro. O mundo conhece a União da
Ilha. Ok, nem todo mundo deve conhecer, mas o mundo conhece pelo menos um de
seus sambas.
Quem
nunca ouviu Festa Profana? O Amanhã? É Hoje? Não lembra? Tudo bem refaço a
pergunta. Quem nunca ouviu “Eu vou tomar um porre de felicidade / Vou sacudir
eu vou zoar toda cidade”, “Como será o amanhã/ Responda quem puder / O que irá
me acontecer / O meu destino será como Deus quiser” ou então “Diga espelho meu
/ Se há na avenida alguém mais feliz que eu”?
Ah. Agora
você reconhece né? E surpreso deve perguntar “São da União da Ilha?”. Sim, são.
União da
Ilha não tem os mais belos sambas do carnaval, reconheço, mas tem os mais
conhecidos, os mais “festeiros”.
Qualquer baile de carnaval ou bloco que você for ouvirá samba da União
da Ilha, se for a um estádio de futebol ouvirá, se for pro Tibet ou uma tribo
no Xingu ouvirá, se for a um enterro ou for visitar a Dilma ouvirá.
Alguns
dos versos criados pelos poetas da União da Ilha ganharam não só o carnaval
como a história da música popular brasileira. Poetas da estirpe de Didi,
Franco, Aroldo Melodia, Aurinho da Ilha, Leôncio, Robertinho Devagar, Waldir da
Vala, Mestrinho, Bujão, J.Brito, Márcio André, Djalma Falcão, Almir da Ilha,
Carlinhos Fuzil, Marquinhus do Banjo, Mauricio 100, Gugu das Candongas entre
outros.
Poetas
inatingíveis pra mim. Pessoas que eu via com a idolatria que via Zico, Leandro,
Júnior, Andrade, Adílio, Renato, Bebeto, Romário, Pet..Não tinha diferença pra
mim entre o Flamengo e a União da Ilha. O amor era o mesmo.
Virei
torcedor da União da Ilha na apuração do carnaval de 1985. Eu até aquele
momento era Mocidade porque vira no RJTV uma cartomante dizendo pro Castor de
Andrade que a escola seria campeã e achei aquilo interessante. Queria ver se
era verdade.
Gostei do
samba, virei Mocidade e assistia feliz uma apuração que se encaminhava para o
título da escola de Padre Miguel quando no meio da mesma descobri que tinha uma
escola do meu bairro, a Ilha do Governador, na disputa e sendo rebaixada.
Tentei por
alguns minutos resistir, mas não consegui. Deixei de ser campeão com a
Mocidade, a única vez que tive essa chance e virei Ilha para ser rebaixado.
Depois “viraram a mesa” e a escola ficou.
Eu, com
oito anos, me apaixonei pela União da Ilha. Nunca tinha pisado numa quadra de
escolas de samba, ninguém dos meus contatos mexia com samba ou mesmo curtia.
Nada a favor e mesmo assim eu me apaixonei por carnaval e a União da Ilha.
Algumas
vezes acompanhado, na maioria sozinho. Mas sempre. Todos os anos eu ficava na
frente da tv assistindo os desfiles. Todos e ansioso com a União da Ilha. Na
época de minha infância e adolescência só tínhamos notícias de samba na época
do carnaval e aquele era o momento da União da Ilha. Momento em que me esquecia
do Flamengo e concentrava meu coração e emoção nela.
E quando
ela entrava na avenida eu me arrepiava, me emocionava. Ligava rádio, tv não me
importando a hora do desfile ou se eu estava no Rio ou no Mato Grosso como
fiquei dois anos na adolescência. Aflito para que tudo desse certo, lágrimas de
emoção quando alguém elogiava. Tensão e frustração na apuração com o título que
não vinha, mas tudo bem, no ano seguinte tinha mais.
Duro era
ficar quase um ano sem notícias da escola. Mas lá estava eu em novembro ou
dezembro comprando o LP ansioso para decorar o samba.
Foi assim
essa história de amor até que ela teve uma reviravolta brusca em 1997. Naquele
ano eu lia o jornal “O Dia” e o Cláudio Vieira em sua coluna disse que na
quinta-feira seguinte a União da Ilha distribuiria a sinopse de “Fatumbi, a
Ilha de todos os Santos” aos compositores e que qualquer pessoa poderia pegar a
sinopse e escrever.
Pensei
“Por quê não?”. Fui até a escola pegar a sinopse.
Não
conhecia ninguém, nem sabia o que fazer. Um dos compositores perguntou se eu já
tinha escrito alguma vez e respondi que não. Assim fui até um dos camarotes da
escola ouvir a palestra do Milton Cunha sobre o enredo e fui até a frente pegar
a minha sinopse e dar meu nome.
Por quê
eu fiz isso? Até hoje não sei. Um ato desses, de ir a um lugar que não conheço
ninguém, fazer uma coisa que não tenho a mínima ideia do que seja, num ambiente
que nunca frequentei é muita coragem, mais, eu diria que é loucura. Sempre fui
um cara tímido, reservado, que me sentia ameaçado em um local sem conhecidos.
Imaginem numa escola de samba?
Esse ato
tem nada a ver com minha postura, meu jeito de ser. Nunca fizera algo assim
antes e nunca mais fiz depois. Se fosse pra fazer hoje não faria. Mas fiz. Acho
que foi coisa de Deus sei lá.
Lógico que
me dei mal no começo. Não sabia nada, não conhecia nada. Indicaram a mim dois
cantores que nunca tinha ouvido falar, fiz um samba sozinho nem nunca ter
composto um, não sabia que se usava
torcida em disputa de samba ou mesmo cavaquinho. Assim fui pro concurso e
lógico que caí de cara.
Assim
como caí nos três anos seguintes.
Outro
fato que tem nada a ver com minha personalidade. Fracassar e insistir. Sempre
desisti fácil.
Mas a
coisa foi acontecendo, mesmo fora da União e voltei pra escola em 2009 para ser
finalista, fui de novo em 2011. Até que..
..Até que
para o carnaval de 2012 realizei um feito que aquele garoto que via pela tv,
tinha a escola como alvo de paixão e seus baluartes como ídolos nunca imaginou.
Eu me tornei um deles.
Foi
junção, foram apenas quatro versos, mas me tornei campeão de samba-enredo da
União da Ilha. Sim “seu moço”, meu nome está lá. Se você consultar o site
oficial da escola, algum livro sobre sua história e for até o ano de 2012 meu
nome está lá como um dos campeões da escola.
Hoje
muitos daqueles baluartes são meus amigos e faço sambas com eles para diversas
escolas. A quadra é minha íntima e já sei todas as técnicas para fazer um
samba-enredo. Não vejo mais pela tv, eu desfilo. Eu faço parte de tudo aquilo.
E fico pensando
se não tem algum menino hoje se apaixonando pela escola através dos sambas que
eu e meus companheiros de ala fazemos. Penso que tudo que criamos é acompanhado
por apaixonados do mundo inteiro. Gente de fora do Rio e até fora do país. É
incrível pensar nisso. Fazer parte de algo que gente que nunca chegou nem perto
da escola ama e tem como algo importante em sua vida.
Daquele
ato louco em 1997 vieram três finais na agremiação e uma vitória. No geral
faltam três sambas compostos para chegar a cem concursos e já ganhei trinta.
Sou o maior vencedor da história do Acadêmicos do Dendê, o segundo maior do Boi
da Ilha, ganhei os principais prêmios do carnaval e sou chamado de baluarte da
União da Ilha.
Tudo
começou em um ato insano. Em uma loucura ao na cara e na coragem pegar uma
sinopse na União da Ilha.
A União
da Ilha caiu para o grupo de acesso no dia seguinte que conquistei um
Estandarte de Ouro. Voltou para o especial no mesmo dia que ganhei um S@mbaNet.
Coincidências
não existem. A minha história estará pra sempre ligada à União da Ilha e
pensando bem, sobre o meu ato louco. Amor exige loucura, exige atos assim e só
quem eu amo pode puxar isso de mim.
E eu amo
a União da Ilha.
E a nossa
história está muito longe do fim.
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