SOBRE MILÍCIAS DIGITAIS

Não é segredo para ninguém a importância que a internet tem nos dias de hoje. Cada vez mais pessoas tem acesso a ela, usam a mesma para se divertir, informar e, principalmente, ganhar dinheiro.

Muita gente enriqueceu com a internet, muita gente ficou famosa, a internet chegou ao ponto  de decidir eleição presidencial nos Estados Unidos. O que era uma ferramenta de pesquisas e entretenimento virou possibilidade de algo que o ser humano mais sonha. Dinheiro e poder.

Com a descoberta disso a coisa foi ficando cada vez mais profissional. Como eu disse, a internet decidiu a eleição americana e, podemos dizer, decidiu a brasileira também com um grupo altamente profissional comandando campanha de Jair Bolsonaro, um grupo que soube se comunicar com o público alvo da internet e que instaurou um "gabinete do ódio" disseminando fake news.

É muito difícil combater fake news assim como sempre foi difícil combater a fofoca, o boato porque quase nunca sabemos como nascem, mas com a internet essas mentiras se espalham de uma maneira avassaladora. Aparecem no whatsaap da tiazinha que acredita em tudo e pronto, foi-se embora uma reputação.

Esses grupos que manipulam na internet são, como disse, profissionais, bem organizados, contam com "robôs", contas criadas especificamente para disseminar essas fake news e apoiar seu candidato e com toda essa avalanche de informações e profissionalismo acaba criando um "efeito manada" atraindo milhares, milhões de simpatizantes àquela causa que nem percebem que estão sendo manipulados. Os que apoiam o presidente são chamados carinhosamente de "gado".     

Mas logo se percebeu que apenas manipular eleições não é o suficiente e que manipulando o entretenimento é possível ganhar muito dinheiro, fama e com a fama ainda mais dinheiro. Evidente que um dos alvos seria o BBB, principal entretenimento brasileiro hoje, ainda mais em momento de pandemia. Em um momento em que as pessoas evitam sair (as sãs pelo menos) o BBB vira uma válvula de escape, vira um entretenimento que vira torcida e vira obsessão a medida que pessoas (na maioria jovens) que não trabalham ainda, não tem muitas ocupações, tem as frustrações e as incertezas que todos os jovens tem e percebem que através do BBB podem participar de algo importante, serem decisivos em algo descarregando ali suas frustrações e baixa autoestima.

Já foi possível ver isso na edição do ano passado quando pessoas votavam mil, duas mil vezes em paredões, viviam para aquilo, se tornaram fanáticas por participantes ao ponto de brigarem com amigos, familiares, deixarem de comer, viver, tudo em função do reallity show. 

Isso foi percebido por esses profissionais da manipulação e esse ano vários dos participantes do BBB não tiveram amigos ou familiares comandando seus perfis em redes sociais e sim profissionais, empresas muitas vezes usadas em campanhas eleitorais fazendo todo o marketing, toda a mídia desses candidatos como em uma campanha política.

A favorita (a essa altura que você estiver lendo já pode ser a vencedora) tem na sua equipe gente envolvida em eleição presidencial, acusada de criar fake news, dizem que tem 20 pessoas envolvidas em seus redes sociais, outras candidatos também tem, mas a equipe dela se mostrou a mais eficiente.

E isso traz a mesma dúvida que campanhas políticas trazem, até onde a explosão de um candidato é genuína e onde entra o marketing criado? Levantaram uma candidata à estratosfera, essa ganhou milhões de seguidores, atraiu grandes marcas para campanhas publicitárias, isso atraiu ainda mais gente, a candidata ficou milionária mesmo antes de sair da casa, os anunciantes ficam satisfeitos, a empresa de marketing ganha dinheiro e prestígio. Só quem não ganha é quem ficou o dia todo votando por alguém, só ganha a elevação da autoestima de saber que participou de uma campanha vencedora mesmo que o BBB acabe e essa pessoa volte pra vidinha de antes.    

Quem fica fanático em reallity, vota maciçamente, briga por candidato e só pensa nisso não gosta, mas a verdade é que mesmo que os fins sejam diferentes, mesmo que o efeito final não seja tão nocivo quant na política ele cai na mesma armadilha do chamado "gado". É o "idiota útil" que entra para uma milícia digital e faz todo o "serviço sujo" para que algumas pessoas lucrem. 

Não há diferença entre o "bolsonarismo" e o "juliettismo" no "modus operandus", evidente que não há comparação entre Bolsonaro e Juliette, Juliette é apenas uma menina que entrou no reallity e ele um genocida, mas a tática usada é a mesma.

Seja em uma eleição presidencial ou entretenimento a verdade é que viramos marionetes,a  milícia digital que opera para os mandantes do vivendasdabarra.com.

Sob os olhos do grande irmão.


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