NO REINO ENCANTADO: CAPÍTULO 1 - A VILA
Era uma vez..
Dizem que toda boa história. Que envolva fantasia, encantamento começa assim, com “Era uma vez” e nossa história começa assim.
Era uma vez..
Era uma vez uma vila. Uma vila como muitas vilas que existem no país, com pessoas como muitas que também existem por aí.
Mas seu moço, se chegue, puxe uma cadeira que a história que eu vou contar é bem interessante.
No meio de todas essas pessoas comuns dessa vila comum existiam pessoas especiais. Pessoas batalhadoras, que acordavam junto com o Sol para ir trabalhar, mulheres que tomavam conta de casa e de seus filhos. Filhos..crianças normais que brincavam na rua até de noite jogando bola, pique esconde, pique bandeira, queimado, andavam de bicicleta e também brincavam em computadores, notes, vídeo games e tablets como qualquer criança normal de hoje em dia.
Como qualquer criança feliz.
No meio dessas crianças felizes, especiais, bacanas tinha uma menininha. Uma menina maravilhosa, carismática, de olhos brilhantes e sorriso largo. Seus cabelos negros cacheados combinavam com a pele branquinha, às vezes queimada do Sol que acompanha as crianças felizes que sabem a alegria e o aprendizado que as ruas passam.
Seu nome era Ana Beatriz, mais conhecida como Bia. Também era conhecida como Bibica, Bibiquinha, Bibica cara de pinica como chamava seu pai sem nem saber o que isso significava ou princesa Bia. Todos apelidos dados por seu pai que lhe tinha muito amor.
Bia vivia numa casa que não era luxuosa, nem fruto de muita riqueza, mas também não era feia ou ruim. Era uma casa normal, confortável de dois quartos, sala, cozinha e um banheiro. Uma casa padrão seguindo a linha das casas da vila.
Bia vivia na casa com seus pais, Anderson e Rebeca e seu irmão mais novo Gabriel. Além deles, claro, tinha uma gatinha preta que ela dera o nome de “Fofuxa”. Ai de mim se não citasse a Fofuxa.
Bia sempre foi louca por animais. Sempre foi louca pela vida.
Era uma menina arteira. Isso causava desespero nos pais, principalmente na mãe, que não percebiam que criança arteira é criança saudável. Bagunceira, não era raro que o chinelo cantasse em sua bundinha, por mais que isso seja politicamente incorreto hoje em dia. Sua mãe, quando confrontada sobre isso, respondia “Nunca vi alguém enlouquecer ou virar bandido porque tomava chinelada dos pais”.
Mas Bia também era inteligente. Muito inteligente. Capaz de criar histórias que prendiam atenção de todos. Falava de reinos, príncipes, princesas, mas também curtia histórias de terror. Zumbis, mortos vivos e vampiros como estão na moda. Estudiosa, tirava sempre notas altas na escola dando orgulho aos pais.
E amorosa demais. Uma flor. Um doce de menina. Uma princesa como seu pai sempre dizia.
Gabriel era mais comedido. Menino lindo com cabelo que caía nos olhos Gabriel era mais novo que a Bia. Também gostava de brincar na rua, apesar de ser mais caseiro que a Bia, curtia mais games. Gabriel teve alguns probleminhas de saúde ao nascer, mas graças a tratamento e natação se tornou um menino forte e saudável. Seu pai brincava que ele tinha cara de sonso, de menino pidão e dessa forma conseguia tudo.
A mãe deles, Rebeca, era amorosa. Excelente cozinheira, fazia comidas maravilhosas mesmo quando a família não estava com muito dinheiro. Sua macarronada de domingo ficou famosa. Sempre por coincidência aparecia algum amigo das crianças ou do marido na casa da família aos domingos e acabava “filando a bóia”.
Também era excelente cantora. Seu sonho era ser cantora, mas infelizmente o sonho não foi adiante. Mas todas as manhãs acordava as crianças cantando e depois continuava a cantoria para fazer o almoço. Diversas vezes vizinhos sentavam na calçada da família e passavam a manhã lá só para ouvirem Rebeca cantar.
Mas mesmo com tudo isso Rebeca era séria, introspectiva, talvez por ter sofrido um pouco na vida. Era a mais “durona” da casa também. Rebeca era a responsável pelas broncas e chineladas.
Quando as crianças aprontavam e sabiam que sobrariam para elas corriam para Anderson. O pai.
O pai era diferente da mãe. Diziam que era um “crianção”, que nunca cresceu. Anderson era alegre, sonhador, cara de muitos amigos e sorriso fácil. Tinha alma de artista, era sonhador. Gostava de fazer poesias e declamar no meio da rua. Também gostava de tocar violão e não eram raras as festas em casa com Anderson tocando violão e Rebeca cantando.
Anderson também era o responsável por estimular a imaginação da pequena Bia. Ele sempre contava histórias para os filhos antes de dormir. Contava desde as tradicionais como chapeuzinho vermelho, os três porquinhos e branca de neve até histórias que ele inventava. Em algumas das traquinagens que as crianças faziam Anderson estava junto e junto tomava bronca de Rebeca que dizia “As crianças ainda vai. Mas você também? Quando você vai crescer Anderson?”.
O homem, muitas vezes sujo como eles, embaixo de almofadas ou vestido de pirata sorria e respondia. “Nunca”.
Isso desarmava Rebeca que sorria. Era um casal feliz e que se amava muito.
Como eu disse não tinham muita fartura de comida ou dinheiro. Mas tinham fartura de amor e felicidade. Isso que sempre é mais importante.
Bia notou que os pais estavam um pouco diferente, mais sérios. Não mudaram com as crianças, continuando com o mesmo amor e carinho. Mas a esperta menina percebeu que eles conversavam mais e conversavam mais baixinho, como se quisessem esconder algo e sempre mostravam semblante preocupado.
Principalmente seu pai que sempre foi o mais tranquilo e sorridente. Isso encafifava a menina.
Uma noite Bia acordou morrendo de vontade de fazer xixi e foi ao banheiro. Primeiro, com cautela, tentou descobrir se tinha algum monstro ou a “loira do banheiro” por perto. Não achando foi aliviada ao local.
Ao sair viu seu pai na porta de casa. Curiosa foi devagarzinho até o local para que ele não percebesse. Queria saber o que ocorria. Chegando lá percebeu que ele conversava com o seu Portuga. O dono da maioria das casas da vila.
Seu Portuga, homem já nos seus sessenta anos, barriga imensa e sotaque carregado dizia “Sinto muito gajo, mas já são três meses de aluguel atrasado, não tenho mais como segurar”.
Anderson tentava argumentar, pedir mais prazo quando o homem respondeu “Cinco dias. Você tem cinco dias para arrumar o dinheiro senão eu vou pegar a casa de volta”.
Anderson contou que era muito pouco tempo, pediu mais prazo e o homem ficou irredutível. Perguntou onde iria morar com os filhos e seu Portuga, antes de ir embora respondeu “Isso não é problema meu, sinto muito gajo”.
Bia percebeu o fim da conversa e correu antes que o pai percebesse sua presença. Acabou fechando a porta do quarto com força. Anderson ouviu a batida e perguntou “Bia? Gabriel?” Indo atrás.
Abriu a porta e viu os dois filhos dormindo. Pensou “deve ter sido o vento” e entrou para ajeitar a coberta de Bia. Fez carinho nos cachinhos da menina, deu um beijo em sua testa e disse baixinho “Durma bem minha princesa” fechando a porta.
O homem fechou a porta e Bia abriu os olhos. Ficou em pé na cama para assim conseguir olhar a janela e olhando o céu pela mesma disse preocupada e determinada.
“Preciso ajudar o papai”
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