AMAR DE NOVO: CAPÍTULO XI - RECONCILIAÇÕES E INTOLERÂNCIA
Fernanda chegou em minha casa com muita fome e aproveitei para preparar minha especialidade na cozinha. Miojo de picanha com requeijão. Brinquei com a voracidade em que ela atacava o prato e contava de minha felicidade dela estar no Rio de Janeiro.
Entre uma garfada e outra a moça perguntou se eu estava pronto para lhe mostrar o restante da cidade e respondi que sim. Perguntou se iria lhe aturar já que não conhecia muitas pessoas na cidade e mais uma vez respondi que sim. Emendei dizendo que meu apartamento era só de homens, mas ela poderia ficar o tempo que quisesse.
Fernanda agradeceu e disse que só ficaria em meu apartamento naquela noite. Já era tarde e não queria incomodar anfitriã que lhe ofereceu com tanto carinho quarto em sua casa. Curioso, perguntei quem era a tal anfitriã e Fernanda sorrindo respondeu "Sua mãe".
Ri e notei que Fernanda não mudou sua fisionomia, continuou comendo e olhando pra mim. Perguntei se ela estava realmente falando sério e ela respondeu "Sim, amanhã vou para sua mãe".
Pedi que ela me explicasse aquela história e ela explicou. Minha mãe lhe procurara na internet, se apresentou e ficaram grandes amigas sempre mantendo contato por redes sociais. Soube que a moça estava vindo para o Rio de Janeiro e alegando que morava em uma casa grande ofereceu ajuda. Simples assim.
Eu que nem sabia que Fernanda e Hellen eram amigas. Essa aproximação realmente foi uma grande surpresa pra mim.
Fernanda acabou de comer e me ajudou a lavar os pratos. Por um tempo voltei ao passado já que fazia isso com Camila em nosso começo de relacionamento. Assim como naquela época brincamos com a água e ela passou sabão em meu rosto como fazia Camila.
Depois de tudo arrumei toalha e ela foi tomar banho enquanto eu olhava a chuva pela janela e ouvia som. Tentava entender minha vida e o quanto poderia mudar com a presença de Fernanda na cidade quando ouvi uma voz feminina falar "Raspberries".
Olhei para trás e vi Fernanda de banho tomado, cabelo molhado me olhando. Não percebi que tocava "Don`t want to say goodbye" no aparelho e meio sem jeito perguntei como ela conhecia a banda.
Fernanda respondeu que um grande amigo dela do passado apresentou a banda e a música e me chamou pra dançar. Fiquei sem jeito e fraquejando peguei sua mão para dançarmos .
Fernanda aproximou seu corpo do meu e eu suava frio, tremia. Aquela cena durou longos segundos até que ela me perguntou se eu estava bem e me afastei abruptamente.
Não podia dançar aquela música com uma mulher que não fosse Camila. Era mais forte que eu.
Fernanda , mais uma vez perguntou se eu estava bem e desconversei dizendo que sim. Ficamos nos olhando por um tempo naquele clima que antecede um beijo, mas em vez disso me afastei e comentei que estava tarde.
A moça concordou comigo e comentou que estava cansada da viagem. Levei até a frente do quarto que era de Guga e virou de hóspedes e pedi que ficasse a vontade e me chamasse se fosse preciso.
Fernanda, com cara de decepcionada, agradeceu o carinho, o zelo e desejou que eu dormisse bem. Me deu um beijo no rosto e antes de entrar no quarto parou. Perguntei se havia algum problema.
Sem olhar pra mim Fernanda comentou "Sensação estranha desde que cheguei na porta de entrada que eu já conheço esse local, como se estivesse aqui anteriormente". Argumentei que devia ser sensação de "Deja Vu" e ela concordou. Sorriu e entrou.
Fui para meu quarto também e rolava na cama não conseguindo dormir. Sabia que Fernanda estava no quarto ao lado e a vontade que tinha era de ir lá beijá-la, fazer amor com ela e dormir junto com a moça. Mas não podia. Era forte em mim ainda a sensação de traição a Camila. Sim, eu namorara antes, mas ali era diferente. Não tive por nenhuma das namoradas o sentimento que tinha por Fernanda e eu nem mesmo sabia identificar qual era.
A alguns quilômetros dali um casal sabia bem o que sentia. Thais e Gabriel sem roupa deitaram no chão da sala de minha mãe abraçados enquanto a chuva caía do lado de fora depois de fazerem amor relembrando os velhos tempos.
Ficaram um tempo em silêncio até que Thais pediu "Me perdoa?". Gabriel respondeu que não tinha do que perdoar e ela continuou. "Não me arrependo do que fiz. Ronaldo precisava mais de mim naquele momento, mas prejudiquei a mim, você, a nós. Você deve ter sofrido muito e por isso preciso do seu perdão".
Gabriel respondeu que não tinha do que perdoar, já era passado e Thais insistiu até que meu filho disse "Só tem um jeito que eu te perdoe". Thais perguntou qual e ele respondeu "Casando comigo".
Thais riu e percebeu que meu filho não, perguntou se ele estava falando sério e Gabriel respondeu "Nunca falei tão sério na minha vida". Thais se perturbou com aquela declaração e tentava entender perguntando "Assim? Do nada?". Gabriel fingiu indignação e perguntou "Como assim do nada? Só me queria para sexo"?
Thais riu e Gabriel continuou "Já perdemos muito tempo, muitos anos. Aceite, mas aceite sem pensar, se jogue de corpo e alma sem pensar se é loucura ou não".
Thais respondeu que precisava pensar, Gabriel então disse que ela tinha cinco segundos pra resolver e começou a contar, no quatro ela pediu que parasse, pois já tinha decidido. Meu filho perguntou qual era a resposta e ela disse que sim.
Os dois se abraçaram, se beijaram e novamente deitaram na sala. Gabriel suspirou e disse que ficava aliviado porque começava a pensar que só queria sexo mesmo. Thais riu e perguntou "Quem disse que não é isso que quero?". Gabriel apenas olhou para ela que continuou "Para ter sexo bom desses todos os dias até vale casar com um sujeito convencido como você..."
Gabriel riu e fingindo indignação comentou que não era convencido. Enquanto ela gargalhava respondendo que era ele emendou "Melhor que ser chamado de "chataís".
Thais perguntou de onde ele tirara aquela história que ela era chata quando Gabriel começou a gargalhar. Thais começou a fazer cócegas nele querendo saber o porque daquele apelido.
Estavam felizes, finalmente felizes.
Eu também queria ser feliz, mas não sabia como. Demorei para pegar no sono e quando consegui sonhei com o dia da morte de Camila. Eu corria para a UTI onde ela estava gritando seu nome, passava pelos amigos, equipe médica e chegava em seu leito.
Mas quando cheguei na cama ela não estava mais lá.
Desesperado gritava por Camila, perguntava onde ela estava e ninguém me respondia, apenas me olhavam. Revirei o hospital gritando por ela e de tanto gritar acabei acordando gritando.
Sentado na cama vi que era só um sonho quando percebi baterem em minha porta. Levantei para abrir e vi que era Fernanda.
Ela perguntou se eu estava bem, acordara com meus gritos e respondi que estava sim, apenas tivera um pesadelo. Perguntou se eu precisava de alguma coisa e respondi que não, agradeci e lhe desejei boa noite. Ela se despediu e foi deitar.
Deitei tentando entender o sonho. Será que era um sinal? Será que era o fato de me aproximar de Fernanda e com isso perder Camila para sempre?
Na manhã seguinte eu estava com uma cara péssima, de quem dormira pouco e quando levantei Fernanda já colocara o café todo na mesa. Agradeci enquanto ela falava que meu apartamento precisava de um toque feminino.
Tomamos café e logo depois levei Fê até a casa de minha mãe. Ela morava na casa que um dia Osmar morou com Suely e Camila. Era muito estranho para mim sempre voltar naquela casa, ainda mais acompanhado.
Toquei a campainha e minha mãe atendeu. As duas se abraçaram como velhas amigas enquanto eu comentei que tinha que ir trabalhar e Fernanda estava entregue em boas mãos. Minha mãe perguntou se eu não ficaria nem um pouco e respondi que precisava mesmo trabalhar. Fernanda agradeceu por tudo me dando um beijo no rosto e entrando. Minha mãe ficou para trás, olhou bem nos meus olhos e disse "Não coloque tudo a perder" também me dando um beijo.
Eu me aproximava do carro para ir embora quando ouvi um grito de "Espera" e me virei. Era Fernanda que veio correndo, lambeu o meu rosto dizendo "beijo de lesma" e correndo de volta para dentro da casa.
Conseguiu me tirar um sorriso. Essa garota não existia.
Naquela noite eu estava sentado na sala de casa olhando a vista da sacada quando Gabriel entrou e me cumprimentou. Estava preocupado com ele já que não dormira em casa nem atendia celular. Gabriel sorriu e respondeu que não fizera nada daquilo por um ótimo motivo. Perguntei qual era e meu filho fez segredo, disse que queria contar numa festa na noite seguinte lá em nosso apartamento me pedindo autorização para tal.
Evidente que dei a autorização e perguntei se ele adiantaria nem pra mim. Rindo ele respondeu que não.
Comentei que Fernanda chegara no Rio na noite anterior e meu filho respondeu "Ótimo, chame Fernanda para a festa. Quero todos presentes para que eu faça uma comunicação".
Aquilo me deixava ainda mais curioso.
Na noite seguinte estávamos quase todos lá. Gabriel e Thais juntos aguçavam nossas curiosidades enquanto eu ainda esperava pela chegada de Fernanda que viria com minha mãe. Estava ansioso, queria logo apresentar a moça que mudara minha vida.
Um tempo depois a campainha tocou e corri para atender. Abri a porta e estavam minha mãe, Osmar e Fernanda. Olhei para ela e disse que estava linda, Osmar brincou e comentou que ele e minha mãe também estavam ali.
Convidei os três para entrarem e chamei atenção de todos para apresentar Fernanda. Thais foi a primeira a se aproximar e dizer que era um prazer conhecê-la. Gabriel, que carregava duas taças de champanhe, se aproximou de Thais e ao ver Fernanda mudou seu semblante, ficando mais sério enquanto eu apresentava.
Fernanda também mostrou desconforto enquanto Guga perguntou a Fernanda se não lhe conhecia de algum lugar com ela assegurando que não.
Pedi que todos ficassem a vontade e chamei Fernanda para pegar um copo de champanhe. Ela apresentava desconforto e enquanto eu preparava sua taça me disse que queria contar uma coisa. Na hora de contar Gabriel se juntou a Thais e pediu a atenção de todos.
Paramos para olhar e Gabriel começou a falar.
"Queria a presença de vocês, todos os meus amigos, para dizer umas palavras. Como vocês sabem Thais e eu temos uma história, história que foi interrompida por um tempo por situações do destino. Eu sou um cara que acredita em finais felizes e se não é um momento feliz é porque não chegou ao fim e desde que reencontrei a Thais eu tive certeza que nossa história continuaria".
Thais limpou lágrimas e Gabriel continuou.
"Mas para histórias chegarem a seus finais felizes temos que dar prosseguimento a elas. Eu e Thais queremos dar continuidade a nossa e chegar ao nosso final feliz. Por isso a vocês, todos os nossos amigo, comunico que.."
Nesse momento Thais interrompeu Gabriel e disse " mas que coisa. Você não me deixa falar hein?". Todos riram e Gabriel emendou com um "Você é chata Chataís" e ela completou "Quero dizer que vou casar com esse sujeito insuportável e egocêntrico", Gabriel emendou "E eu com essa chata" e todos nós rimos e aplaudimos.
Vieram os cumprimentos e a festa continuou. Conversei com Thais e perguntei por seu pai e sua ausência, ela me respondeu que apesar de tanto tempo ter passado ele não aceitava Gabriel, um "cara com problemas na justiça". Enquanto ela falava percebi que Gabriel e Fernanda conversavam em um canto e apertavam as mãos. Não entendi e me aproximei deles.
Thais me acompanhou e ela logo agarrou o noivo. Perguntei o que conversavam e Fernanda respondeu que dera os parabéns a ele pedindo licença para conversar com minha mãe. Fernanda saiu e Gabriel perguntou quando eu faria meu final feliz. Respondi que sua mãe tinha sido meu final feliz e tudo o que ocorreu depois compensou aquela felicidade.
Um tempo depois minha mãe e Osmar anunciaram que iriam embora e Fernanda comentou que iria com eles. Argumentei que ela ficasse mais um pouco, mas achou melhor assim. Pedi então que eu pudesse levá-la. Fernanda respondeu que era besteira, iria com minha mãe e dona Hellen insistiu que ela fosse comigo.
Fernanda foi e não trocamos muitas palavras. Chegando lá ela não me deu "beijo de lesma", apenas um no rosto e entrou na casa.
Não entendi a atitude dela e no dia seguinte voltei até a casa. Era estranho voltar ali para buscar uma mulher que não fosse Camila, mas fui com um buquê de rosas. Osmar abriu a porta e ao me ver com o buquê comentou "Você adora as mulheres dessa casa" chamando por Fernanda. Ela veio e ao me ver riu e perguntou o que era aquilo. Respondi que não sabia porque ficara triste, mas a queria feliz, Fernanda sorriu e me deu um abraço.
O tempo passou e continuei minha amizade com Fernanda sem passar disso. Saíamos sempre juntos, víamos tv juntos, no falávamos por redes sociais e até por telefone mesmo que fosse apenas para comentar filme que passava na tv.
Thais e Gabriel se preparavam pro casamento. Não teria religioso já que Thais já casara com Ronaldo, mas teria civil e os dois estavam muito empolgados.
O dia chegou e nada mais apropriado que a cerimônia fosse realizada na ONG em que se conheceram. Coisa simples, mas muito especial onde finalmente o casal conseguia ficar junto.
Na hora do buquê Fernanda pegou e imediatamente nos olhamos um pouco constrangidos. Constrangimento que aumentou quando todos começaram a falar que ela casaria comigo.
Em determinado momento estava com Gabriel do lado de fora da ONG e olhávamos para a casa. Perguntei no que ele pensava e respondeu "Dos males que vem para o bem". Não entendi, pedi que ele me explicasse e explicou:
"O acidente. Só eu sei o quanto sofri com aquilo. Matar alguém já dói, imagine então uma pessoa santa. Será que essa pessoa santa me perdoou e fez minha vida melhorar pai?". Eu não sabia o que dizer e ele continuou. "Por causa desse acidente parei aqui e conheci a Thais. Por causa do incêndio nos beijamos pela primeira vez....Sei lá, parece que tudo tem um propósito na vida. Essa menina, a Fernanda, ter aparecido na sua..Nada é por acaso pai".
Argumentei que meu amor tinha sido Camila e ele continuou "Pai, claro que eu queria ter convivido mais com minha mãe, ter recebido seu carinho, seus beijos, seu amor, mas tive o melhor pai do mundo pra compensar. Será que você teria sido esse pai maravilhoso com ela aqui? Sem a responsabilidade de cultivar o amor de vocês em mim? O amor de vocês foi interrompido no ápice. Como teria sido depois? Romeu e Julieta são o maior caso de amor da história porque morreram jovens e um pelo outro. Como teria sido eles com sessenta anos e caindo na rotina?".
Respondi que meu amor por ela nunca mudaria e meu filho completou "Tenho certeza, mas seu amor por você tem que ser maior. Ta na hora de se permitir ser feliz". Nesse momento ele me abraçou e Francisco chegou para se despedir, teria que acordar cedo no dia seguinte. Gabriel levou o filho de Samuel até a porta e eu fiquei pensando no assunto.
Francisco pegou o carro e foi embora. Parou em um posto de gasolina para abastecer e do lado de fora do carro enquanto bebia café ouviu falarem "Não é o filho do deputado viado?" com outra pessoa respondendo "É sim, deve ser viado igual o pai".
Francisco olhou para o grupo e um deles perguntou o que ele estava olhando. Vendo que estava em desvantagem nada respondeu e fez menção de entrar no carro até que o grupo correu em sua direção e impediu. Francisco olhou para os caras que disseram "Não gostamos do seu pai viado e das viadagens dele no congresso. Leve nosso recado para ele" com um deles dando soco em Francisco que caiu no chão.
Batiam com socos, barras de ferro enquanto os frentistas apenas olhavam. No fim o líder deu um chute em sua barriga e disse "vamos embora que a bicha já entendeu o recado".
Foram embora deixando Francisco desmaiado.
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MUNDO VIRTUAL
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