DINASTIA: CAPÍTULO XV - SUBINDO NA VIDA
Pepe perguntava o que ocorria e os homens mal encarados não respondiam. Um deles sentado ao seu lado no banco de trás apontava uma arma para sua cabeça. Pepe temia por sua vida e nem sabia o porque de estar ameaçado.
Foram para o bairro de Feital e entraram no escritório de Domenico. Pepe gritava que tinha direito de saber o que ocorria e queria falar com Domenico. Um dos brutamontes colocou Pepe sentado em uma cadeira e respondeu que ele estava lá para isso.
Domenico entrou e falou para os homens que queria ficar a sós com Pepe. Os homens saíram e Pepe levantou perguntando o que ocorria.
Domenico gritou que ele sentasse e fizesse tudo o que ele mandasse, pois, tinham muitos homens do lado de fora esperando uma ordem dele para que fuzilassem Pepe.
O rapaz tentou se acalmar e perguntou novamente o que ocorria. Domenico muito irritado chegou perto do rosto de Pepe e perguntou se ele não sabia mesmo a causa.
Pepe lembrou-se da noite que dormiu com Cecília e prometeu a Domenico que não ocorreria mais nada, foi um grande erro e também prometeu sumir da vida deles pedindo demissão.
Domenico que andava pela sala se enfureceu, foi até Pepe e pegou pelo colarinho dizendo “Agora que você não vai sumir mesmo bastardo!! Ela está grávida!!.
Sem chão Pepe balbuciou “como?” e Domenico que enchera um copo de uísque jogou o mesmo contra uma parede perguntando a Pepe se ele não sabia mesmo como ela engravidara.
Pepe não sabia o que dizer. Atônito apenas pedia desculpas enquanto Domenico falava que normalmente numa situação dessas ele já estaria morto.
Pepe pediu piedade e Domenico enchendo um novo copo de uísque comentou que a sorte do rapaz era que Cecília gostava muito dele então lhe daria duas opções. Casamento ou morte.
Pepe nem pensou duas vezes e levantou-se afirmando que casava com Cecília, não por temer a morte, mas por ter hombridade.
Domenico encheu mais um copo de uísque, entregou na mão de Pepe e disse “continue”.
Pepe continuou falando que tinha caráter, recebeu educação de seus pais e não largaria uma mulher grávida, além de ter profundo carinho e respeito não só por Cecília como por ele.
Domenico ficou em silêncio por um tempo e levantou o copo dizendo “bem vindo a família”. Os dois brindaram e dessa forma Pepe arrumava uma noiva.
Comentou com Zaqueu o acontecido que abraçou entusiasmado o amigo dizendo que ele deu um golpe de mestre. Pepe repudiou a afirmação respondendo que não se casava para dar golpe e sim por respeito a Cecília. Zaqueu completou que podia até ter sido um grande golpe de sorte apenas, mas que mudaria sua vida e só teria um problema.
Pepe perguntou qual e Zaqueu respondeu “Janete”.
É..Janete seria um problema.
Pepe foi para casa sabendo que teria que enfrentar uma fera. Entrou e encontrou Janete bêbada com um copo de cerveja na mão. Pepe tirou um bom dinheiro da carteira e entregou na mão da mulher dizendo que era pra ajudar nas despesas.
Janete colocou o dinheiro na mesa e continuou bebendo sem dizer uma palavra. Pepe encheu-se de coragem e contou que estava indo embora, completou que fazia tempo que eles não se entendiam e era o melhor para os dois.
Acabou de falar e ficou esperando alguma reação de Janete. A mulher não disse absolutamente nada e continuou bebendo. Pepe resolveu então arrumar sua mala.
Arrumou, contou que estava partindo e Janete continuava quieta. Estranhou, mas achou melhor assim, abriu a porta e partiu.
Desceu e na calçada Zaqueu lhe esperava. Pepe suspirou aliviado e contou ao amigo que tudo fora surpreendentemente bem e Janete não dera um pio. Enquanto falava Janete desceu com fúria, gritando e com uma navalha na mão.
Zaqueu gritou para Pepe ter cuidado. O rapaz virou para ver o que ocorria e Janete acertou com a navalha em seu rosto. Uma grande confusão se iniciou com as pessoas segurando Janete para evitar que ela fizesse coisa pior.
Janete foi detida pela polícia e Pepe levado a um hospital.
O rapaz tomou pontos e foi liberado. Foi para a casa de Domenico para ocupar o quarto dos fundos enquanto esperava o casamento. Domenico viu a cicatriz em seu rosto e pediu o nome de quem fizera isso que ele mandaria uns homens se vingarem. Pepe pediu que o caso fosse deixado de lado.
Pepe foi ao jardim e encontrou Cecília, o primeiro encontro deles desde que o rapaz soube da gravidez. Pepe sentou-se na cadeira ao lado da moça, as mesmas de quando se conheceram e perguntou como ela estava.
Cecília respondeu que estava bem e pediu desculpas. Pepe perguntou pelo que e a moça respondeu pela gravidez.
Pepe sorriu e virou-se para Cecília contando que a moça não precisava pedir desculpas e ela completou que por causa dessa gravidez ele seria forçado a casar. Pepe acariciou o rosto de Cecília e comentou que gostava muito dela e isso não seria um sacrifício.
Continuaram em silêncio e Cecília quebrou o mesmo perguntando “Você não me ama né?”. Sincero Pepe respondeu “Você sabe quem eu amo”. Cecília resignada abaixou os olhos e completou “É, sei sim”.
Voltaram ao silêncio e Pepe pegou a mão de Cecília. Os dois ficaram lá olhando a Lua de mãos dadas.
Domenico queria o casamento de forma mais rápida possível para que Cecília não casasse com barriga. Marcou a data convidando toda a sociedade carioca e Pepe mandou carta para a família comunicando o casório e pedindo por sua presença.
Domenico chamou Pepe para uma conversa no escritório e contou que estava lhe dando uma banca de bicho e seria seu braço direito na organização. Pepe contou que entendia nada de jogo do bicho e o sogro mandou que não se preocupasse já que ensinaria.
Domenico mostrou a Pepe como era uma banca e seu funcionamento, sistema de apostas e no escritório mostrou a contabilidade e negócios feitos.
O jogo do bicho, muito popular no Rio de Janeiro, era o jogo preferido da população por a pessoa poder apostar a quantia que quisesse, que coubesse em seu bolso.
Dessa forma Pepe começava a entender do ramo e a lucrar com sua banca que ficava no centro de Feital.
Chegou o casamento e Pepe recebeu ansioso sua família na estação de trem. Mais de dois anos que não via os familiares e a saudade era grande.
Deu um sorriso de alegria ao ver descerem Salvatore, Dora, Constância, Oscar, Giuliana e Mariana. Abraçou forte a cada um deles, comentou que Mariana crescera e ao dar um abraço em Salvatore comentou “Não disse que lhe veria ainda com vida?”.
Salvatore retrucou “E quem disse que eu estou vivo?”.
Mostrou o Rio de Janeiro aos familiares que estavam encantados, Menos Salvatore que sorria para nada. Pepe comentou com Oscar que vira notícias que ele estava cotado para a seleção brasileira e o rapaz respondeu que estava próximo do sonho de jogar a copa do mundo.
Perguntou como estavam as coisas com a família e Oscar respondeu que não muito boas. O pai só pensava em morrer e a loja não ia bem. Pepe prometeu dar um dinheiro para que o irmão levasse e segurasse um pouco as coisas.
Perguntou se tinha notícias de Beatriz e o irmão respondeu que não.
O casamento chegou e Oscar e Zaqueu arrumavam um ansioso Pepe. Salvatore já arrumado em um canto apenas olhava pela janela. Os três rapazes conversavam animadamente quando Pepe notou o olhar vazio do pai. Oscar pediu que não se preocupasse, pois, aquilo já era normal de Salvatore.
Pepe lamentou e lembrou-se do pai forte, vigoroso e corajoso que conhecera na infância e de quem ouvia histórias de vida. Oscar respondeu que infelizmente aquele Salvatore não existia mais.
Pepe aproximou-se do pai e colocou a mão em seu ombro. Salvatore na cadeira de rodas continuava olhando a vista e Pepe perguntou o que o pai tanto olhava.
Salvatore respondeu “Estou procurando minha vida”.
Pepe foi para a igreja e se posicionou ao lado dos pais e padrinhos. Cecília entrou sendo levada pelo pai e ao som da marcha nupcial. A moça estava linda.
Pepe desceu para recebê-la e deu um abraço em Domenico. Pegou a mão de Cecília dizendo o quanto a noiva estava deslumbrante e Cecília respondeu fazendo um pedido “realize o meu sonho”.
O padre realizou a cerimônia e durante a mesma Pepe lembrava-se de Beatriz e em alguns momentos conseguia vê-la no lugar de Cecília. Disse o sim, Cecília também e no fim se beijaram sob aplausos dos convidados.
Uma grande festa italiana foi dada na mansão de Domenico com massa, vinho, danças italianas, tarantela, tudo que se tem direito e Domenico e Pepe cantaram animadamente a “Reginella campagnola”.
Domenico chamou Pepe em um canto e contou que tinha filha única e ela precisava ser cuidada, já não era mais moço e precisava de uma pessoa de confiança para isso.
Pepe perguntou o que o sogro queria falar com aquilo Domenico respondeu que quando ele morresse Pepe seria o homem a comandar os negócios. Pepe argumentou que não achava bom, ele tinha uma herdeira, a Cecília.
Domenico esbravejou que Cecília era mulher e arruinaria tudo que ele construiu, reforçou dizendo “você é o meu homem, você é meu escolhido, cuidará de Cecília e dos negócios”.
Pepe concordou e Domenico entregou um cheque para Pepe. O rapaz olhou e tomou um susto com os valores. Ele perguntou para que era e o italiano respondeu que era para Pepe tomar um “banho de loja”, comprar roupas novas e um carro. Era seu braço direito e precisava estar a sua altura.
Pepe agradeceu e Domenico lhe convidou para voltar à festa.
Voltaram e encontraram os convidados cantado “Mérica, Mérica, Mérica.”Pepe abraçou sua esposa que perguntou o que ocorria, Pepe respondeu “negócios” e passou a cantar junto com todos os outros.
Um pouco afastado Salvatore observava a festa e lembrou-se de seu casamento com Lorena na fazenda de Ribeirão Preto. A saudade doeu em seu peito. Saudade da mulher, do amigo Manolo, de tudo que vivera. Sentiu saudade de viver.
Lembrou de toda sua vida, sua saga desde a Itália, do navio, de Morgana, dos pais falecidos, dos irmãos que se perderam no mundo e se perguntou se tudo valera a pena. Viveu aquilo tudo, tantos amores, dramas, sonhos para acabar em uma cadeira de rodas desejando morrer.
Salvatore colocara na cabeça que foi ao Brasil para vencer e perdeu.
Pepe e Cecília foram passar a lua de mel em Buenos Aires e aos poucos a barriga da moça foi crescendo. Um dia Pepe estava no escritório com Domenico e recebeu uma ligação de Mariana. Oscar em um amistoso do Palestra quebrara a perna.
Pepe pegou o trem para São Paulo e encontrou o irmão no hospital. Oscar amargurado contou ao irmão que acabara sua carreira no futebol. Pepe lamentou, mas disse que existia muita vida pela frente convidando Oscar a morar no Rio com ele.
Pepe foi até a casa da família em São Paulo e comentou com a família que vivia uma boa situação financeira e tinha como levar a todos para morar no Rio de Janeiro.
Mariana e Constância se animaram com a possibilidade de morar no Rio. Giuliana morava no convento então não participava da reunião e Dora respondeu que dependia de Salvatore.
Pepe perguntou ao pai o que ele achava e Salvatore respondeu que São Paulo era sua terra, seu lar e não iria embora de lá ser sustentado por um filho.
Irritado Pepe argumentou que o pai era italiano, não era paulista o que provocou a fúria de Salvatore “Essa terra nos adotou, lutamos por ela, por ela eu fiquei nessa cadeira, como você ousa dizer que não é a minha terra?”.
Pepe então tocou na ferida “E o que ela te deu? O que ela deu para nossa família? O vô Benito deixou a Itália para dar uma chance a sua família, está na hora do senhor deixar São Paulo e fazer o mesmo”.
Dessa forma a família Granata foi para o Rio de Janeiro.
Pepe montou uma loja para a família no centro de Feital, a loja seria comandada por Oscar e Salvatore. Comprou uma boa casa em Feital para a família e matriculou Mariana em uma das melhores escolas da cidade.
O tempo passou e Cecília começou a sentir as contrações. Pepe e Domenico nervosos esperavam na recepção enquanto Dora entrou na sala de parto com Cecília.
Oscar e Zaqueu chegaram ao hospital e encontraram os dois homens tensos. Perguntaram como estava a situação e Pepe respondeu que sabia de nada, o parto parecia estar difícil.
Veio aos Granata presentes o fantasma do parto de Lorena quando a moça morreu junto com o filho e a angústia tomava conta de Pepe, até que Dora apareceu na recepção.
Os homens correram até Dora perguntando e a mulher sorrindo contou “sou avó de um lindo bambino”. Pepe com lágrimas nos olhos foi abraçado por Domenico, Oscar e Zaqueu enquanto sua mãe lhe puxava para conhecer o filho.
Pepe entrou no quarto e viu seu filho no colo de Cecília. O rapaz inebriado de felicidade chegou até os dois e pegou pela primeira vez o bebê no colo. Sorriu para ele e disse “bem vindo Pepino Granata”.
Deu um beijo na testa da esposa agradecendo pelo momento mais feliz de sua vida. Cecília devolveu a gentileza e agradeceu pelo começo de seu sonho sendo realizado.
Do lado de fora Domenico distribuía charutos para comemorar quando Pepe saiu e pediu que o homem entrasse para conhecer o neto. Domenico entregou um charuto a Pepe e mandou o genro saborear.
De noite Pepe entrou na mansão de Domenico e encontrou o homem sentado no sofá da sala ouvindo Enrico Caruso, assim como seu pai amava.
Domenico ouvia “Uma furtiva lágrima” quando notou a presença do genro. Pediu um abraço a Pepe que se abaixou e abraçou o sogro sentado.
Domenico agradeceu a Pepe o sonho realizado de ter um neto e que tinha certeza que os negócios da família estariam muito bem em sua mão. Pepe agradeceu a confiança e respondeu que o sogro nunca se arrependeria.
Domenico respondeu que tinha certeza disso e pediu que Pepe pegasse um vinho na adega para que eles brindassem a chegada de Pepino. Pepe foi, pegou o vinho, duas taças e voltou para a sala.
Pepe elogiou a marca do vinho e encontrou Domenico com os olhos fechados. Encheu as duas taças e ofereceu uma para o sogro que não pegou. Continuou com os olhos fechados.
Pepe insistiu falando “pegue seu Domenico”. Nada do homem pegar e Pepe imaginou que ele estivesse dormido. Sentou ao lado, bebeu um gole do vinho, olhou novamente Domenico e começou a estranhar a situação.
Chamou novamente por Domenico e nada, mexeu no homem para acordar e ele não se mexia. Assustou-se, olhou bem para Domenico e exclamou “Meu Deus!!” correndo para um telefone e discando pedindo uma ambulância.
Mas já era tarde. Domenico Vergara estava morto.
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CECÍLIA
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