DINASTIA: CAPÍTULO I - NOITE DE AUTÓGRAFOS
Gravatas..Nunca
me dei bem com gravatas, não sei colocar direito, não é o meu forte e olha que
vivo de gravata.
Aliás,
nesse calor senegalês do Rio de Janeiro nada mais torturante que usar gravatas,
devíamos ter o direito de trabalhar de sunga e camisa regata.
Desculpem-me,
nem me apresentei. Meu nome é Francisco Granata, mais conhecido como Chico. Tenho
vinte e cinco anos, advogado, deputado estadual e nesse momento estou em meu
quarto olhando o espelho e tentando dar nó na gravata.
Malditas
gravatas..
Hoje é
uma grande noite pra mim. Sempre tive por hobby escrever e numa noite decidi me
lançar no mundo da imaginação. Abri meu notebook, o Word e decidi escrever uma
história..Não, escrever não porque seria muita pretensão, mas contar uma
história, uma grande história.
A de
minha família, a família Granata.
Eu sempre
achei que toda família dá uma grande história isso não é privilégio da minha. Mas
a minha família tem nuances, dramas, tragédias, amores e conquistas que um dia
atraíram minha atenção de escritor. Foram meses em meu gabinete na Assembleia ou
em casa escrevendo a saga da família Granata.
Uma saga
de homens fortes, mulheres valorosas, de pessoas nem sempre de
bem, mas de coragem, atitude.
Uma
história que se confunde com a do Rio de Janeiro, São Paulo e do Brasil. Com a
passagem do tempo e as transformações que o mundo sofreu ao longo de mais de um
século. A história que se iniciou na Itália com meu trisavô Salvatore Granata,
passou por meu bisavô Giuseppe Granata o Barão, meu avô Pepino Granata e meu
pai Luigi Granata. Homens de grande força e histórias extraordinárias. Muitas
que nunca concordei, mas que histórias..
..Cercados
por seus irmãos, esposas, amigos, desafetos, coadjuvantes que se tornam
artistas principais. Da vinda de meu trisavô ao Brasil fugindo da falta de
esperança no fim do século XIX até chegar a mim e meu notebook muita coisa
ocorreu e será mostrada hoje nessa noite de autógrafos.
E
continuo enrolado com a gravata. Vou pedir socorro. Melhor gritar pela Luciana.
Luciana é
minha esposa e não sei o que seria de mim sem ela. Temos dois anos de casados e
da nossa união nasceu Bruno, o mais novo Granata. Bruno tem um ano e espero que
seja um grande homem e tenha sua própria história, que seja o que quiser
independente do que escolha para seu futuro.
Luciana!!!!!
Pronto,
gritei por minha esposa e ela respondeu que já vem. Olho-me no espelho. Vinte e
cinco anos de idade..Não parece, mas mesmo pra quem tem essa idade o tempo
parece pesar. Acaricio o meu rosto e já vejo os primeiros fios de cabelos
brancos, pequenas rugas, foi-se o tempo que eu era criança e podia tudo.
Faço uma
careta devido a uma pequena dor, uma pontada que senti nas costas devido a uma
hérnia de disco que cultivo com completa irresponsabilidade. Sempre falo que me
tratarei, irei ao médico, mas fujo, arrumo contratempos e desculpas para não
ir. Culpo o trabalho, o livro ou o aquecimento global.
Mas eu
tenho que ir. Essa hérnia, que deve ter piorado com minha péssima posição
sentado ao escrever, já não me deixa brincar direito com o Bruno. “Tenho que
tomar vergonha na cara” diria minha mãe.
Ah minha
mãe, figura maravilhosa..
Sento um
pouco na cama e bebo um copo de água que sempre deixo em minha penteadeira.
Boto o copo de volta e olho pro nada relembrando as histórias que contei no
livro. Cada personagem ali descrito. Dou um suspiro que é uma mistura de
satisfação pelo dever cumprido e saudades. Saudades do que vivi, do que não
vivi, dos que já se foram e até os que se foram e não conheci.
Luciana
chega no quarto e rindo me diz “já sei, é a gravata”, sorrio e levanto pedindo
ajuda. Minha esposa pede que eu me vire para ela e com toda sua paciência e
delicadeza dá o nó que eu nunca consegui aprender mesmo com meu bisavô tentando
me ensinar desde criança.
Paro pra
olhar minha esposa fazer o nó. Luciana, como sempre, me salva e diz “prontinho
crianção”. Continuo olhando fixamente e ela pergunta sorrindo o que foi.
Com total
sinceridade e embevecido respondo “Você está linda”.
Luciana
abaixa os olhos e diz “bobo”. Mas é verdade, ela está linda
demais.
Seus
cabelos loiros faziam uma combinação linda com o vestido vermelho decotado nas
costas e o colar de pérolas que usava. Queimada de Sol Luciana é jovem ainda,
mas tem classe, postura, herança de família com certeza.
Minha
esposa, a mulher da minha vida me olha fixamente e diz “ele terá muito orgulho
de você”. Abaixo os olhos e respondo “pena que ele não estará lá” e Luciana
completa “de coração estará”.
Ficamos
um tempo nos olhando até que minha esposa diz “você é lindo, só não sabe dar nó
na gravata”. Gargalhamos e a babá entra com Bruno no colo dizendo que ligaram
da livraria e toda minha família estava lá me esperando.
Nesse
momento gelo. Meu coração parece que para por um instante. Apesar de ser um
cara decidido como todo Granata e firme nas minhas opiniões e decisões sou
tímido. Nunca me imaginei sendo o centro da família, orgulho dela ainda mais
depois de tudo que ocorreu e só de pensar naquilo dá vontade de desistir.
Minha
esposa, companheira e guerreira pega minha mão e diz “vamos que a noite é sua”.
Saímos de
nosso apartamento de três quartos alugado em Copacabana, pago por meu dinheiro
e na porta do elevador encontro um vizinho dizendo que no dia seguinte terá uma
reunião de condomínio onde reclamaremos das obras do 402 que ultrapassam o
horário limite e não deixam ninguém dormir. Respondo com jeito enfadonho que
estarei lá quando o elevador
abre e
Luciana me puxa para dentro. Mal tenho tempo de me despedir.
Quando a porta
fecha Luciana ri e diz que querem que eu seja síndico. Respondo que prefiro
pegar os negócios da família a ser síndico de prédio. Luciana ri, a babá
gargalha e até Bruno da um sorriso.
Entramos
no meu carro, carro nacional que nem é do ano e do tamanho do meu orçamento.
Ligo e partimos para Feital com um carro com dois seguranças atrás, algumas
pessoas adorariam me ver morto e até já tentaram.
Feital é município
do Rio de Janeiro onde minha família foi formada e criou um império. A história
de Feital se confunde com a dos Granata e posso dizer que fomos nós que
construímos aquele lugar.
Em Feital
fica a livraria, lá passado e presente se misturam sob o olhar da história que
contarei.
E vocês
saberão em primeira mão, antes mesmo do lançamento do livro.
A
história de uma família.
De uma
dinastia.
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