CORITIBA, BANGU E A INFÂNCIA
Na última semana fez
trinta anos da histórica final de campeonato brasileiro entre Coritiba e Bangu.
Lembro bem daquele campeonato esquisito em que o Flamengo foi eliminado pelo
Brasil de Pelotas e até a Copa do Brasil desse ano fiquei com o time gaúcho
entalado na garganta.
Assisti a final do
campeonato na sala da casa em que moro até hoje torcendo pelo Bangu como todos
os cariocas. No fim a decepção com o título do Coritiba. No dia seguinte
assistindo o Globo Esporte e vendo reportagens com torcedores do Bangu um se
lamentou e disse “Nunca mais teremos uma oportunidade dessas”.
São duas matérias da época
que me chamam atenção até hoje. A declaração desse torcedor e uma cartomante
dizendo no RJTV pro Castor de Andrade que a Mocidade seria campeã do carnaval
de 85. Curiosidade que as duas agremiações tinham o comando de Castor, Mocidade
e Bangu, e que as duas declarações estavam certas.
Achei exagerada aquela
declaração do torcedor e vou escrever uma coisa aqui que pode parecer
provocação, mas juro que não é. Entre 1983 e 1988 o Rio tinha quatro grandes
clubes brigando por títulos. Flamengo, Fluminense, Vasco e Bangu. Sim, o Bangu.
Quem começou a acompanhar futebol naquela época sabe o que estou falando. O
Botafogo enfrentava um processo de decadência abortado com o inesquecível
título de 89 e o Bangu graças ao comando de Castor disputava títulos.
Nesse período que citei do
Bangu além da final nacional chegou a final do estadual do mesmo ano perdendo o
título num roubo descarado contra o Fluminense e ganhou a taça Rio em 1987. Não
lembro ao certo o ano, acho que foi 1985 mesmo, mas o Flamengo necessitava que
o Bangu não vencesse o Botafogo para decidir com o mesmo a Taça Rio em um jogo
extra e eu fiquei desanimado. Achava impossível o Bangu não vencer. Pois bem, o
Botafogo arrancou o empate e o Flamengo venceu o turno no jogo extra.
Então, por isso tudo,
achava exagerada a declaração do torcedor. Mas ele estava certo, o Bangu nunca
mais teve a chance.
Como o Coritiba nunca mais
chegou perto de um título brasileiro. O que os dois times fizeram em suas
histórias antes e depois deixa ainda mais especial o ocorrido em 1985 e mais
emocionante relembrar tudo isso no Esporte Espetacular que lembrava os 30 anos
da final.
Foi emocionante relembrar
o Maracanã, um velho estádio que infelizmente não existe mais. O samba da
Mocidade cantado a plenos pulmões no estádio numa época que as escolas de samba
sabiam se comunicar com o futebol. Ver as outras torcidas do Rio unidas pelo
Bangu num tempo que não existia clássico com torcida única. Ver a dor de Ado, o
jogador que perdeu o pênalti e sente essa dor até hoje, ao contrário de
jogadores que enriquecem e saem de derrotas em copas do mundo sorrindo.
E mais emocionante de
tudo. O saudosismo. Faltando um pouco mais de um ano para chegar aos 40 dá uma
‘tristeza gostosa”, uma “doce melancolia” lembrar de fatos da infância. Tempo
que não existe mais, pessoas que o mesmo tempo nos levou. Uma cidade que ficou
apenas nas lembranças de uma vida que chega ao seu amadurecimento.
A final inusitada marcou a
minha infância e a minha vida. Coritiba x Bangu é um desses jogos que nunca
acabaram e a impressão que dá é que batem pênaltis até hoje.
E trinta anos depois ver o
Ado converter o pênalti para matéria do EE me deu uma certeza. Que por mais que
a gente tente, sonhe, certas oportunidades a vida só nos dá uma vez. Como bem
disse o torcedor do Bangu.
Ser criança é uma dela.
Chegar bem aos 40 outra.
E esse pênalti eu vou
converter.
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