A IDENTIDADE BARROS
*Coluna publicada no blog Ouro de Tolo em 23/3/2014
E o Paulo
Barros foi pra Mocidade. Já era uma notícia que circulava pelo mundo do samba e
mais ou menos esperada, mas mesmo assim causa impacto. Afinal, o carnavalesco
mais aclamado da folia carioca nesse século trocava uma agremiação na qual
tinha um casamento perfeito e sequência de grandes resultados por uma que há alguns anos enfrenta crise e briga contra
rebaixamento.
Mesmo
essa sendo a gigantesca Mocidade Independente de Padre Miguel.
Algumas
perguntas ficam no ar: Qual será o futuro da Unidos da Tijuca? Como ficará o
arranjo de forças do carnaval carioca?
Qual será
a identidade de Paulo Barros na Mocidade? Justo na escola que mostrando sua
identidade mostrou a verdade a essa gente. Escola grande que tem sua identidade
própria independente de carnavalesco.
Não sou
adepto da catástrofe como muitos que apregoam o fim da Tijuca. Incrível como
muitos falam isso até felizes, vibrando. É aquilo, uma escola de samba só é
querida, amada, enquanto não ameaça. Quando ela começa a vencer logo ganha
antipatia e certa inveja.
A Unidos
da Tijuca, como disse numa coluna recente, é a grande força hoje do carnaval,
detém o poder e mesmo que se enfraqueça sem o Paulo não pode ser descartada de
cara. Me parece hoje uma escola profissional, bem administrada e organizada.
Muito
desse crescimento, claro, se deve ao período Paulo Barros, mas acho que a
Tijuca soube se organizar pra crescer junto com
explosão de seu carnavalesco. Tanto que vejo mais o dedo dele no boom da
parceria em 2004, 2005, até mesmo o título de 2010 que em 2012 e 2014 que mesmo
com o enorme mérito de Paulo Barros me pareceram títulos da escola como um
todo.
Ao
contrário da Vila, campeã incontestável de 2013, não ocorreu debandada na
Tijuca. Saiu sim seu grande craque, mas por enquanto só ele. Os coreógrafos da
comissão de frente sempre tão elogiadas, por exemplo, continuam (NE. Saíram após a publicação da coluna no OT) .
A Tijuca
pode em vez de seguir o exemplo da Vila seguir o da Beija-Flor que era nada até
a chegada de Joãosinho Trinta e seguiu poderosa com sua saída. Soube crescer
junto com seu carnavalesco.
Dizem que
a Tijuca foi bem avaliada esse ano em alguns quesitos que poderia perder pontos
devido o nome Paulo Barros. Não sei. Quem realmente tem moral na Liesa? Paulo
Barros ou Fernando Horta? Ninguém sabe ao certo os meandros da Liesa, mas uma
coisa é certa. O português tem moral.
Se não
tivesse e o queridinho fosse apenas Paulo Barros teriam dado um jeito antes de
colocar o carnavalesco em outra escola. Aliás, nunca é demais lembrar que ele
já saiu da Tijuca antes. Foi para a Viradouro que na época tinha dinheiro,
força política, era uma das escolas de ponta no carnaval e fracassou de forma
retumbante a ponto de “lhe enfiarem” na Vila para não ficar sem emprego e
no ano seguinte ter que voltar pra
Tijuca.
Vai
fracassar de novo?
Não sei.
Ele amadureceu e a Mocidade não é a Viradouro. Cada uma tem sua característica.
Só posso dizer que pra Mocidade foi bom demais.
A escola
vinha se apequenando nas mãos de Paulo Vianna, a cada ano menos cogitada entre
as favoritas, mais próxima do acesso e parecia inerte, sem forças. Mudaram o
presidente, entrou o controvertido contraventor Rogério Andrade cercado de
polêmicas e com situações em relação a ele e principalmente a quem exalta a
ele, mas que não cabe discutir aqui.
Só dizer
que parece que carnaval é salvo conduto. Parece que nele é permitido exaltar
aquilo que nos indigna no restante do ano.
Mas
enfim. Ele é o presidente e parece querer tirar a Mocidade dessa inércia.
Sacudiu o mundo do samba como faziam seu tio Castor e primo Paulinho, mostrou
que Mocidade está viva e já fez da
agremiação a mais esperada de 2015.
Movimentação
brilhante.
Mas o que
esperar de Paulo Barros?
Que ele
seja Paulo Barros. Mantenha sua identidade. A Mocidade lhe contratou para ser
esse carnavalesco atrevido e genial que foi na Tijuca. Com todos seus fatores
hollywoodianos e “MichaelJackização” dos desfiles. Que ele não tente imitar
Fernando Pinto, Arlindo Rodrigues e Renato Lage.
A
Mocidade tem sua identidade que é ser atrevida, inovadora, mesma identidade do
Paulo Barros. Que conciliem suas identidades e levem a Mocidade de volta a
briga pelo topo.
Torço
principalmente que sua ala de compositores, muito boa, seja preservada. As
escolas que passaram pelas mãos de super carnavalescos como Joãosinho Trinta e
Paulo Barros costumam apresentar sambas sofríveis. Talvez pela vaidade
exacerbada desses gênios.
Começou o
carnaval 2015.
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