VOLTANDO DAS FÉRIAS: O BEIJO E A CHIBATA
*Coluna publicada no blog "Ouro de Tolo" em 9/2/2014
E depois
de mais de um mês estou de volta com as colunas semanais. Quase sentiram
saudades não é? Pois eu senti desse nosso espaço para conversar. Hoje é uma
coluna de “volta das férias” tipo redações que fazíamos no colégio de volta as
aulas contando como foi esse período fora da escola.
Pois é
querido professor. Não fiz muita coisa nas férias. Caminhei muito e o mundo
continua girando da mesma forma que sempre.
Algumas
coisas ocorreram. O ano do 2014 até agora mostra um “calor ensurdecedor” neste
país tropical bonito por natureza onde temperatura de 40 graus virou algo rotineiro e aprendemos
que esquiar na neve e andar em passarelas no Rio de Janeiro podem ser coisas
muito perigosas.
Muita
coisa aconteceu, mas duas coisas me chamaram a atenção para debater com vocês o
quanto nossa pátria amada é hipócrita.
O assunto
do garoto amarrado em árvore no aterro do Flamengo já foi deveras debatido, até mesmo aqui no blog,
mas eu não toquei nesse assunto ainda. Nem mesmo em rede social. Decidi falar
sobre.
Primeiro
não falei porque ao contrário de Caetano Velloso não tenho opinião sobre tudo
que ocorre no planeta e segundo porque apesar de vivermos em um ambiente
democrático e as redes sociais com sua diversidade serem exemplos disso não me
senti seguro para dar opinião sem ser bombardeado por amantes do PSOL e cia.
Não.
Antes que vocês pensem não sou “bolsonarista”. Não sou adepto do “bandido bom é
bandido morto” do finado deputado Sivuca (ele morreu?). Mas também não sou Jean
Willys nem Marcelo Freixo. Sou um ser humano normal e como todo ser humano
normal não estou fincado em um lado da
sociedade.
Fiquei
com pena do garoto? Não. Chorei por ele? Também não. Acho o garoto uma vítima? Muito menos. Não gosto
de bandido e ele é bandido com três passagens na polícia por furto e lugar de
bandido é na cadeia. Tenho pena de trabalhador, pai de família, não de
marginalzinho.
Mas leram
o que escrevi acima? Lugar de bandido é na cadeia.
Para isso
existem leis. Não existe nada nas leis que permita que pessoas comuns se
achem o Batman, saiam de suas
batcavernas com roupa de tiazona esquisita, máscaras (no caso capuzes) e se tornem paladinos da
justiça batendo e amarrando pessoas nuas em árvores.
Quem deu
esse poder a eles? Quem disse a eles o que é certo ou errado?
Ninguém.
A sociedade aplaude porque foi “feita justiça”. Uma jornalista do SBT (gostosa)
imbecil e com histórico de imbecilidade aplaudiu. Compreendo a reação da
sociedade (não da jornalista), juro que compreendo porque estamos de saco cheio
de sentir medo, de sermos afrontados, roubados em nossa paz. Domingo tive que
andar de noite por ruas perigosas do centro do Rio passando por esses garotos e
tive medo porque sei do que são capazes.
Mas isso
não dá direito de alguém definir o que é certo ou errado e punições. Aplaudimos
hoje, mas e amanhã se for com a gente? Podemos um dia sair na rua largados, de
chinelo, roupa rasgada e sermos confundidos com bandidos, não podemos? Ou um
filho mesmo. O aplauso continuará igual? Ah não. Quem faz justiça nunca erra
não é? Isso nunca ocorre com gente de bem.
Já
acharam o Amarildo?
Os
justiceiros vão apenas no alvo mais fraco, um negrinho que pratica furtos
(ainda por cima com a covardia do capuz) ou vão atrás de filhinho de papai rico
que faz arruaça na rua também? Vão prender em árvore pitboy da Barra que
espanca gay? Vão espancar e prender em árvore político corrupto? Vão fazer isso
com miliciano?
Beleza.
Vamos lavar nossas honras, fazer justiça, mas com todo mundo que burla lei,
correto? Prender pelado em árvore quem comete assaltos, estaciona em lugar de
deficiente, fura filas, dirige bêbado, faz mensalão ou esquema com trens.
Vão
faltar árvores nesse país amigo.
Se for
assim eu concordo. Talvez eu até pare em alguma árvore porque todo mundo comete
pecados, mas vale a pena porque a justiça será feita. Se não for assim. Se
baterem e prenderem apenas moleques negros fica parecendo racismo e não somos
racistas, não é? Graças a Deus o tempo da escravidão, do pelourinho e da chibata
acabaram no Brasil.
Ainda bem
que ninguém é preso em árvore por deboche.
País
esquisitão, estranho, que se diz liberal, avançado, mas dá força a tipos
medievais de punição, que paralisa para assistir na tv um beijo gay na novela e
pior, com muita gente sendo contra!!
País
machão que se preocupa muito com a bunda dos outros. Demorou anos e anos para
permitir um beijo gay na sua santa e pura novela das 21horas e que para esse
beijo foi preparada toda uma situação, todo um planejamento de guerra para que
a pudica família brasileira não se horrorizasse.
Porque
ela não se horroriza com cara sendo esfaqueado algemado na cama como no
capítulo anterior e sim com beijo.
Esquecendo
que daqui a pouco é carnaval onde ninguém é de ninguém e que o seio dessa sociedade
estará desnudo (a genitália não estará porque os bicheiros não permitem).
Sociedade capaz de coisas obscuras e muito piores que um beijo gay. Amarrar
gente em árvore, por exemplo.
Lados
prós e contras ficaram tão exacerbados com o beijo entre Félix e Niko, foi
criado em pleno século XXI um clima de final de copa do mundo tão retrógrado
que ofuscou a verdadeira cena linda da novela que foi a paz entre pai e filho e
pior, esqueceram do mais importante.
Que
aquilo foi apenas um beijo.
Não
existem beijo gay e beijo hétero. Existe beijo.
Pelo
menos devia ser assim.
E assim
vi minhas férias professor Migão. Espero que tenha gostado da minha redação e
vamos ao nosso ano letivo que apenas está começando.
Ah..Vi no
google, o Sivuca ainda está vivo.
Como se
isso importasse...
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