AH, O CARNAVAL
*Nessa sexta-feira de carnaval republico coluna original do blog Ouro de Tolo de 23/2/2014
E o
carnaval está chegando..Nesse fim de semana que a coluna é publicada já está
rolando o desfile das escolas de samba de Vitória. Um desfile o qual conhecemos
poucos, mas recebemos todos os anos com muita euforia porque é o primeiro ato
de escolas de samba na avenida. Paixão que nos carrega o ano inteiro para esse
momento.
Nessa
semana mesmo, sexta-feira, começam os desfiles do grupo especial de São Paulo.
Desfile importante, que cresce a cada ano e no mesmo dia o grupo de acesso do
Rio de Janeiro. Cada vez mais organizado e contando com escolas tradicionais.
Quando eu era criança os festejos de Momo começavam oficialmente sábado de
carnaval, mas com todos esses eventos podemos dizer que já começou.
Pelo
menos a TPC, nome que os sambistas deram para a Tensão Pré Carnaval. Eu mesmo
que já fui muito mais ligado a samba começo a sentir essa tensão e vontade que
chegue logo a sexta, que chegue logo mais um carnaval.
Foram
muitos carnavais em minha vida já que em agosto chego ao meu 38° aniversário e
como disse acima confesso que já fui muito mais ligado. Continuo compositor de
samba-enredo, desfilando em escolas, torcendo por elas, mas com o tempo outras
paixões começaram a despertar em minha vida e tomar o lugar que já foi do
carnaval. Mas o carnaval, o desfile das escolas de samba em si, ainda tem um
bom pedaço de meu coração.
Desde
quando eu era muito novinho e não sei porque cismara que a Beija-Flor era aqui
da Ilha do Governador e torcia por ela, ganhava quase todos os anos naquela
virada dos anos 70 para 80 e eu ficava feliz mesmo sem entender nada. Até que
um dia descobri que era de Nilópolis não da Ilha e deixei de torcer. Pra dizer
a verdade até antipatizei com a escola.
Antipatia
que durou até 2003 quando concorri na disputa de samba-enredo da agremiação, vi
o quanto a agremiação é bacana, receptiva e ela se tornou uma das minhas
escolas preferidas.
Lembro um
pouco do carnaval de 1984 quando a Mangueira foi supercampeã. Lembro dessa
alcunha, supercampeonato e que a Portela fora vice, mas lembro muito pouco. O
carnaval que me fez ser mais ligado aos desfiles foi o de 1985.
Simpatizei
com a Mocidade e resolvi torcer por ela quando (história que já contei muitas
vezes nesses quase 3 anos meus no blog) vendo o RTJV perto da folia a
reportagem levou Castor de Andrade até uma senhora que jogava búzios e a mesma
contou que a Mocidade seria campeã do carnaval daquele ano. Castor soltou um
sorriso, disse “tomara” e a reportagem foi completada com a informação que a
escola não vencia desde 1979.
Pensei
“Poxa, faz muito tempo” e resolvi que naquele ano torceria pela Mocidade mesmo
não tendo noção que seis anos sem ser campeã no carnaval era quase nada e eu
ainda torceria por uma escola que nem nos anos 70 foi campeã no especial.
Ali
comecei a prestar mais atenção no carnaval. O samba da Mocidade foi
provavelmente o primeiro samba que aprendi alguns trechos na vida,
principalmente o refrão e até hoje escutar me emociona porque acho lindo e me
remete a esse tempo.
Lembro de
alguns detalhes do desfile também. Desfile futurista com astronautas, discos
voadores e achei bacana. Também lembro do refrão da Mangueira, favorita ao
título devido ao campeonato de 1984.
Do
desfile em si lembro apenas essas coisas, lembro mais da apuração com a
Mocidade partindo em disparada para o título confirmando a previsão feita no
RJTV, a Mangueira fracassando e eu me tornando pela primeira vez campeão do
carnaval.
Até que
um fato mudou minha vida. Na reta final da apuração feita no Maracanãzinho,
locução de Carlos Imperial, descobrir que existia uma escola chamada União da
Ilha, essa sim do meu bairro e estava sendo rebaixada.
Ainda
tentei resistir, mas não deu. Durante a apuração mudei de forma definitiva de
escola de samba virando Ilha. A União foi rebaixada, a Mocidade venceu e eu
perdi minha primeira e última chance até hoje de ser campeão do carnaval
mostrando qual seria a minha sina.
Durante o
ano “viraram a mesa”, a Ilha ficou no especial e desfilou muito bem em 1986
chegando em quinto lugar. O primeiro ano que realmente comecei a acompanhar os
desfiles.
Vi alguns
desfiles e dormi, assim como em 1987 onde já comecei a conhecer os sambas antes
do carnaval. Me empolguei com o samba da Ilha, me diverti com o do Estácio e me
emocionei com o da Portela. Em 1988 vi quase todas as escolas e em 1989
finalmente consegui ver todas no segundo dia de desfile.
Do épico
desfile da Beija-Flor. Lembro que eu ficava sozinho vendo os desfiles e minha
avó botava o relógio pra despertar para acordar e ver o Joãosinho Trinta. Sim,
para ver o João, não a Beija-Flor. Um fenômeno parecido com que acompanhamos
hoje com o Paulo Barros.
Lembro
até hoje de nós dois vendo o desfile e ela comentando “Não gostei, ta pobre,
estranho, esse não é o Joãosinho”. Pois é, mas era em sua essência, o luxo na
pobreza e a genialidade em cena.
Também
fui marcado pelo samba da Imperatriz, outro que me emociona até hoje e que na
época me fez lucrar. No colégio a professora de história nos pediu um trabalho
em cima da letra do samba e eu era o único que conhecia. Passei para todos em
troca de lanches.
Quem
diria que um dia eu iria escrever samba na Imperatriz..
Pois é,
virei compositor e as emoções foram se transformando e continuando. Todos os
anos eu via sozinho pela telinha. Em 1995 morava no Mato Grosso e enquanto
todos brincavam carnaval na praça principal eu sozinho via a tv e cantava o
samba da Beija-Flor, me empolgava com a homenagem do Estácio ao Flamengo e me
emocionava com a volta da Portela.
Pouco
depois passei para “o outro lado”. Tive carnavais marcantes como o de 1999 e
minha primeira vez desfilando na Sapucaí com o Boi da Ilha. Em 2001 meu
primeiro samba na avenida e vencedor de Estandarte de Ouro. Em 2009 regendo a
avenida com outros compositores do Boi da Ilha vestido de maestro e ganhando
prêmios com o samba. Em 2011 vendo a Sapucaí levar a União da Ilha nos braços
depois do incêndio e no ano seguinte misturando molho inglês com feijoada em
meu primeiro samba na escola.
Tive
emoções na Intendente também com o Acadêmicos do Dendê fazendo desfiles
maravilhosos em 2007 e 2012.
Carnavais...Seja
na avenida, no interior do Mato Grosso, na praça da Freguesia na Ilha do
Governador vestido de bate-bola ou na barraca de comidas baianas do namorado de
minha mãe. Carnavais com pessoas queridas, algumas que não fazem mais parte de
meu convívio ou que estarão pra sempre fisicamente ou não.
Carnavais
que desfilando com sambas meus vi minha mãe chorando emocionada na frisa e saí
da minha posição na ala até ela para dar um beijo ou como em 2001 quando no
palco do Olimpo dediquei a ela o Estandarte.
Com minha
mãe e o carnaval também são as primeiras lembranças da minha vida. Carnaval de
1980 ou 1981, não me recordo, de mãos dadas com ela no carnaval do Cacuia.
Ah o
carnaval..Que tanto já me maltratou, que me faz te querer longe como comecei
essa coluna, mas tão importante pra mim e tão enraizado em minha vida. Por mais
que eu reclame não dá pra me diferenciar de ti, somos um só.
Comecei a
coluna dentro de um espírito e tantas lembranças acabaram mexendo comigo e
mudando um pouco a ele.
Que venha
então a ordem de Momo, que venha mais um carnaval.
E que na
quarta feira de cinzas a gente possa dizer que valeu a pena e lembre que ano
que vem tem mais.
Porque o
tamborim nunca se cala.
Graças a
Deus.
*Nesse 28/2 completo um ano que passei a escrever colunas, séries, crônicas e contos aqui no blog. Mais de 70 mil visualizações, quase 300 postagens e fica aqui meu agradecimento a todos vocês que prestigiaram o blog ao longo desse ano. Que nossa parceria e amizade dure muito. Bom carnaval a todos.
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