Capítulo IV - Biógrafo do tráfico
Quando ele balançou a cabeça dizendo que era verdade pensei do fundo de meu coração que eu estava fudido. Como iria recusar? Ele tinha pago todas as minhas contas eu tava devendo dinheiro pra caralho pra ele e dever pro tráfico não era uma boa idéia e já deu pra notar que Pardal era louco.
Sim louco porque o que bandido mais quer normalmente é discrição quanto menos chamar atenção melhor e mesmo tendo feito acordos que garantiam sua segurança e vida Pardal era o bandido mais procurado do Rio de Janeiro e fatalmente “cairia” um dia só que uma exposição dessas, uma biografia faria esse dia chegar mais cedo, mas vocês acham que seria eu que contrariaria o traficante? É ruim hein..
Ele quis saber qual seria a minha resposta. Dei um sorriso e disse “estamos juntos patrão”. Pardal sorriu e mandou que Curió, seu irmão mais novo, pegasse o champanhe pra brindar. É a família era toda de aves Pardal, Curió..Curió pegou champanhe da marca mais cara e quatro taças para brindarmos. Eu viraria biógrafo de traficante.
Estudei pra caralho na vida me matei de estudar na escola, em casa, faculdade, virava dias e noites. Deixei de me divertir para aprender. Virei jornalista como sonhava desde moleque me matei numa redação de jornal querendo mudar o mundo e lá estava eu virando biógrafo de traficante. Iria escrever um livro, primeiro da minha vida falando de bandido.
Apesar de não ter muita moral eu vivia um dilema moral. Vivi um grande e doloroso dilema moral e de consciência por longos quinze segundos. O tempo de Curió me entregar um gordo envelope. Perguntei o que era e Pardal mandou que eu abrisse. Abri e tomei um susto era muito dinheiro eu nunca tinha visto tanto dinheiro na minha vida.
Perguntei o que significava aquilo e Pardal respondeu que era um humilde adiantamento pelos meus trabalhos. Os cifrões cresceram nos meus olhos, acabou a miséria.
Duas garotas lindas apareceram na sala reclamando que Pardal demorava pra voltar ao quarto. O bandidão riu e disse que teria que se despedir de mim e por compromissos importantes passaria a semana em Alagoas fechando negócios, mas que na semana seguinte poderia começar as entrevistas contando sobre sua vida. Deu tchauzinho e se mandou com as gatas.
Fui com Lucinho beber em um bar e ele acendeu um cigarro pediu uma cerveja dois copos e rindo contou que a conta era minha porque estava cheio do dinheiro. Concordei e agradeci por ele ter me posto na “fita” de Pardal. Lucinho contou que de onde veio essa grana viria muito mais era só eu ser esperto.
Lucinho era um cara de sorriso fácil, bonitão, veio de família rica e mesmo assim tornou-se um dos bandidos mais perigosos da cidade. Assaltante de residências, de carros, seqüestrador...se Pardal era “o cara” nas favelas Lucinho era no asfalto e eles juntos tomavam a cidade.
Mas Lucinho era mais malandro que Pardal tinha mais estudo um Q.I. maior e estava na cara que aquela sociedade não duraria muito tempo. Lucinho queria o poder todo pra ele e buscaria esse objetivo.
Mas sobre quem é Lucinho sua vida e seus planos contarei mais tarde.
Bebemos duas geladas e Lucinho contou que estava tendo festa na Acadêmicos da Guanabara e que era amigo do Pittinha patrono da escola. Perguntou se eu queria ir à festa e respondi que sim.
Pittinha era o herdeiro de Oswaldo Pitta o “seu” Pitta, fundador da escola que apesar de ser uma agremiação nova já era uma das mais poderosas do carnaval carioca sendo a atual campeã. A escola dos artistas e das celebridades. Um grande point.
Chegamos à escola e Lucinho logo na entrada foi tratado como rei. A quadra estava lotada, mas não existia calor porque como uma quadra moderna contava com um excelente sistema de ar refrigerado além de teto retrátil. Quando Pittinha queria tirar onda abria o teto e todos ficavam sob as estrelas babando aquela visão maravilhosa.
Assim que entramos chegou uma mulher colocando fitas azuis em nossos pulsos. Dizem que escola de samba é ambiente democrático...não..não é. Tem os “pulseiras azuis” que são aqueles que tem acesso aos camarotes, geralmente são os baba ovos do patrono que querem se sentir importantes e acham que a merda daquela fita faz isso quando na verdade o patrono caga pra eles.
Tem os “fitas vermelhas” que são os que ficam nas mesas, normalmente pessoas com mais poder aquisitivo compram já que essas mesas não são baratas principalmente perto das finais de samba-enredo e dos últimos ensaios antes do carnaval.
Compram suas mesas baldes de bebidas e dão lucro pras escolas. Também recebem mesas as pessoas da “comunidade” que são divididas em segmentos como velha guarda, baianas, harmonia, compositores, passistas, etc. E tem a ralé que tem porra nenhuma de fitas e não vai pra mesas nem camarotes. Ficam no meio do povão sambando e achando tudo lindo mesmo comprando cerveja quente e cara.
Eu sempre fui da ralé como bom carioca curto um sambinha, mas nesse dia virei um “fita azul” graças a Lucinho. Subimos as escadas e Lucinho parecia Moisés abrindo o mar vermelho o corredor se abriu para que passássemos e todos lhe cumprimentavam. Artistas, socialites, políticos, pseudo celebridades de reality show. Uma grande putaria já que todos sabiam quem era Lucinho suas atividades e isso parecia importar ninguém.
Se um otimista com o futuro dessa cidade estivesse naquele rol de camarotes dava um tiro na cabeça.
Chegamos ao mega camarote do Pittinha e me senti no Taj Mahal. O Bicheiro chegou a nós com um sorriso nos lábios e deu um abraço apertado em Lucinho perguntando como ele estava. Ele disse que estava bem e me apresentou.
Pittinha com aquele visual trash de blusa colorida aberta até o peito mostrando o cordão da grossura do meu braço e que devia valer uma fortuna, relógio caríssimo, pulseiras e anéis me deu um abraço e disse que amigo do Lucinho era seu amigo também e mandou que ficássemos a vontade.
E ficamos. Bebi pra cacete, comi muito tirando a barriga da miséria e tive o desprazer de descobrir que a tal festa era em homenagem ao meu ex sogro que discursou falando que mesmo evangélico respeitava o samba “maior tradição de nosso povo”. Ele me viu, mas fingiu que nem me conhecia preferindo manter sua conversa com deputados aliados Pittinha e Lucinho num grande debate promíscuo eleitoral.
Juliana também estava e se aproximou me cumprimentando. Educado respondi e ela perguntou como eu estava e respondi que estava bem ainda não conseguia sentar direito porque um negão me estuprou na cela, mas pelo menos ele tinha deixado seu email e assim poderíamos manter contato.
Juliana sem graça e desconfortável ao falar comigo esboçou um sorrisinho e disse que meu humor continuava o mesmo. Beberiquei meu copo de uísque importado e delicioso e falei que era uma pena que o dela tinha mudado. Ela me desejou boa sorte e se afastou.
Olhei pra ela quando se afastava e senti uma mão no meu ombro e uma voz perguntando se eu estava mais comportado. Virei pra ver quem era e me engasguei com o uísque.
Era o major Freitas. Ele riu e disse que eu não precisava me borrar porque ele já sabia de tudo e sabia que não iria mais incomodá-lo. Mandou que eu me concentrasse na biografia de Pardal e o esquecesse. Olhou bem fixo pra mim e disse “me esquece tá entendendo?” respondi ao Major “esquecer? Mas nem sei quem é o senhor”.
Ele continuou olhando fixamente pra mim e soltou uma gargalhada falando que eu era engraçado argumentei que não era e ele continuou rindo e falando que eu era e eu negando. Freitas disse que eu dava pra humorista e eu respondi que naquele momento dava pra ninguém, mas se aparecesse um bofe bonito quem sabe..
Aí que o homem gargalhou de vez e Lucinho chegou perto perguntando do que ele tanto ria. Freitas respondeu que eu era muito gozado e puxou Lucinho pra um canto dizendo que precisava falar com ele sobre um contrabando que estava chegando.
Policial e bandido tratando de ato ilícito, que surpresa não?
Eles se afastaram e eu continuei curtindo a noitada ouvindo os cantores interpretando sambas de enredo e me deliciando com as passistas sambando ao mesmo tempo em que aturava a mala do carnavalesco que afetadíssimo me contava o enredo da escola do próximo carnaval que falaria sobre a cidade de Tremembé do Oeste.
Perguntei se aquilo dava carnaval e ele respondeu que não, mas a grana que viria da cidade era muito forte e isso que importava e pra ter enredo ele colocou na história toda uma viagem que começava pelo oriente chegava ao ocidente, passava pela África e a tradição Youruba Nagô até chegar à cidade e se mesmo assim não rendesse era só Pittinha comprar uns jurados.
Continuei olhando as passistas e de vez em quando olhava Juliana e quando olhava percebia que ela também me olhava. Sentia-me vigiado ex mulher é uma merda. Mas as passistas eram deliciosas e a rainha da bateria tinha nem palavras. Uma loiraça peituda, silicone claro, bunduda que sambava porra nenhuma. Mas depois que foi campeã num reality show virou atriz de novelas e assim caiu de para quedas na escola. Seu nome era Samantha Blond e lhe conhecia bem da playboy que tinha em casa.
Lucinho chegou perto de mim e mandou que não olhasse muito para Samantha porque Pittinha estava comendo. Respondi que não olhava estava sim olhando para as passistas. Nisso Pittinha chegou e perguntou se eu havia gostado delas. Falei que sim e ele perguntou qual, apontei e ele perguntou como se decepcionado “só uma?” respondi que não que tinha gostado de todas, ele riu falou guloso e saiu.
Voltou depois pra perto de nós com cinco passistas e falou pra irmos embora que tinha coisa melhor pra fazer, perguntei para onde iríamos e ele respondeu. Pra minha casa.
Fomos Pittinha, eu, Lucinho e as passistas pra mansão do bicheiro. A casa era coisa de maluco parecia aquelas casas de Bervelly Hills. Fomos direto pro jardim que tinha uma enorme piscina e sentamos lá pra beber.
A empregada da casa uma menininha linda, mas menininha devia ter uns doze anos aproximou-se com uma bandeja. Na bandeja pó, muito pó, cocaína da melhor qualidade e canudos.
Ela abaixou a bandeja pra Pittinha que foi o primeiro a cheirar depois passou por todos que também cheiraram. Eu não cheirava fazia tempo, mas não resisti de dei um “teco” também.
Depois Pittinha pediu que a menina colocasse a bandeja numa mesa e se aproximasse. Ela disse que tinha que entrar porque os pais, que trabalhavam na casa, lhe esperavam. Ele falou para que ela não se preocupasse porque eles sabiam que a filha estava com o “titio” e mandou que ela sentasse no seu colo.
A menina relutou Pittinha ficou puto e gritou “senta ou quer que eu bote seus pais pra fora?” ela sentou e ele sorriu falando “boa menina”. Pittinha virou para nós e perguntou se já tínhamos visto peitinho de moça. Fiquei quieto enquanto todos falaram que não. Ele perguntou se queríamos ver e por incrível que pareça as mulheres presentes foram as que responderam mais entusiasmadas que sim.
A menina começou a chorar e Pittinha mandou que ela levantasse a blusa. Ela com lágrimas disse que não então ele mesmo levantou mostrando os seios da menina para todos. Acariciando perguntou se não eram lindos. A menina não sabia onde colocar o rosto de vergonha e as mulheres e Lucinho responderam que sim. Não parecia, mas eu ainda tinha uma reserva moral e não gostava dessa situação lembrei logo de minha filha.
Pittinha colocou pó nos bicos dos seios da menina e lambeu. Rindo depois falou e que era melhor que com canudo e mandou que ela sentasse que ele já voltava.
Ele saiu e um enorme silêncio tomou conta do jardim. A menina chorando olhava pro chão envergonhada. De repente começamos a ouvir marchinha de carnaval. Pittinha voltou pelado cantando “Olha a cabeleira do Zezé, será que ele é? Será que ele é?” e mandando que todos tirassem a roupa inclusive a garota.
Lucinho e as passistas tiraram, eu e a menina não. Pittinha perguntou se eu iria amarelar. Eu já estava com nojo daquela história toda com pena da menina. Mas ao ver aquela mulher gostosa que havia me dado tesão na quadra da escola peladinha não resisti, a coisa endureceu tirei a roupa e caí com ela na piscina.
Comecei a beijá-la. Outra apareceu por trás beijando minha nuca e depois beijando a amiga e num outro canto da piscina Lucinho com três. Do lado de fora Pittinha tirava a roupa da menina a força que gritava desesperada enquanto ele falava “não se preocupe amor, sou eu seu titio. Finge que eu sou um médico te examinando, um médico de xoxotas”.
Arrancou a roupa toda da menina, colocou a garota de quatro e com toda violência e força a penetrou gritando que era “arrombador de cabaços”. A menina chorava com ele e a gente se divertia na piscina bêbados e cheirados.
Depois de muito sexo ficamos os oito, eu Lucinho, Pittinha e as cinco passistas na beira da piscina cheirando enquanto a menina estava caída no chão chorando toda encolhida como se estivesse no ventre da mãe. Pittinha ficou puto e mandou que ela entrasse. Ela se levantou, cobriu sua nudez com as roupas rasgadas e entrou lentamente e humilhada.
Muito me intrigou que mesmo com aquela gritaria toda, a menina não ter voltado pra dentro da casa o pai e a mãe não tenham ido lá fora ver o que ocorria. Por quê? Minha dúvida durou apenas até ela chegar à porta e ser recebida pela mãe que lhe abraçou e entraram. Conivência, subserviência..
Os dias seguintes foram de grande farra. Comprei roupas de marca e meus colegas de redação entendiam nada, só contei que tinha arrumado um emprego extra.
Vendi meu fusca para um ferro velho e dei entrada em um carro importado, bonitão, lindaço, zero. Saí da concessionária com ele e fui tirar onda na praia de Copacabana, ligo o som e por uma grande coincidência tá tocando o que?
“Copacabana carro vai zarpar
Todo lubrificado
Prá não enguiçar
Roda tala larga genial
Botando minha banca
Muito natural
Simbora...1 2 3”
Todo lubrificado
Prá não enguiçar
Roda tala larga genial
Botando minha banca
Muito natural
Simbora...1 2 3”
Porra maluco eu sou tarado em Wilson Simonal o negão cantava pra caralho e teve a carreira estragada por putaria e aquela música tinha tudo a ver com o meu momento, chega de miséria de fazer continhas pra conseguir acabar o mês, dinheiro tava entrando e foda-se de que maneira. Eu tava tirando onda, eu era o Simona porra !!
Aumentei o som e cantei alto junto com ele
“Camisa verde claro, calça Saint Tropez
E combinando com o carango
E combinando com o carango
Todo mundo vê
Ninguém sabe o duro que dei
Ninguém sabe o duro que dei
Prá ter fon fon
Trabalhei, trabalhei “
Trabalhei, trabalhei “
Cantava, buzinava e ninguém entendia nada.
Marquei com Juliana e Rebeca em um restaurante próximo da casa dos Peçanha. Restaurante luxuosíssimo. Juliana não entendeu porque marquei ali que era tão caro e mandei que não se preocupasse e pedisse o que tinha de melhor para ela e Rebeca. No fim do almoço levei as duas até meu carro, abri o porta-malas e entreguei uma bicicleta pra minha filha dizendo que era dela. Rebeca ficou muito feliz, me deu um abraço e disse “obrigada papai”.
Juliana me puxou e perguntou o que ocorria de onde havia surgido tanto dinheiro e como eu que poucos dias antes estava preso por dever pensão estava agora com aquela ostentação. Nisso abri a carteira e botei um bom dinheiro em sua mão e falei que era pra ela e Rebeca. Juliana pegou ressabiada me olhou com jeito preocupado e pediu para que eu não entrasse em encrencas.
Mal ela sabia que eu já estava enfiado em encrencas até o pescoço.
Chegou o dia marcado com Pardal e subi o Trololó. Toquei a campainha da mansão e quem me atendeu foi Curió dizendo que o irmão estava ocupado com um serviço. Falei que voltava em outra hora e o bandido disse que não, que éramos para ir até ele.
Ordens expressas do patrão.
Fomos até o alto do morro num matagal. Lá estavam Pardal e alguns bandidos fortemente armados. Pardal puto dava chutes em um homem caído no chão perguntando onde estava sua grana e que desse logo o que devia.
O homem desesperado todo fudido, machucado, disse que não tinha a grana e pediu um prazo de dois dias que arrumaria. Pardal deu mais um chute e gritou “viciado de merda!! Não tem mais prazo, acabou filho da puta!! Você morreu” e mandou que jogassem álcool no homem.
O homem gritava implorando que não fizesse isso. Um dos comparsas de Pardal jogou o álcool, Pardal riscou um fósforo e jogou em cima do sujeito que ali na minha frente se incendiou. O homem gritava desesperado de dor pegando fogo até que o grito virou silêncio. Estava morto.
Pardal se virou e caminhou comigo se afastando do corpo. Botou a mão no meu ombro e disse “desculpe a demora pra te atender, problemas no trabalho sabe como é né”, respondi que “perfeitamente”. Ele disse para irmos à casa que ele começaria a contar sua história.
Eu começava a ficar com medo da minha.
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