BBB EM TEMPOS DE PANDEMIA

Na segunda feira acabou no Brasil seu único entretenimento ao vivo atual, seu superbowl, sua copa do mundo, a edição do BBB 20 que contou com a vitória de Thelma.

A edição sem dúvidas nenhuma foi um sucesso. Sucesso pelos personagens carismáticos escolhidos para o jogo, sucesso pela mistura de famosos e anônimos, mas nada disso sozinho faria do evento o imenso sucesso que foi. Evidente que a pandemia ajudou. 

Ninguém mais pode sair de casa, os eventos esportivos pararam, então a balada, a saidinha para o bar virou ficar na frente de uma tv vendo o programa. O futebol de quarta e domingo virou a prova do líder de quinta, o paredão de domingo e eliminação de terça e a maior prova disso foi o engajamento de jogadores e torcedores de futebol nessa edição. Eu mesmo não via desde 2013, fui ver apenas por curiosidade para ver a cara deles quando soubessem do coronavirus e acabei me engajando e torcendo como há muito não fazia, inclusive votando nos paredões.

O programa mudou bastante de 2013 assim como o Brasil e isso me assustou. O discurso de ódio que tomou conta do país nos últimos anos chegou ao BBB com torcidas radicais agindo com o fígado e usando discordância de pensamento como ofensa pessoal. Pessoas sentiam ódio, se ofendiam, se revoltavam com algo que devia ser apenas entretenimento. Levaram a política nacional para o entretenimento dividindo entre minions e lacradores. Algo que devia dar prazer começou a dar dor de cabeça.

O BBB no tempo que via era uma coisa legal onde quem a galera quisesse que ganhasse vencia. Hoje o mais querido pelo público não vence. Babu era o preferido da maioria das enquetes do programa, mas ficou fora da final assim como outros nomes fortes ficaram pelo caminho. Foram eliminados pelas pessoas que hoje dominam o programa. O jovem gay branco, de classe média ou classe alta que escrevendo de um Iphone de última geração quer determinar o que é misoginia, racismo e promover  cultura do cancelamento. São jovens que não toleram o erro, as imperfeições, uma simples escorregada e em vez de entender que são todos assim preferem partir para o linchamento. Babu sofreu com esse linchamento e fake news que eu só tinha visto em campanhas políticas. Sucumbiu, sua torcida não estava acostumada a esse tipo de jogo.

Esse tipo de "fandom" deu ano passado o prêmio para uma participante com falas racistas, em outro ano salvou de um paredão um agressor de mulheres que só saiu do programa levado pela polícia. Esse ano não tinha ninguém com perfil tão ruim, mas direcionou o prêmio ao lado de celebridades que faziam campanhas ostensivas a participantes denominadas de "fadas sensatas". Os jogadores de futebol e torcedores do mesmo não entenderam o jogo, votavam algumas vezes e faziam campanha para seus candidatos ficarem.

Fandom não dorme, não come, não vive, apenas vota e assim foi construindo seu jogo, elegendo seus favoritos e tendo picaretas fazendo previsões de votos no twitter e tendo credibilidade.. Mas Thelma superou tudo isso e fez o jogo ter uma campeã merecida, mais por sorte do que por juízo de quem a elegeu. Como normalmente são as eleições no Brasil.

Foi legal, foi histórico. Tiago Leifert mandou muito bem e tivemos paredões históricos como o de um bilhão e meio de votos, mas esse jogo não é mais pra mim. O Brasil de hoje não é pra mim.

A impressão que dá é que quem pensa diferente está em um eterno paredão e hoje de certa forma todos estamos com o coronavirus sendo o líder. Não é uma luta por um milhão e meio e sim por sobrevivência. Curioso isso, ficamos nesse começo de 2020 no mesmo confinamento que eles, a diferença é que eles ainda tinham as festas pelo menos.


Que a vida volte logo ao normal.


Que a gente saia logo do confinamento.


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