AS MULHERES DE ADÃO: CAPÍTULO VI - ELLEONOR


Voltei para o Brasil deixando Ruben chorando na Argentina e com alfajor pra distribuir pros amigos. Nunca mais vi o casal portenho, melhor assim.

No meu enterro não tinha nada que lembrasse a Argentina, mas apareceram coisas que lembravam a Jamaica.

De tanto falarem em Bob Marley, Bob Marley.. apareceram uns seguidores dele.

Um grupo com dreads na cabeça, touca, barba por fazer e roupas esquisitas apareceu no velório chamando atenção de todos. Não sei por que ainda se surpreendiam com o que ocorria naquela tarde.
Encontraram meus pais e logo deram um abraço lamentando por minha partida, depois perguntaram onde eu estava e meu avô ríspido respondeu “no caixão obviamente”.

Chegaram perto de mim e conversaram..”Não tão achando o pequeno Adão meio morto não?”,

“Verdade, mas ele tá rindo”, “na certeza fumou um..” e o grupo todo riu.

Meus pais se aproximaram agradecendo a presença deles e o líder do grupo disse que ele não precisava agradecer, pois eu era um dos grandes nomes do movimento rastafári no Brasil. Meu avô também se aproximou e perguntou que palhaçada era aquela.

O grupo então mostrou fotos minhas com Jimmy Cliff, Ziggy Marley, Gilberto Gil e Bill Clinton, aquele que fumou e não tragou. Os caras contavam que a Jamaica e o mundo do reggae se enlutaram com minha partida pro reino de Jah.

Tudo parecia voltar ao normal com os convidados do velório conversando e debatendo do porque de meu passamento quando um cheiro estranho tomou conta do ambiente.

Quando foram olhar o grupo tinha acendido um cigarro de maconha que passava de mão em mão.
Até meus pais deram uma “puxada”.

Meu avô revoltado chegou ao grupo e ordenou que apagassem e que aquilo era uma afronta a minha memória. Meu pai mandou que meu avô relaxasse e desse “um tapinha” que iria gostar.

Meu avô revoltado brigava com meu pai quando se ouviu uma gargalhada no ambiente. Era minha avó que aceitou o oferecimento e fumou.

Meu avô perplexo via vários cigarros de maconha aparecerem e serem repassados de mão em mão. Gritava que era um absurdo até que minha avó entregou um em sua mão e que fumasse pra parar de frescura.

Meu avô então “puxou”, ficou com olhar sério e depois soltou uma gargalhada. Com o tempo o velório todo estava “emaconhado”, totalmente tomado pela “esquadrilha da fumaça”. Menos Bia que continuava com olhar triste e jeito sério.

Até eu entrei “na onda” e já estava com um cigarrinho na boca. No fim todo mundo curtiu a “maresia” cantando “woman no cry”.

Meu velório caminhava assim, no ritmo do reggae.

Reggae, tango, metal. Minha vida e morte eram uma grande trilha sonora e foi assim quando voltei ao Brasil. Decidi me dedicar a música já que estava em minhas veias e como na virada do milênio o pagode era o ritmo da moda montei um grupo de pagode, o “moleque maneiro”.

Eu, Edu e mais três doidos nos juntamos e fomos empresariados por meu pai. Seu Juninho Frota tinha uma grande entrada na mídia e não foi difícil que conseguíssemos uma gravadora e tocássemos na rádio.

Nosso cd foi um grande sucesso. Vendemos um milhão de cópias oficialmente, mais uns cinco milhões piratas nos camelódromos da vida. Tudo por causa de uma música que estourou.

A música era boa, se liga aí, o nome dela era “ligação a cobrar” ..

“Eu te bipei
Pra você ligar pro meu celular
Podia ser a cobrar
Depois a conta eu ia te mandar
Falei com o porteiro do teu prédio
Que você era meu remédio
Pedi a ele pra me deixar subir
Sem você não há razão de existir
Ele disse que era acima de seu domínio
Você devia ao condomínio
E não morava mais ali
Então chorando, eu parti”

O refrão é emocionante, leiam..

“Entrei em depressão
Vendi minhas correntes, meu carrão
Muito chorei
Nem gel no meu cabelo mais passei
Sou um pagodeiro abandonado
Canto e dou passinho para o lado
Liga pra mim, não faz assim
Meu querubiiiiiiiiiiim...”

Essa parte do “querubim” era assim mesmo, bem extensa pra mostrar toda minha potência vocal.

Fizemos vários shows e saí com muitas mulheres aproveitando minha súbita fama. Pintamos nossos cabelos de loiro, botamos óculos escuros na cabeça, roupas espalhafatosas e dávamos passinhos pro lado pra mostrar nosso lado dançarino.

Infelizmente o sucesso não durou muito, Quando estávamos pra gravar nosso segundo cd que teria como música de trabalho a divertida “não vem de pum que hoje to com diarréia” três de nossos integrantes tiveram que fugir do Rio por dever pensão alimentícia.

Sobraram só Edu e eu e como era um grupo de pagode, não dupla sertaneja acabou o sonho como disseram John Lennon e o Joaquim da padaria.

 Entrei numa fase meio depressiva. Várias meninas iam até meu apartamento consolar, mas não ajudava. Sentia falta de Bia e ficava horas com ela no telefone falando de minha vida triste e vazia transando com uma mulher diferente por dia e sem ter um rumo.

Então Bia me deu uma idEia.

Ela perguntou se eu tinha gostado do tempo que passei em Buenos Aires e respondi que sim, mas não poderia voltar à cidade por estar arriscado a Ruben se dar conta que ornamentei a “sua cabeza”.

Bia então respondeu que não era pra eu voltar pra Buenos Aires e sim pra encontrá-la em Nova York, ela estava com saudades de mim e eu podia tentar a vida lá.

Gostei da ideia.

Juntei um bom dinheiro com o sucesso do “moleque maneiro” então parti pra Big Apple, a terra das oportunidades, New York, New Yooooork..tatatanana(Onomatopéia pra música cantada por Sinatra).
Despedi-me de família, amigos, mulheres que alugaram um ônibus só pra me dar um último adeus no aeroporto e em poucas horas cheguei aos Estados Unidos. Cheguei no inverno, um frio do cacete e Bia me esperava no saguão.

Linda, cada vez mais linda. Tempo que não a via e parecia que a vida no exterior fez um grande bem a ela. Bia me viu e deu um forte abraço matando toda nossa saudade.

Depois me puxou pela mão dizendo que tinha muito de Nova York pra me mostrar.

Bia morava em um pequeno e confortável apartamento perto do Central Park com uma vista linda. Eu olhava pela janela encantado por estar lá quando ela me puxou.

Perguntei o que ela queria e Bia respondeu que iríamos pro seu quarto transar.

Não deu tempo nem de me assustar com seu jeito direto. Entramos no quarto, tiramos a roupa e transamos a noite toda.

De manhã levantei antes dela e sem fazer barulho preparei um delicioso café da manhã. Levei ao quarto e dando beijinhos em sua orelha a acordei. Bia me olhou com jeito sonolento ainda perguntando o que significava aquilo.

Respondi que era nosso primeiro café da manhã juntinho e dei um beijo em seu pescoço.
Bia então me afastou e com jeito zangado falou “Merda Adão, você sempre tem que estragar tudo com romantismo”.

Entendi nada e ela continuou “eu só queria trepar com você, você é muito safado não dá pra namorar, me passa a manteiga por favor”.

Eu sempre fui mais romântico e Bia mais fria, prática.

E assim foi indo nossa vida. Dois amigos que transavam de vez em quando e que tinham seus parceiros. Algumas vezes ela levava algum homem lá e eu morria de ciúmes, quase todas as noites eu levava uma mulher e não sei o que ela pensava.

Apesar de ter um dinheiro reservado eu não queria ficar parado, precisava trabalhar pra espantar a ociosidade. Bia fazia faculdade de direito e eu “coçava o saco” o dia todo então fui a luta.

Conheci um bar de brasileiros de um cara chamado Nestor. Sujeito gente boa e bem humorado. Um dia tomei coragem e perguntei se tinha algo lá pra eu fazer porque precisava trabalhar.

Ele perguntou se eu sabia servir mesas e eu disse que não, sabia fazer drinks e também não. Perguntou se eu sabia fazer alguma coisa. Olhei o cara que imitava Freddie Mercury em um pequeno palco e rindo disse que sabia imitar o Sidney Magal. Nestor botou a mão na cabeça e falou “é isso!”.

Na noite seguinte lá estava eu com roupinha branca apertada, peruca e requebrando no palco ao som de “Oh! Eu te amo! Oh eu te amo meu amor! Oh eu te amo! O meu sangue ferve por você”.
Bia foi ver minha estréia e adorou, não só ela como outras mulheres foram, gostaram e quiseram conhecer mais a fundo o “amante latino”.

Entre elas uma ruiva branquinha com sardas no rosto chamada Elleonor, Ellen para os íntimos. Ela achava que meu nome era mesmo Sidney Magal e só me chamava de Sidney.

Uma noite saí do bar e lá estava Ellen em um carrão me esperando. Abriu a porta pra mim e mandou que entrasse, queria saber mesmo até onde ia aquele “amante latino”.

Entrei, fomos ao seu apartamento e fizemos amor.

Comecei assim um caso com aquela mulher. Bia falava nada sobre. Ela sempre foi uma “rocha” então nunca sabia o que ela sentia, como no enterro. O tempo foi passando e eu cada vez mais adaptado aos Estados Unidos. Um ano se passou e chegou a virada de 2000 pra 2001. Eu e Bia passamos juntos em Times Square e emocionados víamos a maçã descer cantando abraçados.

Depois ela disse que estava próxima de se formar e iria voltar ao Brasil perguntando o que eu faria.
Pensei um pouco e falei que minha missão em Nova York ainda não estava plena e eu ficaria mais um pouco. Bia perguntou se tinha a ver com Elleonor e eu respondi que sim, estava gostando dela.

Foi a primeira vez que vi Bia um pouco abalada em relação a mim, mas forte como ela sempre foi rapidamente se recompôs e falou que era uma boa mesmo pra mim e queria que eu fosse feliz.

Bia se formou e eu com muito orgulho participei de sua formatura. Levei minha amiga, amor, sei lá o que ao aeroporto e me despedi dela com um beijo na testa. Meu coração apertou ao vê-la partir. Mais uma despedida nossa.

Não foi a única despedida. Semanas depois Ellen me procurou e disse que passaria seis meses na França a trabalho.

Bia partiu, Ellen partiu e eu fiquei sozinho naquele apartamento. A solidão é algo muito triste, posso dizer que foi a meia hora mais triste até então na minha vida. Meia hora sim porque correndo no Central Park pra esfriar a cabeça conheci uma japonesa que logo estaria na minha cama.

Prossegui minha vida. Continuava como cover de Sidney Magal até Nestor descobrir que eu tinha caso com uma garçonete parecida com a Rita Cadilac e me demitir. Digamos que eu e Nestor éramos sócios e eu não sabia.

Fui trabalhar então como entregador de pizzas. Troquei o apartamento que morava por um menor e segui na América.

O tempo passou e chegou a época de Ellen voltar aos Estados Unidos. Ela me ligou dizendo que estava de volta e fui correndo a seu apartamento.

Bati na porta com roupa de entregador de pizzas e uma de calabresa na mão perguntando se era dali que tinham pedido. Ellen me puxou pra dentro, deixou a pizza no sofá e fomos pro quarto transar.
No fim estávamos mortos de fome e comíamos a pizza na cama. Ellen virou pra mim e disse que eu era muito inteligente, esperto e não podia ficar lá entregando pizzas. Perguntei o que ela sugeria. Ellen então respondeu que veria com um amigo dela pra eu trabalhar em sua firma e que eu mudasse pra lá.

Topei. Peguei minhas coisas em meu apartamento e me mudei de mala e cuia pro apartamento de Ellen. Seu amigo me entrevistou e passei no emprego na firma.

Fui trabalhar em um prédio alto, bonito, bem diferente do bar e da pizzaria.

Ellen era uma mulher maravilhosa, que me colocava pra cima e queria me ver bem. Nos dávamos muito bem e eu não tinha vontade nenhuma de voltar ao Brasil, mais uma vez eu me via apaixonado.
Ligava para Bia no Brasil e ficávamos um bom tempo no telefone contando nossas novidades. Ela abrindo um escritório de advocacia, eu trabalhando numa firma grande e apaixonado.

Estávamos felizes e o curioso que a situação se invertera, agora eu em Nova York e ela no Brasil.
Pra você verem como Ellen e eu nos levávamos a sério fui com ela até o Texas conhecer seus pais. Uma viagem grande. Seus pais gostaram de mim e até falaram em casamento, Ellen sem graça só sorria.

Mas eu sabia que essa era a vontade dela sim e em um jantar logo depois que voltamos escondi um anel dentro de sua comida. Jantávamos a luz de velas, violinos tocando e eu ansioso por meu amor notar o anel.

Só que ela não notou, deu uma colherada e o pôs na boca ficando com o mesmo entalado. Foi um desespero. Paramos numa emergência parecida com aquele seriado E.R. e lá ela acabou engolindo o anel.

Deixamos a mãe natureza agir e assim que ela acabou eu limpei o anel, fiquei de joelhos na sua frente e lhe pedi em casamento.

Um momento romântico.

Só que tinha um grave problema, eu adorava mulheres.

Um dia subia o elevador do prédio onde a firma ficava e entrou uma mulata estonteante. Ela ficou bem na minha frente olhando os números pra ver se chegava a seu andar e eu atrás só conseguia olhar pra sua bunda. Espalmei a mão chegando perto como se quisesse apertar quando chegou seu andar e ela desceu.

Desci atrás.

Tirei meu anel de compromisso e me apresentei. Tentei usar todo meu poder de sedução, mas a mulata era difícil. Alguns dias tentando, insistindo e a recompensa veio, ela topou sair comigo.
Combinamos de na manhã seguinte em vez de ir pro prédio nos encontrarmos. Ela me deu o endereço de seu apartamento e mandou que eu fosse pra lá.

No dia seguinte tomei café com Ellen e me despedi de minha noiva. Ela me desejou um bom dia de trabalho e logo depois foi pro seu. Entrei no carro e em vez de ir pra firma fui pro apartamento da mulata.

E amigo..a mulata era um espetáculo no estilo Amanda. Transei muito com a mulher aproveitando aquela manhã maravilhosa de sexo selvagem.

Cansado demos um intervalo e meu celular tocou, era Ellen. Atendi e do outro lado minha noiva chorava desesperada perguntando onde eu estava. Respondi “ué amor, onde eu poderia estar? Na firma trabalhando”.

Esqueci de comentar com vocês. Minha firma ficava no World Trade Center, em uma das torres gêmeas e aquela manhã era de 11 de setembro de 2001.

Tomei um pé na bunda de Ellen e voltei ao Brasil com o rabo entre as pernas, pelo menos não tinha terroristas no meu avião.

Maldito Bin Laden..


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DAYA 

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