AMAR DE NOVO: CAPÍTULO VII - AVENTURA


Meu filho não era bobo nem nada e no dia seguinte estava na frente do colégio. Thais saiu e encontrou meu filho sorrindo. Ela perguntou o que ele fazia ali e Gabriel respondeu "Estava de bobeira passando por aqui e pensei se você não estava precisando de um segurança".

Thais sorriu e meu filho emendou "Primeira vez que te vejo sorrindo, pelo menos pra mim". Thais retrucou "Já sorri muita vezes pra você por dentro" e Gabriel pediu "Sorria mais pra mim me mostrando, isso faz meu dia mais feliz”.

Sorriram tímidos e ficaram em silêncio naqueles momentos que muito queremos dizer, mas não sabemos como. Thais quebrou o silêncio e disse "Eu aceito, aceito sua segurança". Gabriel estendeu a mão, disse vamos e eles foram.

Entraram no carro e Thais perguntou aonde iriam. Gabriel respondeu que queria lhe mostrar um local especial.

Meu filho aprendeu direitinho. Levou Thais ao Arpoador.

Sentaram no local que eu e Camila costumávamos sentar e olharam a vista. Alguns casais de namorados perto, as ondas batendo nas pedras e alguns surfistas se aventurando nas águas. Thais, extasiada, comentou que morava ali perto e nunca tinha ido ao Arpoador. Gabriel respondeu que ia sempre, tinha aprendido comigo a ir lá e todos os momentos. Para pensar, refletir, quando estava feliz e quando queria estar com alguém especial.

Thais agradeceu e comentou que o Arpoador realmente era lindo. Gabriel olhava a vista quando a moça perguntou se ele tinha mais algum segredo para que ela desvendasse. Ainda olhando a vista meu filho respondeu "tenho".

Sacou o celular, colocou o fone e entregou a Thais pedindo que colocasse no ouvido. Ela pôs e meu filho ligou, começando a tocar a música que estava no ponto.

Thais ouvia e comentou que a música era bonita. Perguntou qual era e meu filho respondeu:

Don`t want to say goodbye dos Raspberries.

Isso. Meu Gabriel colocou a música minha e de sua mãe para ouvir com seu amor. Quando soube disso me emocionei. Acabou que a canção virou uma herança nossa para ele. A musica que marcou nossas vidas, nosso amor se perpetuava nele assim como nosso amor.

Camila vivia em mim, nós vivíamos em Gabriel e na música.

Thais ficou encantada com a música. Gabriel começou a cantar olhando para ela até que lhe beijou. Mais um beijo apaixonado daqueles que nos revitaliza, parece nos rejuvenescer.

Desceram o Arpoador e caminharam descalços pela praia sentindo a água batendo nos  pés com a espuma das ondas. Estavam felizes, conheciam o amor e queriam aproveitar aquele momento o máximo. Em determinado momento Thais comentou "Precisamos de uma música. Todos tem música, toda relação tem e temos que ter a nossa. Não pode ser a de seus pais”.

Gabriel concordou e propôs. Vamos até o calçadão. A primeira música que ouvirmos será a nossa. Thais riu e comentou que poderiam e dar mal, ouvir uma música horrível e já correndo em direção ao calçadão Gabriel gritou "Vamos arriscar!! Pra quê viver se não podemos correr riscos?”.

Thais correm em sua direção, deram as mãos e correram para o calçadão. Chegando lá ouviram a música. Era um quiosque que estava com rádio sintonizada em um desses programas de flashback. Ouviram a música e sorriram. Gabriel comentou "Amo essa música" enquanto Thais completou 'Eu também. Adoro Eduardo Dusek". Se beijaram e tiveram certeza que aquele amor estava fadado a sorte.


Aventura

(Eduardo Dusek / Luiz Carlos Góes)

Vi seu olhar
Seu olhar de festa
De farol de moto
Azul celeste
Me ganhou no ato uma carona pra lua

Te arrastei
Estradas, desertos
Botecos abrindo e a gente rindo
Brindando cerveja
Como se fosse champanhe

Todos faróis me lembram seu olhos
Durmo a viajar entre lençóis
Seu corpo fica a dançar
No meio do nosso jantar                                                                                                                          

Luz de velas

Aventurar por toda cidade
A te procurar
Todos lugares
Pintam ciúmes na mesa de um bar
Mas você sente a começa a brincar
Diz : Fica frio, meu bem, é melhor relaxar

Palmeira no mar


De lá Gabriel e Thais foram para meu apartamento e aproveitaram que estava vazio para fazer amor pela primeira vez. Passaram a noite juntos e de manhã abraçados conversavam amenidades quando o telefone da moça tocou. Thais olhou e disse para Gabriel "É o Ronaldo".

Gabriel olhou para a moça que completou 'preciso atender' atendendo o mesmo. Conversaram um tempo, ela disse que dormira na casa de uma amiga e desligou. Olhou para Gabriel e os dois ficaram em silêncio.

Thais comentou que precisava resolver aquela situação e Gabriel respondeu que não estava forçando a nada. Thais riu e perguntou "Quer ser meu amante é?". Gabriel puxou a moça e comentou que não seria má ideia lhe dando um beijo. Após o beijo ela séria disse "Não sou mulher de ter amantes, tenho que resolver isso".

Thais tentava resolver a situação com Ronaldo, tentar coragem porque era uma relação de quase dez anos. Ronaldo foi seu primeiro namorado e eram noivos há dois anos e com casamento marcado. A moça sofria com a situação. Estava apaixonada pro Gabriel ao mesmo tempo em que não queria magoar Ronaldo.

Quem estava muito magoado era Nando. Enquanto Bia vivia momentos de felicidade com Ruben e fazendo planos de morar na Argentina meu amigo se afundava na bebida cada vez mais. Largou o emprego de vez e entrou em depressão não saindo mais de casa.

Todos estavam preocupados, inclusive Bia que tentava aproximação com o ex e não conseguia. Jessé me procurou ajuda.

O menino disse que só eu poderia ajudar por Nando gostar de mim e eu ter passado poucas e boas por amor. Jessé implorou "Por favor tio. Ajude o meu pai”. Não podia deixar meu amigo na mão e fui.

Encontrei Nando muito mal. Sentado no sofá barbudo, com cara de quem não dormia e tomava banho há dias. Pedi licença a Jessé que foi para a rua e aproximei de Nando perguntando "E aí cara?". Sem me olhar Nando perguntou "Como faz?".Perguntei como faz o que e ele me respondeu 'Para esquecer um amor". Respondi para ele "Não se esquece".

Nando olhava para o chão, não tinha mais forças nem para chorar. Agachei a sua frente, peguei sua mão e completei "Mas ainda assim se vive".

Levantei e falei 'Mas antes disso você vai tomar um banho, tá precisando". Peguei meu amigo e levei para debaixo do chuveiro. Dei banho em Nando com esfregão.

Coloquei roupa limpa nele e ordenei "Quero você no trabalho amanhã”. Nando argumentou que não trabalhava mais comigo e retruquei “Você está readmitido".

Encaminhei para a porta, olhei para ele e disse "Quero você oito horas na empresa e se não for venho te buscar".

Sete e cinquenta e cinco eu já estava na empresa e olhei o relógio ansioso para a chegada de Nando. Oito e um já ligava para a secretária mandando que o motorista tirasse meu carro para buscar Nando quando ele entrou em minha sala. Dei um sorriso, levantei e dei um abraço nele.

Para descontrair falei que estava atrasado e iria descontar de seu salário. Nando deu um sorriso amarelo, coloquei a mão em seu ombro e comentei "Bom ter você de volta meu amigo".

Nando pediu licença, disse que tinha algumas coisas para fazer e saiu da sala. Sentei e pensei que estava fazendo a coisa certa seguindo os conselhos de Camila.

Trabalhava entretido em documentos e telefonemas quando ouvi gritos vindos da anti-sala. Fui até o local e a secretária estava em cima da mesa, um funcionário com uma vassoura e outra rindo. Perguntei qual era o motivo do escândalo. A funcionária pediu desculpas e disse "Vê se pode. Uma mulher desse tamanho com medo de borboleta".

Gelei e perguntei onde estava a borboleta. No momento ela passou pela cabeça da secretária que se abaixou apavorada enquanto o funcionário tentava acertar e a outra gargalhava. Perguntei por Nando e o rapaz disse que tinha ido ao banheiro.

Só consegui gritar "Meu Deus!! Nando!!".

Corri para o banheiro com os outros funcionários correndo atrás e perguntando o que acontecia. Abri a porta e dei de cara com a cena que nunca queria ter visto e nunca mais esquecerei.

Meu amigo Nando estava pendurado com seu cinto no pescoço.

Tinha se enforcado no banheiro.

A funcionária que estava com medo da borboleta teve motivos para gritar de verdade enquanto eu ia até o corpo do meu amigo, tirava do cinto e abraçava. Chorava com seu corpo encostado ao meu e gritava "Por quê Nando? Por quê? A gente sobrevive!!". O funcionário ligou para o hospital e pedi que alguém ligasse para Guga. A única pessoa que pensei na hora.

Eu, Guga e Samuel vimos a ambulância levar o corpo de Nando para o IML e Samuel só repetia que aquilo era uma loucura. Guga perguntou por Bia e respondi que estava na Argentina passando uns dias com o namorado. Samuel retrucou "Liga para ela e diz que ta na hora de encerrar a lua de mel e encarar a realidade". Guga botou a mão no rosto e exclamou "Ela ta fodida".

Sim. Com o perdão da má palavra ela estava fodida.

Na frente do IML tentávamos acalmar Jessé que chorava de forma descontrolada e tentava ver o pai. Samuel tentava explicar que não era bom ver daquela forma, que ele seria arrumado e lhe veria de uma forma melhor no velório. Jessé ficou puto e gritou "De forma melhor? Como de forma melhor se ele ta morto? Aquela piranha matou meu pai!! Aquela vagabunda!!”

Ele se referia a mãe.

Guga reclamou e pediu que ele não falasse daquela forma, era a mãe dele e Jessé gritou "Não tenho mãe, tinha um pai que morreu de amor enquanto sua ex mulher ta fodendo com outro na Argentina!!”.Tudo isso ocorria e eu ligava pra Gabriel, na última ligação perguntei "pelo amor de Deus onde você está?”. Meu filho respondeu que Ericka estava estacionando.

Ericka, Gabriel e Francisco apareceram e Jessé foi logo abraçando Gabriel e sendo abraçado pelos outros dois. Os quatro eram muito amigos, como eu, Jessé, Guga, Samuel e Bia. Francisco, Ericka e Gabriel levaram Jessé dali e Samuel se aproximou para dizer "Não tem mais como adiar. Temos que ligar para Bia".

Respirei fundo, peguei o celular e teclei. Esperei um pouco e disse "Oi Bia, desculpe te incomodar, mas é sério"

O cemitério estava cheio, Nando era muito querido. Tinha me desacostumado a cemitérios e borboletas e confesso que não sentia falta nenhuma delas. Última vez que tinha ido a um enterro foi de Camila e no mesmo cemitério. Parecia que tinha sido no dia anterior. Não gostava de estar ali, fazia tudo voltar a mente.

Jessé não saía do lado do corpo do pai durante o velório e eu fiquei ao lado de Gabriel. Em determinado momento Thais chegou com Ronaldo. Cumprimentaram Jessé e depois a gente. Thais e Gabriel trocaram cumprimentos constrangidos, mas que davam pra perceber que tinha coisa a mais ali. Só Ronaldo não via.

Ronaldo e Thais se afastaram enquanto Gabriel não tirava os olhos dela. Thais também olhava de vez em quando e perguntei a meu filho quando resolveriam aquilo. Gabriel respondeu "Espero que breve" e perguntou se Bia iria.

Apontei para o lado de fora e Gabriel teve sua resposta. Bia chegava de preto e óculos escuros.

Cumprimentei minha amiga que me abraçou chorando e me perguntando "por quê ele fez isso?". Apenas abracei forte e passei a mão em sua cabeça. Depois de um tempo ela foi até Jessé. Todos no velório se viraram para ver a reação do rapaz.

Bia tentou abraçar Jessé que se desvencilhou e disse "não toque em mim". Bia chorando disse "meu filho" e ele respondeu "Não tenho mãe, sou órfão de mãe e agora de pai que ta nesse caixão. Morreu enquanto você estava com seu amante na Argentina".

Bia retrucou "Não é verdade, eu sou sua mãe, sempre serei, amava seu pai e te amo". Jessé disse que não, ela não os amava, era egoísta, só pensara na sua aventura e deixou o pai morrer sem fazer nada. Completou "Amor é doação, não é egoísmo. Você fez a sua escolha. Conviva para sempre com a ideia que o homem que você dividiu uma vida inteira se matou por causa do seu egoísmo".

Decidi intervir. Me aproximei e pedi que Jessé parasse e ele pediu que a mãe fosse embora. Bia pediu pelo amor de Deus que ele não fizesse aquilo e o filho completou "Nunca mais fale comigo. Você não é bem vinda aqui".

Bia concordou e com todos olhando se retirou do velório. Eu, Samuel e Guga ficamos nos olhando e decidi ir atrás de minha amiga. Alcancei quando entrava no carro e quando minha amiga me viu me abraçou chorando compulsivamente e dizendo que era sua culpa. Eu abracei forte Bia dizendo que ela não tinha culpa, Nando que fora frágil e ela repetia "Eu tive culpa!! Eu tive culpa!!".

Olhei para ela e comentei "Se alguém tem culpa então somos todos nós que não enxergamos o que ocorria. Você não tem culpa de querer ser feliz".

É..Depois que me toquei da frase que disse. Não enxergamos seus problemas. Camila me pedira para olhar meus amigos e fracassei.

Até hoje tento entender a atitude de Nando. Eu também perdi um amor, perdi pra morte e pensei muitas vezes em me matar. Ele concretizou.

Não vou dizer que ele foi fraco e minha dor era maior que a sua já que eu perdi pra morte porque a pior dor que existe é aquela que sentimos. Várias vezes vi teses que a pior dor é de cabeça, pedras nos rins, vesícula, mas eu sou da tese que a pior é a que sentimos no momento e não tem dor maior que a nossa.

Eu perdi pra morte. Ele perdeu pra vida e não sei o que é pior.

Ele foi fraco por que se matou e eu forte por quê sobrevivi? Não sei. Ele foi forte por que se matou enquanto eu fraco por ter pensado tanto nisso e não ter tido coragem? Também não sei. A dor e a decisão que tomamos em relação a nossas vidas é algo individual. No momento de desespero somos capazes de tudo e por saber exatamente como é a dor de perder alguém nunca julgaria Nando, apenas lamentaria.

Bia agora tinha um grande peso nas costas, a dor da culpa. Olhem aí outra dor que consome e pode ser tão ou mais forte que as outras. Jessé não lhe perdoava de jeito nenhum e Bia não conseguia mais viver no Rio de Janeiro. Tudo lembrava Nando, Jessé e a tragédia. Decidiu ir para a Argentina de vez.

Minha mãe assumiu a ONG definitivamente e fui com Samuel e Guga levar nossa amiga ao aeroporto.

Lá dei um abraço nela e disse "Você está viva. Aproveite essa vida que tem para tentar ser feliz". Ela sorriu, passou a mão em meu rosto e completei "Uma mulher sábia me disse uma vez. Não crie juízo, crie histórias de amor. Continue criando as suas”.

Bia se despediu e partiu para criar.

Gabriel e Thais decidiram criar a deles também. Thais se encheu de coragem e contou a meu filho que depois de um jogo importante da Portuguesa contaria a verdade para Ronaldo e se separaria.

Era a final da segunda divisão e Thais estava na arquibancada vendo o jogo. Ronaldo fez um gol e comemorou fazendo coraçãozinho para ela que constrangida sorriu.

Depois de um tempo Ronaldo se agachou e levantou de novo. O juiz se aproximou, perguntou se estava tudo bem e ele respondeu que sim. Até que ele parou, botou a mão no peito e caiu.

Os jogadores em desespero cercaram Ronaldo e começaram a pedir por ambulância. A mesma entrou em campo, fez massagens cardíacas e levou o jogador desacordado com Thais em desespero correndo pelas sociais do clube para encontrá-lo

Um novo drama se iniciava.


CAPÍTULO ANTERIOR:

AMORES VEM E VÃO 

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