O RECOMEÇO DA CULTURA


A Ilha do Governador, bairro tão maltratado em relação a cultura, tenta ressurgir..

É difícil fazer cultura na Ilha e quem me acompanha sabe disso. Por ser um bairro ligado ao resto do "continente" apenas por uma ponte acaba se afastando culturalmente e porque não, socialmente também. Quem é do Rio de Janeiro e frequenta a Ilha sabe que é diferente. O insulano vive num mundo a parte, a Ilha é a sua cidade mesmo sendo um bairro com seus costumes e mistura de cidade grande com interior.

A cultura sofre com isso. Sofre porque não tem intercâmbio. Poucos são os espaços culturais na Ilha, locais para apresentações e dessa forma permitir que novos artistas surjam, principal, que um público amante das artes surja. O insulano tem que cruzar a ponte para ver cultura e aí vem a dificuldade que citei em cima por ser distante do restante da cidade. Não ocorre o intercâmbio porque como não tem espaço não vem ninguém de fora e dessa forma a cultura vira coisa de abnegados, resistência.

Até existem espaço culturais aqui muito mal aproveitados. O Colégio Cenecista Lemos Cunha tem um bom teatro que já recebeu diversas peças importantes e está fechado. O Colégio Óperon tem um bom teatro e inclusive minha cia de teatro se apresentou lá em abril. Mas também é uma dificuldade enorme se apresentar no espaço tanto que era para fazermos cinco apresentações e só fizemos uma.

Tinha o Gatig que foi uma respeitável cia de teatro e a casa da Tia Elbe criada pela dramaturga Elbe de Holanda, também criadora do Gatig. Ambos acabaram.

Pra finalizar a Lona Cultural Renato Russo. Espaço importante que abrigou shows e peças de teatro e estava fechado.

Estava, no passado, e é um dos pontos que acho que pode mostrar uma retomada.

A lona virou arena. O espaço está muito mais bonito, bem cuidado, iluminado, com salas reformadas para as oficinas de arte e o espaço de apresentação deixou de ser de lona, que danifica bem mais rápido, e agora é de madeira, ferro, e tem ar condicionado.

Foi inaugurada no último domingo com a esperança de ser a casa da cultura na Ilha do Governador. A ponta de lança de uma retomada que vem ocorrendo. Pessoas guerreiras como o diretor teatral Gilberto D`Alma e o músico Marcelo Mendes comandam o "Polo Cultural da Ilha do Governador" que todas as semanas faz espetáculos de dança, teatro, saraus, abre espaço para todas as artes no Colégio Passaredo do Jardim Guanabara. No último domingo (mesmo dia da inauguração da arena) fez homenagem a algumas pessoas que vem trabalhando pela cultura do bairro e eu fui um dos homenageados.

Também tem o ator e diretor de teatro Johnny Lima que faz um importante trabalho de integração social com o seu "Se Liga Cia de Teatro". Tem a diretora Carol Gomes e seu grupo de teatro para crianças, o bailarino João Ricardo e sua cia de dança, vários artistas que mesmo sem espaço vem movimentando o cenário artístico da Ilha do Governador e desde o ano passado a FLIG, Feira Literária da Ilha do Governador, que reúne os escritores e artistas em geral do bairro comandados por Pedro Santoro e Giano Azevedo.

Além disso tem a única cia teatral adulta do bairro, "Os Carolas", que vem apresentando minha peça "Dona Carola" pelo bairro e com expectativas para outras regiões do Rio de Janeiro.

A cultura da Ilha resiste. Com pouco apoio político, poucos espaços, se apresentando onde dá, mas com muita vontade e talento. Talento sim, de sobra, vontade sim, mais ainda e agora estes artistas tem esperança com essa nova arena.

Que seja um recomeço pra cultura da Ilha do Governador. Para o bairro em si já que a cultura é prima irmã da educação e pode fazer muito pela população gerando empregos e tirando crianças de um caminho ruim lhes dando oportunidade de um futuro melhor.

Cultura pode não dar votos, mas faz cidadãos.

Talvez alguns tenham medo por isso.


Comentários

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  4. A cena cultural insulana está em uma boa fase de fomentação, com novos grupos teatrais surgindo. Espaços alternativos, públicos e particulares, sendo criados para os artistas se apresentarem de forma digna e com conforto para o público. Muito Louvável! Só nos falta um teatro de fato, pra esse momento do bairro se tornar perfeito. Bom de ver e de participar dessa Retomada Cultural ao lado de tantos colegas comprometidos e talentosos. Obrigado Aloisio Villar, pela referencia ao meu nome e ao Se Liga Grupo De Teatro, projeto que criei à três anos com objetivo de dar minha contribuição a arte que tanto amo. Fui Chancelado pela Prefeitura do Rio de Janeiro em 2015 e 2016 pelo trabalho realizado. Ah, lembrando que dirigi e atuo também junto com "Os Carolas", na versão Carioca de "Dona Carola" Peça de sua autoria. Uma honra dirigir esse projeto de teatro tão bacana! Estou aí, na certeza de que onde a arte se manifesta a violência se distancia, sigo em frente. Evoé!

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