DINASTIA: CAPÍTULO XVIII - VOLTANDO AS ORIGENS
Pepino ficou sentado no local aterrorizado
com o carro em chamas enquanto as pessoas que acompanhavam a corrida chegaram
ao local assustadas. Perceberam o carro pegando fogo e viram o tamanho da
tragédia.
Bianca ao ver o carro do namorado em
chamas começou a gritar por seu nome e tentou se aproximar do veículo. Amigos
impediram e Bianca viu Pepino sentado. Começou a gritar “assassino”.
Felipe e Josué se aproximaram do amigo
e lhe puxaram do chão para irem embora antes que a situação piorasse. Mas ela
piorou com a chegada da polícia.
Os
bombeiros e o carro do IML chegaram logo depois e todos os envolvidos no “pega”
foram levados para a delegacia.
Pela gravidade do caso Pepe Granata
pessoalmente foi com advogado até a delegacia ver o que ocorria. Conversou com
o delegado e viu Pepino sentado no lado de fora com cabeça baixa. Aproximou-se
do filho.
Pepe sem nenhum gesto de carinho mesmo
vendo o sofrimento de Pepino apenas disse “dessa vez você se superou”. Pepino
sem olhar o pai jurou que não tinha culpa e Pepe respondeu que da morte mesmo não,
pelo menos juridicamente, mas na consciência sim.
Pepino chorando contou que não queria
que Rubens morresse. Pepe comentou que conversara com o delegado e ele estava
liberado, poderiam ir embora.
Foram embora, mas o problema não.
Pepino foi hostilizado no enterro de Rubens e também era nas ruas a ponto de
levar cuspida na cara de uma senhora. Cecília preocupada com a situação do
filho pedia para que o marido fizesse algo, mas Pepe respondia que não podia
fazer nada contra o povo.
A situação de Pepino estava
insustentável quando Pepe arranjou uma solução e chamou o filho para conversar
no escritório.
Pepino sentou-se e Pepe comentou que
não tinha mais como o filho permanecer em Feital. Ligou para o irmão Oscar e
ele passaria um tempo com o tio. Pepino ainda indagou “O comunista? Eu não
quero morar na União Soviética!!”.
Pepe respondeu que ele não estava mais
no país, estava na Itália e seria a única solução, ele passaria um tempo por lá
e voltaria quando a situação acalmasse. Cecília entrou no escritório e
concordou com Pepe que era a melhor decisão.
Pepino resignado perguntou quando iria
e o pai respondeu “amanhã”. O rapaz tentou alegar que era muito em cima, mas
Pepe completou que quanto mais cedo ele fosse melhor.
Dessa forma Pepino subiu e arrumou as
malas para partir. Enquanto arrumava suas coisas bateram na porta. Era Mariana.
Mariana sorriu e maliciosamente
perguntou “Pensou que não viesse me despedir?”. Pepino sorriu de volta e
respondeu que já esperava a “titia”. Mariana entrou, fechou a porta e os dois
fizeram amor.
Mariana era amante de Pepino já havia
algum tempo. A menina
que foi socorrida por Pepe e Oscar na
revolução de 1932 se transformara numa linda e fogosa mulher sendo a primeira
da vida de Pepino. Ela fez com o rapaz o mesmo que Constância fez com Pepe.
Deitados na cama Mariana perguntou como
Pepino se sentia. O rapaz respondeu que estava mal por Rubens, mas
principalmente por Bianca lhe odiar.
Mariana riu e disse que a menina não
lhe odiava. Pepino perguntou como ela sabia e a moça respondeu “conheço as
mulheres”. Completou dizendo “não desista”.
No dia seguinte na hora de partir
passou pela casa de Bianca. Bateu na porta da moça que abriu e ao ver quem era
tentou fechar a mesma com Pepino impedindo com o pé. O rapaz comentou que
estava indo embora, mas voltaria pra casar com ela. Roubou-lhe um beijo e partiu.
No aeroporto despediu-se do pai, da mãe
e se despediu prometendo voltar um novo homem. Do avião olhava a janela e procurava
nas nuvens sua paz, a paz que nunca encontrara na vida.
Chegou à Itália com as malas procurando
a família e logo encontrou Oscar acompanhado da esposa e do filho. Oscar deu um
abraço em Pepino e comentou que o rapaz era a cara do pai. Pepino envergonhado
respondeu que esperava que isso fosse bom e Oscar deu um abraço no sobrinho
conduzindo o rapaz ao carro.
No caminho Pepino via Nápoles, uma
cidade diferente da que o avô Salvatore deixara mais de meio século antes.
Oscar falava das
belezas do local e como a cidade lhe
faria bem enquanto Pepino tentava se imaginar no lugar de Salvatore e vivendo
todas as suas histórias, revivendo suas emoções.
Pepino estivera lá bem criança quando
Pepe jogara as cinzas de Salvatore no mar, mas não lembrava de nada e tudo era
novidade pro rapaz.
Chegaram na casa. Uma casa modesta, mas
confortável e Pepino perguntou se o tio ainda era comunista. Oscar sorriu e
respondeu que o comunismo não se deixava de ser, estava na alma.
Oscar tinha um açougue com frigorífico
nos fundos do estabelecimento na região e Pepino começou a trabalhar com o tio.
Tudo planejado por Pepe que queria que o filho trabalhasse, pegasse pesado no
batente para dar valor ao dinheiro.
Acordavam bem cedo junto com o Sol e
partiam para o açougue. Lá realmente Pepino pegava duro. Carregava peças
inteiras de carne no frigoríficos com temperatura abaixo de zero. Fatiava,
vendia, fazia de tudo no açougue e no final do dia ia pra casa com Oscar. Sua
tia já lhes esperava com macarronada, vinho e Oscar contava histórias.
Ia dormir esgotado, mas sabendo que
tentava pela primeira vez na vida fazer a coisa certa. Pensava voltar outro
homem para o Brasil.
Nas horas de folga gostava de sentar
perto do mar mediterrâneo e olhar suas águas. Pepino nunca entrava na água, não
sabia nadar, mas gostava do mar que lhe acalmava e trazia paz ao coração.
Pensava em Bianca, gostava da moça de
verdade e queria se tornar alguém por ela.
Um dia trabalhava sozinho quando uma
moça entrou falando em italiano que queria um quilo de picanha. Pepino pediu
que ela falasse devagar, pois, ainda aprendia a língua. Oscar saiu de dentro do
frigorífico rindo e disse em português “Oi Marta”.
A moça sorrindo respondeu o cumprimento
em português e espantado Pepino perguntou se ela sabia a língua. Oscar
respondeu por ela contando que era brasileira e Marta riu.
Marta estendeu a mão para cumprimentar
Pepino e pediu desculpas pela brincadeira. Disse saber que ele era sobrinho de
Oscar e passava um tempo na Itália. Pepino levou na esportiva e cumprimentou a
moça dizendo que a brincadeira era boa e ele tinha caído direitinho.
Vendo o que poderia surgir ali Oscar
perguntou se Marta não queria jantar com eles naquela noite. A moça olhou para
Pepino e respondeu que seria um prazer. Oscar então marcou as oito.
Jantaram felizes. Marta e Pepino toda
hora se entreolhavam como se um sentimento despertasse. Esperto logo após Oscar
pediu que Pepino levasse a moça em casa, pois, já era tarde e ficava perigosa
sua volta.
Caminharam naquela noite fria do
inverno italiano de 1955 até a casa da moça. Ao chegar na frente do local Marta
comentou que o rapaz parecia James Dean. Pepino sorriu e perguntou se ela
queria ir ao cinema com ele ver “juventude transviada”.
Marta sorriu e respondeu que adoraria.
Pepino contou que depois do trabalho passaria em sua casa e lhe
buscaria. Deu um beijo em seu rosto e pediu que ela entrasse.
Marta entrou encantada e Pepino
caminhou de volta feliz. Sentia-se
revigorado com Marta, aquela doçura
inocente. Ainda amava Bianca, mas via que Marta poderia balançar seu coração.
No dia seguinte trabalhou com afinco e
perguntou ao tio se ele poderia adiantar algum dinheiro para ir ao cinema com
Marta. Oscar sorriu de satisfação com a notícia e entregou o dinheiro mandando
que o rapaz fosse um gentleman com a moça.
E Pepino foi. Na hora marcada estava na
porta de Marta esperando a moça com um buquê de flores. O pai dela fez uma
série de recomendações e Pepino prometeu que chegaria com Marta em casa na hora
exigida. Saíram e foram para o cinema.
Assistiram “Juventude transviada” com
James Dean e no meio do filme Marta chorava vendo o astro na telona. Pepino se
encheu de coragem, colocou a pipoca de lado e pegou na mão da moça.
Marta chegou a tirar a mão, mas depois
voltou com a mesma e tocou a mão de Pepino que a segurou firme.
Depois do filme caminharam e sentaram
em uma praça. Marta lamentou que o rapaz morrera tão jovem e Pepino citou sua
célebre frase “Viva intensamente, morra jovem e seja um lindo cadáver”.
Marta perguntou o que Pepino pensava da
morte e o rapaz respondeu que não pensava na mesma, tinha coisas mais
importantes para pensar como no amor e na vida. Marta comentou que que pensava sempre na morte e achava que não viveria muito.
Pepino mandou que a moça parasse de
besteiras, olhou a hora e
disse que estava na hora de partirem.
Caminhavam conversando animadamente
quando foram cercados por dois homens anunciando assalto. Marta se desesperou mandando
que Pepino entregasse tudo e o rapaz de forma ágil arrancou o canivete de um
deles dando um soco em seu rosto. O outro partiu para cima dele e Pepino também
lhe deu um soco. O rapaz sempre fora muito bom de briga e com os músculos mais
fortalecidos devido o açougue ficou ainda melhor.
Brigou sozinho com os dois e levou
vantagem. No fim os dois homens correram apavorados e Marta deu um abraço em
Pepino agradecendo.
Chegaram na casa de Marta na hora
marcada e antes que ela entrasse agradeceu a Pepino pela companhia e por
defendê-la. Pepino respondeu que faria tudo aquilo quantas vezes ela quisesse e
tentou beijá-la.
Marta desviou o rosto e pediu que ele
não insistisse, pois, não estava na hora. Pepino se desapontou, mas mostrou
entender a moça contando que esperaria o tempo que precisasse e pedindo para
que ela entrasse antes que o pai reclamasse.
Marta constrangida com o ocorrido se
despediu e entrou. Pepino exalando frustração foi embora se perguntando o que
James Dean faria em seu lugar.
No
dia seguinte trabalhava normalmente no frigorífico do açougue carregando peças quando Oscar pediu que
ele fosse até o balcão porque tinha um homem querendo falar com ele.
Pepino foi até o balcão e um homem de
bigode, baixo e sorriso largo apertou sua mão se apresentando como Dória.
Desconfiado Pepino respondeu que o
prazer era dele e perguntou o que o homem desejava. Dória sorriu e comentou que
vira tudo o que ocorreu na noite anterior, a tentativa de assalto que ele
recebeu.
Pepino não comentara sobre a tentativa
de assalto e Oscar preocupado perguntou o que ocorrera. Pepino desconversou
respondendo que não fora nada demais e ele tinha resolvido. Dória completou que
o rapaz tinha resolvido muito bem nocauteando os dois ladrões.
Olhou para Pepino e perguntou
“Nocauteou muito bem, nunca pensou em lutar boxe?”. Pepino riu e respondeu que
nunca fora adepto de esportes e Dória comentou que poderia ganhar muito
dinheiro no boxe.
Pepino não se mostrou muito interessado
e Dória insistiu. Falou de várias vantagens, que o rapaz devia pelo menos
tentar e deixou seu cartão com telefone e endereço da academia.
Depois que o homem partiu Pepino ficou
olhando o cartão e perguntou ao tio o que devia fazer. Oscar respondeu que só
ele poderia saber.
Naquele mesmo dia Pepino apareceu na
academia de boxe e Dória viu o rapaz de longe. Aproximou-se dizendo que ele era
bem vindo e Pepino respondeu que era nada certo,
ele só queria ver como era.
Dória mandou que o rapaz ficasse a
vontade e Pepino observou o treino dos boxeadores. Olhou por bastante tempo, se
fascinou com o que viu e no fim despediu-se de Dória. O homem convidou rapaz
para voltar no dia seguinte e treinar e ele respondeu que pensaria no que
fazer.
No dia seguinte pediu a Oscar para sair
mais cedo e voltou à academia. No local chegou em Dória e disse que queria
tentar.
Pepino passou a dividir seus dias entre
o trabalho com Oscar, os treinos na academia e os passeios com Marta que ainda
se recusava a beijar. A moça perguntava se Pepino sabia o que estava fazendo e
se o boxe não era perigoso. Pepino respondeu que era a chance de ser alguém,
mostrar seu valor independente do pai.
Teve sua primeira luta marcada e
treinou com afinco. No dia da luta Oscar, esposa, filho e Marta estavam
presentes para dar uma força ao rapaz.
Pepino que nunca fugira de uma boa
briga mostrou que era bom mesmo de luta. Subiu ao ringue e não demorou muito
para nocautear o adversário. Passou a ser a “menina dos olhos” de Dória.
Dória fez uma festa em homenagem a
Pepino. Deu-lhe um dinheiro proveniente de sua bolsa e Pepino empolgado
perguntou quando era a próxima. Dória riu da empolgação do rapaz e respondeu
que seria no mês seguinte em Roma.
Pepino se espantou com a resposta e
perguntou “Roma?”. Dória respondeu que sim, era hora de vôos
mais altos e pegaria um adversário mais a sua altura. Pepino sorriu empolgado
com a nova carreira e respondeu que topava.
Pepino deixou o trabalho no açougue e
começou a dedicar-se o dia todo aos treinos. Marta se preocupava, mas não deixava
o lado do rapaz sempre lhe incentivando. Pepino mandava cartas à família
contando sobre sua vida na Itália e como se tornaria um campeão.
Aos amigos perguntava sobre Bianca e os
amigos respondiam que estava bem e solteira. Pepino se dividia entre a Itália e
Brasil, Marta e Bianca. Gostava cada vez mais da vida na Itália e já não sabia
o que fazer de seu futuro.
Chegou o fim de semana da luta e Oscar
não foi devido o trabalho, mas foi ao aeroporto desejar boa sorte a Pepino que
viajou acompanhado de Dória e Marta que
mentiu para o pai contando que viajaria com uma amiga para um chalé.
Os três foram para um luxuoso hotel no
centro de Roma, mas Marta não quis ficar ali e preferiu ir para um mais modesto
e pagar com seu dinheiro. Queria casar virgem e nem mesmo beijo cedia. Aquela
situação já incomodava Pepino que descarregava sua adrenalina e vontade no
boxe.
O momento da luta chegou. No vestiário
Dória desejou boa sorte, contou que o ginásio estava cheio e ele receberia um
ótimo dinheiro em caso de vitória.
Pepino subiu no ringue decidido e não
se importou do adversário ser maior que ele. A luta começou e partiu pra cima
do outro lutador.
Conseguiu derrubar o adversário
rapidamente vencendo a luta.
Dória deu uma grande festa em seu
quarto no hotel e Pepino bebeu muito. Marta se incomodou com aquela situação e
pediu para voltar ao hotel que estava hospedada. Pepino se ofereceu para
levá-la e Dória em seu ouvido falou “boa sorte garoto”.
Pepino levou Marta até o quarto e o
rapaz bastante bêbado pediu para usar o banheiro. Marta contrariada deixou que
o rapaz entrasse. Pepino foi ao banheiro e ao sair do mesmo Marta pediu que ele
fosse embora, pois, estava cansada.
Pepino riu e comentou que só iria
embora depois de um beijo. Marta irritada respondeu que ele sabia muito bem que
só faria essas coisas depois de casada. Pepino puxou a moça e lhe deu um beijo
a força. Marta ao se soltar deu um tapa na cara do rapaz.
Pepino rindo passou a mão no rosto e
disse que gostava de mulher selvagem. Tentou agarrar Marta que se desvencilhou.
A moça desesperada pedia que Pepino parasse, mas ele respondeu que não e que
ela seria dele naquela noite. Marta gritava por socorro, mas em vão, era
madrugada e todos dormiam.
Foi para sacada e gritou por socorro.
Pepino respondeu que não adiantava, ninguém ouviria e não teria como fugir.
Marta ficou sem saída entre a sacada e Pepino e o rapaz lhe agarrou beijando
seu pescoço e acariciando seu corpo.
Marta chorando pedia que Pepino parasse
e o rapaz não lhe dava ouvidos. De repente ela deu uma joelhada nas partes
íntimas de Pepino que parou.
Em desespero para se livrar de Pepino
Marta pulou da sacada. Pulou do décimo segundo andar.
Morte imediata.
Pepino se desesperou e foi até a beira
da sacada. De lá viu o corpo de Marta estirado no chão ensanguentado. Como por
encanto sua bebedeira passou e percebeu a enorme besteira que fizera.
Vomitou no chão, andou atordoado pelo
quarto sem saber o que fazer até que viu a única solução possível. O telefone.
Pegou o telefone e ligou para o pai,
para Pepe Granata.
“Pai, me ajuda, estou com um problema
sério”.
As confusões não acabavam na vida de
Pepino.
CAPÍTULO ANTERIOR:
Comentários
Postar um comentário