AMOR: CAPÍTULO IX - VIDA DE CASADO
Estava
casado com meu amor, minha Camila. Nem acreditava. Descemos na frente do hotel
que reservamos sob os aplausos de todos do busão e peguei minha mulher no colo
para entrar. O elevador estava quebrado, mas não teve problemas. Subi os oito
andares com Camila nos braços fazendo o melhor exercício de minha vida.
Enquanto
isso Osmar chegou em casa e encontrou Suely na sala ouvindo música. Suely
reclamou que o marido chegou tarde e enquanto ele subia a escadas respondeu
“Nossa filha estava linda”.
Suely
retrucou “Não tenho filhas” e antes de subir Osmar finalizou “Que pena porque
eu tenho e ela realmente estava linda”.
O clima
não estava bom entre Osmar e Suely e eu não entendia o porque daquele homem tão
poderoso, rico, que conseguiu virar alguém na vida por suas próprias forças se
deixava dominar daquela forma.
Mas eu
estava feliz. Isso que me importava.
No dia
seguinte pegamos mochilas e fomos até a rodoviária. Tinha comprado passagens
para Penedo e passaríamos um fim de semana em um albergue. Tentávamos achar
nosso ônibus no meio daquela confusão de véspera de feriadão quando demos de
cara com Osmar.
Ficamos
surpresos. Camila perguntou o motivo do pai estar ali e Osmar sorrindo
respondeu “não deixaria minha única filha sem presente.
Osmar
pegou de dentro do terno um envelope e entregou na minha mão dizendo “cuide bem
da minha filha”. Virou-se e começou a andar para ir embora. Abri o envelope e
havia duas passagens de avião para Veneza.
Camila
gritou pelo pai e foi atrás dele. Osmar parou e Camila sem entender perguntou
“por quê?”. Osmar deu um abraço em Camila, um beijo em sua testa e respondeu
“Não sou sua mãe, nunca vou lhe abandonar”.
Osmar se
virou de novo, continuou a caminhar e falou “também tem presente em sua conta”.
Tinha um
dinheiro bom ali para curtirmos Veneza.
A
pergunta de Camila não era porque do presente, mas porque de um cara tão bacana
aceitar passivamente um casamento como aquele.
Fomos
para o aeroporto. Os dois com mochilas no saguão de embarque tendo um monte de
gente chique no local. Mas duvido que tivesse alguém mais feliz que nós ali.
Lá no
saguão me lembrei de duas coisas. A primeira que nunca andara de avião na minha
vida. Lembrando que aquela viagem pela América do Sul foi de ônibus e caronas.
A segunda
é que morria de medo de aviões.
Tenso,
entrei no ônibus com Camila que nos levaria ao avião. Fiquei quieto o
tempo todo e minha esposa comentou “Parece o começo daquele filme que o cara
para numa prisão turca, lembra? Acho que é expresso da meia noite”.
Dei um
sorriso amarelo confirmando que lembrava do filme e Camila notou que eu não
estava bem perguntando “O que você tem? Ta com drogas aí não né?”.
Antes
fosse..tava me cagando de medo mesmo.
Chegamos
em frente ao avião e comentei “Pequeno né? Parece aquelas vans de transporte
alternativo”. Camila sorriu e disse que era bem seguro. Não aguentei e falei
“Invenção de brasileiro? Movido a explosão e mais pesado que o ar?”. Camila
rindo perguntou se eu estava com medo e também rindo respondi “E eu vou ter
medo de alguma coisa?”.
Sim.
Tinha.
No avião
o mesmo começou a andar e fazer todo aquele procedimento de subida. Eu queria
gritar pela minha mãe, mas continuava com o mesmo semblante, normal. Camila,
animada, contava do quanto gostava de viajar de avião e de uma turbulência que
pegara uma vez.
O avião
começou a subir, aquela pressão toda no rosto, no ouvido e eu com medo peguei forte na mão de Camila.
Ela olhou para o lado e percebeu meu estado. Em vez de rir de mim apertou mais
forte ainda minha mão mostrando a companheira que era.
Deixou
pra me gozar na descida.
Osmar
enquanto isso resolveu fazer compras.
Parou o
carro do nada no subúrbio, desceu e entrou em um mercado. Olhou bastante para a
prateleiras e resolveu pegar um pote de sorvete de chocolate se encaminhando
para a caixa.
A caixa
era minha mãe.
Osmar
esperou pacientemente na fila até que chegasse a sua vez. Falou boa tarde para
minha mãe que sem olhar quem era respondeu. Dona Hellen passou o produto e
disse quanto era.
Osmar não
tirou o dinheiro. Continuou olhando para ela que sem receber o dinheiro
levantou os olhos para repetir quanto fora o sorvete.
Viu Osmar
sorrindo.
Dona
Hellen olhou séria para ele e disse “o dinheiro senhor”. Ali apenas Osmar
percebeu que ela não lhe reconhecera e perguntou “Não se lembra de mim né?”.
Minha mãe
olhou mais um tempo e sem ter a resposta ele mesmo disse “Sou pai da Camila”.
Minha mãe então lembrou e respondeu “Desculpe, não lembrei, só vi o senhor duas
vezes e nas duas estava nervosa”.
Foram no
dia da clínica e no casamento que os dois se viram.
Osmar sorriu
novamente e minha mãe de novo disse quanto era o sorvete. Osmar percebeu que
não fizera sucesso e decidiu tirar o dinheiro do bolso e pagar. Enquanto saía
com o sorvete minha mãe lhe
chamou para fazer uma pergunta.
“O senhor
não mora muito longe para vir aqui comprar sorvete?”.
Osmar
sorriu, apontou a marca e respondeu “Estava difícil achar essa marca”.
Saiu do
mercado. Olhou mais uma vez pra dentro avistando minha mãe e partiu.
Algo
estava começando a ocorrer.
Eu e
Camila curtíamos Veneza. Andávamos de gôndola e tirávamos fotos de tudo,
principalmente de nossa felicidade. Me senti como o Antonio Fagundes com a
Regina Duarte em “Por Amor” passeando de gôndola feliz, sorrindo e tocando “Per
Amore”.
Em um
restaurante ouvíamos um sujeito com a cara do Julio Iglesias cantando Pepino
DiCapri em silêncio quebrado por Camila.
“Você é
feliz?”
Não
entendi a pergunta de minha esposa e pedi que repetisse. Ela repetiu e respondi
“Sim, claro, to com a mulher que amo”. Repeti a pergunta e ela tomando milk
shake respondeu “hoje sim”.
Perguntei
o porque da pergunta e da resposta dela. Séria Camila parou de beber o milk
shake, me olhou e respondeu:
“Não
acredito em felicidade e sim em momentos felizes. Estamos em um momento feliz,
mas assim como os tristes ele passa”.
Continuei
sem entender e perguntei se ela queria dizer que não seríamos felizes. Camila
completou “Seremos felizes, seremos tristes. Cabe a nós tirar o melhor de cada
situação”.
Fiquei
sem entender aquilo e vendo minha confusão brincou “Sou feliz com você em
qualquer canto. Poderia ser em Penedo, fui em Veneza”. Ri e ela perguntou “me
ama?”. Respondi “Pra sempre”.
Ela me
deu um beijo, continuamos a ouvir as músicas e eu fiquei encucado com aquilo.
Voltamos
para o Brasil e fomos direto para casa da minha mãe. Não tínhamos muita grana
então viveríamos lá. Dona Hellen resolveu preparar uma feijoada e foi na rua
comprar uns produtos que faltavam enquanto eu e Camila nos beijávamos na sala.
A
campainha tocou e levantei para atender. Era Osmar.
Fui
surpreendido com sua presença e só disse “Oi doutor”. Camila viu a presença do
pai, abriu um sorriso e foi ao seu encontro lhe abraçando e beijando. O homem
perguntou se podia entrar. Camila me perguntou se sim e eu surpreso respondi
“Sim, claro”.
Osmar
entrou e logo depois minha mãe entrou com os produtos. Ao ver dona Hellen Osmar
abriu um sorriso e perguntei “Lembra dela doutor?”. Osmar pediu que não lhe
chamasse mais de doutor e minha mãe perguntou se ele gostara do sorvete. O
homem respondeu que sim, era do jeito que ele gostava e nada entendemos.
Osmar
acabou sendo convidado para a feijoada e no surpreendeu ajudando minha mãe a
prepará-la. Ao ser questionado por Camila Osmar
respondeu “Eu morava em favela minha filha, fazia feijoada em um bar todos os
domingos”.
A
feijoada ficou divina e no meio dos elogios Camila perguntou pela mãe, Osmar
respondeu “Não vim falar dela, vim falar de coisas boas, vim falar de vocês”.
Antes que
falássemos algo Osmar sacou uma chave do bolso e disse “Esse presente é para
vocês” entregando a Camila. Minha esposa perguntou o que era e ele respondeu
“Um apartamento em Ipanema. Por mais que aqui seja acolhedor e dona Hellen
cozinhe tão bem um casal novo precisa do seu espaço”.
Nem
conseguimos respirar para responder algo e ele completou perguntando “Trabalha
em que Antonio?”. Gaguejando respondi que era Dj, tocava em festas do bairro.
Osmar me
interrompeu dizendo “Desculpe, mas genro meu não pode ser Dj. Camila está
acostumada com nível, uma vida confortável”.
Camila
protestou, minha mãe perguntou quem ele pensava que era para falar daquela
forma e enquanto Osmar colocava mais couve e farofa no prato continuou:
“Calma
gente. Quis dizer que ela estava acostumada com nível e você mesmo Antonio, me
parece um rapaz inteligente, capaz e que merece o melhor. Passe a cerveja pra
mim”.
Passei e
ele completou “Venha trabalhar na minha empresa, no meu escritório”.
Não soube
responder, apenas disse que nem sabia o que fazer no escritório e enquanto
botava mais cerveja no copo Osmar respondeu “Aprenda, você não é capaz?”
Respondi
que era e ele completou “Então aprenda”.
Na volta
pra casa Osmar encontrou uma Suely enfurecida perguntando onde ele estava.
Osmar respondeu “comendo feijoada” e antes que a mulher tivesse qualquer reação
disse “Dormirei hoje no quarto de hóspedes”.
Segunda
cedo estava no trabalho para aprender. Osmar quis me dar um cargo de gerência,
mas eu não quis, queria mesmo aprender por baixo. Osmar colocou um de seus
homens fortes chamado Ananias para me orientar e lhe via com cara fechada,
jeito ríspido no trato comigo, além de outros funcionários que me tratavam com
frieza.
Tentava
descobrir o motivo, mas não foi difícil perceber que era por ser genro do dono.
Chamei Ananias em um canto e perguntei se eles tinham algum problema comigo. O
homem respondeu que não, mas devolvi dizendo que não era um moleque bobo e
percebia o que ocorria.
Ananias
confirmou minhas suspeitas e disse “Você é genro do homem, protegido dele, o que
pra você é brincadeira pra gente é ralação e trabalho”.
Muito
sério devolvi “Pra vocês é ralação e trabalho. Pra mim é ralação, trabalho e
busca de adquirir confiança. Porque assim como vocês eu vim de berço pobre e
preciso disso aqui pra sobreviver. Doutor Osmar é uma pessoa séria e não será a
filha dele que me garantirá
nada. Preciso aprender e conto com vocês”.
Naquele
dia ganhei a confiança de Ananias e de todos.
A vida
estava bacana, não tinha do que me queixar. Tinha um trabalho legal onde
ganhava bem e conseguia aprender mais o ofício a cada dia. Morava na praia de
Ipanema e tinha uma vista linda me esperando todas as manhãs quando acordava.
E tinha
ela.
Minha
vida com Camila não podia ser melhor. Era a mulher da minha vida e todos o dias
tinha mais certeza disso.
No nosso
primeiro mês de casados ela entrou em casa e viu velas acesas desde a porta até
chegar na sala. Ambiente escuro até que ela chegasse na sala e ligasse o
interruptor.
Eu de
chapéu Panamá e terno me virei, liguei o cd player e nele começou a tocar Lets
stay together na voz de Al Green.
Dublei,
representei a música toda cantando para meu amor e no fim lhe dei um beijo.
Nos dois
meses de casados, ela já com uma barriguinha. Entrei no apartamento e encontrei
velas como fizera. Fui até a sala, liguei o interruptor, mas não a encontrei.
Apenas
tinha um bilhete “Sua janta está na cozinha”.
Estranhei
o bilhete, sua ausência e forma fria do comunicado. Fui até a cozinha pensando
se algo ocorrera e liguei a luz.
Camila
estava sentada em cima da mesa com uma camisolinha preta presa apenas por um
botão. Soltou o botão, tirou a calcinha e se deitou na mesa dizendo “vem
jantar”.
Assim era
nossa vida. Assim era nosso amor.
Os meses
foram passando e a hora do nascimento chegando. Quando estava próximo dos nove
meses Camila passeava por um shopping escolhendo roupinhas para o bebê, que ela
fez questão de não saber o sexo, quando deu de cara com a mãe e uma amiga.
Camila se
aproximou e disse “oi mãe”. Suely não deu atenção e continuou conversando com a
amiga. Camila insistiu e Suely ironizando comentou com a amiga “Ta ouvindo
alguma coisa? Eu hein? Acho que tem assombração aqui”.
As duas
começaram a andar. Camila chorando suplicou “mãe, por favor”. Mas Suely
continuou andando deixando a filha pra trás.
Camila,
chorando muito, botou a mão na barriga e me ligou dizendo que precisava de
ajuda.
Levei
minha esposa para o hospital e tenso liguei para Osmar e minha mãe. Rapidamente
o hospital estava cheio com familiares e amigos. Eu não entendia o porque
daquilo tudo ocorrer e o médico saiu para dizer que ela estava em trabalho de
parto.
Me
desesperei. Respondi que ela nem estava de oito meses ainda e ao lado de minha
mãe rezei para que Deus protegesse Camila e meu filho.
Depois de
horas o médico saiu para dizer que o bebê tinha nascido.
Era
prematuro e por isso ido para uma UTI. Um menino.
Perguntei
por minha esposa enquanto todos comemoravam. O médico respondeu que perdera
muito sangue e estavam tentando estancar a hemorragia.
Foram
mais algumas horas de agonia rezando pela saúde de Camila e nosso filho. Pedi
pro anjo Gabriel proteger o dois prometendo dar o nome do anjo para o bebê. A
primeira a se recuperar foi Camila. Nosso Gabriel foi pra incubadora.
Dois dias
depois Camila recebia alta e saíamos com a frustração de não ter nosso filho no
colo. Não deve existir frustração maior para uma mãe que sair da maternidade
sem seu filho. Íamos todos os dias até o local, Camila fornecia seu leite para
que nosso filho se fortalecesse.
Até que
um dia ele se fortaleceu e recebeu alta.
Gabriel,
nosso anjo Gabriel, nosso pequeno guerreiro Gabriel, tão pequenino e tão
valente foi para casa e entrou de uma forma avassaladora em nossas vidas. Era o
que faltava para deixar nossas vidas perfeitas.
Não
éramos mais apenas Camila e Antonio, éramos uma família agora. Tínhamos um
menininho fruto de nosso amor para criar.
Um dia
Camila dormia e eu acalentava nosso pequeno Gabriel em meu colo na cadeira de
balanços. Ele dormia e eu pensava no conceito de felicidade que um dia minha
mulher falou.
Se a
felicidade era provisória eu tinha que aproveitar.
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Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirNem sabia que tinha algo parecido de Drummond rs Quer dizer que estou certo rsrs Obrigado amor
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirSempre amor..
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