XXV - A batalha final
Abri mão da ética, dos meus princípios, ganhei dinheiro como nunca na minha vida, colei em pessoas poderosas, me vendi...
..e perdi meus pais, Juliana e Rebeca. Ganhei muito, perdi tudo. O preço foi alto.
O atentado no metrô foi o basta pra sociedade reagir, como eu disse o poder público tomou a Lacraia e o Trololó. Pardal e Lucinho fugiram e se refugiaram em favelas aliadas. A ambição destemida deles e a vaidade extrema levaram até aquela situação caótica.
Aos poucos a polícia foi deixando as favelas e eles voltaram. Com isso a guerra no local voltou junto. Lucinho atacou o Trololó e as traçantes de lado a lado, tiros, granadas, pessoas nervosas fugindo desesperadas voltavam ao cotidiano das comunidades. Mas como ficava uma situação presa a camada pobre da zona norte o governo não se importou tanto.
O governo só se importa se envolver classe média ou rico, pobre que se foda.
Mas tinha uma pessoa que mesmo ganhando dividendos eleitorais não gostava nada do que ocorria. Com as guerras na Zona Oeste entre Pittinha e major Freitas e nas favelas entre Pardal e Lucinho o lucro do Senador caiu muito. As favelas não vendiam mais drogas porque o drogado não é burro ele não vai subir morro em guerra e o lucro que Getulio tinha em sociedade com máquinas de caça níquel também caía.
Chamou a mim e Douglas Severiano para uma reunião e perguntou o que devíamos fazer. Sugeri que a única solução era acabar com as guerras e chamar os quatro para uma reunião. O Senador ficou em dúvida achava arriscado juntar os quatro no mesmo local, mas Douglas concordou comigo que essa era a única solução.
Douglas em nome do Senador entrou em contato com os quatro bandidos e achamos um galpão abandonado em Santa Cruz para a reunião.
Marcamos para uma manhã de segunda-feira e na hora marcada os bandidos estavam lá com seus capangas. Uma grande animosidade tomava conta do local com Pittinha, major, Pardal e Lucinho apontando armas e se ameaçando.
Getulio pedia para que mantivessem a calma porque tinham que encontrar uma solução para que todos tivessem seu espaço no estado sem interferir no do outro e ganhar seu dinheiro.
Com a palavra “dinheiro” proferida os ânimos melhoraram mesmo com Lucinho e Pardal ainda trocando xingamentos e Pittinha olhando de cara feia pra mim lembrando-se da galhada que pus em sua cabeça.
Mesmo com eles calmos não sou bobo. Só tinha bandido ali parceiro e um queria comer o outro. Percebi que a coisa ainda poderia feder e fui andando pro lado de mansinho, me afastando um pouco do grupo.
Dito e feito se eu jogasse na Mena sena ganhava. Não se sabe de onde veio, mas um tiro foi dado acertando Lucinho em cheio. Essa foi a senha para que um grande tiroteio começasse. Eu corri e me escondi atrás de uma pilastra.
É..isso mesmo..eu atrás da pilastra lembram? Chegamos ao ponto que eu estava no começo dessa história. Eu lá me escondendo com o com o cu na mão enquanto eles trocavam tiros.
A idéia que dei pro Senador de todos se encontrarem se mostrou não muito boa, mas ninguém é perfeito.
O tiro comendo e eu escondido tentava lembrar todas as orações que esqueci ao longo da vida. Estava eu lá misturando “Ave Maria” com “Pai Nosso”, “Queremos Deus que é o nosso rei”, até lembrei-me do padre Marcelo Rossi com “erguei as mãos..” quando notei que os tiros pararam.
Esperei mais uns minutos e notei que realmente tudo silenciara. Levantei e com cuidado fui onde os bandidos estavam.
E lá encontrei muitos corpos no chão. Os corpos de todos os bandidões. Pardal, Lucinho, major Freitas e Pittinha estavam mortos. Assim como o Senador Getulio Peçanha.
Foi um final inesperado. De uma vez só os caras que comandavam a bandidagem no Rio de Janeiro estavam ali mortos na minha frente, um matou o outro. Dei uma volta pelo Galpão pra ver se encontrava alguém vivo e nada, voltei então até onde estavam os corpos.
Agachei diante deles e ri..gargalhei como há muito não fazia. Os idiotas se mataram!!! Fui até o carro do Senador sabia que ele mantinha um uísque no carro e bebendo do gargalo fiz um brinde diante dos corpos. Um brinde aos filhos da puta burros que por vaidade e ganância estavam ali mortos na minha frente.
Saquei meu celular e tirei fotos deles, meu último lucro com aqueles babacas.
Depois liguei pro correio carioca e falei diretamente com meu ex chefe contando que tinha uma bomba para ele. O homem perguntou o que era e respondi que mandaria umas fotos pelo celular e iria diretamente pra redação depois fazer um relato.
Tirei as fotos e enviei. As fotos dos quatro bandidos mais procurados do estado mortos mais a foto do ex senador líder das pesquisas pro governo.
Logo após mandar as fotos ele me ligou espantando perguntando o que significava aquilo e respondi que em alguns minutos estaria na redação e contaria tudo.
Quando senti um cheiro de queimado.
Alguém colocou fogo no galpão e as portas estavam trancadas sem ter como eu sair. As chamas logo se alastraram e eu tive que correr para o segundo andar.
Quebrei a janela com uma barra de ferro que encontrei e me joguei.
Já estava acostumado a pular janelas. Caí no chão e torci a perna. Saí correndo capengando antes que o galpão explodisse já que os carros dos bandidos cheios de gasolina estavam dentro. Consegui escapar, peguei um ônibus e fui pra redação do jornal.
Cheguei à redação e todos já me esperavam espantados. O site do jornal já estampava as fotos dos cinco com título “mortos”. Escrevi uma matéria e tive que atender a imprensa que estava toda na frente do prédio do jornal.
A polícia chegou ao local que estavam os corpos e os legistas pelas arcadas dentárias reconheceram os cinco entre os mortos. A imprensa foi ao local, mas eu já tinha dado o “furo”.
Na coletiva passei detalhes de tudo. Contei que o Senador marcou em encontro com os bandidos para delimitar espaços e negociar um cessar fogo e eu como seu assessor fui junto.
Não contei que ganhei dinheiro com o tráfico e com propinas, só era a testemunha ocular da história, virei a pessoa mais importante do Brasil naqueles dias. Dei inclusive entrevistas exclusivas para telejornais da emissora mais poderosa.
Amparei Juliana no momento difícil da perda do pai. Conduzi tudo como um irmão mais velho. Tratei do funeral e não saí do seu lado sempre com muito respeito infelizmente. Ela ainda insinuava seu amor por mim, mas eu desconversava.
O Senador foi enterrado e na noite do funeral dormi na mansão com ela. Juliana tomou um calmante e foi se deitar enquanto eu fiquei mais um pouco na sala bebendo uísque. Nisso meu telefone tocou.
Do outro lado da linha uma pessoa me agradecia pelo plano ter dado certo, já entraria no avião para seguir pro exterior e tinha um agradecimento especial na minha conta bancária.
Desejei boa viagem e desliguei. Liguei pro meu banco e tinha cinco milhões de reais a mais na conta.
Era o Senador Getulio Peçanha.
Pois é, nem tudo que contei agora foi verdade, quer dizer quase nada. Mas acho que já tenho uma amizade com vocês e sei que vocês não me entregarão. Essa história que contei acima vendi pra imprensa, polícia e pra Juliana. Agora contarei a real.
Getulio se preocupava com a situação da venda de drogas e dos caça níqueis realmente. Mas mais ainda se preocupava com sua situação judicial. A coisa estava muito feia e segundo fontes minhas a qualquer momento poderia pintar um mandato de prisão contra ele.
Getulio venceria a eleição pro governo isso eram favas contadas, mas ser governador não lhe daria imunidade ele seria preso de qualquer forma e a apostas davam que ele não tomaria posse.
Reunidos Getulio, Douglas e eu chegamos à conclusão que sua única chance era a fuga. Douglas armou uma rota de fuga do país pra Getulio, mas eu argumentei que o governo brasileiro iria fazer uma caçada em busca dele e o mais certo seria simular sua morte.
Getulio se interessou e perguntou se eu tinha um plano e respondi que sim e que poderíamos matar três coelhos com uma cajadada só. Ele perguntou como assim e eu falei que podíamos simular sua morte, matar o responsável pela morte de minha filha e sua neta e limpar um pouco o Rio de Janeiro dando essa contribuição a nossa cidade.
Getulio muito interessado no que eu tinha pra dizer pediu que eu contasse tudo e contei.
No dia do galpão realmente os ânimos estavam alterados e com o tempo amenizados já que o Senador argumentava que queria uma solução para todos.
Com todos calmos Getulio contou que fez um mapa mostrando com o que cada um ficaria e como ganhariam dinheiro o que fez os olhos dos bandidos brilharem.
Getulio pediu que eu o acompanhasse até o carro para pegar o mapa e aceitei. Abrimos as portas do mesmo para pegar e em vez de tirar um mapa de dentro entramos no veículo blindado. Era a senha.
Do segundo andar cerca de cem mercenários contratados por Getulio apareceram atirando contra os bandidos. Um grande tiroteio tomou conta do galpão enquanto Getulio, Douglas e eu assistíamos a tudo de dentro do blindado. Os mercenários conseguiram liquidar os bandidos e com o plano bem sucedido saíamos do carro.
Os mercenários colocaram suas armas nas mãos dos bandidos e eu tirei fotos deles mortos, inclusive do Senador que deitou no chão e jogou um pouco de catchup na boca para dar realismo. Tirei as fotos enquanto Douglas pagava os mercenários.
Enquanto tirava as fotos notei que Pardal agonizava, cheguei perto de sua boca e ele no meu ouvido pediu ajuda. Levantei, peguei a arma que Lucinho me deu e atirei no assassino de minha filha.
Era a ajuda que podia dar a um filho da puta como ele.
No fim todos foram embora e fiquei para ligar pro correio carioca passando as informações, colocar fogo no galpão e assim os corpos só poderem ser reconhecidos através de exame da arcada dentária. O Senador já havia subornado legistas para identificar um dos corpos como o dele.
O plano perfeito. Assim eliminamos o assassino de Rebeca, os principais bandidos do estado e Getulio fugiria com sua grana, livre, leve e solto.
Fugiria..
..se eu tivesse esquecido que ele estuprou minha mãe.
Por trás desse plano havia outro plano que armei com Douglas. Deixamos um presente no avião que levaria o Senador pro exterior.
No avião já viajando Getulio reparou em um embrulho com um envelope em cima. Pegou o envelope e abriu, nele estava escrito “com todo reconhecimento e gratidão. Douglas e Gilberto”. Ele abriu e..
..o avião fez bum, explodiu enquanto passava pelo oceano.
O Senador virou comida de tubarão e Douglas que era de total confiança de Getulio acessou suas contas e assim rachamos a módica quantia de cem milhões de reais.
No reino dos céus meu querido ex sogro e pai não precisaria de tanto dinheiro.
Fiz com que ele matasse Pardal e depois me vinguei tomando sua grana e matando.
As vezes ser ruim é bom
Graças a minha raiva reencontrei um pouco de minha índole.
Virando assassino voltei a ser uma pessoa de bem. Sim era dessa forma, uma incoerência completa, mas com fundamento.
Limpei um pouco a cidade, mas não se iludam o mundo não é violento por causa desses cinco. Eles fazem parte de um grupo que prolifera e se dissemina pela sociedade e a morte deles não significava o fim da história. O Fim da “Era da violência”.
Eu mesmo me ferrei depois dessa. Pra quem não sabe, quer dizer, todo mundo, coleciono camisas de clubes de futebol e tinha uma camisa que era doido para ter e não achava de jeito nenhum em lojas especializadas. Uma camisa do Pachuca do México.
É..eu queria uma camisa do Pachuca e consegui encontrar em uma loja no Méier. Fui correndo até a loja e comprei a camisa, saí todo feliz com a sacola quando percebi que meu carro foi roubado.
Fiquei puto pra caralho, me senti um otário. Justo eu que convivi com os maiores bandidos da cidade, me especializei em dar golpes, me dar bem tive o carro roubado assim na mão grande!!
Fui à delegacia da área, prestei queixa e o que me confortava um pouco era que tinha seguro. Saí para pegar um taxi pra casa, mas veio antes um ônibus na direção que eu queria e com pressa peguei.
Tempo que não andava de ônibus. Relembrava assim meus tempos de pobreza. Aproveitei que não estava muito cheio, não era hora do rush e sentei em um banco vazio. Coloquei som no ouvido escutando minhas preferidas do The Doors e fechei os olhos abraçado à minha camisa nova.
Alguns bancos mais a frente uma mulher enchia o saco de um cara porque a geladeira deles estava com problema não sei como o coitado agüentava. Mas não prestei muita atenção no papo só queria curtir o som.
O ônibus parava pouco, só parou praticamente pra pegar um casal.
É..é isso mesmo que vocês estão pensando..
Quatro pessoas...elas nunca se viram, nunca passaram nem perto uma da outra..quatro pessoas..que por algum motivo terão seus destinos traçados e participarão de um mesmo episódio importante.
E como sempre eu no meio da merda...
A menina passou pela roleta e o rapaz anunciou o assalto e com a arma pegou a grana do cobrador. Ela com a faca recolhia a grana e pertences dos passageiros enquanto seu namorado pulou a catraca e ficou atento a tudo apontando arma e ameaçando. A mulher da geladeira chorava como uma bezerra desmamada enquanto o marido baixinho falava “puta que pariu”.
Eu nessa? Ouvia meu som..
A menina recolheu tudo dos passageiros e chegou em mim tentando pegar a bolsa com a camisa. Ah maluco..meu humor não estava em fase boa e aquela piranha ainda queria levar a minha camisa?? Na hora que ela deu puxão falei que não e puxei de volta.
Ela se assustou, virou pro namorado e virou novamente pra mim apontando a faca e ameaçando me furar. Puxou novamente a bolsa e de novo puxei de volta.
Ela puta veio na intenção de me furar e desviei sacando a arma que Lucinho deixara comigo, a imobilizando e colocando o cano em sua cabeça.
Fiquei puto e gritei “Minha camisa do Pachuca ninguém leva!!”. O namorado da menina assustado pegou a mulher da geladeira e fez o mesmo a imobilizando e colocando a arma em sua cabeça.
O motorista parou o ônibus e ficamos lá eu e o garoto gritando um pro outro para largar a arma e soltar a refém.
Ficamos minutos lá nessa de “larga porra” “larga você caralho” “larga você filho da puta eu falei primeiro” “larga você ou estouro os miolos dessa puta” “foda-se pode estourar nem o marido dela agüentava mais”. Quando o motorista soltou um berro e mandou que decidíssemos quem estava mantendo o ônibus como refém no seqüestro. Mandamos que ele calasse a boca e não se metesse.
Ficamos nos ameaçando até que a polícia chegou e cercou o ônibus. A imprensa como sempre chegou junto e mostrou aquela imagem estranha de dois caras com duas mulheres sob mira de revolver se ameaçando. A polícia mesmo não sabia com quem negociar ou em quem atirar porque não sabia quem era o seqüestrador da ação.
Falei pro bandido que tínhamos que organizar aquela ação e ele perguntou o que fazer. Mandei que soltassem as outras pessoas e só ficássemos nós dois ali e as mulheres. Ele concordou e o primeiro a correr pra descer foi o cara casado com a mulher da geladeira.
O bandido estranhou de o homem correr e deixar a mulher lá naquela situação.
O homem respondeu que se o bandido tivesse entrado antes teria percebido como ela era chata e falei pro bandido que o cara estava certo.
A mulher que até então só fazia chorar gritou que ele descesse mesmo e aproveitasse pra comprar Viagra porque era um broxa. Eu e o bandido começamos a rir e a mulher puta reclamou que só ela tinha direito de rir de seu homem. Pedimos desculpas.
Anoiteceu e ficamos os quatro lá. Aconselhei ao bandido que soltasse a mulher que eu soltaria a namorada dele também e ficaria como seu refém. Ele concordou pra assim poder proteger sua garota, mas falei que só concordava se ninguém tocasse na minha camisa do Pachuca. Ele topou e elas desceram.
A mulher da geladeira desceu dando tapas no marido e eu fiquei lá com a arma do bandido apontada pra cabeça. Com a arma em minha direção ele negociou com a polícia e conseguiu que colocassem um carro perto do ônibus pra descermos e ele fugir comigo.
Uma multidão já acompanhava o caso. Lentamente descemos os degraus do ônibus quando um cara com colete de jornalista se aproximou de nós pedindo pra tirar uma foto..como eu já disse a vaidade..ah a vaidade..O bandido topou, o jornalista se aproximou e na verdade era um policial disfarçado que sacou uma arma dando um tiro na cabeça do bandido.
O cara caiu morto no chão e eu branco e puto perguntei se o policial ficara doido porque podia ter me matado. A polícia e a imprensa se aproximaram de nós, os jornalistas ávidos por informações e eu puto dando esporro no policial pelo risco que corri e nervoso abrindo a sacola pra ver se a camisa tinha manchado com o sangue.
Graças a Deus não manchou. Pelo menos em uma tinha que me dar bem porque a fase estava foda.
Mais uma vez virou herói nacional. Primeiro porque fiz a reportagem com os cinco mortos e depois me oferecendo pra ser refém do bandido do ônibus, mas eu sabia que aquilo tudo era mentira. Eu era um engodo, uma farsa, era herói de porra nenhuma.
Caminhava pela praia de Ipanema incomodado com essa situação. Sentei nas pedras do Arpoador e vi o nascer do Sol de lá. Pensava nos valores que meus pais me passaram. No motivo de orgulho que queria ser pra minha filha e decidi o que fazer.
Eu tinha que resgatar meus valores, minha ética. Um Gilberto Martins esquecido dentro de mim.
Fui até a mansão já que com a morte do pai Juliana foi morar lá. Bati na porta e ela atendeu.
Minha ex assustada comentou que me viu na TV como refém do seqüestro ao ônibus e perguntou se eu estava bem. Respondi nada e antes que ela falasse mais alguma coisa dei um beijo apaixonado em sua boca. Um beijo na boca de minha irmã.
Peguei em meus braços e subi para seu quarto fazendo sexo o dia todo. Sexo selvagem como nunca fizemos. Selvagem e incestuoso.
No fim ficamos abraçados na cama debaixo das cobertas e ela fazia planos perguntando se ficaríamos juntos finalmente. Sentia falta do pai, de nossa filha e não queria me perder pois eu era tudo que ela tinha.
Falei para Juliana que se preocupasse com o futuro somente depois e que curtisse aquele momento nosso. Minha ex concordou e me deu um beijo falando que me amava, respondi que lhe amava muito e pra sempre e ela nunca duvidasse disso.
Juliana exausta dormiu e me levantei. Escrevi um bilhete com os dizeres “nunca duvide” e fui embora.
Fui até a delegacia me entregar.
É amigos decidi aos quarenta e oito do segundo tempo ter consciência e cidadania.
Cheguei lá e o delegado queria me cumprimentar pelos meus feitos recentes, os policiais queriam tirar fotos para colocar no Orkut e facebook. Eu argumentava que era sério o que me levou até ali, mas não me davam atenção.
Puto gritei que tinha algo muito sério pra falar e pedi para ir com o delegado até sua sala, lá eu contei tudo.
Minha associação com Pardal e Lucinho, ter viajado pra traficar, ser laranja do Senador, esquartejado e mutilado o corpo da putinha de Léo Carioca, suborno com a arrumadeira do hotel que o Senador foi acusado de estupro, co autoria dos assassinatos dos bandidos e do Senador, enfim tudo.
Minha casa caiu, a casa de muita gente caiu. Todos os que envolvi se deram mal inclusive Léo Carioca que foi preso na Espanha e extraditado pro Brasil e Douglas Severiano que já tinha planos políticos e foi preso em casa jogando videogame com um rapaz loiro, forte ao qual estranhamente chamava de “meu sobrinho”.
Evidente que minha confissão virou um grande escândalo nacional.
Fui preso e meu julgamento virou o principal assunto das TVs, sites, rádios, revistas, jornais, esquinas. O assunto do Brasil. Contratei o advogado das estrelas ferradas Dr. Eduardo Feitosa para me defender.
Eduardo perguntou se eu ficara maluco e o que tinha me levado a falar todas aquelas coisas, se era algum plano. Falei que não, só queria ficar em paz com minha consciência. Ele estranhou e perguntou que piada era essa. Realmente advogados normalmente não sabem o que significa “consciência”.
Ele ainda argumentou para que eu mentisse em algumas coisas e falei que não, queria pagar por tudo que cometi. Eduardo então perguntou se eu tinha noção que envolvia muita gente graúda nos meus problemas e isso poderia me trazer consequências.
Vocês sabem..eu sou um cara cagão. Mas acho que nesse momento estava com prisão de ventre porque falei pra ele fazer como eu queria.
E como eu havia entregado todo mundo por livre e espontânea vontade tive minha situação atenuada e meu advogado brilhantemente tirou as quarenta mortes do galpão de minhas costas deixando só a do Senador.
Peguei por tudo o que cometi vinte e seis anos de cadeia. Algemado os guardas me conduziam quando Juliana apareceu e deu um tapa no meu rosto falando depois que me odiava. Para ela eu era um monstro e o causador da morte de Rebeca e de seu pai.
E eu era mesmo..
Enquanto os guardas me levavam e me afastava da mulher que amava eu gritei “não duvide”.
Detalhe..por esse amor que sentia por ela não revelei que era minha irmã. O único segredo que guardei, guardei para poupá-la.
Fui cumprir pena, pagar por meus delitos. Devia muito à sociedade, mas devia mais a mim mesmo. Não conseguia esquecer a cena de Rebeca morta no metrô e nos meus braços.
Se pudesse eu voltava atrás, voltava a ser aquele fudido que devia pensão, contas e trabalhava sem receber em um jornal. Ter me entregado e ser preso era uma forma de me penitenciar, não nego me diverti muito. O dinheiro e o poder são sedutores e aproveitei bem.
Mas trocava tudo por minha filha e minha mulher.
O tempo foi passando e eu me afundava em livros, lia muito para passar o tempo e afastar de meus fantasmas. Não tive mais contato com Juliana e não recebia visitas. Tornei-me uma pessoa solitária com a prisão vivendo dentro de mim. Acordava, lia, almoçava, tomava banho de Sol, voltava pra cela, jantava, lia um pouco mais e dormia. Essa era a minha rotina.
Bem menos agitada que nos tempos do Senador, Pardal, Pittinha, Lucinho e major Freitas.
Não sentia falta deles, mas sempre apareciam em meus sonhos me chamando de assassino e falando que eu era igual a eles. Eu gritava que não, que eu era um homem de bem e só tinha me perdido um pouco, mas pagava por tudo que cometi e eles respondiam que não, eu entrei no mundo da violência e pertencia a ela agora. A violência nunca mais sairia de dentro de mim.
Acordava assustado, suando, via que era um pesadelo e lia um pouco para tentar voltar a dormir. Esses cinco provavelmente estariam comigo pro resto de minha vida.
Em um dia de visitas anunciaram que tinha uma pra mim. Estranhei e por um momento tive esperanças que fosse Juliana. Fui até ao encontro da pessoa que me esperava. Era sim uma mulher, mas eu não conhecia.
Perguntei quem era ela e o que queria. A mulher que devia ter uns vinte e cinco anos, gordinha bonita que quando sorria apertava os olhos se apresentou como Beatriz Quintanilha, mas que eu poderia chamá-la de Bia.
Respondi que era um prazer conhecê-la e perguntei o que a levava ao presídio. Bia respondeu que era diretora de uma editora de livros e revistas e perguntou se eu nunca me interessei em publicar minha história.
Parei um pouco pra pensar e respondi que na verdade não, mas eu tinha páginas escritas sobre a vida de Pardal o ex chefe do morro do Trololó. Ela então me falou que a história completa interessaria muito à editora. Não só de Pardal, mas de todos.
Getulio, Freitas, Lucinho, Pardal, Pittinha e a minha. O que eu sabia da vida de cada um e como foi meu envolvimento com eles.
A idéia me interessou afinal eu estava com bastante tempo ocioso e aceitei a empreitada.
Comecei a escrever como ela sugeriu. Meu primeiro capítulo começou com uma passada breve pela história do ônibus e a fictícia de mim atrás da pilastra do galpão. Depois passei pra invasão do major ao Trololó atrás de Pardal e mesclei capítulos com um pequeno resumo de nossas vidas com atos que ocorreram nesse período de convívio. Dei o nome ao livro de “Era da violência”.
Escrevi em poucas semanas e a editora gostou. Meu nome ainda era famoso na mídia depois de tudo que ocorreu e o livro foi lançado com uma grande campanha de marketing. Recebi uma autorização judicial para noite de autógrafos em uma famosa livraria.
Uma noite chique com muitos convidados e eu lá na mesa bem vestido dando entrevistas para a imprensa e assinando livros. Foi uma noite de grande sucesso, muitos livros vendidos e fila enorme para pegar meu autógrafo e eu sorrindo e assinando um a um.
Eu lá assinando sem olhar quem pedia e perguntando os nomes, até que perguntei e responderam “Juliana”.
Olhei assustado e era ela sim, a minha Juliana. Não mais minha porque estava acompanhada de seu atual marido e de uma criança. Dois anos haviam se passado, Juliana virou deputada estadual e assumiu os negócios do pai, menos a igreja. Tornou-se uma pessoa poderosa e na ALERJ pregava o fim da violência, fortalecimento das polícias, a retomada das favelas pelo governo e prisão de corruptos.
Era chamada de “dama de ouro” pelos seus pares e imprensa.
Assinei e escrevi uma dedicatória. Ela apresentou seu marido que cumprimentei e olhei pra criança. Falei que era um menino lindo e perguntei o nome. Ela respondeu que chamava Guilherme. O nome que pensamos para quando tivéssemos um menino.
Reforcei que era realmente lindo, o menino sorriu e perguntei quantos anos ele tinha. Ela respondeu dois. Fazendo as contas batia exatamente com nossa última foda e o menino era a minha cara.
Juliana então se despediu e eles saíram deixando a dúvida comigo.
Os anos foram passando. O livro se tornou um sucesso com uma grande vendagem virando um Best seller. Fiquei amigo de Bia que sempre me visitava.
Juliana formou-se em direito e passou no concurso pra delegada. Virou uma das pessoas mais populares e respeitadas do Rio de Janeiro o que lhe valeu convite para assumir a secretaria de segurança do estado.
E eu vivendo minha vidinha de preso com mais um ano pra cumprir. Era um preso bem comportado então sairia para o semi aberto com o cumprimento de um terço da pena.
Só que as coisas começaram a ficar estranhas para o meu lado.
Primeiro comi uma macarronada na cadeia que me fez muito mal, quase morri. Parei na enfermaria e me levaram para um hospital onde foi constatado que tinha veneno de rato no meu estômago. Não era uma coisa normal.
Um tempo depois no pátio um preso chegou a mim e disse que tinha algo pra me contar. Perguntei o que era e ele respondeu que recebera uma proposta de cem mil reais pra me matar e sabia que eu podia cobrir.
Me assustei e perguntei como assim contratado pra me matar. Ele respondeu que sabia que eu não era bobo e entreguei muita gente na minha prisão então essas pessoas só esperaram o tempo passar e me esquecerem pra fazer o serviço.
Eu entreguei quase todo meu dinheiro pra polícia, essa foi minha sorte, ter ficado no “quase”. Transferi trezentos mil para a família do preso e ele garantiu que não me mataria, mas não tinha como garantir que nenhum outro faria.
Acabou minha paz na cadeia, lembrei logo da macarronada estragada e tava na cara que queriam me matar. Qualquer um poderia tentar me matar e a qualquer momento. Eu tinha mais um ano ali no presídio, mas não podia perder tempo eu tinha que sair de lá.
Falei com Bia do problema e contei que tinha como resolver. Pedi que ela localizasse meu amigo Wanderley passando pra ela endereço dele, telefone e endereço da família caso ele tivesse se mudado. Na visita seguida Bia foi com Wanderley e contei o plano.
Eu ainda tinha um bom dinheiro e aprendi com Pardal e Lucinho a fazer fugas espetaculares. Comprei os agentes e saí pela porta da frente com Wanderley, os dois vestidos de padre como Lucinho gostava e com Bia esperando no carro.
A pessoa que queria me matar colocou gente seguindo Bia e Wanderley e enquanto entrávamos no carro notamos outro carro perto de forma suspeita.
Partimos e notamos que éramos seguidos. Ao parar em um sinal Wanderley sentado ao lado de Bia que dirigia notou uma pessoa no banco de carona desse carro colocando arma pra fora. Mandei Bia acelerar.
Bia acelerou e o carro de trás começou a atirar. Eu estava no banco de trás e fui atingido por um tiro. Bia era foda no volante e depois de muito tempo de perseguição conseguiu escapar. Wanderley então notou que eu estava ferido e falou que sabia onde me esconder enquanto procuravam ajuda.
Fomos até o prédio que um conhecido de Wanderley era porteiro e ele conseguiu a chave de uma quitinete abandonada. Os dois me levaram até a quitinete vazia e me deitaram no chão. Bia saiu e comprou medicamentos de primeiros socorros.
Eu sangrava muito e ela falou que eu não podia ficar daquela forma ali senão morreria. Eu suava, conseguia falar nada e Bia falou que sairia pra pedir ajuda e que Wanderley tomasse conta de mim.
Ela saiu e arrumei forças pra falar, comentei com meu amigo que eu não devia estar muito legal pela cara que eles estavam.
Wanderley riu e contou que já me viu pior, quando me viu nu na boate. Eu ri e doeu tudo, falei que ele tinha era inveja da minha máquina mortífera, eu era o foderosão das mulheres.
Nós ríamos, mas eu estava preocupado. O tiro doía pra caralho e eu sentia falta de ar. Será que chegara meu fim? Não era possível que eu iria morrer daquela forma olhando pra cara feia do Wanderley e pior, sem cumprir minha missão de comer pelo menos a metade das mulheres do Rio de Janeiro!! Não podia morrer sem antes ver o Flamengo no Maracanã uma última vez, o por do Sol no Arpoador, um chopp gelado no calçadão, a bateria de uma escola de samba.
Apesar de todos os problemas dessa cidade eu amo o Rio de Janeiro e não me conformava em morrer.
Bateram na porta e mandei que Wanderley tivesse cuidado ao abrir. Ele levantou lentamente, perguntou quem era e o porteiro disse que era ele. Meu amigo então sorriu e abriu.
O porteiro foi empurrado pra cima dele e os dois caíram com um homem que estava atrás atirando nos dois que morreram instantaneamente.
O homem estava numa penumbra e de imediato não consegui enxergá-lo, quando ele entrou vi quem era me assustei..era o Senador Getulio Peçanha!!
Balbuciei como podia e ele me puxou pelo cabelo, me levantou e deu um soco no meu rosto fazendo que eu caísse sobre os corpos. Getulio perguntou se ele tinha cara de otário, se eu achava que ele tinha ficado rico e poderoso porque era um otário. Nisso me levantou e deu outro soco.
Ele mesmo respondeu sua pergunta falando que não era otário e otário era eu, um pobre fudido que vivia na merda até colar com ele e que me achando muito esperto quis lhe dar um golpe e me fudi.
Eu só conseguia balbuciar “como pode..” e Getulio respondeu que Douglas contou de minha armação e como ele queria que todos pensassem mesmo que estava morto deixou que ela continuasse. Deixou que eu desviasse dinheiro de sua conta e pensasse que estava morto. Só que ele não embarcou no avião por saber que tinha uma bomba ali. Embarcou em outro preparado por Douglas.
Eu só conseguia pensar que o Douglas era um puxa saco filho da puta enquanto o Senador falava que passou esses anos todos escondido esperando a hora certa de lhe esquecerem e se vingar. Voltou ao Brasil por ter caído no esquecimento especialmente pra se vingar de mim e que tinha chegado a hora e que eu era tão burro que nem desconfiei quando Douglas rachou cem milhões de reais já que qualquer idiota saberia que ele tinha pelo menos dez vezes mais que isso em dinheiro.
Até que consegui falar..com toda minha força falei que ele era um filho da puta que matou Mariana e Juninho provocando o acidente e estuprou minha mãe.
Getulio então disse que matou os dois mesmo, a de Juninho não era pra ter ocorrido, mas acabou sendo útil porque não queria filho viado e que tinha estuprado minha mãe sim e que ela era muito gostosa.
Apontou a arma pra mim e falou que era a hora de me juntar a meus pais, Mariana, Juninho e aquela menininha insuportável que lhe chamava de avô.
Fechei os olhos e ouvi o barulho de cinco tiros, mas senti dor nenhuma, senti nada. Será que morrer é assim? Será que se eu abrisse os olhos encontraria meus parentes mortos? Veria anjinhos? Ou veria Lucinho, Pardal, Freitas e Pittinha num caldeirão fervendo cercados de diabinhos e gritando pra eu dar um mergulho?
Abri os olhos e vi Getulio caído morto em cima do porteiro e de Wanderley. Nesse momento sem que eu entendesse nada Bia entrou no quarto. Perguntei se ela tinha atirado e ela respondeu que não, aí entrou Juliana com lágrimas nos olhos, rosto raivoso..
..e uma arma na mão.
Olhei espantado pra ela. Juliana com a arma apontada pro pai ainda e olhando pra ele me disse que escutou tudo e ouviu as barbaridades que o pai confessou ter feito me pedindo desculpas por no passado ter me chamado de monstro e assassino. Bia então contou que foi pedir ajuda pra Juliana e quando voltou viram Getulio apontando a arma pra mim e falando.
Juliana limpou as lágrimas e falou que eu não podia ficar ali, tinha que receber ajuda e ela cuidaria disso. Respondi que não podia voltar pra cadeia, eu fugi e com isso não teria mais direito a progressão de pena se voltasse. Ela falou que daria um jeito.
Juliana me levantou e perguntou se eu podia caminhar, respondi que sim. Bia se aproximou e me deu um beijo no rosto falando depois que sua participação acabava ali deixaria Juliana cuidando de mim e me desejou boa sorte.
Agradeci e ela partiu com Juliana falando pra nos apressarmos antes que a polícia chegasse com o alarde dos tiros dados.
Juliana me levou a um hospital particular cuidado por um amigo seu que garantiu sigilo e me internou com nome falso. Lá fui operado e minha bala retirada.
Fiquei uns dias convalescendo e quando eu já estava no quarto Juliana voltou e disse que os últimos dias de recuperação eu passaria na mansão porque já havia abusado demais da amizade do dono do hospital e era perigoso ficar lá devido minha situação judicial .
Estranhei quando ela falou mansão, mas Juliana contou que o marido passaria a semana em viagem com o filho então só estaria ela lá que já havia dispensado os empregados. Dessa forma parti com minha ex.
Os dias passaram e eu fui melhorando. Juliana cuidava muito bem de mim. Eu não tinha do que me queixar fazia muito tempo que não dormia numa cama tão boa e nunca imaginei que um dia voltaria a dormir naquela mansão. Lembrava de minha infância, momentos felizes com meus pais, Juninho,
Juliana..lembrava de nós dois, o início do nosso amor proibido.
Uma noite eu dormia e ela entrou no quarto de camisola, linda. Despertei e olhei pra ela. Juliana então tirou a camisola e ficou completamente nua. Antes que eu falasse algo deitou sobre mim, colocou o dedo na minha boca como pra que eu não falasse nada e me beijou.
Fizemos amor, não foi selvagem como da última vez, não foi aquela coisa de rasgar roupas como quando tentamos voltar. Foi uma situação mais romântica, apaixonada. Eram dois apaixonados fazendo amor, dois corpos que se reencontravam depois de tantos anos. Não adianta éramos almas gêmeas mesmo com todos os problemas que isso consistia, com o proibido, nós nos amávamos.
Depois que terminamos ficamos ali abraçados na cama e eu falava do quanto lhe amava e que iria lutar contra tudo, contra todos e todos os dogmas principalmente pra ficar com ela. Juliana ficou quieta o tempo todo só eu falava.
Ela não sabia que éramos irmãos e eu decidi que abriria o jogo, contaria tudo pro meu amor e perguntaria se Guilherme era nosso filho. Provaria assim que mesmo com relação incestuosa tivemos dois filhos perfeitos e poderíamos nós três ser felizes.
Juliana se levantou e foi em direção ao armário, abriu e enquanto pegava toalha pra colocar no corpo eu falei que precisava contar uma coisa pra ela.
Ela nem me ouviu, colocou a toalha e abriu uma gaveta pegando uma pistola.
Sem se virar pra mim disse que tomaria um banho e que se me encontrasse na volta daria voz de prisão e me levaria de volta ao presídio cumprindo seu dever.
Falou que não lavaria sua cabeça então eu tinha dez minutos antes que ela voltasse e ligasse pra delegacia próxima pedindo viatura porque eu estive lá atrás dela e que eu não duvidasse.
Falou e sem me olhar entrou no banheiro do quarto.
Fiquei ali com cara de bunda enquanto ouvi ligar o chuveiro. Conhecia Juliana e sabia que ela falou sério.
Escutávamos música no quarto e na hora começou a tocar a nossa. Olhei pro alto, cocei meu queixo, coloquei minha cueca com calma, peguei minha roupa colocando no ombro e com tranqüilidade pulei a janela.
Nunca mais vi Juliana.
O tempo foi passando e a cidade continuava a mesma coisa. Linda e perigosa. A era da violência não passava, as pessoas andavam com medo nas ruas e a impressão que me dava era que esse tempo não passaria tão cedo. Juliana era uma das que lutava por isso. Política mais popular do estado alcançou o sonho do pai e se elegeu governadora tendo a segurança pública como plataforma de campanha.
No dia da posse ela prometeu que acabaria com o tráfico de drogas no Rio até o fim de seu mandato e elegeu o novo chefe do tráfico na favela do Trololó como seu maior inimigo. Aquele que ela caçaria dia e noite até colocar suas mãos.
Na favela o tráfico e a violência voltaram a comandar. O Trololó era o maior ponto de vendas de drogas do Brasil e era comandado por um homem violento, frio que não se importava nem um pouco com a vida humana, só com o lucro.
Um viciado foi levado pro alto da favela pelos soldados e o chefe chegou logo depois. O drogado todo ensangüentado no chão pedia piedade e um dos soldados perguntou o que fazer. O chefe respondeu “deixa comigo”, sacou uma pistola e deu um tiro na testa do viciado. Virando-se depois e caminhando com seus soldados deixando o corpo pra trás.
Ah..uma coisa que esqueci de contar para vocês...
..o sanguinário novo chefe do tráfico do Trololó era eu.
Eu juro que queria ter sido o mocinho dessa história, mas a vida me fez bandido.
E você?
Ainda se sente seguro?
FIM
CAPÍTULOS DO LIVRO ERA DA VIOLÊNCIA
CAPÍTULO I - GUERRA URBANA
CAPÍTULO II - A PROPOSTA
CAPÍTULO III - GILBERTO MARTINS
CAPÍTULO IV - BIÓGRAFO DO TRÁFICO
CAPÍTULO V - PARDAL
CAPÍTULO VI - NA SELVA
CAPÍTULO VII - LUCINHO
CAPÍTULO VIII - CARGA ERRADA
CAPÍTULO IX - GETÚLIO PEÇANHA
CAPÍTULO X - COMPONDO UM SAMBA
CAPÍTULO XI - MAJOR FREITAS
CAPÍTULO XII - VIAGEM E BICHEIROS EM CANA
CAPÍTULO XIII - PITTINHA
CAPÍTULO XIV - CAMISA 10
CAPÍTULO XV - MULHERES CORAGEM
CAPÍTULO XVI - MANCHETES DE JORNAL
CAPÍTULO XVII - TARAS E AMORES
CAPÍTULO XVIII - AMORES PROIBIDOS
CAPÍTULO XIX - LUTA NA FLORESTA
CAPÍTULO XX - INIMIGO PÚBLICO N°1
CAPÍTULO XXI - ENREDO DO MEU SAMBA
CAPÍTULO XXII - MARCAS DO OUTONO
CAPÍTULO XXIII - TEMPO DE MUDANÇAS
CAPÍTULO XIV - CIDADE SITIADA
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