XXII - Marcas do outono
O carnaval acabou, virou cinzas e capitão Miranda não escapou da morte de Rogério Guanabara. Junto com outros crimes pegou um belo gancho, quatrocentos e trinta e oito anos de prisão. Pena que nós sabemos que ninguém fica mais de trinta anos numa cadeia no Brasil.
Mas com esse a sociedade não precisa mais se preocupar.
E o outono chegou e com ele suas marcas. A temperatura de infernal caiu para apenas insuportável, as folhas caíam pela cidade anunciando a nova estação e novas confusões. Ações extraordinárias.
Lucinho e Cobreloa não ficaram muito tempo em Bangu I. Logo a justiça de Goiânia pediu a transferência dos dois já que Cobreloa também tinha crime na cidade e era condenado pela justiça de lá.
Os advogados dos dois ainda tentaram protelar a ida, mas não teve jeito. O próprio governo fluminense queria se livrar deles devido à periculosidade. O Chile entrou com pedido de extradição do gringo por crimes cometidos no país. Na verdade todos queriam os dois e ninguém queria.
Mas o que ficou definido é que Lucinho e Cobreloa iriam para a capital de Goiás e o Chile no STF tentava pegar o gringo.
Lucinho e Cobreloa algemados saíram da cela sob a gritaria de outros presos. Lucinho debochado como ele só gritava de volta que tinha sido um prazer conviver com eles, mas que naquele momento precisava fazer uma viagem e que mandaria postal para todos.
Sob forte escolta policial Lucinho e Cobreloa foram levados até um jatinho fretado pelo governo goiano. Com eles cinco policiais fortemente armados entraram no jatinho e embarcaram. Na hora do embarque Lucinho virou e gritou que voltava logo.
O avião decolou e dentro dele Lucinho assoviava com todos sérios. Ele perguntou por que toda aquela seriedade já que viajavam juntos e assim poderia ser uma forma de criar laços de amizade, mas todos continuaram sérios então o bandido resolveu voltar a assoviar.
Depois de um tempo de viagem Lucinho encostou a cabeça na parede do avião e falou que era a hora. Parecia ser uma senha pois nesse momento em uma ação rápida dois policiais levantaram e mataram os outros três.
Logo depois também se ouviu um tiro na cabine.
O piloto apareceu onde eles estavam, disse que matou o co piloto e soltou as algemas de Lucinho. Para quedas foram distribuídos entre os dois policiais, o piloto e Lucinho. Cobreloa ainda algemado pediu para que lhe soltassem.
Lucinho pediu desculpas e contou que só tinham quatro para quedas. Os homens pularam com ele ficando por último e da porta virando para Cobreloa e falando que esperava que isso não abalasse a amizade deles.
Lucinho pulou e ao longe se ouvia Cobreloa gritando “filho da puta!!”.
É..acho que a amizade se abalou
E verdade seja dita, Lucinho nunca falou que era um cara legal.
O avião se espatifou e Lucinho desceu são, salvo e livre. No chão se livrou do para quedas, limpou a poeira do corpo e sorrindo disse “idiotas” se mandando de volta para o Rio de Janeiro.
A notícia repercutiu, a polícia começou uma caçada a Lucinho, mas eu me preocupava com outra coisa.
O aniversário de Juliana se aproximava e eu não sabia ao certo o que comprar. Em um dos momentos de lucidez de minha mãe fui até o shopping para que ela me ajudasse. Dona Maria sempre teve bom gosto e me ajudou a comprar um vestido lindo.
A convivência com meus velhinhos era boa. Eu gostava da liberdade que eu tinha antes, mas às vezes era bom ter a família por perto e eles não me incomodavam além que eu bem de grana podia proporcionar uma vida que eles nunca tiveram.
E eles precisavam de mim minha mãe com Alzheimer e ele cada vez mais agressivo e meu pai com câncer. Combatíamos sua leucemia, mas devido sua idade a situação era complicada e ele entrava e saía de internações.
Juliana vivia um excelente momento de vida. Fazia faculdade de direito e conseguiu estágio num escritório, resolveu ser independente e se mudou com Rebeca para um apartamento em Laranjeiras contratando uma babá que todos os dias levava e buscava nossa filha do colégio na Tijuca de metrô e a vida seguia numa boa.
Fui até o apartamento levar o vestido para Juliana na tarde de seu aniversário. Ela me recebeu e agradeceu o presente. Perguntei se ele não me convidaria pra festa e minha ex respondeu que não faria. Achei estranha aquela resposta já que sempre foi uma pessoa festeira, mas aceitei.
Fui pra casa e vendo TV caí no sono. No meio da soneca sem dar tempo de sonhar com nada o telefone tocou. Era meu amigo Wanderley que havia largado o motel e ido trabalhar numa boate.
Murmurando cheio de sono falei alô e ele mandou que eu adivinhasse quem estava naquele momento na noite de clube das mulheres da boate. Respondi que devia ser o Papa e ele falou que quase acertei, mas não era, era Juliana.
Respondi ok quase dormindo com o telefone no peito quando voltei a mim e assustado peguei o telefone e falei “o quê?”.
Bem, eu como um cara moderno e antenado com o mundo evidente que nem liguei e de casa só desejei que Juliana se divertisse muito.
Mentira, cheio de ciúmes peguei o carro e fui atrás dela.
Cheguei na boate e Wanderley me esperava do lado de fora. Falei para meu amigo que queria entrar lá e ele respondeu que não tinha como era noite privada das mulheres e só entravam os garçons e os gogo boys.
Dei um sorriso e falei que tinha uma idéia.
O show rolava na boate e Juliana com suas amigas assistiam. As amigas vibravam, algumas subiam no palco pra dançar com eles e Juliana assistia a tudo sorrindo.
Até que apareceu a maior atração da noite, eu..
Apareci vestido de zorro dançando no palco e modéstia a parte as mulheres vibravam. Da platéia Juliana falava que conhecia aquele zorro de algum lugar.
Quando tirei toda a roupa ficando só de sunga e chapéu retirei a máscara e Juliana gritou “Gilberto!!”.
Virei de costas e com um golpe apenas retirei a sunga ficando peladão no palco com a mulherada vibrando. Tirei o chapéu peguei uma flor que tinha dentro dele e me virei cobrindo minhas partes íntimas com o chapéu.
Desci do palco dançando e entreguei a flor pra Juliana.
Disse feliz aniversário e puxei minha ex pela mão. Ela se levantou e quando aproximei meus lábios dos seus Juliana me deu um tapa no rosto e saiu furiosa da casa com as amigas atrás e a por último sorrindo e fazendo sinal positivo pra mim.
Não fui muito feliz na minha idéia, mas ela não foi de toda ruim. Ao voltar pro palco para pegar minhas roupas Andréia Pitta e Samantha Blond que estavam no show se aproximaram falando que gostaram da performance e me convidando para um show particular.
Assim fui com as duas fazer meu showzinho e brincar um pouco de um é pouco, dois é bom, três é demais!!
Acordei na manhã seguinte com duas gatas maravilhosas e me sentindo um sultão com seu harém. Mas tinha que me mandar porque tinha compromissos na MAPE.
Havia gostado daquela noite, só que existia um problema nisso tudo e se chamava Pittinha.
Deixei meu carro na boate então fui obrigado a pegar um taxi para buscá-lo. Entrei no carro de um homem muito simpático chamado Hércules.
Fui a viagem toda batendo papo com o senhor falando de todos os assuntos, esporte, política, mulheres e principalmente o assunto que dominava a época, a fuga de Lucinho.
Hércules falava que o bandido devia ser muito esperto para conseguir uma fuga tão espetacular e que nunca a polícia botaria as mãos nele novamente. Eu ouvia e falava que ele devia ter razão, se conhecesse Lucinho teria certeza.
Desci, paguei e desejei bom serviço pro homem que seguiu viagem.
Hércules era um homem trabalhador, honesto e como dizem, do bem.
Trabalhou desde os quatorze anos no Banco do Brasil e lá foi galgando cargos até que se aposentou.
Ficou um tempo em casa, mas não agüentou a vida de aposentado e pegou o dinheiro que havia juntado para comprar um taxi.
Hércules era casado com Suely, pra quem não lembra Suely era a viúva de Mariel, irmão de major Freitas.
Suely teve João, filho dela com Mariel e uma vida de muitas dificuldades. Depois de cinco anos da morte conheceu Hércules quando abriu conta no banco e sempre que ia até o local conversavam. Da simpatia mútua apareceu um convite tímido de Hércules para que saíssem.
Foram a um restaurante e depois saíram pra dançar. Tempos que Suely não saía pra se divertir e naquela noite foi o que ela mais fez. No fim da noite Hércules deixou a viúva de Mariel em casa e lhe deu um beijo.
E o tempo todo foi respeitador com ela. Namoravam à moda antiga saindo, se divertindo e sexo mesmo demorou um tempo.
Mais algum tempo e o homem resolveu fazer uma festa para pedir Suely em casamento, uma atitude muito comemorada por todos os familiares do casal inclusive major Freitas que era amigo de Hércules e como cunhado de Suely aprovou a união.
Hércules se dava muito bem com João Mariel, assim ficou o nome do menino e tratava como um filho. Iam juntos a parques, cinema, teatro e jogos de futebol. Era Hércules quem ajudava João nas lições de casa e deu conselhos quando o menino chegou à puberdade.
Suely e Hércules tiveram três filhos, mas no fundo a impressão que dava era que João era o preferido de Hércules.
João cresceu e não queria saber muito dos estudos. Estudava apenas o suficiente para passar de ano e quando acabou o ensino médio não quis saber de faculdade. Boa pinta fazia trabalho como modelo e tinha uma banda de rock.
Namorou muitas meninas até que conheceu uma chamada Cristina, também modelo. Começaram assim um romance.
E desse romance veio uma gravidez inesperada. No começo pensaram em aborto, chegaram a ir a uma clínica, mas na hora de Cristina entrar na sala de operações João mudou de idéia e disse que eles poderiam enfrentar aquilo juntos.
Reuniram os pais tanto dela quanto dele, contaram a situação e no fim disseram que iriam se casar. Os pais ficaram reticentes e perguntaram se essa era mesmo a melhor solução. Os jovens responderam que sim.
Ficou um silêncio na sala até que Hércules levantou e abraçou o casal
desejando toda felicidade do mundo e que pudessem contar com ele sempre que precisassem.
Suely e os pais de Cristina fizeram o mesmo e abençoaram o casal. O casamento não demorou muito para acontecer aproveitando que a barriga da menina ainda era pequena.
Cristina deu a luz a Mariel Neto, o netinho.
João largou o sonho de ser rock star, mas continuou modelando assim como Cristina e assim os dois ganhavam dinheiro e faziam suas vidas. Dessa forma João tinha seus grandes amores por perto, a mãe, Hércules, Cristina, Netinho e mais um que ainda não revelei.
O Fluminense.
João era torcedor fanático do clube carioca e desde moleque frequentava estádio de futebol com Hércules para ver o tricolor jogar. Com o tempo Hércules deixou o futebol de lado e passou a acompanhar apenas pela TV por medo da violência. Mas João não, esse não perdia um jogo do Flu.
E essa era a única discordância que ele encontrava com a família porque o garoto entrou para torcida organizada. Suely e Hércules morriam de medo e ficavam com o coração na mão a cada jogo que ele ia, Cristina pedia para ele largar a torcida porque agora tinha um filho para criar, mas não adiantava João era fanático.
A situação era meio complicada em relação a torcidas organizadas. Faziam uma grande festa nos estádios com faixas, bandeiras, músicas, mosaicos as torcidas sempre foram grande fonte de incentivo para os times de futebol, mas ao mesmo tempo um lugar que chamava a violência muitas vezes graças a rivalidade descabida.
Torcidas de futebol muitas vezes confundem jogos com guerras e tratam o adversário como inimigo. Algumas têm entre seus integrantes criminosos que usam o futebol para colocar suas práticas pra fora. Infelizmente não são raras às vezes onde existem brigas e até mortes.
E isso tudo acontece muitas vezes com a cumplicidade dos dirigentes de futebol que precisam desses torcedores para continuar seu domínio nos clubes e assim dão dinheiro e ingressos gratuitos numa troca promíscua.
Fora jogadores de futebol que dão dinheiro e bancam churrasco para que essas torcidas nunca lhe vaiem e enalteçam seus nomes nos estádios.
Mas nem todos os torcedores nem torcidas organizadas são assim, a maioria age pelo bem e João era um deles.
A preocupação da família não era à toa. Uma vez João escapou de boa, o rapaz foi em excursão para São Paulo com a torcida acompanhar um jogo do Fluminense quando na saída da via Dutra o ônibus foi cercado por torcedores rivais que atearam fogo no veículo.
João escapou com vida, mas três integrantes do grupo morreram queimados.
Na verdade os dois corriam riscos. João com suas idas a estádios com a organizada e Hércules trabalhando como taxista. Muitas vezes o homem saía de madrugada para trabalhar o que também assustava Suely, ainda mais com o trauma que a mulher tinha. Mas o taxista precisava produzir, sentir-se importante e achava o trânsito da madrugada melhor para ganhar dinheiro.
E assim Suely e Cristina dividiam suas preocupações com seus homens.
Uma tarde teria um Fluminense x Botafogo no Maracanã e era considerado um jogo de alto risco porque no último clássico entre as duas equipes houve confronto e um botafoguense morreu. Cristina implorou para que João não fosse, mas era jogo importante que poderia levar o Flu pra final do estadual e ele não pensou duas vezes e foi.
No estádio foi àquela festa de sempre pra incentivar o clube do coração. Maracanã lotado e o Fluminense venceu no fim por 1x0 se classificando.
Na saída muita comemoração dos tricolores com João berrando o hino do clube e com impropérios cantando que iriam derrotar o “urubu maldito” na final. Quando perceberam uma briga entre as torcidas.
Um amigo deles com mais dois caras eram massacrados por uns dez botafoguenses. João sempre foi de paz, mas não podia deixar um companheiro apanhar forma e foi pro confronto.
A porrada comia quando ouviu-se um barulho de tiro, a multidão se dispersou e quando viram João estava ferido no chão.
Levaram pro hospital e o rapaz ficou três dias na UTI para desespero da família. O caso ganhou as manchetes e conseguiram localizar de onde veio o tiro, foi de um PM.
João conseguiu sobreviver, mas ficou paraplégico e nada aconteceu com o PM que alegou tiro acidental para inconformismo da família e fúria de major Freitas.
Freitas era padrinho do menino e não se conformava em ver João em uma cadeira de rodas, achava que algo tinha que ser feito e contou isso a Hércules.
O padrasto de João também não se conformava e todo ódio que nunca havia se despertado na vida apareceu naquele momento. Concordou com o major que aquele crime não podia ficar impune e perguntou o que fazer.
Major Freitas respondeu que resolveriam a situação do jeito que ele se acostumara.
Saíram os dois na viatura do major e rondaram a cidade atrás do PM até que encontraram. Major Freitas colocou arma na cabeça do policial tomando a sua e obrigando que entrasse no carro.
Hércules apontava a arma pro policial algemado no banco de trás enquanto Freitas dirigia. O Homem pedia piedade porque o tiro realmente havia sido acidental e que tinha família pra criar. Hércules revoltado falava que seu enteado ficou paraplégico, era um menino lindo e assim teve a vida jogada fora
.
Pararam em um matagal e desceram com o PM. Major mandou que Hércules aproveitasse que estava com a pistola na mão e matasse o policial. O taxista então mandou que ele se ajoelhasse.
O PM ajoelhou implorando pela vida e falando que tinha dois filhos pra criar e não podia deixá-los desamparados. Hércules olhou para o policial e notou seu desespero. O taxista era um homem de bem, não era assassino e vendo aquela cena desistiu mandando o major soltar o policial.
Freitas assustado perguntou se ele tinha certeza do que fazia e Hércules respondeu que sim, era um homem religioso tenente a Deus e não podia matar outro ser humano por mais que ele merecesse.
Freitas contrariado soltou o PM e mandou que ele corresse sem olhar pra trás depois olhou pra Hércules, disse que ele era um bundão e entraram no carro partindo.
Hércules optou pelo bem e agora tinha mais bocas para sustentar, além de Suely e dos filhos menores tinha que ajudar João e sua família já que o rapaz ainda se recuperava e não podia trabalhar. Hércules aumentou sua jornada para quinze horas por dia e mal tinha tempo para dormir.
Major Freitas me contou toda essa situação e eu falei que o taxista estava certo. Freitas falou que não e ele iria se arrepender do que fez, mas eu argumentei que o cara era trabalhador não assassino e que não tinha sentido ele sujar as mãos.
Major continuava não concordando então eu falei que tinha lhe chamado para uma coisa boa, meu aniversário se aproximava e ele estava convidado.
E o major foi, assim como Senador Getulio, Pittinha e muitos outros. Aluguei uma casa chique para a festa e estava feliz porque nunca tive uma festa dessas de aniversário. Até meu pai, minha mãe e Rebeca foram, mas senti falta de Juliana.
Ela ainda estava irritada com a brincadeira que fiz no seu aniversário e sem ela sentia o meu incompleto.
Mas mesmo sentindo sua falta tentava me divertir. Depois de certo tempo Wanderley virou pra mim e falou que estava na hora do bolo. Tentei ao máximo atrasar esse momento na esperança que Juliana ainda surgisse, mas em vão. Como Rebeca estava com sono e também já era tarde pros meus pais aceitei.
O bolo era gigantesco e apagaram as luzes para cantar parabéns pra mim. No fim eu falei que as velas estavam muito altas e não teria como eu alcançar para apagar, mas nesse momento Wanderley contou que eu não iria apagar e gritou “showtime”.
Desse grito o bolo se abriu e uma luz de holofote surgiu focando em cima dele. Quando vi tinha uma pessoa dentro e quando prestei mais atenção notei que era Juliana.
Juliana desceu da mesa vestida de coelhinha e recebeu um microfone. Getulio gritou pra filha perguntando que pouca vergonha era aquela com minha ex ignorando. Eu só conseguia ver a tudo com cara de babaca.
Juliana com microfone na mão fez voz sensual e cantou parabéns em inglês da mesma forma que Marilyn Monroe cantou para o presidente John Kennedy.
No fim chegou perto de mim falou no meu ouvido “estamos quites” e me deu um beijo para aplausos de todos.
Meu aniversário foi realmente inesquecível.
Ao mesmo tempo em que eu tinha esses momentos felizes em outro ponto da cidade uma pessoa passava por momentos ruins.
Hércules dirigia seu taxi quando três pessoas fizeram sinal. Ele parou e as pessoas entraram. Logo ao partir e perguntar para onde iriam Hércules reconheceu Lucinho como o que estava ao seu lado. O bandido ficou famoso e quando olhou pelo espelho viu o PM que deu o tiro em João atrás. Não deu tempo de o taxista fazer nada nesse exato instante Lucinho puxou a arma e colocou em sua barriga contando que dariam uma volta.
Com arma apontada Hércules se viu obrigado a ir a um posto de conveniência e sacar todo o dinheiro possível do caixa eletrônico e entregar para os bandidos.
Depois foi colocado no porta malas porque o bando tinha “um bonde” para fazer próximo do morro do Trololó.
É chamado de bonde o veículo que é usado por bandidos para carregar armas ou drogas.
Lucinho e seus comparsas foram até a favela da Lacraia levar uma mala cheia de drogas que conduziam. Chegaram no morro entregaram a droga e receberam um montante em dinheiro descendo com o taxi logo depois.
No asfalto rodaram mais um pouco e o PM falou que deviam se livrar do taxi.
Lucinho concordou e completou que tinham que dar um jeito no taxista preso atrás. O policial falou que aquele era o padrasto do otário que ele baleou no Maracanã. Lucinho sorriu e disse que então era questão pessoal.
Rodaram mais um pouco e num lugar a esmo pararam o taxi. Abriram o porta malas e lá estava Hércules amarrado. Os três bandidos sacaram suas armas e fuzilaram o taxista. No fim Lucinho contou que era melhor largar “o presunto” lá com o carro e roubarem outro.
E assim os bandidos seguiram deixando Hércules morto no taxi.
Depois que peguei o taxi de Hercules no dia da boate e descobrindo que ele era amigo do major Freitas fiz amizade com ele e justo no dia seguinte de um dia feliz com aqueles que eu amava consternado fui ao enterro de Hércules.
Muitos taxistas presentes pediam justiça e melhores condições de trabalho.
Suely inconsolável enterrava o segundo marido abraçada aos filhos e Cristina conduzia a cadeira de rodas de um João inconsolável. Hércules morreu porque era bom, por não ter matado o PM que depois se voltou contra ele e não teve a mesma piedade sua.
O caixão com a bandeira do Fluminense desceu sob aplausos e o hino do clube cantado. Depois de terminado o enterro caminhei junto com major Freitas para fora do cemitério.
Major andava ao meu lado e parecendo possuído dizia “foi ele, desgraçado”. Perguntei do que ele falava e Freitas respondeu que pela câmera do posto de conveniência identificou o PM que Hércules salvara a vida e pior Lucinho estava com ele.
Me assustei e perguntei se tinha certeza que era Lucinho e Freitas respondeu que sim e que mataria um a um, inclusive Lucinho, completou respondendo “acabou o amor, isso aqui vai virar um Vietnam”.
Major Freitas não falou da boca pra fora. Matou o PM, o outro comparsa e começou sua caçada pessoal por Lucinho.
Cheguei do enterro e sentei com meus pais para ver televisão. De repente o programa que víamos foi interrompido por um plantão. Era a notícia da prisão de Pardal. O bandido foi preso em uma mansão na praia de Boa Viagem em Recife e estava sendo levado pro Rio de Janeiro.
O outono prometia...
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