Capítulo VII - A mulher do meu pai

Como são as coisas da vida..virei herói de guerra, fui recebido no Rio de Janeiro como herói, desfilamos orgulhosos no centro da cidade.  As pessoas em arquibancadas de madeira com bandeirinhas do Brasil nos aplaudindo e nós desfilando. Eu que pensava que só iria desfilar na Portela na minha vida estava ali como herói.

Voltei pra Tremembé e também fui homenageado. Meu pai que havia voltado a ser prefeito (políticos nunca largam, impressionante) fez uma festa. O povo todo tremembense foi pra praça com bandeirinhas do Brasil, toda a classe política num palanque discursando e eu lá de uniforme e cara de idiota. A população toda gritava “Doido, Doido”, se passasse na hora uma ambulância com certeza iriam caçar o maluco para levar pro sanatório.
Já estava cansado de tantos discursos quando meu pai anunciou que era minha vez e passou o microfone pra mim. Nunca fui bom de falar em público e o povo, o mesmo que já tinha me apelidado das piores coisas possíveis, que sempre me desprezou estava lá esperando que eu falasse. O herói da cidade

Todos quietos, eu com o microfone na mão, meu pai o pega e diz “Vai meu filho, vai grande herói, diga para todos nós como é a guerra”. Peguei o microfone e balbuciei “a guerra..a guerra..” meu pai incentivava e falava baixinho “vai meu filho”. Eu aproximei novamente o microfone da boca e falei “a guerra..bem..a guerra, a guerra é foda..”.

Todos ficaram em silêncio, alguns aplausos tímidos foram ouvidos e a multidão foi se dispersando, os políticos descendo do Palco. Meu pai irritado olhou pra mim e disse “a guerra é foda? tinha nada melhor pra falar não?”. Fiz sinal com os ombros como se tivesse pedindo desculpas, ele balançou a cabeça negativamente e desceu do palco. Fiquei lá, sozinho, com cara de “a guerra é foda”.

Eu estava sentado lá no palco quando surgiram correndo Gustavo e Rodrigo. Levantei e abracei os dois, a saudade era muito grande, anos que não os via, ficamos os três pulando e gritando “a guerra é foda”, esses dois eram o que fazia aquela cidade valer a pena.

Compramos cachaça e fomos beber na praça, praça vazia já que o povo havia se desencantado com seu herói de guerra. Contei tudo que vivi naqueles últimos anos, como foi no Rio de Janeiro, como eram os cabarés, os cassinos, como foi na Itália. Contei sobre Luciana, Susana Felipe, Paola e como havia me aproximado de meu irmão antes dele morrer, a falta que ele estava me fazendo.

Perguntei se eles tinham alguma novidade sobre a Ericka, responderam que não e perguntaram o que realmente tinha acontecido naquela noite. Contei a verdade, a história da nave e eles não acreditaram riram falando que meu nome era perfeito pra mim, que a versão que corria na cidade era que ela tinha ido embora com o circo, havia se apaixonado pelo engolidor de espadas e o George saíra com a fama de traído da história. É, pelo menos aqueles ETs serviram para alguma coisa. 

Falávamos besteira, ríamos, lembrávamos do passado e uma hora Rodrigo perguntou se eu já tinha conhecido minha madrasta. Engasguei com a cachaça e perguntei que história era aquela de madrasta, que eu mal havia chegado à cidade e tinha sido arrastado praquela praça pra servir de fins políticos.

 Gustavo contou que meu pai havia se casado e não tinha nem seis meses. O nome dela era Marcela e era de Barra da Serra, uma cidade vizinha à Tremembé, que eu deveria ir pra casa conhecê-la. Não gostei daquela história de madrasta. Então quer dizer que meu pai havia substituído minha mãe? Já bêbado esbravejei com meus amigos, falando que não era correto, era uma afronta a memória de minha mãe, eles riram e falaram que era melhor eu conhecê-la antes de falar qualquer coisa.

Bebi demais naquela noite, acordei caído na praça com cachorro lambendo meu rosto, me levantei e mandei que meus amigos fizessem o mesmo. Fomos os três andar cambaleando pela cidade, gritando que a guerra era foda, senhoras passavam e faziam sinal da cruz, eu ria e falava que aquela sim era a minha cidade e meu povo. Entrei em casa, com imensas dificuldades para acertar a chave da fechadura, entrei fui até a sala, parei e pensei “Não to legal”, corri pro banheiro, me ajoelhei na privada e vomitei.

Estava eu lá, naquela situação constrangedora, vomitando tudo que tinha direito quando uma pessoa apareceu na porta perguntando se eu queria um chá. Olhei pra ela e vi uma mulher um pouco mais nova que eu, loira de cabelos cacheados, boca carnuda, olhei pra ela, fiz uma expressão séria e disse que a guerra era foda, ela respondeu que era melhor fazer e saiu.

Alguns minutos depois voltou, me levantou e me enfiou debaixo do chuveiro. Na hora, com a água gelada o porre passou, depois me levou até o sofá, me deitou nele e levou o chá. Bebi, estava bem amargo, fiz cara feia e perguntei quem era ela, respondeu que se chamava Marcela e era minha madrasta, dei um sorriso e disse “prazer, meu nome é Doi..” nem consegui completar, apaguei.

Na manhã seguinte voltei para meu quartel em Belo Horizonte. Nem fiquei muito tempo, fui expulso do Exército depois que numa briga generalizada em um bar quebrei uma garrafa de pinga na cabeça de um Coronel. Bati na porta de casa com uma mala em uma mão, sorriso na face, meu pai atendeu e eu disse “Oi pai, voltei”.

Nem preciso dizer a cara que ele fez, ficou furioso em saber que havia sido expulso. Sandra, minha irmã querida, me abraçou e disse bem vindo, de dentro da casa veio a Marcela me cumprimentar e perguntar se lembrava dela, rindo respondi que sim, era a moça do chá amargo.

Sim amigos, meu pai realmente havia se casado de novo e esse era um problema, porque a mulher dele era linda!!  E o pior, além de linda extremamente simpática. Com a proximidade de nossas idades viramos grandes amigos, esqueci aquela história que era uma afronta meu pai ter uma nova mulher, eu estava é gostando.

Era simpática, bonita e me atraía, atraía muito, procurava desviar meus pensamentos, afinal era minha madrasta. Existia certa tensão entre a gente, notava que não era só da minha parte, parecia que ela também se atraía por mim. Sandra reparou e comentou que eu tomasse cuidado porque estava dando na vista, comentei com meus amigos a situação que ocorria em casa, como sempre galhofaram de mim, que eu era um pára raio de confusões e que esquecesse minha madrasta.

Comecei a “enfiar a cara” nos estudos, decidi que iria tentar entrar pra universidade, me tornar engenheiro. Marcela achou bacana a minha idéia e me ajudava nos estudos, pegava a lição e tomava de mim, fazia perguntas pra ver se estava preparado para prestar concurso. Meu pai desconfiava de nada e ainda incentivava, que era pra eu tomar jeito e a engenharia era uma
ótima opção.

A relação deles era estranha, não havia afeto, carinho. Tudo bem, meu pai não era de mostrar esse tipo de sentimento, mas pelo menos com minha mãe às vezes ele dava um beijo em sua testa, levava presentes, os dois saíam juntos.

Com a Marcela havia nada disso, a minha madrasta vivia sozinha em casa. Sandra saía muito e meu pai além de trabalhar começou a sair bastante à noite, coisa que nunca havia feito, acabava que eu era sua única companhia.
Comecei a reparar também que às vezes ela aparecia machucada, corte no lábio, braço arranhado, perguntava o que acontecia e ela falava que era cozinhando ou caindo na casa, dentro do banheiro. Comecei a estranhar aquela situação e reparar mais, notava também algumas discussões deles no quarto, ele falando alto, ela chorando, definitivamente as coisas não iam bem.

Uma noite notei uma discussão mais violenta de dentro do quarto deles. Os gritos dele eram intensos, choro dela também, ouvi barulho, grito de dor e a porta abriu. Disfarcei como se não tivesse prestando atenção, meu pai saiu dando passos rápidos, abriu a porta de casa e bateu violentamente. Entrei correndo no quarto dela e a encontrei deitada na cama chorando, seu olho estava roxo, não tinha como ela negar mais, ele batia nela.

Perguntei o que havia acontecido, ela não quis falar, chorando muito pediu que eu saísse e batesse a porta, respeitei sua decisão, saí, fechei e fui pro meu quarto. Estava lá eu lendo um livro quando ouço batidas na minha porta.

Fui atender e era ela, mais calma, não chorava mais, só o roxo no olho havia aumentado, perguntei se estava tudo bem, ela respondeu que sim, mas que precisava de minha ajuda, disse que meu pai estava lhe traindo, mas ela precisava ter certeza. Perguntei como poderia ajudá-la, ela pediu para que eu a levasse num lugar, na zona.     

Argumentei que lá não era lugar para ela, que não era uma boa idéia. Mas Marcela não me deu ouvidos, disse que precisava ver pessoalmente meu pai lá e implorou minha ajuda. Não tinha como negar, resolvi concordar e fui pegar o carro.

Peguei o carro e fomos, procurei em várias casas do local e nada de achar. Entrei na última casa e lá encontrei meu pai bêbado com uma mulher no colo. Saí da casa sem que ele percebesse minha presença, ao entrar no carro Marcela me perguntou se havia visto algo, tentei disfarçar, mas não consegui, ela percebeu e contou que queria ver. 

Entramos na casa e ela viu meu pai com a mulher no colo, ainda deu tempo de ver os dois levantarem e caminharem em duração a um quarto. Marcela não chorou, apenas disse séria que já tinha visto o que queria e podíamos ir embora, concordei e levei.

Entramos em casa, perguntei se ela estava bem e Marcela respondeu que sim, que só precisava ficar sozinha, entrou no quarto e fechou a porta. Ainda fiquei na sala um tempo lamentando aquela situação, com pena dela, até decidir ir  para o meu quarto também e dormir.

Dormi e acordei com batidas na porta, quando fui ver era a Marcela. Perguntei se estava tudo bem, mas ela não respondeu nada, me deu um beijo e me empurrou, caí na cama. Ela veio por cima de mim e falei para que ela não fizesse aquilo, que estava magoada, ela me mandou que calasse a boca, que a guerra era foda, me beijou e fizemos amor.

Sim caros leitores, vocês leram certo, fizemos amor, finalmente eu fiz amor, deixei de ser virgem. Foi uma noite espetacular, aquela mulher era maravilhosa, deliciosa, fizemos amor a noite inteira. Quando acordei estava nu e sozinho, ela já havia deixado o quarto há tempo, sentei, olhei para baixo, mexi nele e repeti a expressão do Gustavo “consegui”.

Sabe aquela música do James Brown? “I feel good”? Pois bem, eu me sentia assim no dia seguinte, me sentindo muito bem, se essa música já existisse naquela época com certeza cantarolaria “I feel good”, também cantaria “Sex Machine”, meu repertório seria todo James Brown. Eu estava me sentindo bem, ah como eu estava..

Na mesa do café da manhã meu pai via e não entendia nada, perguntou que bicho tinha me mordido. Falei que nada só estava feliz, ele riu e comentou que apostava que tinha mulher no meio. Marcela abaixou os olhos, ruborizada, ri e respondi que talvez ele estivesse certo. Meu pai levantou, falou que esperava que pelo menos eu tivesse escolhido uma decente e saiu, coloquei xícara de café na boca e falei “com certeza”. Marcela constrangida com a conversa levantou e disse que tinha que arrumar limpar a sala. Ficamos Sandra e eu na mesa, eu tomando o café, passando manteiga no pão e ela me olhando.

Notei que me olhava e perguntei se havia acontecido alguma coisa, ela olhando bem nos meus olhos comentou “você foi pra cama com a mulher do papai”. Na hora estava com a xícara na boca e engasguei, perguntei como ela poderia falar algo desse tipo, que ela estava louca, ela ainda com os olhos em cima de mim comentou novamente “foi sim, eu não sou boba Doido, você esta com caso com a mulher do papai”. Fiquei nervoso e pedi para que ela comentasse baixo, ela tomou um gole de café e disse que não tinha nada contra, que o papai merecia, mas que eu tomasse cuidado porque ele era perigoso.

Entendi o recado, mas não segui muito, Marcela e eu viramos amantes e foi maravilhoso. Enquanto meu pai saía por uma porta para encontrar vadias na zona, eu entrava em seu quarto e tinha noites ardentes com minha madrasta, meu pai desconfiava de nada, só queria saber de suas farras e eu só queria saber da mulher dele.

Éramos amantes e amigos, contava meus sonhos pra ela e ela os seus pra mim. Disse que desde criança sonhava em morar em Belo Horizonte e ser professora, perguntei o que a impedia de ser feliz, porque não ia atrás de seus sonhos, abandonava meu pai e principalmente porque ela havia se casado com meu pai. Ela respondeu que sua família era muito humilde, seu pai havia sido funcionário da prefeitura de Tremembé e contraiu dívidas com meu pai e ela acabou sendo trocada pela dívida.   
    
Fiquei pasmo com aquela história, já tinha ouvido falar de negociações assim, mas pensei que fosse coisa do passado, que o mundo havia se modernizado e não tinha mais dessas coisas, principalmente na minha família eu nunca imaginei que podia ocorrer algo assim dentro da minha casa. Ela me abraçou chorando, disse que me adorava e que eu era a única coisa boa de sua vida. Fiz carinho na sua cabeça e disse para que não se preocupasse, que iria sempre cuidar dela.

O tempo foi passando, nosso caso cada vez mais forte. Não a amava, mas tinha um grande carinho, meu pai cada vez mais displicente com ela. Um dia meu pai chegou para mim e disse que iria passar o fim de semana fora e que eu tomasse conta de tudo, respondi para ele ir tranqüilo e fui contar a novidade para Marcela. Ela ficou feliz porque teríamos um fim de semana só para nós e eu ainda melhorei a situação dizendo que nossa família tinha uma casa numa outra cidade, na beira de um lago com cachoeira e poderíamos ir pra lá.

Marcela adorou a idéia e começamos contar os dias para que esse fim de semana chegasse. Meu pai viajou, peguei meu carro e fui com Marcela para a casa. Chegamos no local, lindo, escondi meu carro para que ninguém desconfiasse, entramos e fizemos daquela casa nosso ninho de amor.
Nós dois na sala, friozinho gostoso, lareira nos aquecendo, vinho e muitos beijos. Fizemos amor na sala, depois no quarto, era muito gostoso fazer amor com a Marcela. Depois de muito nos amarmos ela levantou e disse que iria tomar um banho, sorri e disse que tiraria um cochilo enquanto ela não voltava. 

Mal cochilei e mexeram na maçaneta, com olhos fechados falei “vem meu amor, que seu tigrão ta esperando”, ouvi um berro masculino e uma pergunta “Tigrão, que história é essa de tigrão? Ficou doido de vez?”. Tomei um susto, abri os olhos e dei de cara com meu pai na porta.

Ele perguntou o que eu estava fazendo ali, devolvi a pergunta já que ele havia dito que iria para um congresso político. Ele pediu para que eu falasse baixo, que estava com uma mulher na sala, uma mulher importante e ela não poderia saber que tinha alguém ali. Perguntou com quem eu estava ao ouvir o barulho do chuveiro, falei que ele também não podia saber, que era uma mulher casada.

Nisso Marcela aparece atrás dele, fico branco. Ela quando ia falar alguma coisa percebe que ele está na porta, trinco os dentes e viro o rosto pro lado como fazendo um sinal para que ela saísse. Ela saiu correndo e meu pai olhou pra trás, viu nada. propus um acordo à ele. Como estávamos os dois com mulheres que não poderiam ser vistas que ele saísse, desse uma volta com a dele por dez minutos para assim dar tempo que eu saísse, meu pai
estava tão nervoso quanto eu e concordou.

Quando os dois saíram e fecharam a porta levantei correndo e fui buscar a Marcela. Ela estava branca, com o coração acelerado, falei que tínhamos dez minutos pra ir embora, nos arrumamos e saímos.

No carro voltando pra Tremembé estava aliviado por nada de pior ter acontecido. Marcela estava com cara fechada, parecia triste, perguntei se ela estava triste por ver meu pai com outra mulher e ela respondeu que não, estava triste pela mulher que estava com ele, não esperava ver os dois juntos. Perguntei quem era a mulher porque eu não consegui ver, ela respondeu que já que eu não tinha visto que era melhor que esquecesse o assunto.

Aquela situação não podia mais continuar daquela forma, decidi que iria ajudar a Marcela. Perguntei se ela queria realizar o seu sonho de ir pra BH ser professora. Ela respondeu que sim que era tudo o que ela mais queria na vida, perguntei se ela teria coragem de largar meu pai e ela respondeu afirmativo, falei então que iria ajudar.

Uma noite, estávamos meu pai, Marcela, Sandra e eu jantando quando do nada Marcela disse que queria a separação. Meu pai engasgou com a sopa e perguntou que brincadeira era aquela, Marcela calmamente respondeu que não queria mais viver com ele, não agüentava mais aquela vida, estava indo embora naquela noite e que iria arrumar sua mala. Levantou e meu pai foi atrás puxando seu braço, ela se soltou e disse para que ele nunca mais tocasse nela, que ele nunca mais ousasse fazer isso senão o mataria. Meu pai gritou que ela não podia ir embora, que seus pais deviam dinheiro, muito dinheiro e ela pertencia à ele.

Era o que ela queria ouvir, entrou no quarto, voltou e entregou um dinheiro na mão do meu pai. Ele perguntou que dinheiro era aquele, ela respondeu que era o dinheiro que seus pais deviam, mandou que ele contasse. Ele contou o dinheiro e ela perguntou se estava certo, meu pai espantado respondeu que sim, Marcela disse “ótimo” e entrou no quarto para fazer sua mala.

Eu que tinha dado aquele dinheiro para Marcela, vendi meu carro e raspei minhas economias no banco e entreguei para ela, com o dinheiro ela pagou a dívida com o meu pai e ainda sobrou algum para começar a vida em Belo Horizonte. Marcela arrumou a mala, se despediu de mim, da Sandra e foi embora. Meu pai desabou em sua cadeira preferida com cara estupefata, sem dizer nada, disfarcei por uns dez minutos e saí.

Encontrei com a Marcela na estação de trem. Ao me ver ela correu para mim e me deu um beijo, o último beijo, apaixonado, agradeceu tudo que eu fiz. Eu sorri e mandei que ela fosse ser feliz, ela prometeu que seria, se despediu, foi pra porta do trem, voltou, me deu um outro beijo apaixonado e disse no meu ouvido ”era a Fabíola”, foi pro trem e o trem partiu.  

O trem foi embora e eu fiquei ali com cara de bobo. Era a Fabíola a amante do meu pai, ela que naquele momento já era esposa do Rodrigo e o Rodrigo era um marido dedicado, respeitador. Fiquei ali parado imaginando como meu pai e ela tiveram coragem de fazer isso, que meio podre eu vivia.

Depois de um tempo fui pra casa. Encontrei uma mala na sala e perguntei o que era aquilo, meu pai surgiu e perguntou se tinha cara de idiota, não entendi o que ele queria, mas tratou de me explicar. Falou que sabia que a Marcela era a mulher que estava comigo na nossa casa do lago, que eu dei o dinheiro pra ela ir embora. Não tive como desmentir, assumi tudo e ele mandou que eu fosse embora e nunca mais aparecesse ali, que não era mais seu filho. Tentei argumentar que não tinha pra onde ir, em vão, ele mandou que eu saísse imediatamente.

Saí de casa, sem um tostão no bolso. Tinha dado todo meu dinheiro pra Marcela, sem ter pra onde ir e já era bem tarde. Tremembé deserta e eu com minha mala perambulava pela cidade vazia. Cheguei à praça, vi o mendigo da cidade que chamávamos de Lindão deitado e não vi outra solução, pedi um espaço pra ele e deitei fazendo minha mala de travesseiro e pensando no que iria fazer da minha vida. Virei pro Lindão e disse “É amigo, a guerra é foda”.     

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