80


Domingo no "Bazar da Ilha" uma mulher colocou relato assustado porque foi abordada por um homem negro estilo angolano em uma padaria e ele perguntou "Como se chamas?", depois ele passou três vezes por ela olhando, comprou algo e saiu em direção a praia sentido Freguesia.

Sim, foi apenas isso que ele fez e por isso ela fez um relato assustado e eu acho que conheço esse rapaz. É um morador de rua, um "maluquinho" que chega educado nas pessoas, faz umas perguntas e pede dinheiro, faz apenas isso. Vocês viram no começo da postagem a cor que eu disse que o homem tinha, a mesma do pai morto em um carro que recebeu 80 tiros. Sim, 80 tiros.. O rapaz maluquinho após essa postagem virou alvo. Alguém pode reconhecer da postagem e fazer alguma maldade com ele como fizeram com esse pai de família. Alvos que tem como marca coincidente a cor.

Percebem o quanto essa sociedade está doente? O quanto somos irresponsáveis? Essa mulher no bazar pode ter acabado com a vida do rapaz assim como acabaram com a vida de uma família. Como será a vida agora de todos os que estavam no carro? Da criança que viu o pai morrer? Como dizer que o pai morreu pelas mãos de quem devia proteger e que ele pode ter morrido pela cor que esse menino também tem?.Vamos ser sinceros, evidente que a cor tem a ver. Um homem branco teria seu carro alvejado? Eu perguntando pra mulher como se chama seria alvo de postagem assustada?

É terrível falar que essa mulher é uma típica insulana porque muitos aqui são assim. Eu vi foto antiga do seu Jayme, um pesquisador ilustre da Ilha do Governador, mostrando o Dendê e comentários de pessoas dizendo que naquele tempo que a Ilha era feliz porque não tinha virado favela lá, não tinha nordestinos. Só que não é só a Ilha que é assim, o Brasil está assim.

É um país doente que vive momentos de pavor e ódio. Pavor com razão por todas as atrocidades que vemos, de como a vida humana hoje vale nada. Ódio fermentado por aproveitadores que usam esse sentimento para disseminar a agressividade, a vingança, a justiça a qualquer preço, o "olho por olho, dente por dente". Pessoas comuns da sociedade e políticos que lucram muito com a indústria do medo, plantando o ódio e somem todos em um momento como esse. Cadê o presidente que gosta de fazer sinal de arminha? Cadê o governador que diz que tem que atirar em suspeito? Sumiram todos assim como o prefeito que sempre some quando chove no Rio, aliás, agora está chovendo muito.

A única foto dessa postagem hoje é preta. Preta de luto, preto de vergonha, preto que é um cor que vale pouco nesse país injusto, preto é a cor da morte, a cor de quem foi escravizado, sofreu séculos e mais séculos e mesmo assim só quer justiça e igualdade. Não quer vingança e sorte a nossa que não caem no papinho demagogo de quem comanda hoje nossas esferas políticas; A coisa seria muito pior.
Um país doente e quem acha que tem nada a ver com isso só perceberá quando for infectado.

Luto, apenas isso hoje.

Multiplicado por 80.

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