PRIMEIRO DIA DE AULA
O primeiro dia de aula sempre foi um dia controverso para mim..
Era um dia ruim como é para a maioria das crianças, as normais pelo menos, por representar o fim das férias, das brincadeiras, de dormir tarde, acordar tarde, Era um saco voltar a acordar cedo e perder parte d meu dia em sala de aula.
Mas tinha uma parte que eu gostava, excitante que era o novo. A nova professora, os novos amigos, ver se os meus amigos ainda estavam, se a menina que eu gostava anda estava na sala..Novas mate´rias, nova série, aquele frescor da novidade.
Era o dia em que normalmente fazíamos uma redação para contar como foram as férias. Em uma dessas redações recebi meu primeiro elogio por escrever ficções. Viajei tanto na maionese na redação que a professora perguntou a minha mãe se era verdade tudo aquilo. Isto é, era mentira, mas a professora chegou a acreditar em mim. Ali vi que poderia ser um bom ficcionista.
Teve um ano que eu ganhei dinheiro e lanche no primeiro dia de aula. Foi quando a professora de história pediu que fizéssemos um trabalho em cima de "Liberdade, liberdade, abra as asas sorte nós". Era o ano de 1989, a escola acabara de ser campeã do carnaval e em tempos pré Google eu era o único da sala conhecer o samba. Copiei a letra para meus amigos em troca de dinheiro e lanche.
E essa história é verdade, não é ficção de volta as aulas.
Estou nesse momento escrevendo essa crônica com meu filho Gabriel ao lado perguntando o que esto escrevendo. Ele não sabe ler ainda, mas já frequenta a escola, será alfabetizado esse ano e a partir do ano que vem irá fazer essas redações. Já passa pela ansiedade do primeiro dia e quando busquei a ele e Bia na escola no primeiro dia de aula esse ano tive a ideia de começar o ano assim.
Sim, porque hoje é o primeiro dia de aulas, pelo menos do blog, e faço aqui minha redação de férias.
As férias foram muito boas. Fiz noite de autógrafos de meus livros, filmei nosso segundo curta, namorei, fiquei com meus filhos, fui a praia, shows, blocos, Sapucaí em ensaios técnicos e no carnaval em si viajei para Teresópolis e descansei. Escrevi também. Escrevi para sites que não param e fiz um musical, além de corrigir livros ainda não publicados. Ajeitei também meu livro de poesias e crônicas que será lançado na Bienal do Rio em setembro.
E, claro, como sempre teve o carnaval antes do primeiro dia de aula. Não é mais necessário que eu copie letras para que saibam sambas, assim como não é mais necessário livros para nos impor a história.
Leandro Vieira e os compositores do samba da Mangueira de 2019, até onde, sei, não são estudados nas escolas que querem abolir Paulo Freire e obrigar a cantar o hino nacional e gritar slogan de governo no fim, mas ensinaram muito nesse período. Mais que qualquer cartilha nova com novas doutrinas de educação serão capazes de fazer um dia.
Nessas férias aprendi que existe um país que não está no retrato e sua história não é necessariamente a que está de forma oficial nos livros. Em 1989 escrevi para meus amigos os versos "Da guerra nunca mais / Esqueceremos do Patrono Duque imortal". Em 2019 vi o mesmo Duque em cima de corpos empilhados. No primeiro dia de aula percebemos que na verdade estamos sempre aprendendo, mesmo nas férias.
No primeiro dia de aula de 2019 percebemos que sempre seremos estudantes.
Bem vindos ao "Trocando em Miúdos" em sua temporada de 2019. Um ano que promete muitas alegrias, emoções e muita luta.
Até porque é na luta que a gente se encontra.
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