AINDA SOBRE PAIS E FILHOS
Domingo foi dia dos pais e tive a felicidade de passar mais um com meus filhos.
Coisa bem tranquila, apenas nós quatro e a Luciana na pracinha aqui perto de casa. Estava preocupado por ser ruim ,por estar "meio duro" no dia, mas foi maravilhoso. Devia ter aprendido já que dinheiro conta em nada na hora de semear amor.
Todos os dias aprendo com os três, Bia, Gabriel e Lucas, Nove amos atrás eu posso dizer que eu era um Aloisio completamente diferente do de hoje. Fui filho único, tive tudo na mão, sempre fui o centro das atenções. Tendo filhos tive que aprender a compartilhar, a exercer a paciência que nunca tive, aprender que o "eu" vira "nós" e com o tempo o "nós" vira "eles". Filhos sempre em primeiro lugar. Muitas vezes abrimos mão de coisas que gostaríamos por eles e fazemos isso com sorriso no rosto.
Porque nada paga a alegria que é o sorriso deles. Não é fácil ser pai, mas nada que é fácil é bom.
Semana passada eu ouvia o excelente Milton Gonçalves na Rádio Globo falando da relação entre pais e filhos. Seu filho, o também ator Mauricio Gonçalves, falou do orgulho de ser seu filho e Milton, emocionado comentou "Homem, se você acha que não será um bom pai não seja pai, não coloque um filho no mundo apenas por botar e dizer que é garanhão, para por filho no mundo tem que ter amor".
Venho pensando muito nisso.
Pensando porque conheço muitos homens assim, tenho amigos que fizeram um monte de filhos, não conseguem cuidar de todos e para ser sincero nem ligam. Pais que abandonam filhos. Um estudo recente mostrou que mais de cinco milhões de crianças foram abandonados por seus pais.
Pensando, percebi que também fui.
Meu pai está vivo, tem sessenta e dois anos, e não conheço uma pessoa que fale mal dele. Simpático, boa praça, amigo dos amigos, é elogiado por todos, bem conhecido aqui na área. Seu apelido é "china" e por causa dele tem gente que até hoje me chama de "chininha".
Mas não nasceu para ser pai. Não meu pai pelo menos porque pelo que me dizem foi um ótimo pai para a moça que criou como filha, filha de sua esposa atual. Nunca gritou comigo, nunca me bateu, nunca tive uma discussão com ele, nunca tive problemas com ele e hoje penso como isso faz falta. Faz porque não tenho nenhuma história com ele, nada que seja realmente marcante. A intimidade que tenho com ele é mínima, tenho mais com amigos de minha namorada que conheci na comemoração do meu aniversário semana passada que com ele.
Pai distante, pai relapso, pai ausente como muitos que tem por aí. Nunca me deu um presente de aniversário, nunca me ligou no meu aniversário e nem deve saber minha idade. Tenho raiva dele por isso? Nenhuma, ele não nasceu para ser pai, pelo menos não para ser me pai, mas me incomoda demais ele ter três netos, só ter visto rapidamente o do meio e nem conhecer a mais velha de nove anos sendo que ela mora comigo e eu moro na mesma casa há 42 anos. Por essa falta de interesse dele em relação a meus filhos que comecei a entender a minha falta de relação com ele.
Falta de relação com toda família paterna. Não sei o nome do meu avô paterno e se eu ver minha avó materna na rua não saberei identificar, identifico e vejo às vezes tios e só. Curioso que sempre quando algum deles me vê é como se sentissem forte emoção, como se tivessem sido afastados de mim quando na verdade nunca foram, já disse, morei sempre na mesma casa e tem nada que impeça de virem aqui me ver ou a meus filhos. Minha mãe morreu e ninguém me procurou, única pessoa que apareceu aqui foi um tio para vender vassouras.
Aí uma das tias ficou doente com câncer, desenganada em um hospital e queriam que eu visitasse, minha própria namorada da época queria. É, seria humano sim, mas seria hipócrita porque nenhuma relação foi criada entre nós e nem sabia seu nome. Ela faleceu espero de coração que esteja em um bom lugar.
Tudo isso só fortalece uma coisa. O imenso amor que tenho por minha mãe que nunca falou mal de meu pai. Um "a" sequer. Foi mãe, pai, foi meu tudo e através do amor que recebi dela tento, esbarro, erro, mas aprendo a cada dia a ser pai e repassar esse amor.
Momentos como esse da praça fortalecem ainda mais nossa relação. Ser pai é um barato, barato que nem todos tem talento para aproveitar.
E eu tenho.
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