NO REINO ENCANTADO: CAPÍTULO III - O QUE É, O QUE É
Gabriel procurou a irmã por tudo que era canto e nada. Aos poucos chegavam outros ciclistas vasculhando a mata em volta. Nada de rastro. A noite quase todo o bairro procurava. Rebeca só chorava enquanto Anderson, desesperado, gritava por Bia.
Nada foi encontrado. Um pedaço da bicicleta, um tênis da menina. Nada. A família voltou pra casa desolada. Rebeca tomara remédio para descansar e os policiais conversavam com Anderson, que sentado no sofá, parecia com a cabeça longe abraçado a Gabriel. A noite seria longa para a família.
Mas e Bia? Onde a menina estava?
Ninguém sabia. Nem mesmo ela.
Bia estava deitada em um gramado com a bicicleta ao lado. Ao poucos foi abrindo os olhos e tentando lembrar o que ocorrera. Olhou o céu e viu um Sol lindo no céu azul e nuvens que pareciam algodão doce. Levantou e se tocou ficando feliz que não tinha nenhum arranhão. Apenas lembrou “pelo tombo no barranco era pra estar bem pior”.
Aí que ela se tocou, olhou para cima e se assustou perguntando “cadê o barranco?”. Não tinha barranco nenhum ali, na verdade tinha nada ali, apenas o gramado.
Bia “espichou” os olhos e não conseguia ver nada no horizonte, apenas o gramado sem fim. Assustada se perguntou “será que eu morri?”. Se beliscou e deu um grito respondendo a própria
pergunta “não morri e isso dói”.
Olhou a bicicleta completamente destruída e se preocupou “Como vou voltar pra casa agora? Aliás, pra que lado é minha casa?”. Pegou a bicicleta olhando para a mesma tentando achar uma solução quando uma pessoa passou correndo por ela.
Bia se assustou e gritou “Hei você!!”. A pessoa ouviu e se virou. Era um homem da altura de Bia, chapéu estilo cartola verde, casaco verde, bermuda branco e cabelos ruivos. Uma figura estranhíssima. Ele não mostrava muita atenção com Bia e só repetia para si a frase “O que é O que é?”.
Bia se aproximou perguntando quem era ele e onde ela estava. O homem não lhe dava atenção repetindo “O que é o que é? O que é o que é?”. Bia se irritou e perguntou gritando “O que é o que é o que?”.
O baixinho animado respondeu perguntando “O que é o que é? Tem no meio do coração?”. Bia se assustou e perguntou se aquilo era uma charada. O homem, ainda mais animado, começou a dar pulinhos no gramado respondendo que sim. Bia pensou, pensou e respondeu que não sabia. O homem muito feliz respondeu “a letra A”.
A menina pensou o quão idiota era aquilo e perguntou se ele poderia ajudá-la. O homem olhou pra ela sério e perguntou “Mantém o mesmo tamanho não importa o peso”. Ela nada entendeu e ele repetiu “O que é o que é mantém o mesmo tamanho não importa o peso?”.
Bia coçou a cabeça, pensou e disse que não sabia. O homem deu novos pulinhos de felicidade e respondeu “a balança”. Bia, muito irritada gritou “Chega, não quero mais brincar disso!!”. Quando o homem perguntou se ela tinha fome.
Bia perguntou se era uma nova charada e ele respondeu que não, perguntava se realmente ela tinha fome. A menina respondeu que sim e o homenzinho de verde olhou pro céu e fez sinal com a mão como se chamasse as nuvens.
No momento que Bia perguntou o que ele estava fazendo uma das nuvens desceu do céu e foi até a mão do homem. A menina, assustada, perguntou como ele fizera aquilo e o homem perguntou “Gosta de algodão doce?”.
Bia respondeu que sim. O homem arrancou um pedaço da nuvem, pôs na boca e disse “Come também, ta uma delícia”. Bia, com todo cuidado, pegou na nuvem, com o homem incentivando e arrancou um pedaço. Ficou olhando para a nuvem com medo de comer enquanto ele dizia “Vai, não tenha medo, coma!!”.
A menina botou o pedaço na boca, mastigou lentamente e sorriu dizendo “é algodão doce!!. O homem pulando feliz respondeu que era e a menina completou “Eu sempre disse pro papai que nuvens eram de algodão doce!!”.
Os dois sentaram no gramado e se esbaldaram no algodão doce comendo toda a nuvem. No fim já estavam empanturrados. Bia dizia que não aguentava comer mais nada quando o homem perguntou “O que é o que é que cai de pé e corre deitado?”. Bia respondeu que não sabia e o homem levantou feliz dizendo “chuva”.
O homem completou dizendo que era um prazer conhecer tão esperta menina. Tirou um relógio do bolso e disse “Faltam cinco minutos para daqui a pouco. Preciso ir”.
Enquanto ele se afastava Bia perguntou para onde ele iria e como ela sairia de lá. O homem sem olhar pra trás e andando dando pulinhos respondeu “pegue o trem”. Bia gritou “Que trem? Aqui só tem grama!!”.
Foi quando ouviu um apito próximo e com o susto se jogou no chão pulando para o lado. Quando olhou para cima viu um trem enorme ao seu lado. O maquinista olhou para ela e perguntou para onde iria. Bia respondeu “Não sei” e o maquinista disse “Entre!! É para lá que vou!!”.
Bia entrou no primeiro vagão atrás do maquinista e o mesmo gritou para ela “Se segure que esse bicho voa!! O trem que tinha rosto respondeu “Voo mesmo!!” e Bia sem entender nada, olhando pela janela teve que se segurar quando o trem voou literalmente.
Ela estava sozinha no vagão e depois que se recompôs voltou a olhar pela janela. Ficou maravilhada com aquele trem voando. O gramado verdinho lá embaixo. As nuvens tão próximas que seria capaz de tocar. Os raios de sol tocando seu rosto e o iluminando. Bia fechava os olhinhos, abria um sorriso com dentinhos faltando e deixava que os raios lhe tocassem.
Depois de um tempo foi até a cabine do maquinista e ao seu lado encontrou o homenzinho de verde. Espantada perguntou como ele parara ali dentro e o homem perguntou “O que é o que é? Por quê os loucos nunca estão em casa?”. Bia respondeu que não sabia e ele respondeu “Porque sempre estão fora de si”.
O maquinista ria e Bia comentou “você é louco.”. O homenzinho respondeu que não era, pois estava em casa. Ela respondeu que era loucura, ele estava na frente dela quando o homem pegou um telefone do bolso, entregou para a menina e mandou “ligue pra mim”.
Bia, sem entender, pôs o telefone no ouvido e respondeu que não sabia o seu número. O homem comentou que já estava ligando quando do outro lado da ligação atenderam ao telefone com uma voz idêntica a do homenzinho perguntando “O que é o que é?”.
Bia desligou o telefone e o homenzinho perguntou se ela já acreditava nele. A menina perguntou para o maquinista aonde iam e ele perguntou para onde ela queria ir. Novamente Bia respondeu “não sei” e o maquinista respondeu “Pra lá que nós vamos.”
Bia lembrou de seus pais, Gabriel, a preocupação que deviam estar e a situação da casa e disse “quero ir pra casa”. O maquinista perguntou para qual lado ficava sua casa e ela respondeu “Não sei”. O maquinista respondeu “Já estamos chegando lá”.
Depois de um tempo de viagem Bia ficou com sono e voltou ao vagão que entrara. Encontrou uma coberta, se cobriu e deitou comentando baixinho “Isso tudo é um sonho. Quando acordar estarei em casa”.
Dormiu logo depois.
Um tempo após o trem freou bruscamente. Bia caiu no chão e se recompôs dizendo “Ainda to no sonho”. Ao levantar viu o maquinista e o homenzinho de verde com para quedas nas costas. O maquinista disse pra ela “Obrigado por viajar conosco. Volte sempre”. Ele abriu a porta do trem e a menina percebeu que ainda estavam no ar e bem alto.
Bia perguntou como desceria e o maquinista respondeu “Use a imaginação”. Os dois pularam e a menina desesperada gritava por eles.
Ela estava sozinha no vagão sem saber como descer quando começou a falar sozinha “use a imaginação, use a imaginação”. Nisso apareceu um para quedas perto de um banco. A menina abriu um sorriso e quando foi botar nas costas o para quedas disse reclamando “Hei, me coloque com cuidado que machuca.”
Bia se assustou e perguntou “Você fala?” o para quedas respondeu “Você fala, por que eu não posso falar?” e ela desistiu de tentar entender.
Foi até a porta aberta do trem, viu que estava alto e teve medo. O para quedas reclamou “Vamos logo que não tenho o dia inteiro”. Ela tomou coragem e pulou.
Só que a descida não foi normal. O para quedas levava a menina pra cima e pra baixo, acelerado, rodopiando e gritava se divertindo. Ela pedia que ele parasse, pois iria vomitar e ele respondia “Para de frescura!! Isso ta divertido!!”.
Bia implorava para que ele parasse até que ele respondeu “Menina chata, por isso prefiro meninos”. Acelerou e levou a menina até um monte de feno que tinha em cima de uma charrete.
Bia se espatifou ali caindo dentro do feno. Depois de um tempo conseguiu sair de dentro dele tossindo e tirando feno da boca.
Reclamava com o para quedas que não falava mais nada e tomou um susto percebendo que o cavalo que estava preso a charrete era azul.
Olhou em volta e tomou um susto maior ainda com o local que estava.
Era um reino encantado.
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O MÁGICO
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