AMAR DE NOVO: CAPÍTULO XIV - A BORBOLETA (1º PARTE)


Que sacanagem é essa do destino? Por quê essa doença maldita tem que perseguir a mim e a todos que amo? Me sentia destruído, dilacerado, a menina entrou naquela sala cheia de sonhos, esperanças e saía com uma notícia assustadora como aquela. Como eu ia avisar ao Gabriel?

Isso tudo ocorrendo e eu tendo que aparentar uma calma que não estava sentindo.

O telefone tocou. Era Gabriel.

Meu filho, todo animado, falava no telefone que tinha se saído bem no teste e achava que iria rolar enquanto eu ouvia a tudo tentando encontrar palavras. Ao fim Gabriel perguntou como tinha se saído  a consulta e apenas perguntei "Tem como ir lá pra casa?".

Ele, evidente, se assustou e quis saber o que acontecia. Apenas pedi que fosse e que em casa eu contaria tudo.

Bem..Contei..Thais teve uns problemas em exames que fez e foi detectada uma alteração no útero. Havia uma alteração detectada em tomografia e era preciso fazer uma biopsia para ter certeza ou não. Thais chorava e Gabriel, assustado, não conseguiu ter reação. Sem saber o que fazer mandei, com gestos, que abraçasse a esposa.

Nunca vira Gabriel tão assustado. O olhar dele era de pavor, amedrontado e ele apenas conseguiu balbuciar a pergunta "E agora?”. Respondi que já estava providenciando tudo. De amanhã eles embarcariam para São Paulo e Thais faria todos os exames necessários no melhor hospital do Brasil para sabermos logo o que ela tinha.

Sugeri que dormissem em meu apartamento e de manhã viajassem, mas Thais não quis, preferia dormir em casa. Eu insisti, mas ela agradeceu e recusou. Concordei com ela e em silêncio Gabriel me abraçou e abriu a porta para saírem.

Disse "Vai ficar tudo bem" e eles saíram. Mas eu não tinha certeza se ficaria tudo bem, estava tão assustado quanto eles. Os dois fecharam a porta e eu desabei no sofá tentando entender aquela avalanche.

No dia seguinte estávamos cedo no aeroporto, os três com cara de que não dormiram. Pela primeira vez Thais comentou que estava com medo. Pedi que não tivesse, pois estaria nas melhores mãos do país e logo teríamos boas notícias. Gabriel me abraçou, agradeceu e eu falei em seu ouvido "Reza pra sua mãe".

Com dor no coração vi os dois cruzarem a porta de embarque. Respirei fundo e tinha a exata noção que uma temporada difícil se iniciava.

Cheguei em meu apartamento vazio, tirei o terno, sentei no sofá e aí parecia que a ficha caía. Comecei a chorar. Um choro compulsivo, doído. Choro por lembrar de minha história, choro por Thais, por Gabriel..Ele não merecia isso. Ele não merecia passar por aquele sofrimento e carregar a dor que carrego em meu peito. Deus não podia agir daquela forma, não podia fazer com ele o que fez comigo.

No momento de maior dor e maior desespero a campainha tocou. Tentei me recompor, parei de chorar e quando abri a porta vi que era Fernanda. Ela apenas disse "To aqui com você" e não aguentei desabando a chorar nos seus braços.

Ao poucos me acalmava. Fernanda não falava nada, apenas me consolava. Fomos para o quarto e deitei em seus braços. Os dois em silêncio, sem rolar nada demais. Apenas o carinho imenso que ela tinha por mim. Tempo que ninguém cuidava de mim, me protegia daquela forma, eu estava precisando.

Adormeci e ela também. Dormi muito, estava precisando, nem sei ao certo o quanto dormi, mas foram quase doze horas. Fernanda depois de um tempo acordou e ficou velando meu sono. Até que lhe deu fome.

Fernanda se levantou e fez um lanche colocando sobre a mesa da sala. Guga entrou no apartamento, cumprimentou a moça, foi entrando em seu quarto e voltou olhando para Fernanda em silêncio.

Fernanda perguntou se havia algum problema e Guga respondeu "Sensação de que já passei por isso". Fernanda riu e comentou que ele estava cismado até que meu amigo falou "Lembrei!! Lembrei de onde conheço você!!".

E descreveu a cena debaixo. Cena já contada.

“Falando em Guga, uma manhã ele se aprontava para ir ao fórum quando percebeu uma menina tomando café em nosso apartamento. Ele foi, voltou e cumprimentou. A moça que vestia apenas um blusão mal abotoado devolveu o cumprimento e continuou tomando café. Ele se sentou e se apresentou como Gustavo, mas que poderia lhe chamar de Guga.

Ela sorriu e quando ia dizer o nome ele interrompeu "Não precisa dizer, vou adivinhar, no mínimo seu nome é Linda e você é uma princesa, acertei?". Ela riu e devolveu "cantada engraçada tio, já conseguiu pegar alguém com ela?".

Antes que Guga se recompusesse do “tio” ela continuou "Não sei se você reparou tio, mas essa blusa é muito grande pra mim, eu estou usando a blusa do meu acompanhante que eu acho que se chama Gabriel, eu estava muito bêbada ontem, não lembro e ele está no banho. Como agora estou sóbria digo que não acho legal ficar com dois caras que moram na mesma casa em intervalo tão pequeno, você me entende né tio?".

Guga sorriu amarelo, pegou uma torrada e disse que estava atrasado se despedindo e saindo.”

Pois é. A moça do tal dia era Fernanda.

Enquanto Guga comemorava ter lembrado e Fernanda olhava sem graça para ele eu surgia para os dois. Fernanda se assustou com minha presença. Guga também e apenas comentei "Então vocês todos já se conheciam". Fernanda pediu que me acalmasse, mas não quis ouvir. Saí de casa com ela vindo atrás de mim.

Andei confuso, triste, irritado, sem querer olhar pra trás. Fernanda me chamava e eu não queria ouvir. Até que ela puxou meu braço. Irritado perguntei "Que é? Quer a família toda?". Fernanda me olhou assustada e disse estar me desconhecendo.

Olhei e falei "Porque todo mundo me acha bonzinho, sangue de barata, o cara camarada amigo de todos, mas tudo tem limites!! Punhalada por trás eu não aceito!!". Voltei a andar com Fernanda atrás de mim, ela puxou meu braço e disse que tinha punhalada nenhuma.

"Como nenhuma? Você transou com meu filho!! Na minha casa!!". Fernanda argumentou que não sabia que ele era meu filho, tinha sido na passagem anterior dela ao Rio. Uma noite apenas que ficou aqui, bebeu, se encontrou com ele e rolou.

Mas perguntei o porque do silêncio, ele sabiam quem era um e outro, se lembravam da noite que tiveram e porque fizeram aquilo comigo. Fernanda abaixou os olhos e comentou que ficaram com vergonha, as vidas dos dois tinha andado, ele voltou com Thais e eu tinha surgido. Combinaram de manter o silêncio.

Olhei para ela e disse "Nada que começa com segredos acaba bem e você estava certa em uma coisa. Eu tinha aparecido. Mas estou sumindo". Voltei a andar e Fernanda veio atrás implorando atenção. Pedi que ela parasse e continuei.

Deixo Fernanda para trás chorando e me olhando.

Tinha que me isolar e claro fui para o Arpoador. Tem horas que precisamos nos isolar, poder ouvir nossos pensamentos, refletir, mas as pessoas em volta não percebem e não deixam. Ali era o meu refúgio, o meu lugar.

Eram muitas coisas pra minha cabeça. Muitas coisas ocorrendo ao mesmo tempo.  Doença de Thais caindo como uma bomba, a transa de Fernanda e Gabriel...Como eles puderam fazer isso comigo? Esconder que algo assim ocorrera? Como puderam transar na minha casa!!

Fernanda foi a mulher que mais gostei desde Camila morreu. Por muitas vezes me vi apaixonado por ela e travava, minha história com Camila me impedia de prosseguir. Mas essa bomba? Eles terem transado? Fernanda por uma noite ter sido mulher dele?

Imaginava o dois se beijando, Gabriel tocando em seu corpo e ficava louco. Era meu filho!! Não podia competir com meu filho!! Tudo bem que na verdade ele era louco por Thais e naquele momento sofria por ela, mas não entrava na minha cabeça. Como eu ficaria com uma mulher que transou com meu filho? Como seriam o almoço de família com todos reunidos e eu imaginando que meu filho já viu minha mulher nua?

Minha cabeça doía, fervia e eu não conseguia parar de pensar em tudo o que ocorria. Meu telefone tocou e era Fernanda. Em um ato impensado arremessei o telefone longe caindo nas águas. Não queria falar com ela, não queria falar com ninguém. Queria ter o direito de ser egoísta, impulsivo e cabeça dura um pouco. Chega de só pensar nos outros.

Passei a noite no Arpoador, adormeci e acabei só acordando com o Sol na cara. Olhei para ele com cara de sono e sabia que tinha que seguir a vida. Pessoas precisavam de mim. Gabriel e Thais precisavam de mim.

Voltei para casa e tinha várias chamadas perdidas no telefone. Umas 20 de Fernanda, uma de Gabriel. Essa me preocupou e retornei a ele.

Liguei e meu filho desesperado me contou que a doença fora confirmada.

Disse que estava indo para São Paulo. Apenas tomei um banho rápido e peguei a ponte aérea.

Cheguei no hospital e encontrei meu filho sozinho sentado em uma cadeira com a cabeça baixa. Lembrei da história dele com Fernanda e ainda não tinha digerido, estava magoado. Mas antes disso sou pai e meu filho precisava de mim. Sentei ao seu lado e pus a mão em sua perna.

Ele notou minha presença e chorando me deu um abraço.

Entramos no quarto para ver Thais e o médico estava lá. Contou toda a situação, tamanho do tumor, riscos que ela corria e procedimentos que deveriam ser feitos. O primeiro de todos a retirada do útero.

Gabriel pediu que o médico fizesse o que tinha que fazer e Thais interrompeu dizendo "Espera, não é bem assim". Gabriel tentava entender ainda a reação de Thais quando a moça perguntou ao médico "E o meu bebê? E Bentinho?".

Thais escolhera o nome Bento por ser fã da obra Dom Casmurro de Machado de Assis.

Bentinho tinha apenas quatro meses e todos nós respiramos fundo ficando um pouco em silêncio. O médico olhou para Thais e escolhendo palavras contou "Infelizmente teremos que fazer o aborto".

Thais ficou nervosa e respondeu que não faria aborto nenhum. Não mataria seu filho e Gabriel argumentou que também era seu filho e sofria com isso. Mas tinha que penar na saúde dela, em sua vida.

Thais perguntou qual mãe colocava sua vida na frente de um filho. Gabriel tentou dizer que ela não era mãe ainda e Thais perguntou "Quem disse?".

Gabriel nada mais disse e Thais perguntou ao médico se morreria caso insistisse na gestação. O médico respondeu que suas chance diminuiriam muito, o tumor era agressivo e eles teriam que procurar outras formas de tratamento. Thais então perguntou “Corro imenso risco, mas não há certeza que vou morrer?". Ele respondeu que era isso então determinou "Não vou tirar meu útero e mesmo que o senhor dissesse que eu morreria não iria".

Gabriel fez menção que falaria algo quando pus a mão em seu ombro e pedi que ficasse em silêncio. O médico então pediu para falar comigo e Gabriel e nós três saímos.

Do lado de fora o médico nos explicou que era praticamente um suicídio pedindo para que Gabriel lhe convencesse quando pela primeira vez me meti e falei "Façam o que ela quer". Gabriel me olhou assustado e disse "pai, não ouviu o que o médico disse? É suicídio?". Respondi "Você tem uma grande esposa Gabriel, uma grande mulher. Só uma grande mulher é capaz de dar sua vida por outra pessoa. Não tire isso dela".

O médico nos olhou, disse que ministraria outro tipo de tratamento e saiu. Mandei que Gabriel voltasse para o quarto, desse um abraço forte em Thais dizendo que lhe apoiava e me obedecendo assim ele fez. Fiquei ali do lado de fora olhando aquele corredor de hospital e pensando.

Pensando na coragem de Thais. O quanto aquela menininha que vivia como gato e rato com Gabriel cresceu. Cresceu e sofreu muito na vida, vai ver o sofrimento fez crescer tanto. Passou por um casamento por compaixão e agora uma doença terrível em que preferiu a vida do filho à dela.

É compreensível, é mãe. Nós homens às vezes não entendemos porque a relação de uma mãe com filho é coisa única. Essa era a única chance de Thais ser mãe, ela perderia o útero, não poderia engravidar de novo e o laço com Bentinho já era forte, carregava o menino em seu corpo.

Atitude corajosa, mas que eu como um reles homem compreendia.

Gabriel ainda insistiu um pouco para que Thais pensasse no assunto, cogitou que poderiam adotar, mas a moça respondeu que não, queria Bentinho. O médico passou para nós todo o procedimento que seria feito pela saúde de Thais, gravidez e assim voltamos ao Rio.

Convenci o casal a ficar em meu apartamento por um tempo, seria melhor para eles. Fomos até minha casa e de lá dei uns telefonemas e consegui contratar uma enfermeira para que acompanhasse Thais em tudo que ela precisasse. Encaminhei os dois ao quarto pedindo que descansassem e enquanto pensava em coisas necessárias para a adaptação do casal ali a campainha tocou e fui atender.

Era Fernanda.

Com cara de quem chorara ela me olhou com jeito tristonho e disse que já que eu não atendia ao telefone resolvera ir pessoalmente. Eu era educado, não iria bater a porta na sua cara e chamei para que entrasse.

Convidei a sentar e disse a ela que estava com problemas e chegara a pouco de São Paulo. Ela me disse que sentia muito e pediu que lhe ouvisse.

Sentei a sua frente e respondi que era todo ouvidos.

Contou que como me dissera tinha vindo uma vez ao Rio, para um congresso e no fim dele foi para boate com conhecidos. Ali bebeu um pouco, conheceu Gabriel e se envolveram. Não lembrava muito da noite, apenas de acordar no apartamento. Contou que era fraca pra bebidas, mas isso não era motivo pro que ocorreu.

Pediu desculpas, disse que só soube que era pai de Gabriel quando lhe viu no dia do anúncio do casamento e que ficou envergonhada, desconfortável. Gabriel também lhe reconheceu e naquela mesma noite combinaram guardar segredo para preservar seu relacionamento e não me causar desconforto.

Falei que aquilo era um erro. Por mais que seja simplório um segredo ele sempre traz consequências quando é desvendado e mesmo eu não tendo nada com ela me senti traído por uma história acontecer na minha frente e eu não saber.

Fernanda mais uma vez pediu desculpas e começou a chorar quando eu falei que perdera a confiança nela.

Quando falei aquilo percebi que Gabriel nos olhava.

Gabriel pediu desculpas e comentou que não tinha como deixar de ouvir a conversa. Pediu desculpas pelo segredo afirmando que não fora intenção deles magoar ninguém. Contestei que eles não poderiam decidir pelos outros e mais uma vez Gabriel pediu desculpas.

Levantei e falei "Não tenho que desculpar ninguém, mas se faz bem a vocês estão desculpados sim". Fernanda veio me abraçar, mas me afastei dizendo que estava cansado e precisava dormir. Ela ofereceu companhia e respondi que precisava descansar sozinho.

Saí e deixei os dois na sala.

Fernanda se lamentou perguntando a Gabriel o que faria e ele respondeu que daria um jeito.

Meu filho me procurou pedindo que perdoasse Fernanda, mas eu não tinha do que perdoar, só não conseguia ficar a mesma coisa com ela. Cada vez menos nos víamos apesar dela me procurar sempre. Resolvi me afundar de vez no trabalho e na tentativa de curar Thais. Com o tempo os telefonemas de Fernanda foram rareando até que não nos víamos mais. Ela decidiu sair da casa da minha mãe alugando uma quitinete perto da Fundação.

Thais continuava sua luta pela vida. Cada vez mais debilitada devido os medicamentos, mas prosseguia firme e forte com a gravidez. Gabriel lhe apoiava em tudo e eu na medida do possível também estava ao seu lado providenciando comodidade em meu apartamento e os melhores especialistas para cuidarem de sua saúde.

João, seu pai, não dava sinal de vida. Parecia mais preocupado com o sobrinho que batia nos outros.

Igor e os outros, como eu disse, foi indiciado e apesar de todo clamor popular acabou que ficou barato para eles. A acusação acabou sendo desqualificada virando "lesão corporal grave" com os mesmos sendo condenados a três anos de prisão para ser cumprida em semi-aberto. Soou como vitória da impunidade.

Mas aquilo não desanimou Samuel que continuou sua batalha e logo após o julgamento conseguiu aprovação no congresso do agravamento em relação a crimes contra homossexuais apesar do protesto da bancada evangélica. O projeto logo foi sancionado pelo presidente da República e meu amigo ganhou imensa projeção. Foi capa das principais revistas semanais de política e apareceu em primeiro lugar nas pesquisas para o governo do estado.

Francisco se recuperava. Continuava sem sentir as pernas, mas se dedicava ao esporte. Decidira pelo remo e todas as manhãs acordava bem cedo para treinar na Lagoa Rodrigo de Freitas. Tanto esforço valeu a pena. Francisco logo começou a ganhar competições e virou atleta paralímpico.

O rapaz até arrumou uma namorada. Sua treinadora de remo. A vida de Samuel parecia voltar aos trilhos, mas não era bem assim.

Ele se separou de Anderson.

Era uma relação antiga já e nos pegou com grande surpresa essa separação. Eu, Bia e Guga decidimos tentar levantar o astral de nosso amigo o levando para almoçar, queríamos entender o que ocorria e ele nos contou. Anderson lhe deixara por uma mulher que trabalhava na mesma empresa que ele.

Pois é, mulher, uma grande barra.

Samuel estava desconsolado e Bia lhe pediu que não agisse igual Nando. Meu amigo sorriu e falou para Bia ficar despreocupada, pois teria muito a viver ainda e não seria o fim de uma relação que lhe derrubaria. Sua vida profissional estava ótima, conseguia fazer mais pelas pessoas e Francisco conseguia se recuperar.

Guga perguntou "Agora que o Anderson decidiu voltar a gostar de mulher você vai gostar também? To precisando de um amigo de farras, Toninho é muito parado.". Samuel respondeu "Não, continuo gostando de homem e pra dizer a verdade andei reparando e até que você é um gato mesmo. Quer tentar não?".

Guga ficou indignado enquanto eu e Bia gargalhávamos.

Voltamos a falar sério. Bia contou das dificuldades que passava com Jessé que não permitia aproximação mesmo com Ericka tentando ajudar e eu falei da doença de Thais. O tempo passava e ela não reagia, passava por uma gravidez de risco cada vez mais debilitada. Thais emagrecera e começara a perder cabelos.

Todos lamentaram e Bia perguntou "E Fernanda?". Contei que nunca mais conversara com ela e minha amiga reclamou que eu estava muito velho para sentir ciúmes.

Falei que não eram ciúmes, estava indignado pela traição do segredo e Bia continuou "Não é isso. Você está apaixonado por essa garota, finalmente apareceu uma mulher para mexer com seu coração como Camila mexeu e você tem medo. Tem medo de sofrer de novo, de perder de novo e acabou se segurando na primeira desculpa que arrumou. Essa transa dela com Gabriel".

Discordei dizendo que não tinha medo e Samuel concordou com Bia prosseguindo "Essa menina é um presente de Deus pra você, uma segunda chance e você está desperdiçando por besteira, justo em um momento difícil como esses que com certeza ela lhe apoiaria e daria força necessária pra lutar pela Thais. Eles transaram? Já foi, acabou, eu também transei com um monte de gente, com monte de mulheres e significou nada pra mim. Gabriel está preocupado com a Thais, sente nada por ela e ela é louca por você".

Olhei para ele, para Bia, Guga e perguntei ao último se ele também não teria nada pra falar. Guga me olhou e disse “Tenho, você é um bundão".

Meu IBOPE não estava muito alto mesmo.

Thais continuava o tratamento, mas nem só de notícias ruins vivíamos. Gabriel nesse período passou no teste e começou a novela. Fez sucesso e logo na primeira semana começava a dar autógrafos. Estampou umas capas de revista e deu entrevistas. Mas ele não conseguia viver essa felicidade. Não tinha como estar feliz com tudo que Thais passava.

Eu via Gabriel e lembrava de mim praticamente com a mesma idade passando por tudo aquilo. Mesmo em um grande momento profissional lhe via triste, compenetrado como nunca vira já que sua maior característica era ser um garoto expansivo, radiante. Eu conhecia aquela dor silenciosa, onde temos que aparentar força para que outros não esmoreçam. Não era fácil.

A situação afetava toda a família. Aproximavam-se os vinte anos junto de minha mãe com Osmar e eles que há tempos planejavam uma mega festa para comemorar resolveram cancelar o evento. Já esperava que isso ocorresse quando Osmar foi até minha casa comunicar.

Só não esperava a reação de Thais ao saber da notícia.

Thais ouviu minha conversa com Osmar onde eu concordava com o cancelamento e não aceitou. Argumentei que era melhor e ela perguntou "Melhor por quê? Tem alguém morrendo aqui?". ficamos em silêncio e ela continuou "Não tem ninguém morrendo, eu não estou morrendo, muito pelo contrário, tem uma pessoa nascendo e ela precisa de mim. Vamos celebrar a vida e as coisas boas que ela proporciona".

Osmar perguntou se ela tinha certeza e Thais respondeu "Toda. Por favor, não cancele, estará me condenando a morte".

Osmar me olhou, depois olhou Thais e lhe deu um abraço dizendo "Você é uma menina de ouro, lembra muito a minha Camila". Thais olhou para ele e pediu "Faça a melhor festa que puder".

Encaminhei Osmar para a porta e ele me perguntou se eu tinha notícias de Fernanda. Respondi que não e ele respondeu por mim "Eu tenho. Se desligou da Fundação e vai voltar pra Belém".

Tomei um susto com sua resposta e perguntei o porque. Ele me disse "Não sei, ela iria depois da festa apenas, mas como a mesma seria cancelada iria antecipar. Vou pedir que ela mantenha a data de depois".

Fiquei olhando pro vazio, pro nada enquanto Osmar abria a porta e me dizia "Amor não se desperdiça". Ele saiu e continuei em estado catatônico.

Despertei e olhei Thais que me observava. Dei um sorriso amarelo para ela e disse "Isso já aconteceu antes. Falaram pra mim que a Camila iria viajar. Eu me desesperei atrás dela e era armação da Bia". Ela continuou me olhando em silêncio e caí na real perguntando "Não é armação, né?". Thais apenas sorriu, beijou o
meu rosto e saiu.

Continua...


CAPÍTULO ANTERIOR:

ESPERANÇA E MEDO 

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